Sexta 26 de Abril de 2024

Internacional

CUBA EM MEIO À PRESSÃO IMPERIALISTA E OS ATAQUES DA BUROCRACIA CASTRISTA: UMA POLÊMICA COM A LIT/PSTU

Mais uma luta não dada

12 Aug 2010   |   comentários

A LIT renuncia à luta contra o embargo imperialista

Como colocamos no artigo de Eduardo Molina, a burocracia castrista em recente discurso de Raul Castro anuncia sua disposição em atacar 1.300.000 trabalhadores hoje empregados nas empresas e serviços estatais. Isso, se concretizado, será um ataque de proporções inéditas em Cuba, visando criar as condições para acelerar o processo de ataque às conquistas vigentes da revolução. Neste sentido, é mais que urgente levantar um programa capaz de impedir este ataque. Na contramão desta necessidade, temos a LIT que insiste em enterrar em vida as conquistas remanescentes da revolução cubana, reforçando sua caracterização de que em Cuba o capitalismo já teria sido completamente restaurado, abandonando o programa trotskista da revolução política.

Em meio às reivindicações de setores pró-capitalistas durante a greve de fome de Orlando Zapata, a LIT afirma em sua revista Correio Internacional: “Cuba não é mais um Estado operário com um regime burocrático, mas um Estado capitalista governado por uma ditadura. (...) lutamos pelas mais amplas liberdades democráticas para todas as correntes opositoras, incluídas as burguesas, para permitir que o povo se organize e mobilize contra esses regimes” Frente a morte de Orlando Zapata e as liberdades em Cuba. Correio Internacional. 15 de Março de 2010. Já discutimos em artigos anteriores como esta política levaria à aceleração do processo de restauração capitalista na ilha, e que este programa poderia ser assinado sem problemas por Obama e pela burguesia cubana exilada em Miami, os gusanos.

Agora, adequando a realidade para que esta caiba em seus esquemas, a LIT coloca em seu artigo Antiimperialismo ou apoio político incondicional ao regime? que: “Apelar aos efeitos do “bloqueio norte-americano” para explicar a situação atual mostra-se, cada vez mais, um recurso sem credibilidade. (...) Apesar do bloqueio, os EUA converteram-se no quinto sócio comercial de Cuba. A ilha importa 84% dos alimentos que consome e, desde 2000, o Congresso norte-americano autorizou a venda de alimentos e produtos agrícolas a Cuba”. Porém, para se ter uma idéia da dimensão das perdas que o bloqueio imperialista impôs à ilha ao longo dos anos, o PIB cubano em 2009 é de cerca de 56,52 bilhões de dólares, enquanto o custo que o bloqueio vem acumulando desde 1962 pode ser mensurado em cerca de 72 bilhões em perdas diretas, além de 54 bilhões em custos logísticos derivados de sabotagens contra o estado cubano dos mais variados tipos [1]. Isso sem contar nas medidas de retaliação a outros países por comercializar com Cuba. Por exemplo, o governo dos EUA sobretaxa a madeira antilhana por ter adquirido tecnologia ambiental cubana, levando este país a ter perdas superiores a 390 milhões de dólares. Nos EUA, quem rompe estas imposições podem ser multados em 50 milhões de dólares ou até enquadrado na lei de segurança nacional. Assim, além de negar a defender as conquistas da revolução cubana, agora a LIT minimiza os efeitos dos anos de embargo imperialista sobre a ilha, negando a tarefa elementar de levantar esta bandeira antiimperialista.

Que política “independente” a LIT oferece?

Sabemos que não é apenas o bloqueio que justifica a atual situação do país, pois a própria burocracia castrista está se incumbindo de ampliar as contradições econômicas, políticas e sociais do estado operário deformado cubano, ao ter uma política que busca manter seus privilégios. Neste sentido, os dados em relação à entrada de capital privado e estrangeiro em curso em Cuba são de fato alarmantes. Porém, a LIT, que não consegue diferir um processo em pleno desenvolvimento de sua finalização, não é capaz de levantar nenhum programa que reverta as condições que ela mesma denuncia. A LIT coloca: “Em setembro de 2009, o governo anunciou a supressão de 24700 refeitórios operários, nos quais comiam diariamente 3,5 milhões de trabalhadores. Sobre os cupons de racionamento que a cada dia dão para menos (e já se anuncia sua supressão em breve), sobre a comida escassa e de má qualidade e as condições de vida nas residências universitárias, sobre a deterioração da higiene pública e da educação…, sobre tudo isso, chamado de ‘desmoronamento econômico’ pelos cubanos, não ouvimos os ‘defensores’ de Cuba falar”.

O fato de estes ataques estarem sendo desferidos hoje prova que o capitalismo não terminou de ser restaurado, e sim que a burocracia se prepara para dar este salto atacando as conquistas sociais da revolução mais diretamente hoje, em meio à crise capitalista. A política da LIT desarma profundamente a classe trabalhadora, pois para quê os trabalhadores se mobilizariam em defesa de algo que já não mais existiria? Temos que perguntar: qual é o programa que a LIT/PSTU levanta frente à dominação das FAR nas principais empresas em que a força de trabalho ainda permanece controlada integralmente pelo estado? Qual o programa que os portadores da suposta “posição independente” levantam frente à entrada de capital estrangeiro e a dominação da burocracia? A LIT se furta de colocar.

Após ter sido criticada por nós e por outras organizações pelo caráter direitista de seu programa de “liberdades políticas para a oposição burguesa” agora a LIT/PSTU se resume a ser comentadora das contradições de Cuba. Todos estes fatos são usados pelos companheiros para mascarar o que não quiseram e ainda resistem em enxergar. Em Cuba 73,07% das empresas seguem controladas pelo Estado, somando entre elas cooperativas de trabalhadores e empresas diretamente estatais, onde se encontram 60,95% dos trabalhadores. Devido à propriedade nacionalizada, a taxa de desemprego foi por muito tempo apenas 1,7% e, mesmo hoje quando a ilha sofre com a crise capitalista, este índice é muito inferior ao dos EUA, que chega a 10%, ou 17% se consideramos os subempregados, ou da Espanha que atinge chocantes 40% na população de jovens entre 17 e 25 anos. Não podemos apenas narrar o desastre social que recai sobre Cuba sem apontarmos as vias de barrá-lo, estes fatos reafirmam a necessidade de lutar contra a burocracia, mas não trazer de volta a burguesia dando-lhes liberdades políticas, como a LIT defende, pois isso aceleraria ainda mais o ataque ao povo cubano.

Agora a LIT nos brinda com mais um argumento para se negar a defender as conquistas da revolução cubana: “Quando o imperialismo interveio no Iraque e no Afeganistão, nos opusemos resolutamente a esta política. ‘Por que a LIT-CI não aplica a mesma abordagem para Cuba?’ nos questionam honestamente alguns companheiros. A razão mais básica pela qual não aplicamos a mesma abordagem é que em Cuba não existe uma intervenção militar, mas sim um confronto político, entre um setor do imperialismo e do governo de Cuba”. Seguem opondo o que chamam de recolonização militar de Cuba pela via militar ou pela economia, afirmando que a entrada de capital estrangeiro seria a via de tal recolonização; e que, como na China, a burocracia castrista já seria defensora da burguesia.

Esta afirmação visa em primeiro lugar justificar a ausência de um programa por parte da LIT, pois como se trataria de um conflito entre o governo de Cuba e do imperialismo, que não aponta para uma ofensiva militar, supostamente a LIT estaria isenta de ter uma posição, já que não seria partidária nem de um, nem de outro. O problema é que em meio a estes conflitos existe algo chamado classe trabalhadora cubana, que está prestes a sofrer um grande ataque, e para quem a LIT não oferece nenhuma saída. Por outro lado, ainda que o problema de Cuba se resumisse a um conflito político entre o governo cubano e o imperialismo, simplificação absurda do que realmente está em jogo em Cuba, ou seja, as vias de restauração do capitalismo na ilha, ainda assim a LIT teria que tomar posição. A defesa incondicional de um país ameaçado diante do imperialismo não se dá apenas quando estamos diante de uma ofensiva no campo militar. A defesa de um estado operário, mesmo ele estando sob um regime bonapartista o qual não defendemos, é uma questão de princípio para os revolucionários. A defesa da independência nacional das semi-colônias (que não é o caso de Cuba, mas ainda se fosse) contra a ingerência militar ou econômica do imperialismo sobre elas também é parte do programa dos revolucionários. Neste sentido um programa político independente dos regimes e governos nacionais não pode nunca estar separado de uma política antiimperialista conseqüente, que guie a vanguarda a assumir posições que impeçam o imperialismo de atentar sobre as bases de um estado qualquer. O que seria um crime em um estado semi-colonial, se torna um crime ainda maior em um estado operário em que existem conquistas vivas da revolução sob ameaça da restauração burguesa através das mãos da burocracia.

Por fim, novamente somos obrigados a indagar a LIT o que é e onde está a burguesia de Cuba? Seria a burocracia castrista? Como, se em Cuba o direito à herança ainda não foi restaurado e se ainda persistem os limites estatais à acumulação privada? Tratando a burocracia castrista como uma burguesia plenamente restaurada tal como na China, a LIT já coroou a vitória de um desafio que a burocracia em Cuba ainda está por se deparar: o de desferir ataques frontais às conquistas da revolução cubana que mais diretamente se ligam às condições de vida das massas, ou seja, aquelas que garantem que em meio à crise capitalista o índice de desemprego tenha sido de 1,6%.

[1Dados do Fórum de Solidariedade Cuba contra o Bloqueio.

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