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6 motivos para que a desilusão com o PT não fortaleça o PSDB

03 Nov 2014   |   comentários

É impossível negar que um setor de trabalhadores e jovens, ainda que minoritário, desaguou seu descontentamento com o PT num voto em Aécio. Como fazer para que as frustrações com o governo do PT não terminem em uma recomposição da velha direita encarnada no PSDB?

É impossível negar que um setor de trabalhadores e jovens, ainda que minoritário, desaguou seu descontentamento com o PT num voto em Aécio. Como fazer para que as frustrações com o governo do PT não terminem em uma recomposição da velha direita encarnada no PSDB?

Seguem, abaixo, 6 pontos a serem debatidos com todo trabalhador que se desilude com o PT:

1) Como combater a corrupção?

Sabemos que o PT fez o mensalão de Brasília e agora está metido nos esquemas de superfaturamento e desvio de recursos na Petrobras. Mas o PSDB tem seu mensalão de Minas Gerais e seu próprio esquema de superfaturamento nas obras do metrô de São Paulo. Os mensalões e o superfaturamento de obras públicas são mecanismos estruturais do capitalismo.

Para acabar com isso é lutar para que todos os parlamentares, políticos e funcionários de alto escalão ganhem o mesmo que um professor, e para que as obras e empresas públicas sejam administradas pelos próprios sindicatos dos trabalhadores junto com a população usuária, com todas as decisões e fiscalizações sendo exercidas em assembleias.

2) Como ter dignidade nos direitos sociais mais elementares?

O PT, apesar de ter ampliado os programas assistenciais, não foi capaz de responder às demandas por educação, saúde, transporte e moradia que vieram à tona desde as manifestações de junho de 2013. Mas foram os governos do PSDB nos anos 90 que implementaram cortes brutais nos gastos sociais. Petistas e tucanos concordam em destinar metade do orçamento público federal aos banqueiros e manter as privatizações dos serviços essenciais. A consequência é que agora falta inclusive água.

Para dar uma resposta de fundo a esse problema é necessário lutar pela estatização de todos os serviços públicos sob controle dos trabalhadores e usuários, a começar pela Sabesp, e pelo não pagamento da dívida pública aso banqueiros para destinar esses recursos às necessidades da população.

3) Como ter empregos dignos?

90% dos empregos criados nos governos do PT foram precários, recebendo entre um e dois salários mínimos. 20 milhões de trabalhadores sofrem todos os anos com a rotatividade do trabalho, que lhe priva dos direitos trabalhistas mais elementares. Agora Dilma quer ampliar as suspenções de contratos de trabalho, em que o trabalhador fica até um ano em casa recebendo menos e com seu salario subsidiado pelo Estado, sem nenhuma garantia que ao final não será demitido. Mas foi com o PSDB que tudo isso começou a funcionar nos anos 90, e são os tucanos que defendem uma flexibilização ainda maior das leis trabalhistas no Congresso.

Para combater a precarização do trabalho e o desemprego é necessário lutar para que todos os trabalhadores recebam o salário mínimo do Dieese (R$ 2.862,73) e para que se reduza a jornada de trabalho sem redução do salário de modo que não haja mais necessidade de demissões, o que só será possível tirando dos lucros dos patrões.

4) Como combater as forças reacionárias da “velha política”?

O PT governa com figuras reacionárias que lembram o velho coronelismo como Sarney, Collor e Maluf. Mas o PSDB governava (e ainda governa em vários estados e prefeituras) com os coronéis do PMDB e do PFL. Todos os governos fazem as alianças mais reacionárias em nome da chamada “governabilidade”, pois dependem dos coronéis para fazer valer os interesses dos patrões e do imperialismo contra a maioria da população.

O caminho para acabar com isso é lutar pelo fim do Senado e da instituição presidencial, fundindo os poderes legislativo e executivos em uma só Câmara de Deputados eleitos em assembleias locais com mandatos revogáveis por aqueles que os elegeram. Assim, a classe trabalhadora, em aliança com o povo pobre, poderá ter uma representação política que corresponda à sua força social.

5) Como conquistar os direitos democráticos mais elementares?

O PT não só negou o direito ao aborto seguro e gratuito, a igualdade de gênero e a criminalização da homofobia, como colocou o racista e homofóbico Marco Feliciano para presidir a Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados. Sob os governos petistas, o número de assassinatos a gays e transexuais cresceu e o Estado não reconheceu a homofobia, fazendo coro com Marco Feliciano. Mas o PSDB não só negou esses mesmos direitos, como é representante da direita mais reacionária que trata negros e nordestinos como raças inferiores.

Para combater a homofobia e o racismo e para conquistar o direito ao aborto, é necessário levar essas demandas para dentro da classe trabalhadora, para que elas sejam levantadas como parte do programa dos sindicatos, e levadas adiante pela mobilização independente dos trabalhadores e trabalhadoras, aliados à juventude e os setores oprimidos da sociedade.

6) Como expressar as manifestações de junho e as greves no terreno político?

O PSOL, em função dos enfrentamentos entre Luciana Genro e o reacionário Fidelix na TV, capitalizou uma parte do sentimento democrático que emergiu das manifestações de junho. Entretanto, ao não expressar as lutas dos trabalhadores no terreno político, ao receber dinheiro de capitalistas nas eleições e ao governar na capital do Amapá como sempre fez o PT, não pode lutar consequentemente por esse sentimento democrático. O PSTU é um partido que está presente em um setor minoritário de sindicatos há mais de 30 anos. Entretanto, nunca foi capaz de vencer uma grande batalha da luta de classes que o projetasse como uma alternativa política.

Por não se prepararem para a luta de classes, o PSTU e o PSOL praticamente não existiram nas manifestações de junho e não conseguiram se ligar à combatividade e à criatividade que a classe trabalhadora vem mostrando na maior onda de greves desde a década de 80.

Para que a desilusão com o PT não termine em uma recomposição das forças do PSDB, é necessário construir uma nova organização que dê uma expressão política aos trabalhadores e jovens mais conscientes dos processos de luta que marcam a nova etapa aberta no país depois de junho. Uma organização revolucionária que, em base às lições da experiência com o PT, das jornadas de junho e da onda de greves que atravessa o país, seja uma alternativa à impotência do PSOL e do PSTU. Um primeiro passo na luta por um partido com influência de massas capaz de combater verdadeiramente pelas demandas mais sentidas da população, enfrentando os interesses da burocracia sindical, dos governos e do imperialismo.

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