Domingo 28 de Abril de 2024

Teoria

SEMANA DE CIÊNCIAS SOCIAIS DA USP

Resgatar as lições vivas do Maio de 68

31 May 2008   |   comentários

Na semana de 12 a 16 de maio aconteceu
a Semana de Ciências Sociais organizada
pelo CEUPES em parceria com a editora
Boitempo. Enquanto os estudantes franceses
declaravam a universidade de Paris uma
“universidade autónoma e popular, aberta
permanentemente, dia e noite, para todos os
trabalhadores” o CEUPES escalou figurões da
burocracia acadêmica, responsáveis diretamente
por manter o caráter elitista e racista
dessa universidade, como Gabriel Cohn
diretor da FFLCH, para fazer parte das mesas
de discussões. Nisso residiu o contraste claro
entre o caráter de contestação direto da
Universidade burguesa presente no Maio de
68, e a proposta da semana “institucionalizada”
do CEUPES.

Burocratas, como Gabriel Cohn, não
podem falar do maio de 68! A institucionalização,
por parte dessa universidade elitista
e racista, vem no intuito de apagar as
principais lições que o Maio francês deixou
para os trabalhadores e estudantes que se
colocam em luta contra a opressão e
exploração capitalista em diversos aspectos
da vida do povo. Na última hora, Cohn, mais
espertamente que o CEUPES, decidiu não
aparecer na atividade.

No geral os debates foram cobertos por
uma análise de que o Maio de 68 foi um
recorte na história, ainda que em algumas
discussões corretamente tenham sido
considerados os elementos centrais da luta de
classes, como a guerra do Vietnã e as
imensas greves operárias na França que se
combinaram à rebelião estudantil. Alguns dos
intelectuais presentes, como Paulo Arantes,
Fraya Frehse entre outros, relembraram a
revolta dos estudantes contra os costumes e
valores tradicionais da sociedade burguesa, e
da enorme agitação nos campos das artes e
das culturas. Infelizmente, poucos foram os
que ligaram esta situação tão efervescente
com a intensa movimentação operária e as
imensas contradições presentes no cenário
internacional da época. E mesmo os que o
fizeram, como foi o caso de Theotonio dos
Santos em resposta a Paulo Arantes - que
atribuíra à “depressão” de uma suposta
“sociedade do pleno emprego na Europa a
época” as causas da revolta estudantil -,
quando relembrou a insatisfação operária e
juvenil como fruto das grandes contradições
abertas com o início da profunda crise
económica internacional aberta em 1967, não
trouxe para o presente as lições do levante
francês.

Assim, em quase nenhum momento no
debate foram levantadas sua relação com as
contradições do capitalismo hoje. Haveria que
levar em conta que o Maio de 68 foi a maior
greve de trabalhadores da história ocidental,
e que os estudantes só viam a possibilidade
de transformação cultural, artística, sexual,
ecológica etc na subversão da ordem social
do capital. E esta por sua vez só era possível
mediante a aliança com os trabalhadores, nas
ocupações das fábricas e no controle operário
da produção.

Hoje a classe trabalhadora aumentou em
quantidade, o número de pessoas que
vendem sua força de trabalho e não
acumulam capital ultrapassa 1 bilhão de
pessoas. A tentativa de reverter o processo de
decadência do imperialismo norte-americano
e a necessidade do lucro levam a guerras
como a do Iraque para conquista de mercados
e manutenção da ordem política. A exploração
e opressão capitalista aumentou, e as
contradições seguem se acumulando no
cenário internacional. Faz falta nesta situação
justamente a força criadora do Maio de 68.
Assim, a aliança entre a classe
trabalhadora e os estudantes é essencial no
sentido de criar uma universidade a serviço
dos trabalhadores, que possa produzir um
conhecimento para a transformação e
emancipação da humanidade, um
conhecimento livre das amarras dos
mercados. Um conhecimento que possa fazer
a arte se expressar como reflexo da
sensibilidade humana e não através das
tendências do mercado. E esse legado, que
deixa o maio de 68, esses burocratas
acadêmicos, como Gabriel Cohn não podem
reivindicar. Do contrário como explicariam a
pesquisa para o desenvolvimento dos
métodos de repressão policial que é feita na
universidade? Como explicariam a
universidade extremamente elitista, antidemocrática
e racista que estes fazem parte da
direção? Por isso esses senhores tentam
esconder o Maio de 68 atrás de uma “utopia
juvenil” , e escondem que estava colocado na
época um movimento estudantil que queria
derrubar o capitalismo e só poderia fazer isso
em aliança com os trabalhadores.

O PSOL, que dirige o CEUPES não
reivindica conseqüentemente nenhuma lição
do Maio francês, visto que leva à frente uma
política de votação de leis antioperárias [1], ao
contrário dos estudantes sublevados do Maio
de 68. Outros como o PSTU não vêem a
menor importância em participar dos debates
e discutir uma questão tão importante como
as conclusões do maio de 68, tanto é que
sequer participaram das atividades.

Os estudantes e trabalhadores temos de
ver a História não como algo morto e isolado.
Nesse sentido se torna é central tirarmos
conclusões e lições do que devemos fazer
enquanto estudantes e trabalhadores à luz
dos valiosos ensinamentos do Maio de 68. A
academia não pode tirar essas conclusões
com o tipo de conhecimento que produz
atualmente, somente a produção de um
conhecimento questionador e aliado aos
trabalhadores pode cumprir esse papel, e
esse é o desafio que devemos nos colocar.

[1Vide a aprovação do Supersimples.

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