Sexta 19 de Abril de 2024

Internacional

A União Europeia atravessada por múltiplas crises

20 Mar 2015 | A cúpula da União Europeia em Bruxelas nesta semana tem múltiplas frentes abertas. A crise da Grécia, as tensões com a Rússia e uma Ucrânia que é uma ferida aberta, e a ameaça do Estado Islâmico, depois do atentado da Tunísia. As manifestações em Frankfurt mostram como pode reaparecer o fantasma da luta de classes na Europa.   |   comentários

A cúpula da União Europeia em Bruxelas nesta semana tem múltiplas frentes abertas. A crise da Grécia, as tensões com a Rússia e uma Ucrânia que é uma ferida aberta, e a ameaça do Estado Islâmico, depois do atentado da Tunísia. As manifestações em Frankfurt mostram como pode reaparecer o fantasma da luta de classes na Europa.

Os temas “fora da agenda” como a Grécia e a ameaça do Estado Islâmico, que reivindicou o atentado ocorrido na Tunísia nesta quarta-feira, onde morreram varios cidadãos europeus, ocuparam a cúpula. A Europa não consegue fechar nenhuma de suas frentes de conflito.

Grécia: um elefante na loja de cristais

Enquanto a Grécia não estava na agenda oficial da cúpula, segundo um funcionário da UE, era como “um elefante numa loja de cristais”, um tema que não se podia contornar pelo temor ao “Grexit” e uma saída catastrófica da moeda comum, que ainda persiste.

Frente às expectativas criadas sobre a questão da Grécia, onde cada reunião parece ser a “reunião decisiva”, Angela Merkel tentou por panos quentes, dizendo que “está absolutamente claro que ninguém pode esperar que se chegue a uma solução esta noite em Bruxelas ou na noite de segunda-feira”, em referência ao encontro que terá em Berlim com o primeiro ministro grego, Alexis Tsipras.

Ainda assim, Tsipras se reuniu na noite da quinta-feira em Bruxelas com uma equipe destacada: Juncker (Presidente da Comissão Europeia), Tusk (presidente do Conselho Europeu), Dijsselbloem (presidente do Eurogrupo), Mario Draghi (Presidente do Banco Central Europeu) Angela Merkel (Chanceler da Alemanha) e François Hollande (Presidente da França).

Juncker adiantou que repetirão ao governo da Grécia o que já vem dizendo há muito: que deve cumprir com os compromisos e levar adiante as reformas necessárias, os mesmos compromisos que se selaram em 2012 e mais recentemente no Eurogrupo, em referência ao plano de resgate.

Meios periodísticos informaram que os líderes da União Europeia dirão à Grécia que “se acaba o tempo e a paciência” para que seu governo implemente as reformas acordadas e evitar uma iminente falta de liquidez.

O vice primeiro ministro, Ioannis Dragasakis, por sua parte, acusou os credores de “não deixar-nos governar”, reconhecendo no canal de TV Alpha que tem um problema de liquidez.

O governo da Grécia diz que o Eurogrupo não cumpre com o prometido no acordo do dia 20 de fevereiro. O Eurogrupo responde que antes de facilitar um novo desembolso financiero, quer avaliar as medidas do governo, que já se comprometeu a não tomar “nenhuma medida unilateral”, em uma concessão enorme que realizo unas negociações com o Eurogrupo e o FMI.

Ainda assim, esta quinta-feira o parlamento da Grécia tratou um projeto de Lei para amenizar a crise humanitária, e Tsipras disse que “Não pensamos em dar um passo atrás em tudo o que consideramos necessário para que a sociedade tenha um respiro”. Mas a maioria das medidas prometidas durante a campanha eleitoral do Syriza ficaram congeladas, com a aceitação dos termos do resgate com a Troika (rebatizada “instituições”).

Toda a estratégia reformista e moderada do Syriza se baseia em tratar de pressionar ao Eurogrupo e as “instituições” por algo de flexibilidade no plano de reformas, junto com algo de financiamento. Não está claro que possam chegar a um acordó nos próximos días, e a situação de falta de liquidez na Grécia pode voltar-se prontamente insustentável. Essa é a chantagem e a pressão que exerce a “ex” Troika e diante da qual o governo Syriza-Anel vem cedendo.

A crise ucraniana e o Urso russo

As tensões com a Rússia não tem retorno. Esta quinta-feira, desde Moscou expressaram seu mal-estar pela notícia de que oficiais do exército britânico se transferirão à Ucrânia para dar treinamento às tropas de Kiev.

“Sem lugar a dúvidas, isto não favorece nem o reforço da confiança nem a diminuição da tensão na zona do conflito. Tampouco contribui o acordo,” declarou Dimitri Peskov, o portavoz do Kremlin.

Os Estados Unidos e a Polônia também expressaram sua intenção de enviar instrutores militares à Ucrânia, uma política pela qual vem pressionando cada vez mais nas últimas semanas.

Enquanto a Europa quer abafar uma política de maior intervencionismo no conflito ucraniano, que poderia incendiar a pólvora em sua fronteira oriental, os anglo saxões e alguns países como a Polônia ou os Estados bálticos seguem pressionando por uma política mais agressiva contra a Rússia.

Esta semana cumpriu-se um ano da anexação da Criméia pela Rússia, o ponto mais quente daquele que vem sendo o conflito mais importante entre a Europa e a Rússia nas últimas décadas.

A questão energética, que ocupou a jornada da quinta-feira na cúpula europeia, está relacionada com as tentativas dos países da UE por encontrar fontes de abastecimento de energia independentes do gás russo. Ainda não o conseguiram, e suas economias, como no caso da Alemanha, seguem fortemente atadas à Rússia.

Para a sexta-feira resta o debate em torno da “situação econômica” e da implementação das reformas estruturais dos países, assim como a negociação para um futuro acordo de libre comercio e investimentos (TTIP) entre a UE e os EUA.

A ameaça do Estado Islâmico

A reunião desta quinta-feira começou com um minuto de silêncio de todos os líderes europeus pelas vítimas do atentado da Tunísia ocorrido na quarta-feira.

O Estado Islâmico não é somente um problema geoestratégico para a Europa, nas proximidades da fronteira da Síria, da Líbia e do Iraque. É também uma “ameaça interna”, que com os últimos atentados de Paris, da Dinamarca e da Tunísia, onde morreram dezenas de cidadãos europeus, tomou corpo fronteira adentro.

Segundo números oficiais, haveria hoje 3000 europeus combatendo nas fileiras do Estado Islâmico, o que poderia aumentar nos próximos meses. Todos os países tomaram medidas de maior repressão e controle sobre as comunidades árabes e muçulmanas, com operativos policiais anunciando a desarticulação de supostas “redes terroristas”, detendo pessoas que presumivelmente viajavam à Síria para somar-se ao Estado Islâmico.

Os brutais atentados terroristas são instrumentalizados pelos estados europeus para reforçar as medidas repressivas, militarizar e espionar as comunidades árabes e os movimentos sociais, ao mesmo tempo que incentivar as correntes islamófobas e xenófobas na Europa.

O fantasma da luta de clases

Em meio a uma crise capitalista de longo alcance, em que a pesar de algunas mínimas recuperações a Europa não consegue sair do estancamento, a crise europeia se desenvolve em varias frentes.

O enorme descontentamento social com as consequencias da crise e com os regimes políticos nos países mais afetados pela mesma, como o Estado espanhol e a Grécia, se canaliza por ora para a via eleitoral e as expectativas geradas em partidos reformistas como o Syriza e o Podemos, que atuam como contenção da mobilização social.

Não obstante, como mostraram esta semana as imagens das manifestações do Blockupy em Frankfurt, as paralisações dos pilotos da Lufthansa, ou as “marchas da dignidade” que se esperam neste domingo em Madri, a luta social é um fantasma que pode reaparecer com força em uma Europa atravessada pelas crises, quando comecem as mostrar-se os limites dos projetos reformistas.

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