Quinta 2 de Maio de 2024

Nacional

Pezão sob ataque e muita demagogia e cinismo sobre “junho”

05 Oct 2014   |   comentários

Ontem aconteceu o último debate entres os candidatos a governador do Rio de Janeiro. Nos quatro blocos do debate houve uma marcada tentativa de Garotinho (PR), Lindbergh (PT), Crivella (PRB) e Tarcísio (PSOL) em associar o vice-governador Pezão (PMDB) ao rejeitado ex-governador Sérgio Cabral, também do PMDB.

Nesta tentativa de abordar o candidato líder das pesquisas com 31% das intenções de voto e que venceria Garotinho no segundo turno (segundo colocado, que está com 24% e em tendência de queda), foram abordados assuntos como: educação e saúde, segurança pública, corrupção, entre outros. Todos os outros quatro competidores no debate buscaram vincular Pezão a Cabral. Com este objetivo, não faltou uma boa dose de cinismo de ex-aliados de Cabral, como Crivella, tentando usar as “jornadas de junho” e o grito “fora Cabral” para seus fins. Muitas denúncias surgidas em junho apareceram demagogicamente no debate da boca dos diferentes candidatos. Mas, entre muitos assuntos e denúncias uma notável ausência foi o direito ao aborto, mesmo quando há poucas semanas o Rio de Janeiro teve dois chocantes casos de mulheres trabalhadoras mortas por abortos clandestinos.

Pezão é Cabral

Esta frase surgiu logo na primeira intervenção de Crivella (pastor evangélico e senador da base de Dilma tal como Pezão, Garotinho e Lindbergh e que está estagnado em cerca de 17% nas pesquisas). Ele argumentou que estaria acontecendo uma “fraude eleitoral”, pois milhões foram às ruas gritando “fora Cabral”, mas Pezão está escondendo o governador de sua campanha.

A esta acusação Pezão respondeu afirmando ter orgulho de um governo que teria criado as UPPs, empregos e aumentado o número de atendimentos na saúde, via OSs, que privatizam as mesmas. Sem poder atacar este legado que os quatro grandes candidatos compartilham, focaram, com muita demagogia, em outras denúncias sobre Pezão e Cabral.

Foi assim que Lindbergh (estacionado em cerca de 10% das intenções de voto) focou na educação retomando os CIEPs (centros integrados de educação pública) de Brizola e também buscou atacar Pezão pelas relações espúrias do PMDB com as empreiteiras no Maracanã e com as concessionárias de transporte público.

Crivella, por sua vez, insistindo na corrupção do governo Cabral, buscou aparecer como o mais “Dilmista” dos candidatos, acusando Pezão e Cabral de serem ingratos ao nutrirem o movimento de parte do PMDB carioca em chamar voto em Aécio (movimento conhecido por Aezão). Neste intuito de ganhar votos afins ao PT, Crivella chegou a afirmar que Cabral e Pezão seriam uma “versão piorada dos tucanos”.

Os ataques a Pezão por parte de Crivella, Lindbergh, e Garotinho foram movidos a muito cinismo, pois seus partidos apoiaram Cabral e Dilma, que por sua vez apoiava Cabral.

Garotinho apagado e Tarcísio vinculando ele a Cabral

O normalmente bombástico candidato do PR, que chegou a travar acusações com a rede Globo em uma entrevista nesta mesma TV esteve apagado no debate. Com Crivella e Lindbergh fazendo dobradinha e Tarcísio (do PSOL, com 2% das intenções) e Pezão trocando perguntas entre si, o ex-governador Garotinho ficou mal localizado e somente em suas considerações finais pode exibir sua costumeira verve contra Pezão, quando lembrou numerosos casos de corrupção do governo Cabral.

Em uma das poucas trocas de intervenções de Tarcísio com Garotinho, o candidato do PSOL argumentou que Garotinho escondia como Pezão havia sido secretário de seu governo e como ele também tinha atitudes “cabralinas” como não aumentar salários de professores quando foi professor.

Apatia e “voto útil” explicam como a vinculação Cabral-Pezão não está funcionando

As estratégias dos candidatos de vincular Pezão a Cabral podem ter surtido efeito na pequena parcela de eleitores que assistiu o debate já entrando na madrugada, mas parece estar em contradição com o que está acontecendo nas eleições, tal como se nota nos locais de trabalho e estudo e até nas pesquisas.

Algumas pesquisas apontam que até 40% dos eleitores não estão decididos por seus candidatos a governador no Rio, ou seja, que pode acontecer alguma reviravolta nos próximos dias, o que não seria uma novidade no Rio de Janeiro, com muitas eleições mudando seu panorama a poucos dias do final (como aconteceu para Senador em 2006, prefeito 2008, só para mencionar reviravoltas recentes).

Esta incerteza se deve a dois fatores principais que parecem estar determinando o voto dos fluminenses: apatia e voto útil. Há uma sensação notável em amplos setores de trabalhadores que os quatro grandes candidatos (Pezão, Crivella, Garotinho e Lindbergh) são todos relacionados uns com os outros e parte de uma mesma trajetória política. Isto motoriza parte da apatia e indecisão dos eleitores. Por outro lado também há a rejeição a Cabral e sua vinculação com Pezão mas também, uma imensa rejeição a Garotinho (40% a 47% segundo o Ibope ou o Datafolha, respectivamente)que alimenta a candidatura de Pezão, e ainda uma sensação notável em diferentes estratos da classe trabalhadora, como escolher entre aquele que tem mais chance de derrotar Pezão ou Garotinho, conforme o foco de qual “mal pior” derrotar. Aparentemente muitos fluminenses não gostariam de um novo Cabral, mas aparentam preferir um herdeiro dele a um novo governo Garotinho.

Tarcísio chamou atenção, mas não se distinguiu do uso eleitoreiro de “junho”

Em uma eleição tão marcada pelo cinismo dos quatro grandes candidatos, Tarcísio tem chamado atenção por frases contundentes e trazer alguns temas a debate. Isto atraiu a simpatia de uma pequena parcela da juventude que esteve nas ruas em junho à sua candidatura. No debate de ontem as passagens mais notáveis neste sentido foi quando começou o debate repudiando a homofobia no debate presidencial e quando questionou Pezão “onde está Amarildo?”; e ainda, quando na réplica neste mesmo assunto, foi mais agressivo ao Pezão lhe contestar com um sorriso no rosto. Também pode ser destacado neste mesmo sentido quando lembrou a repressão sofrida pelos professores municipais em sua greve em 2013.

Em todas estas passagens ficou claro como Tarcísio é o candidato, entre os cinco que participam do debate televisivo, que melhor pode falar de “junho”. Porém, seu uso destes eventos é completamente separado de levantar um programa sobre estas questões e buscar criar um movimento que lhes dê resposta. E menos ainda de articular estas denúncias com o que está acontecendo hoje.

Foi assim que falou da repressão de professores mas não mencionou o corte de ponto sofrido em 2013 e 2014 e a constante realocação dos grevistas que está acontecendo, como também não mencionou nenhuma das greves ocorridas este ano, e mesmo quando falou da repressão se referia somente ao uso das forças repressivas mas não mencionou nenhuma das prisões políticas ocorridas nem a continuidade dos processos a aqueles que foram detidos durante a Copa.

Entre as denúncias e o que fazer há um abismo na campanha de Tarcísio, que desenvolve seu programa somente no que tange à reforma da polícia para torna-la “garantidora da liberdade” (sic) e na auditoria da dívida (como se houvesse uma parte correta da mesma a honrar). Apesar do apelo midiático, Tarcísio está no mesmo script de falar de junho e seus temas mas se distancia da busca em expressá-lo e lhe dar forma programática e militante.

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