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Juventude

UNIVERSIDADE

As erupções das ruas de junho começam a chacoalhar a crosta da reacionária Universidade de São Paulo.

29 Sep 2013   |   comentários

O mês de junho acabou, mas a situação que se abriu no país com a tomada das ruas por milhares de jovens se mantém aberta. Os profundos questionamentos à precariedade dos serviços públicos frente aos gastos exorbitantes dos governos com a Copa do Mundo e as relações espúrias de corrupção e favores entre os políticos, partidos do regime e parlamentares alertaram a Reitoria da USP: em julho, Rodas acenou para a necessidade de democratizar o medieval processo de escolha dos dirigentes da USP. A burocracia acadêmica sabe muito bem a semelhança que tem entre as estruturas de poder da USP e as estruturas do Estado democrático burguês, tão questionados em junho. Tal qual o Senado e a Câmara dos Deputados, a USP possui o seu Conselho Universitário (C.O.), no qual os parlamentares se chamam professores titulares e no qual os partidos do regime se assemelham à organização das burocracias de cada Faculdade pelos jogos de interesses de suas camarilhas: Direito, Medicina, Economia, Engenharia, São Carlos, São Paulo, Ribeirão, etc...

O primeiro sinal da politização ainda presente na juventude se dá dentro da antiga casa do próprio Reitor. Os estudantes da Faculdade de Direito da USP, na qual Rodas já havia sido indicado a ‘persona non grata’ por autoritarismo e improbidade administrativa, se colocaram em greve contra o processo impositivo da grade curricular e um sistema excludente de matrícula que impede os estudantes de cursarem as disciplinas que queiram, derrubaram o vice-diretor e arrancaram suas demandas. A Faculdade de Arquitetura e Urbanismo foi a próxima, em resposta às decisões arbitrárias da Direção de querer impor a saída dos estudantes do prédio para sanar os problemas causados pela reforma de sua cobertura, os estudantes paralisaram as aulas.

A partir do escândalo das interdições feitas pela CETESB na EACH (USP-Leste) por “conter contaminantes com risco à saúde” devido à deposição de terra contaminada (com produtos explosivos e cancerígenos) no campus, subiu à superfície os acordos ilegais e as relações corruptas entre o Diretor Boueri e a empreiteira Cyrela. No processo de mobilização que levou a queda da Direção e novas eleições no próximo mês, descobriu-se que o campus da EACH já apresentava tais irregularidades desde a sua fundação, feita em 2005 por Geraldo Alckmin. Tal fato, que remonta a precarização das universidades federais construídas no governo Lula, só demonstra o descaso dos governos com as reivindicações da população de expansão do ensino superior. Semana passada foi a vez da FEA fazer um ato contra a instalação de catracas na Faculdade, desmascarando que a falsa retórica de segurança encobre elitismo, vigilância e repressão.

Desmascaramento também demonstrado na paralisação da Guarda Universitária contra a falta de condições de trabalho e o autoritarismo ao qual têm sido submetidos após a superintendência de segurança passar para as mãos de coronéis da Polícia Militar. Ainda com relação à politização e questionamentos presentes nos trabalhadores da USP, podemos citar as duas paralisações parciais dos efetivos, sendo uma com o resgate do método de “trancaço” do Portão 1 (algo que não ocorria há 4 anos), e a greve das terceirizadas da Higilimp pelo pagamento dos salários (e que dia 24/09 paralisaram novamente exigindo o pagamento da cesta básica, em atraso), que demonstram um descontentamento sobre as condições de trabalho, em especial nos setores mais precarizados, como a limpeza, a vigilância, a manutenção e os serviços gerais.

Assim como as demandas por serviços públicos básicos em junho se tornaram questionamentos profundos ao regime ‘democrático’ de dominação da burguesia, suas instituições executivas, repressoras e o seu Parlamento, estamos diante de processos na USP que lutam por demandas básicas mas que não podem ser solucionadas até o final se não for no marco de um questionamento profundo aos interesses que regem os jogos dos conselheiros universitários e reitoráveis com as empresas terceirizadoras e as fundações privadas. Tal qual desmascaramos em junho que o Estado, o executivo e seu parlamento (e estamos vendo agora o seu judiciário – que sempre condena os trabalhadores e encarcera os negros, libertando os corruptos – com suas vacilações no julgamento do mensalão) servem como balcões de negócio para os interesses de grandes empresas, organismos internacionais e corrupção política; na USP o Conselho Universitário funciona de maneira semelhante, dispondo de um orçamento de 4,3 bilhões de reais, uma camarilha de menos de 100 professores titulares gerencia as relações da USP com grandes monopólios empresariais. Decidem a serviço dos lucros de quais empresas estarão voltadas as pesquisas, de qual ideologia estarão voltados os currículos, de qual público estará voltado o acesso e a qual projeto político servirá a USP.

Estas lutas que se desenvolvem pelas faculdades da USP estão questionando todas as prioridades da universidade: rankings com terceirização e repressão, falta de vagas, professores e estrutura adequada. E para que consigam ir mais além de derrubar diretores e avancem para rediscutir todas as prioridades da universidade, é preciso demolir essa estrutura de poder que impõe a precariedade, o autoritarismo e a falta de autonomia para os estudantes, trabalhadores e professores decidirem os rumos da universidade, é necessário um programa que articule essas lutas em torno de um eixo comum que defenda a democracia radical das estruturas de poder da USP.

Frente às eleições para reitor desse ano, dezenas de diretores se articulam para garantir força para uma proposta de pequenas mudanças que não mudem nada, indicando a possibilidade de uma “votação consultiva” prévia e não deliberativa (sic!); já a ADUSP tem buscado pressionar para que o aceno de Rodas para eleições mais democráticas se torne uma consulta paritária à comunidade universitária antes das prévias anti-democráticas de formação pelo C.O. da lista tríplice da qual o Governador escolhe o Reitor. O DCE (PSOL e PSTU), por sua vez, impedindo burocraticamente o funcionamento das assembleias enquanto espaço de discussão e construção da pauta dos estudantes, busca condicionar as demandas por democracia na USP nos marcos das eleições diretas para reitor; sobre a “consulta” dos diretores, que diz “Imagine se, para prefeito, governador ou presidente, nosso único direito fosse o de ser “consultado” sobre os candidatos, sem realmente poder decidir.” [1] (sic!). Ou seja, mesmo depois de Junho, reconhecem que estão defendendo para a USP algo análogo a “democracia” podre do país, mantendo o poder executivo do reitor acima da comunidade universitária e reforçando as bases estruturais onde se assenta o regime da USP erguido na ditadura militar por Gama e Silva, que é o Conselho Universitário. Nós, que atuamos a partir do Sintusp no C.O., estamos nele pra lutar por sua dissolução e denunciar a podridão deste regime anti-democrático onde um punhado de professores titulares decide a vida de dezenas de milhares de pessoas.
É necessário organizar os estudantes desde as bases e estruturas, pois é nos cursos que estão os estudantes que questionaram o Estado em junho e que não estão dispostos a se mobilizar por uma pauta rebaixada do DCE que não avance radicalmente na autonomia da comunidade universitária contra as camarilhas acadêmicas. É necessário ligar as lutas da USP com as lutas das ruas, muitos daqueles que combatemos em junho são os mesmos que dirigem a USP. Nesse sentido, fazemos um chamado às organizações de esquerda anti-burocráticas, aos estudantes que saíram às ruas em junho e às entidades estudantis de base a organizarmos, como aprovado em Assembleia Geral, uma paralisação e um grande bloco no Ato do dia 01/10 – em que ocorrerá o ultimo Conselho Universitário antes das eleições para reitor – para defendermos o fim do Conselho Universitário, o fim do reitorado, e a partir da mobilização impor uma assembleia estatuinte livre e soberana dos 3 setores da universidade, verdadeiramente democrática e que possa decidir por um governo tripartite com maioria estudantil.

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