Quarta 1 de Maio de 2024

Internacional

Eleições na Palestina

Uma farsa de democracia para desativar a luta do povo palestino

20 Jan 2005 | Em 10 de janeiro foi proclamado presidente da Autoridade Palestina (AP) o candidato do Fatah, Mahmoud Abbas, o Abu Mazen, sucessor do falecido líder da Organização para Libertação Palestina (OLP) Yasser Arafat. Com 62% dos votos, Abbas superou Mustafa Barghouti (20%), parente do líder da Intifada e atual prisioneiro do Estado sionista de Israel, Marwan Barghouti. Contudo, não há dados confiáveis sobre a quantidade de votantes e alguns analistas apontam uma alta abstenção. A vitória de Abbas, chefe da velha guarda de Fatah tido como moderado pelo imperialismo, Israel, e pelos setores radicais do próprio Fatah, foi bem recebida por Bush e por Ariel Sharon. Isso porque o resultado das eleições é considerado um grande passo adiante na consolidação de um “governo” palestino capaz de garantir a segurança de Israel e o fim das aspirações nacionais do povo palestino. Poderá o novo presidente da AP cumprir a missão de acabar com a Intifada?   |   comentários

Impostura democrática

O governo de Bush e seu aliado Sharon haviam suspendido relações com a direção palestina. Porém, a morte de Arafat foi tomada como uma oportunidade para realizar mudanças na Autoridade Palestina. Seu homem predileto, Abu Mazen, foi legitimado por meio das eleições, uma farsa democrática realizada sob a ocupação militar sionista e a pressão do imperialismo.

Segundo o jornal israelense Haaretz de 10/01, as eleições de domingo foram apoiadas por todos os governos imperialistas, e pelos aliados árabes dos EUA, entre os quais estão o Presidente egipcio Hosni Mubarak, o Rei jordaniano Abdullah, todos ditadores ou monarcas! Para o imperialismo, o argumento da “democracia” só conta na hora de impor ocupações e de reprimir povos que lutam por sua liberdade.

Com estas eleições, Estados Unidos e Israel pretendem fortalecer a figura de Abbas, um dirigente publicamente conhecido por sua tendência a fazer negociações de paz racionarias a favor de Israel como nos anos 90 com os acordos de Oslo, sob os quais se fundou a Autoridade Palestina. Esperam que seu governo seja capaz de disciplinar os setores radicais da resistência palestina, para assim impor o plano de Sharon de retirar as tropas e os assentamentos sionistas em Gaza para apropriar-se de grande parte do território da faixa ocidental.

A atual construção do muro na Cisjordânia, que tem isolado os moradores e dividido o território em três grandes guetos incomunicáveis entre si e rodeados por assentamentos de colonos israelenses, é uma mostra do caráter colonial e racista do plano de “paz” que Bush e Sharon tentarão usar o novo governo palestino para aplicar.

Entretanto, ainda que joga a favor de Abbas certo cansaço das massas como conseqüência do estado calamitoso em que se encontram, não está claro que este possa levar em bom termo seus enormes desafios.

As primeiras dificuldades do novo governo de Abbas

O novo presidente enfrenta uma difícil missão: liquidar a Intifada. Em sua saudação ao vencedor, Sharon propós uma reunião com Abu Mazen “no futuro próximo” , que enfocaria “assuntos de segurança, especialmente esforços para deter o terrorismo” (The Guardian, 11/01). Por sua vez, Bush foi mais claro ao insistir em sua campanha antiterrorista e “democrática” : “a liderança palestina deve reorganizar suas forças de segurança para combater àqueles que ainda têm o desejo de destruir Israel como parte de sua filosofia e àqueles que temem que exista o voto livre entre o povo palestino” .

Abbas, por seu lado, declarou que continuará lutando pelas reivindicações sustentadas nos últimos tempos por Arafat, porém se opõe às ações de violência. Na semana passada afirmava: “Estamos prontos para a paz, paz baseada em justiça.” (The Guardian, 11/01). A condição que Israel impõe para o começo de qualquer conversação é o desarmamento dos grupos militantes.

Porém a euforia eleitoral dos primeiros dias não bastou para ocultar as dificuldades que o novo presidente da AP enfrenta. No dia 13 de janeiro uma operação conjunta de distintas frações armadas da resistência palestina deixou como saldo a morte de pelo menos 5 israelenses e três palestinos em Karni, na Faixa de Gaza. Como resposta o governo de Sharon rompeu todo diálogo com Abbas, ainda antes de que este assumisse como presidente. Ademais, Israel bloqueou todos os acessos à Faixa de Gaza e deu ordem a suas forças militares de tomar ações contra os terroristas “sem restrições” . A partir de então, uma série de ataques e contra-ataques sucederam-se entre os grupos militantes e as Forças de Defesa israelenses tanto em Gaza como na Cisjordânia.

A resposta de Abbas até agora tem sido chamar os grupos a deterem suas ações, buscando uma trégua pactuada, ao mesmo tempo em que tenta chamar as forças de segurança palestinas para que desarmem os grupos que continuam combatendo, e possibilitar a retomada das conversações com Israel (Haaretz. 18/01). Finalmente o governo de Sharon disse que lhe dá um prazo para que cumpra com esse objetivo.

Abbas não conta com a autoridade e o respaldo que Arafat tinha entre as massas palestinas, pelo que sua sorte dependerá das concessões que o recentemente conformado governo de coalizão israelense esteja disposto a lhe garantir. O Hamas se fortaleceu nas eleições municipais, nas quais obteve uma votação de cerca de 35% e 9 cadeiras no conselho local da Cisjordânia, bastião tradicional do Fatah. Não só o Hamas prossegue com a resistência armada, como também outra direções islâmicas e setores radicalizados do próprio Fatah, junto aos habitantes que enfrentam com as selvagens incursões das Forças de Defesa israelenses na Faixa de Gaza e na Cisjordânia.

Fora o sionismo e os imperialistas da Palestina.
Em defesa da autodeterminação do povo palestino

A saída de dois Estados para a “questão palestina” é completamente reacionária, já que nega o direito dos palestinos a retornarem a seu território histórico, perpetua a existência de um bastião colonial racista e pretende que o Estado palestino não seja mais do que uma nova arma dos sionistas para acabar com a luta do povo palestino. Só a destruição do Estado sionista de Israel aponta uma saída para acabar com o Estado racista e permitir uma paz verdadeira na Palestina.

Os imperialistas de todas as cores, Israel, a Rússia e os governos árabes aliados aos ianques, estão juntos nessa cruzada contra o povo palestino. Os trabalhadores, os povos oprimidos e os jovens lutadores de todos os países devemos combater o engano da democracia imposta à ponta de metralhadoras e tanques e apoiar decididamente a luta do povo palestino.

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