Sexta 26 de Abril de 2024

Movimento Operário

GREVE DA USP

Os trabalhadores da USP deram mais um exemplo de luta

28 Jul 2010   |   comentários

Após 57 dias, teve fim a greve dos trabalhadores da USP. A greve não conseguiu impedir a quebra da isonomia (igualdade de aumento salarial com os professores) devido a que essa conquista só seria possível com uma forte greve nas estaduais paulistas de conjunto, o que não ocorreu pela passividade dos docentes e da maioria dos estudantes, assim como devido à política da burocracia governista do Sindicato dos Trabalhadores da Unicamp que trabalhou contra a greve.

Ainda assim, os trabalhadores garantiram o aumento de 6,57% e o pagamento dos dias em greve, impedindo que se estabelecesse um dos principais objetivos do governo do estado e seus agentes da burocracia acadêmica, que é quebrar a capacidade de resistência e luta do Sintusp. Isto se dá num momento em que o presidente Lula e o PT vêm fazendo declarações reacionárias, afirmando que “greve não é férias, greve é guerra” e por isso é necessário descontar os dias em greve. A burocracia sindical da CUT impôs que muitos setores em luta aceitassem os descontos, como os professores da rede estadual, os trabalhadores judiciários que permanecem em luta e os funcionários públicos federais, entre outros. Por isso os trabalhadores da USP e seu sindicato combativo deram um exemplo a todos os trabalhadores: não temos que aceitar sem luta o ataque ao direito de greve.

Nesses dois meses além da greve, da tática jurídica para defender os direitos democráticos conquistados historicamente pelas lutas de nossa classe explorando as brechas existentes na legislação burguesa, do diálogo com a população, da defesa da universidade pública contra as políticas que buscam colocar a universidade cada vez mais a serviço dos interesses dos lucros empresariais monopólicos, os trabalhadores adotaram medidas radicais como os piquetes e a ocupação da reitoria. Diferentemente do ano passado, os estudantes não saíram em greve, mantendo um apoio passivo combinado com a solidariedade ativa de setores de vanguarda. Contamos com a essencial solidariedade do professor da Faculdade de Direito da USP e juiz do trabalho, Jorge Luís Souto Maior, que teve seu parecer contra o corte de ponto aprovado pela Congregação da “Sanfran”; e do professor da ECA Luís Renato Martins, que esteve à frente da organização de aulas públicas e atividades culturais na reitoria ocupada. Nesse marco, a firmeza dos trabalhadores obrigou o Reitor a negociar e retroceder em seus ataques aos grevistas, saindo substancialmente desgastado do conflito por não ter conseguido implementar seu plano até o final.

Com essa greve, o Sintusp mais uma vez foi responsável por colocar em pauta dentro e fora da USP o debate sobre a universidade, contrapondo o projeto privatista e elitista de Rodas a um projeto a serviço dos interesses dos trabalhadores e do povo. Nas palavras de Carlos Lungarzo, ativista da Anistia Internacional (USA): “A greve do SINTUSP 2010 parece ser uma das mais combativas de que tenho memória. Não pode duvidar-se que todo o movimento progressista da região a apóia decididamente”. Já o PSOL e o PSTU, com suas colaterais Conlutas e Intersindical dirigindo centenas de sindicatos, não podem mostrar nenhuma luta parecida a esta. Durante os 57 dias a Conlutas e o PSTU se conformaram em fazer discursos para lavarem a cara, mantendo a tradição de uma esquerda testemunhal, dando apoio afetivo e não efetivo. Ainda mais com a luta que demos no CONCLAT (tentativa fracassada de unificação entre as duas centrais) desde onde convocamos todos os sindicatos a fazer concreta a unificação, nenhum movimento de solidariedade foi organizado por eles, nem mesmo foi feito um fundo de greve que impusemos que fosse votado no CONCLAT. Por isso tudo, é ainda mais importante o resultado dessa greve.

A confluência da política revolucionária da LER-QI em frente única com a maioria da direção do Sintusp e setores independentes, mostrou como um sindicato de luta pode transformar uma luta salarial em uma batalha de classe, combinando métodos combativos, um programa não corporativo que inclui a luta pela unidade das fileiras operárias e a defesa da universidade pública. Agora, lutaremos contra todas as formas de perseguição e assédio moral, como vêm acontecendo com as trabalhadores e trabalhadores das Creches da USP [1], cercaremos de solidariedade a greve dos trabalhadores da UNESP que ainda continua e nos preparamos para enfrentar os ataques que virão da Reitoria e do governo para levar até o final seu plano de derrotar os trabalhadores e seu sindicato. Esta foi apenas uma batalha, que não dá por terminada nossa luta. Como disse Brandão um dos principais dirigentes do Sintusp e de nossa organização: “Nossa luta é pela universidade do futuro, fomos o único foco de resistência ao projeto de privatização e continuaremos lutando por mais investimentos para a educação, pelo fim do vestibular e por uma mudança radical da estrutura de poder da universidade. Queremos que essa universidade esteja a serviço dos trabalhadores e do povo pobre”.

[1Ler artigo de “Seus filhos não têm creche, nossos filhos passam fome”, de Diana Assunção no site www.ler-qi.org

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