Sábado 27 de Abril de 2024

Cultura

QUANDO OS OPERÁRIOS TOMARAM O CINEMA EM SUAS MÃOS

O maio francês operário de 68 através dos filmes do grupo Medvedkine

31 May 2008 | “A imaginação não é um dom, senão o objeto de conquista por excelência” Breton   |   comentários

Desde seu nascimento o cinema se
desenvolve em meio a grandes tensões
que cruzam nossa época. Arte ou
mercadoria, entretenimento ou aporte
cultural, em cada momento, e em cada
capítulo da luta de classes, o cinema
debateu seu lugar na história. Desde
muito tempo, o mercado capitalista
buscou apropriar-se de uma indústria e
uma linguagem. Hollywood se
converteu numa das principais fontes
de lucros dos monopólios norteamericanos,
e um privilegiado meio de
difusão ideológica.

Por sua vez, desde os primeiros
tempos, o cinema buscou libertar-se de
diferentes travas, económicas, políticas
ou ideológicas. E desta busca, da
desobediência a regras e receitas, do
inconformismo, surgiu o melhor.
Surgiram manifestos e movimentos que
renovaram formas e temáticas, e se
apropriaram do cinema para questionar
o mundo.

No século XX, os movimentos
revolucionários deram ao cinema novas
perspectivas libertadoras.

A Revolução Russa impulsionou a
Einseinstein, Vertov, Medvedkin,
Pudovkin, que se somaram a
revolucionar o mundo transformando
também seu cinema. Nacionalizou-se o
conjunto da indústria cinematográfica,
se criou a primeira Escola de Cinema do
mundo e se produziram alguns dos mais
importantes filmes da história.

Na França, em maio de 1968, um
amplo movimento de operários e
estudantes questionava as estruturas do
sistema. O cinema se somou com um
grande protagonismo a esta iniciativa
de transformação. Importantes
diretores como Godard, Marker,
Chabrol, Resnais, Rivette, entre
muitos, se somaram ao Maio Francês.
Todos os aspectos foram questionados,
surgiram novas formas de produção,
linguagens, temáticas, e de conjunto se
desafiou a organização capitalista da
indústria do cinema francês. Criaram-se
assim os “Estados Gerais do Cinema
Francês” que proclamavam: “seja você
técnico, intérprete, crítico ou
espectador, se quer a REVOLUÇÃO, por,
para e no CINEMA, venha a militar nos
ESTADOS GERAIS DO CINEMA” .

No cinema francês, desde os anos
1950 um setor de críticos e diretores
começou a questionar o modelo
operante, o “cinema de qualidade” . A
partir da crítica literária formou-se um
pólo em torno da revista “Cahiers du
Cinema” . Com o avanço das tecnologias
e o barateamento dos custos, este
grupo passou da crítica cinematográfica
a produção de um cinema crítico.
Surgia a concepção de “cinema
militante” , em que operários, os
camponeses e os estudantes se
tornaram protagonistas. Filmaram
greves, ocupações de fábricas ou
terras, os movimentos revolucionários,
buscando uma ruptura ideológica com o
cinema burguês a partir do uso da
câmera como arma política. Suas idéias
se expandiram pelo mundo afora
criando inúmeras vanguardas em vários
países em torno do “cinema militante” .

Neste período de grandes convulsões
na França e no mundo, surgiu o Grupo
Medvedkine, uma junção de operários e
cineastas como Chirs Marker e Mario
Marret, produtores de “Loin Du
Vietnam” (1967) ’ um filme coletivo
sobre a guerra do Vietnam. Os
operários de Besançon e de Souchaux,
com os aportes destes cineastas,
aprenderam a filmar sua realidade e
suas lutas, produzindo importantes
registros sobre as greves e ocupações
de fábricas do grande ascenso de 1968.
Quatorze documentários foram
realizados entre 1967 e 1974 pelo
grupo, dos quais estão: “Classe de
lutte” e “A Bientot j´espère”
produzidos em Besançon, e “Souchaux,
11 juin 1968” da cidade de Souchaux.

Neste ano de comemoração dos 40
anos de Maio de 1968, nós da Ler-qi,
junto ao grupo Contraimagen, ligados
ao PTS, nossa organização irmã na
Argentina, queremos saldar os grandes
acontecimentos de 68 com a exibição
de vários filmes produzidos pelo Grupo
Medvedkine, inéditos até então no
Brasil. Na contramão das análises sobre
68, que visam exaltar os
acontecimentos ao mesmo tempo em
que colocam todos os entraves para
ações semelhantes no presente, ou das
apropriações burguesas que tentam
resumir este ano como mera renovação
no âmbito da cultura e da liberdade
sexual impulsionada por movimentos
radicais da juventude, queremos
resgatar as lutas classistas
protagonizadas pela classe operária
francesa. Esta, apagada em geral pela
historiografia numa clara manobra
ideológica, não pode ser escondida a
partir dos registros destes filmes, que
nos colocam a potencialidade da classe
operária naquele momento.

Participe das atividades de
lançamento dos filmes do Grupo
Medvedkine nas várias frentes que
militamos ou entre em contato com a
nossa organização e organize exibições
em suas universidades ou locais de
trabalho.

FILMES LANÇADOS NO BRASIL

 CLASSE DE LUTA
(“Classe de lutte”, 1968, 39 min)

 ESPERO QUE ESTEJA PRONTO
(“A Bientot j´espère, Marker e Marret,
1967-1968, 44 min)

 “SOUCHAUX, 11 JUIN 1968”
(Coletivo de cineastes e trabalhadores
de Souchaux, 1970, 20 min)

 1968: OS OPERÁRIOS TAMBÉM
(“1968: les ouvriers aussi, 40 min)

 COM O SANGUE DOS OUTROS (56 min)

Para maiores informações [email protected]

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