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Nacional

Nem PSDB, nem PT: voto nulo por uma alternativa dos trabalhadores

15 Oct 2014   |   comentários

O governo Dilma não é garantia do “menos pior”. Frente a uma piora do cenário econômico ela levará adiante os ajustes que os empresários exigem. A única garantia é a organização e a disposição de luta dos trabalhadores e da juventude.

Nesta reta final das eleições a politização percorre todos os setores sociais. Muito além das propagandas de TV e dos discursos dos candidatos, muitos trabalhadores e jovens vão definindo seu voto em discussões e conversas com os colegas, amigos e familiares.

O discurso predominante é o de que temos que escolher entre alguma das alternativas. Ou Dilma ou Aécio. É verdade quando o PT diz que o PSDB tem um programa contra o povo. Que vai promover um grande ajuste, atacar o salário e a renda dos trabalhadores, enfraquecer os bancos estatais. Segundo essa visão, não restaria outra alternativa senão votar em Dilma para evitar esses ataques.

Isso, porém, não é verdade. Temos sim mais alternativas que Dilma ou Aécio. Em junho, os governos do PT e do PSDB aumentaram juntos a passagem dos transportes públicos e juntos se enfrentaram contra as manifestações. A força das mobilizações foi o que fez ambos retrocederam.

A propaganda da Dilma fala de continuar o caminho das mudanças. Que caminho é esse? Nos últimos anos, o mercado de trabalho aumentou sobre tudo nos empregos mais precários, o salário mínimo valorizou e chegou a R$ 724,00, o Bolsa Família passou a incrementar a renda da parcela mais pobre da população. No nordeste os baixos salários e incentivos fiscais atraíram investimentos e indústrias. Foi o tempo das vacas gordas, do crescimento econômico baseado na especulação dos mercados financeiros, do boom nos preços das matérias-primas que o Brasil exporta, do aumento do credito que complementa o salário baixo.

Enquanto os mais pobres aumentaram gradualmente sua renda, os mais ricos, os banqueiros, empresários e financistas, multiplicaram ano a ano seus lucros. Até depois da crise que começou em 2008, o Brasil e os demais países chamados em desenvolvimento mantiveram seu crescimento. Mas na medida em que se desenvolve a crise mais importante desde a Segunda Guerra Mundial, esses países e o Brasil começam a ser atingidos.

A política aplicada pelo petismo nesta década de crescimento econômico esteve sempre em consonância com os interesses dos bancos, do agronegócio e do capital financeiro. Esse ciclo de aumento do credito – que significa também aumento do endividamento – sobre a base de baixos salários foi aplicado em outras partes do mundo, como nos EUA até 2008, no interesse dos monopólios.

Na medida em que o ciclo de crescimento vai se esgotando e dando lugar à tendência de crise, os empresários vão exigir e aplicar ajustes contra os trabalhadores e o povo. Dilma, Lula e o PT irão contra os interesses que os sustentam no poder? Também Dilma, se ganhar, vai aplicar os ajustes que empresários e banqueiros exigirem.

Retrocessos democráticos

Tudo pela governabilidade. Em nome dela são feitos os conchavos, pagam-se as propinas. Mais do que dinheiro, a governabilidade exige renúncia de antigas propostas, ou posturas do passado. Sarney, Collor e Maluf se tornaram aliados. Foi assim, com o PT rasgando qualquer passado de defesa dos direitos das mulheres, dos LGBT, que Marcos Feliciano chegou à presidência da Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara dos Deputados, liderando a bancada religiosa e conservadora.

Não fossem as manifestações, talvez seu projeto da cura gay tivesse sido aprovado pelo PT em troca de apoio eleitoral para este ano. A bancada ruralista também teve seus desejos atendidos, e a reforma agrária foi esquecida. Para não se indispor com os militares, criam-se comissões da “verdade” com pouco poder de investigação, preservando o pacto de impunidade com os torturadores e os arquivos secretos da ditadura.

Agora o PT agita o fantasma da onda conservadora, do retrocesso tucano. Mas figuras como a do Marcos Feliciano só despontaram no cenário nacional graças ao apoio dado pelo PT. Depois de dez anos abandonando todas as demandas democráticas como o direito ao aborto, fazendo todas as concessões às bancadas religiosas e militares, não é de se espantar que a direita tenha ganhado força no próximo Congresso eleito.

A desilusão de amplos setores da juventude com o PT e com todos os partidos levou a um grande número de votos brancos, nulos e abstenções na votação para deputados e ainda mais para senadores. Com um congresso mais conservador, ainda mais concessões o PT fará para a bancada evangélica, para os ruralistas e os militares.

Voto nulo por uma alternativa dos trabalhadores

Se Aécio é um representante direto dos empresários, o PT com seu peso sindical e nos movimentos populares, cumpre o papel de freio das demandas e lutas populares, em beneficio dos empresários. São forma diferentes de atender os interesses dos mesmos senhores.

O governo Dilma não é garantia do “menos pior” para os trabalhadores e a juventude. Não é garantia de que frente a uma piora do cenário econômico não sejam levadas adiante as reformas que os empresários exigem, ataques aos direitos trabalhistas e à previdência social. Não é garantia de que a inflação não vá corroer ainda mais os salários.

A única garantia é a organização e a disposição de luta dos trabalhadores e da juventude. Temos que avançar pelo caminho aberto por junho e pela onda de greves deste ano. A militância que se reivindica classista e socialista tem nesse momento um grande papel em navegar contra a corrente da conjuntura eleitoral e da onda do voto útil. Nosso papel é alertar que os ataques virão com Aécio e também com Dilma e preparar o terreno para construir uma nova alternativa dos trabalhadores.

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