Segunda 29 de Abril de 2024

Nacional

Crise aérea

Mais uma tragédia causada pela ganância capitalista

08 Aug 2007   |   comentários

O que assistimos hoje na aviação civil brasileira é a substituição do velho modelo “glamouroso” que acompanhava os ares na época de ouro de empresas como Varig, Vasp e Transbrasil, de caráter semi-estatal, pelo modelo calcado no duopólio de duas novas empresas muito maiores e mais adaptadas às necessidades do mercado.

A disputa acirrada entre as duas novas potências capitalistas do setor aéreo, TAM e Gol, se trava em valores altíssimos, já que estamos falando de capitais que se valorizam num ritmo de 60% ao ano, numa economia nacional que cresce de conjunto míseros 3,5%. Como conseqüências mais drásticas dessa busca desvairada pelo lucro, dois acidentes de grande proporção em menos de um ano que custaram a vida de mais de 350 usuários e trabalhadores, e expuseram aos olhos da nação a precariedade dos aeroportos, o balcão de negócios que são a Infraero e a Anac, cujos cargos são negociados entre o governo, os partidos da base aliada e as empresas aéreas. Com o acidente de Congonhas vieram à tona fatos como superfaturamento na compra de equipamentos e obras, a construção de aeroportos que permanecem desativados etc.

A aviação atual se tornou um negócio como poucos, por estar aumentando cada vez mais seu papel não só na circulação de pessoas, mas também de mercadorias. Fortunas são transportadas nas "barrigas" dos aviões. Mercadorias de todo tipo: celulares, computadores, processadores para supercomputadores, máquinas, motores, tecnologia comercializada entre os países e empresas, alimentos, cartas, documentos, valores etc.

A falência/venda da Varig, que já era o prelúdio de uma grande crise do setor aéreo, foi fruto inevitável da ascensão de novas forças capitalistas que precisavam, em sua lógica, se livrar desse elemento de “atraso” que a velha empresa representava do ponto de vista desse novo modelo. Às custas da demissão em massa de mais de 5.500 funcionários, uma verdadeira tragédia para classe operária, o fim da Varig era uma premissa para a consolidação do duopólio.

Essa tragédia das demissões em massa a imprensa e a burguesia querem nos fazer esquecer, para não ter que explicar que os acidentes também são conseqüência dos milhares de trabalhadores capacitados - pilotos, comissários, aeroportuários etc. - que perderam o emprego em nome do “enxugamento” das companhias aéreas que demitem e cortam despesas, inclusive de manutenção e segurança, para alcançar maiores lucros.

Os trabalhadores dos aeroportos, junto com os usuários são os que têm arcado com o chamado modelo de “baixo custo” . O que as grandes companhias, Anac e o governo vinham vendendo como “democratização da aviação” , com passagens promocionais que “permitem não só à elite viajar de avião” , tem se revelado de forma simples como a implantação de um modelo neoliberal selvagem de aviação Civil.

O acidente com o Airbus 320 da TAM em São Paulo, nas pistas do aeroporto mais movimentado do país, à diferença do acidente com o vóo 1907 da Gol que há um ano caiu no Mato Grosso, não póde passar em branco e elevou a chamada crise aérea a uma crise política de grandes proporções, desgastando ao mesmo tempo diferentes instituições do regime, desde as Forças Armadas até os Ministérios, e em especial atingindo o prestígio do governo de Lula, principalmente a partir da comoção dos setores da classe média descontentes com a situação dos aeroportos, e suas justas exigências de “clareza nas investigações” e cobrança por resolução da crise aérea pelo governo. Essa crise já foi responsável pela queda do até então ministro da defesa, Valdir Pires, e do presidente da Infraero.

Do outro lado dessa história estão os fenómenos de reorganização das forças dos trabalhadores desse setor estratégico para a economia a atual, e demonstrações de força como a dos controladores de vóo, os primeiros a se levantarem contra esse modelo, demonstrando além de disposição de combate, ao enfrentar ao mesmo tempo o alto escalão da Aeronáutica e o Governo, um resgate dos métodos de luta operária, se organizando nacionalmente e parando em cadeia todos os aeroportos do país.

Os controladores conseguiram chamar a atenção da sociedade para as condições precárias estruturais do controle do espaço aéreo brasileiro, denunciado o altíssimo risco de graves acidentes e demonstrando as condições de trabalho desumanas as quais são submetidos. Porém, como são em sua maioria militares de baixa patente, foram logo censurados e tiveram suas lideranças presas pelo governo Lula e pelos velhos ditadores militares da Aeronáutica. Demonstrando que podem controlar os pousos e decolagens deram um exemplo a ser seguido pelos aeroviários, aeroportuários e pelo conjunto dos trabalhadores; a luta dos controladores de vóo aponta o caminho para a única saída possível para a crise aérea, que a depender do governo e da ganância dos capitalistas dificilmente se resolverá: os trabalhadores assumindo o comando da aviação civil em defesa dos interesses dos usuários e da maioria da população.

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