Sexta 19 de Abril de 2024

Juventude

Aonde vai a Juventude de Junho?

18 Mar 2015   |   comentários

Um acalorado debate tem percorrido os jornais, organizações e analistas políticos. Assim como no momento de maior repercussão dos atos de Junho de 2013, milhares de pessoas tomaram as ruas neste dia 15 em um ato anunciado como “contra a corrupção e pelo impeachment.

Um acalorado debate tem percorrido os jornais, organizações e analistas políticos.
Assim como no momento de maior repercussão dos atos de Junho de 2013, milhares de pessoas tomaram as ruas neste dia 15 em um ato anunciado como “contra a corrupção e pelo impeachment.

Há, no entanto, uma pergunta que não quer calar: Estão, entre os milhares de participantes, os jovens que em julho de 2013 saíram as ruas e barraram o aumento das passagens? E mais: Estes jovens estão a favor do impeachment?

Uma disputa ideológica pela juventude

Em 2013, as “jornadas de junho”, se tornaram um momento de transformação crucial de nossa história recente, tendo adesão de milhões, em todo país.

Naquele momento, com a idéia de que é “justo lutar por direitos”, que contagiou parte da “classe média” e, ainda que de forma não organizada, setores da juventude trabalhadora, milhões se levantaram e obrigaram os governos a recuarem nos aumentos do transporte.

Se formava um novo momento na consciência da juventude, baseado na idéia de que lutar é possível e justo e fez surgir o momento em que entrava em cena uma “pulverização” de reivindicações centradas na luta por direitos como saúde, educação, moradia, ou seja, questões estruturais para um país nos quais estes serviços são de péssima qualidade para o povo.

Se num primeiro momento a repressão foi a resposta, frente a adesão de milhões, todos os governos, de PT a PSDB, buscaram disputar ideologicamente os setores da juventude de junho.

É assim que, combinada com o “dividir e conquistar”, dividindo os “bons” manifestantes dos “maus” e “blackblocs”, ganha força a bandeira “contra a corrupção. Tal dinâmica, mesmo com a Copa, seguiu no centro do debate político, de 2013 para cá, dando um salto com os escândalos da Petrobrás.

Com um espaço aberto com a crise de junho de 2013, graças ao rechaço gigantesco a todos partidos- com PT em particular- e ao próprio “sistema político”, os partidos capitalistas tentavam atrair a consciência de milhões de jovens, de classe média ou trabalhadores, para desviar a revolta de Junho.

Assim, reconhecendo a crise aberta em junho de 2013, seja em São Paulo com Paulo Skaf, seja em nível nacional com as tentativas de Marina Silva e Aécio em dialogar com a juventude, o discurso dos candidatos dos partidos opositores como PSDB e PSB foi o de “construir um novo futuro” escutando as vozes de junho, o que, diziam, o Governo PT desprezava. O PT, por sua vez, dizendo respeitar as vozes de “junho”, chamava a juventude a “não deixar o país andar para trás”.

A resposta dos jovens, no entanto, foi muito mais prudente: Os votos nulos e abstenções atingiram recordes, próximos aos 30% no primeiro e segundo turnos das eleições e expressaram um grau de desconfiança enorme na “política tradicional”.

A Juventude se divide e segue atenta

O enorme número de abstenções e a pequena margem de 3 milhões de votos que deram a vitória ao PT mostraram que se fortalecem dois fenômenos: a insatisfação com a política e políticos em geral e o rechaço ao PT, em particular.

Evidentemente, dentro das centenas de milhares que saíram as ruas, há a predominância de representantes de setores mais “altos” da classe média, com renda mais alta, etc . Muitos defendendo o Impeachment, se colocando contra o Governo de Dilma sendo, ao que parece, setores mais velhos, com uma participação inicial, por ora, de juventude.

Entretanto, como expressão da disputa ideológica que os levou a confusão – com a ajuda da reacionária Rede Globo -, seguindo os primeiros passos que deram nas mobilizações de Junho, muitos jovens que estiveram nos momentos de maior repercussão em 2013, podem ter retornado as ruas neste dia 15.

Impulsionados pela corrupção em evidência, inflados pela mídia e os partidos que, secretamente ou não, impulsionaram os atos (como, Globo PSDB, DEM, Solidariedade), é provável que uma parcela da classe média que em junho já expressava seu rechaço ao PT, tenha saído as ruas frente a difícil situação da economia, encarecimento das condições de vida e precarização dos serviços públicos.

Não quer dizer que sejam “fascistas” ou necessariamente “de direita” e anti-povo. Muito possivelmente há setores que se preocupam mais com a piora nas condições de vida e, da forma como conseguem, tentam responder. Igualmente, entre os que não foram ao ato mas simpatizam, pode ser um sentimento expressivo.

Isto, como probabilidade, coloca como uma das questões mais importantes a pergunta de qual será a atração destes atos para setores mais amplos de juventude – sobretudo a juventude trabalhadora- e como intervir para barrá-la.

Uma disputa ainda não resolvida!

A juventude, por si mesma, precisa ser entendida como uma categoria heterogênea, indo dos setores mais explorados dos trabalhadores até setores de classe média, “pequenoburgueses” (filhos de comerciantes, pequenos empresários, etc).

Ainda assim, em junho de 2013, em que pesem as diferenças cruciais, a juventude como um corpo em sentido amplo expressou o anseio de sair as ruas e lutar por mais direitos e contra ataques.

Esta ação estava acompanhada da inexperiência de jovens que não tiveram a experiência de governos privatizadores do PSDB na década de 90 e que começou a despertar para a vida política no momento em que PT, já afundado na lama da conciliação com os patrões, se metia mais fundo no pântano da Corrupção.

Tal inexperiência não passou despercebida pelas velhas raposas burguesas brasileiras que tentaram de tudo para ganhar a “simpatia dos jovens”, seja nas ruas, seja nas urnas.

Esta “partida” pela juventude - que se for de 15 a 29 anos, compõe cerca de 50 milhões de brasileiros e um quarto da população - é um “jogo” em andamento, com muitas crises no caminho.

O tema da educação, por exemplo, eleito como “lema” do governo Dilma, segue sendo a maior crise para a Juventude: Experimentando um pequeno momento de chance de estudos e melhoria de vida através dele, milhões de Jovens sofrem agora com os cortes na educação pública, restrições no FIES e endividamento nas mãos das Universidades privadas.

Isto sem falar na massa de mais de 7 milhões de jovens que nem trabalham nem estudam, que, frente aos ajustes, cortes no seguro desemprego, aumento do preço dos alimentos e a impossibilidade de estudar aprofundam seu rechaço ao PT e aos políticos, frente as promessas de um futuro melhor que nunca chega.
A juventude trabalhadora e parte da juventude de classe média observam atentas. Ainda que alguns se apressem a seguir os gritos do impeachment, a maioria segue angustiada pensando o que fazer.

Esta, por definição, é uma situação temporária... e perigosa. Uma hora ou outra a juventude de classe média pode aderir mais massivamente e a trabalhadora pode se contagiar pelo espírito das manifestações antiPT e pró-impeachment e se tornar massa de manobra de uma política da direita.

A juventude precisa estar na linha de frente por uma terceira via!

Frente ao perigo desta disputa, é preciso que todos os setores da esquerda operária se organizem para construir uma “terceira via” junto da juventude.

Os empresários e a oposição de direita (PSDB, DEM, PTB), não perdem tempo para disputar, em prol de seus lucros, os milhões de jovens que, hoje, identificam no PT a decadência de sua condição de vida. O PT, por outro lado, com seu discurso de que haverá um “golpe”, que só serve para esconder seus ataques e submissão a outros empresários, apenas lança milhões de jovens no colo da direita.

É preciso que defendamos um programa para que os jovens, ao lado dos trabalhadores, resistam aos ataques dos governos, independentemente de quais partidos e para que avancem num outro projeto de país.

Emprego e formação profissional gratuita; fim dos cortes e investimento massivo na educação pública; acesso a Universidade a quem queira estudar; estatização das universidades privadas que vivem das dívidas estudantis, para garantir isto; seguro desemprego a todos os jovens desempregados a partir do momento em que saem da escola; acesso gratuito a todo jovem trabalhador e desempregado em cinemas, estádios, museus, teatros e bibliotecas; são estas algumas idéias de um programa que pode ajudar a disputar este movimento.

Neste dia 26/03, ocorrerá um dia nacional de luta contra os ataques na Educação que pode ser uma primeira trincheira para a disputa da consciência de milhões de jovens mostrando que seu caminho não é com PSDB e a direita, nem com PT e seus banqueiros; é ao lado do povo pobre, trabalhador, que luta por direitos e por um novo mundo.

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