Sexta 19 de Abril de 2024

Economia

Os ventos da crise global e o fim das ilusões no falso progressismo petista

30 Oct 2014   |   comentários

Para ativar a militância em defesa de Dilma na reta final do segundo turno, foram alentadas e exacerbadas as ilusões numa continuidade melhorada do gradualismo lulista. Entretanto, as primeiras sinalizações da presidente e ainda mais o decorrer das medidas que será obrigada a tomar para se alinhar ao capital financeiro para enfrentar a crise se chocarão de forma ainda mais dura com essas ilusões exacerbadas. Esse é o cenário que prepara fortes (...)

A semana posterior ao fim do segundo turno eleitoral no Brasil foi marcada por altos e baixos na bolsa de valores e na cotação do dólar frente ao real.

Na segunda-feira, um dia depois da confirmação da reeleição da petista Dilma Roussef, queda na Bovespa, nas ações de algumas das principais companhias que tem seus papéis comercializados ali (como Petrobras e Vale do Rio Doce) e desvalorização do real frente ao dólar. Na terça-feira, Dilma Roussef fez sinalizações ao “mercado” de que tomará medidas mais ortodoxas, mais diretamente ligadas e subordinadas a seus interesses, o que produziu leve recuperação dos índices da Bovespa e da cotação do dolar.

A reunião do Copom (comitê de política monetária) do Banco Central, que decidiu aumentar os juros em 0.25%, primeira alta dos juros desde abril, pareceu marcar um começo de estabilidade na relação entre o segundo mandato da petista e o capital financeiro. Mas a decisão do Fed (banco central dos EUA) de acabar com sua política de quantitative easing foi um banho de água fria nessas expectativas e novamente puxou os índices da bolsa para baixo e a cotação do dólar para cima.

Dilma Roussef não era a candidata favorita dos “mercados” (essa entidade aparentemente mística que parece comandar toda a economia, mas que na verdade não é mais do que a máscara por baixo da qual se travestem os interesses dos grandes burgueses detentores do capital financeiro). Mesmo suas muito tímidas políticas anticíclicas e de planejamento estatal da economia eram vistas como demasiado intervencionistas para os capitalistas ávidos por mais lucros altos e rápidos.

Um candidato com um programa mais claramente neoliberal expressava de forma mais direta os interesses do setor dominante da economia. Assim, Aécio Neves aparecia como o favorito para o capital financeiro. Durante toda campanha eleitoral as bolsas e a cotação do dólar oscilaram positivamente cada vez que o candidato tucano parecia ter chances de vitória.

Eleita, a petista já começa a sofrer uma série de pressões para que siga na condução da política econômica uma linha mais ortodoxa e alinhada aos interesses mais diretos e imediatos do capital financeiro, para que abandone mesmo suas pálidas veleidades keynesianas.

A substituição do ministro da Fazenda Guido Mantega (visto como um dos encabeçadores das políticas heterodoxas) por um nome mais do agrado dos investidores é apenas expressão simbólica de como a petista se alinhará a essas pressões e não buscará qualquer tipo de enfrentamento com o capital financeiro nesse contexto de aprofundamento dos efeitos da crise internacional nos países do cone sul americano e mais particularmente no Brasil.

Cotes nos gastos públicos (com programas sociais e investimentos em infra estrutura) e aumento de tarifas dos serviços são apenas algumas das medidas que nos esperam, como anunciou o Ministro Guido Mantega essa semana ao prometer que o novo governo irá ajustar as contas públicas nos próximos anos. Buscando recuperar sua credibilidade frente aos investidores, o governo petista não poupará esforços para cumprir – ou inclusive aumentar – a meta para o superávit de 2015 (entre 2 e 2,5% do PIB), posto que ficou abaixo dessa meta esse ano e o aumento nas receitas (o que o governo arrecada com tarifas e impostos, por exemplo) e diminuição nas despesas são a cartilha imposta pelo capital financeiro.

Os efeitos da crise irão solapar as bases do discurso progressista

O período de 10 anos entre 2003 e 2013 foi um dos momentos de maior crescimento médio da economia brasileira em sua história (média anual de 3,7%, abaixo apenas do chamado “milagre” dos anos 70). Empurrada num primeiro momento por uma conjuntura excepcionalmente favorável da economia global, e depois pelo fato de que grandes economias dos países não imperialistas e semi-coloniais (os chamados Brics) se converteram em contra tendências frente a crise mundial, a força do crescimento econômico foi a base sobre a qual se ergueu o gradualismo lulista. Ou seja, daí vem a ideia incrustada em setores da classe operária brasileira de que uma melhoria pequena mas continuo de suas condições de vida e consumo estavam garantidos.

Mesmo que sobre bases débeis como o crescimento do trabalho precário, essa ideologia refletia os ganhos reais que tiveram os setores populares do país durante os governos petistas, tanto por via do crédito quanto por via dos programas sociais.

Mas com os efeitos da crise mundial se fazendo sentir de forma mais direta no país as bases para a manutenção desses pequenos ganhos da classe operária e dos setores populares tendem a ruir e o PT irá mostrar de forma mais evidente sua verdadeira face, não do partido dos pequenos mas seguros ganhos para os trabalhadores e os pobres, mas como o partido mais funcional á burguesia para passar seus ataques a esses mesmos setores e fazer com que sejamos nós a pagar por sua crise.

Para ativar a militância em defesa de Dilma na reta final do segundo turno, foram alentadas e exacerbadas as ilusões numa continuidade melhorada do gradualismo lulista. Entretanto, as primeiras sinalizações da presidente e ainda mais o decorrer das medidas que será obrigada a tomar para se alinhar ao capital financeiro para enfrentar a crise se chocarão de forma ainda mais dura com essas ilusões exacerbadas. Esse é o cenário que prepara fortes instabilidades política se novos acontecimentos da luta de classes no próximo período.

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