Sábado 4 de Maio de 2024

Nacional

1968 NO BRASIL

Estudantes e operários na luta contra a ditadura

14 May 2008   |   comentários

O golpe militar em 1964 derrotou o ascenso revolucionário que se desenvolvia no Brasil desde 1961 e desencadeou uma forte repressão contra o movimento camponês e operário. Os militares passavam a preparar as bases do “milagre económico” impondo um enorme arrocho salarial, intervindo nos sindicatos, cassando as liberdades democráticas e de organização e perseguindo os ativistas do movimento operário, camponês e estudantil. O PCB, que em 64 havia chamado a confiar nas direções burguesas “democráticas” para enfrentar a direita e o imperialismo, continuou a defender a mesma estratégia de conciliação de classes que esteve na base da derrota. Entrou para os sindicatos sob intervenção e passou a se dissolver no recém formado MDB, se adaptando ao restrito bipartidarismo montado pelos milicos.

É nessa situação que começa a se desenvolver um importante processo de resistência a ditadura nas universidades e escolas, processo que lentamente vai se estendendo às fábricas. Desde 1966, os metalúrgicos de Osasco e Contagem se organizavam.

Os sindicatos se encontravam nas mãos dos pelegos e interventores e, nos primeiros anos, as comissões de fábrica lutavam contra as direções traidoras, contra o arrocho salarial e a inflação, tentando retomar a organização sindical. Os sindicatos metalúrgicos de Osasco e Contagem foram retomados pelas jovens direções operárias que se organizaram a partir das comissões de fábrica. Os trabalhadores rompiam com as antigas direções do movimento operário e não o faziam como um movimento passivo, simplesmente elegendo novos dirigentes. Ao contrário, era um processo de organização ativa, desde as bases, militante. Marcava a tendência de ruptura com a política histórica de conciliação de classes do PCB.

O movimento estudantil como estopim da luta contra a ditadura

Desde 1967 se desenvolvia o ascenso de um movimento estudantil que não se restringia as demandas setoriais, mas colocava no centro das suas mobilizações a luta para derrubar a ditadura. Em março, o assassinato do estudante Edson Luís no restaurante calabouço, da inicio aos acontecimentos de 68 no Brasil, desencadeando uma ampla mobilização popular contra a ditadura. Sua morte foi o estopim que incendiou o país. No país inteiro se desenvolviam as mobilizações estudantis, que contavam amplo apoio da população. O 1° de maio de São Paulo foi um marco da luta contra a Ditadura, protagonizado pelos operários de Osasco, que literalmente expulsaram o governo da Praça da Sé e realizaram um ato independente. Em junho, acontece a Passeata dos Cem Mil, no Rio de Janeiro. As palavras de ordem mais comuns, escritas nas faixas e muros, eram: “Abaixo a Ditadura assassina” e “Fim do arrocho” .

As greves de 1968: os piquetes e os tanques

Em plena ditadura militar, uma onda de greves correu o país, enfrentando a dura repressão com piquetes e ocupações. Em Contagem, “o pessoal do Ênio Seabra fez uma greve na Belgo-Mineira em que reivindicavam 10% de abono salarial. Os operários ocuparam a fábrica e prenderam os engenheiros. A polícia e o Exército cercaram o local, ameaçando explodir tanques de combustível e de produtos químicos. O ministro do Trabalho, Jarbas Passarinho, surpreendentemente decretou um abono desse valor para todos os assalariados. Isso em abril, antes do Maio francês. E nós estávamos preparando a greve em Osasco” [1].

Em julho, estoura a greve de Osasco. O exército responde ocupando a cidade com tanques, fecha o sindicato, prende os dirigentes e derrota a greve de Osasco com uma duríssima repressão. No entanto, o movimento nacional de lutas mostrava sua potência. Em setembro a oposição bancária dirigia assembléias e propunha a greve geral dos bancários. Não saiu a greve geral, porque a diretoria fechou um acordo. “Mas o pessoal do Banco de Crédito Real de Minas Gerais (...) não se contentou com o acordo e decidiu parar em todo o país. E nós, pela primeira vez em uma paralisação, usamos piquete no centro de São Paulo (...) Depois alguns de nós foram para a greve dos bancários do Paraná. E lá também foi muito na base do piquete” [2].

Duas estratégias impotentes

No final de 68, a repressão ao Congresso da UNE, a prisão dos dirigentes estudantis e a promulgação do AI5, que generalizava a censura e a repressão, marcam a derrota deste primeiro ensaio de luta contra a ditadura. Suas lições, quarenta anos depois, continuam validas para armar o movimento operário e estudantil.

A primeira delas é o potencial do movimento estudantil quando levanta demandas do conjunto da população ’ abaixo a ditadura! ’ e se liga a um movimento operário combativo e radicalizado. Esse foi o grande aporte dos estudantes ao movimento operário em 68. A partir das mobilizações estudantis contra a ditadura, influenciadas pelas organizações guerrilheiras e de esquerda, que os operários e a vanguarda combativa que organizava as comissões de fábricas, as lutas e as oposições sindicais, passavam a compreender e assumir a centralidade da luta pela derrubada da ditadura.

O processo de 68 foi derrotado, pois de conjunto esse momento de levante operário e estudantil ficou prisioneiro das duas estratégias hegemónicas. De um lado, a esquerda reformista com seu pacifismo, conciliacionismo e frentepopulismo (PCB). De outro, os novos dirigentes operários e estudantis que combatiam o oportunismo impotente do PCB, não desenvolveram uma estratégia para que a vanguarda operária de Contagem e Osasco se colocasse a cabeça das massas operárias e estudantis de todo o país. Acabaram derrotados ao assumir a estratégia foquista da guerrilha, ao tentar substituir a ação das massas pela ação exemplar de uma minoria. Essas duas estratégias contrapostas não ofereciam à classe operária e ao movimento estudantil que se levantavam contra a ditadura militar uma estratégia revolucionária, de hegemonia da classe operária como dirigente da derrubada insurrecional da ditadura e do enfrentamento à ordem capitalista.

[1Memória: Paulo Skromov. Entrevista em 30/08/2005

[2Idem

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