Sábado 20 de Abril de 2024

Nacional

“Lendo a grande mídia internacional”

16 Mar 2015   |   comentários

Após os atos do último domingo, podemos chegar a seguinte conclusão quanto a posição da grande mídia internacional: Sem ainda dar corda a impeachment, mas também sem colocar limites à oposição. Abaixo segue nossa análise destas editoriais.

Não haverá importantes mudanças de governo no Brasil, do ponto de vistas das elites nacionais, sem isto passar por algum nível de negociação e acordo com os principais imperialismos. O Brasil é um ponto muito importante de valorização de capitais, centenas de multinacionais estão instaladas aqui, e, em alguns casos, utilizam o país como “plataforma” para toda América Latina. Com o silêncio de Obama, primeiro e principal imperialismo envolvido no país, mostra-se mais um sinal de como, por enquanto, ainda não há nenhum sinal imperialista decisivo à oposição burguesa para que se decida pela arriscada manobra do impeachment - onde corre-se o risco de desestabilizar ainda mais o regime na já complicada situação recessiva. Ao mesmo tempo que não incentivam esta linha “rupturista”, também não há nenhum chamado a “moderação” parte dos imperialismos. Estão esperando, medindo.

Esta atitude ainda espectadora fica aparente ao ler os principais jornais estrangeiros das principais potências com interesses na América Latina e no Brasil.

Diferentemente do Brasil, onde os três maiores jornais do país (Folha, Estado, Globo) costumam - ao menos nas questões decisivas - divergir muito pouco, a mídia internacional está se debruçando de forma menos uniforme sobre os atos deste domingo. A maior divergência entre os 3 grandes do país está no número de presentes e, portanto, no nível de “novidade histórica” do ocorrido, mas divergem menos na descrição e na política que apontam (desgaste do PT, união nacional pelos “ajustes”).

Os jornais internacionais, no entanto, tem caracterizações do domingo com importante diferenças. O jornal da City Londrina Financial Times (FT), uma das principais expressões mundiais (e não só inglesa) das finanças, já aponta em seu título para uma ruptura dos pobres com Dilma, ele ilustrou: “Os pobres dão às costas à Dilma.” Este título encontrado contradiz boa parte das análises internacionais e até mesmo a matéria do jornal. Ele aponta, citando especialistas, como a maioria dos presentes que estavam nas manifestações estavam lá pelo escândalo de corrupção envolvendo a Petrobrás e contra Dilma e não diretamente pelas crescentes dificuldades econômicas e sociais, e, o próprio jornal admite no miolo do texto, como muitos dos presentes eram mais abastados e não os pobres que já estariam sofrendo os ajustes. Porém ao dar este título e marcar a tendência a maiores problemas econômicos e sociais, além de versar sobre as dificuldades políticas com o congresso e PMDB, este histórico jornal prevê: “a crise de governabilidade envolvendo a Sra. Rousseff era inevitável”, argumentando a divisão eleitoral, regional e de classes no país, e que este escândalo “poderia levar a queda do governo brasileiro”.

É importante notar o tom condicional do FT, pode ser que leve a cair, mas nenhuma saudação a este caminho como costuma ser nas linhas editoriais mais explicitas deste jornal. Seu principal concorrente nas finanças inglesas e internacionais, o Economist, publicou, até o momento somente uma matéria curta, remarcando os números dos presentes e como se expressou a “ira contra Dilma”, que “alguns clamaram por impeachment” e “outros preferiram dar voz a sua indignação pelos anos de mal-gerenciamento da economia”. Esta revista semanal que abertamente chamou voto em Aécio no segundo turno brasileiro, ainda não se pronunciou sobre que linha tática adotar no Brasil relacionado ao impeachment, ou outras questões que tem gerado debate nas ruas, locais de trabalho e na mídia brasileira. Mas esta revista, costumeiramente explicita em suas posições, tem sido uma importante e quase semanal voz de pressão a ajustes e para dar forças ao neoliberal ministro Joaquim Levy.

O que FT e Economist concordam é em ressaltar a diferença de domingo em relação a 2013, onde os objetivos seriam mais difusos e sociais e agora seriam políticos e nominais (contra Dilma). O próprio título do semanário ilustra isto “Desta vez, é pessoal”.

O mais importante jornal americano, o New York Times, normalmente ligado ao setor democrata do establishment ianque, resume politicamente as manifestações na reivindicação do impeachment ou “fora Dilma”, seu título ilustra: “Em protestos por todo o país, brasileiros irritados pedem a saída da presidente”. Esta matéria não entra em hipóteses de composição social, e tal como os outros jornais e revistas já citados aponta uma variedade de questões como motivadoras do protesto, mas aponta um elemento importante para pensar os limites de quanto o imperialismo norte-americano já estaria abraçando, ao menos na sua ala democrata, a política de impeachment. Este jornal observa, como diferentemente de líderes de outros países da América Latina (em clara referência a pressão ianque sobre a Venezuela) a presidente adotou uma abordagem não conflitiva aos protestos de oposição, e ainda diz explicitamente como a economia brasileira é “diversa e se mantém com pés mais firmes que as da Venezuela e Argentina”.

O espanhol El País em sua edição espanhola (este jornal produz muita coisa para a América Latina incluindo o Brasil) destaca muitos questionamentos ao ocorrido e para onde ele pensa que o país evoluirá, e para onde ele opina que deveria evoluir. Estes questionamentos passam pelo questionamento econômico de “Quando o Brasil se torceu?” como é o título de uma matéria, onde argumenta-se usando as elevadas expectativas poucos anos atrás com a economia crescendo aceleradamente, expansão da classe média, conquistas simbólicas como o direito a sediar as Olímpiadas, à situação atual. Em outro artigo, “Brasil sai às ruas contra Dilma”, além de analisar os elementos complexos das reivindicações, mencionar a importante divergência de números de assistentes entre o Datafolha e a PM, o jornal espanhol remarca como o impeachment ainda é improvável, mas que aponta a um mandato ainda mais complicado para Dilma.

Este mesmo jornal, diferente de todos os outros jornais analisados termina um terceiro artigo do dia de hoje com claríssimas propostas, e não são pelo impeachment. No artigo “E agora, o que?”, o articulista Juan Arias, depois de oferecer uma visão das manifestações como sendo de “todos brasileiros”, “não violenta”, chama Dilma a adotar uma medida mínima: “reduzir os ministérios pela metade” e, mais genericamente, ouvir os protestos.

A falta de propostas claras com exceção de um artigo do El País, a falta de elogios às manifestações como costumam fazer estes jornais, apontam para uma política imperialista ainda de expectativas, sem decisões tomadas. A única política apontada é de corte de gastos, as críticas mais explícitas estão na economia. Este jornal, por hora, aponta para privilegiar estes âmbitos. O New York Times chama atenção para os elementos de estabilidade do Brasil e como contrastam com outros países da região, aponta para uma maior contenção em gerar confusão justamente onde há maior calma relativamente. Com as mudanças na economia brasileira, na política e na psicologia dos setores de massas das diferentes classes sociais deve-se esperar diferenças no comportamento e propostas dos imperialismos. No entanto, hoje, ainda jogam no esperar e ver, e em algum sentido ao não criticar a oposição nem incentivá-la parecem dar corda a uma linha "sangrar" Dilma mas sem "arriscar demais".

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