Sexta 26 de Abril de 2024

Nacional

Dilma ruma para a direita. E agora José?

03 Dec 2014   |   comentários

A presidenta implementa as medidas que criticava em Aécio e Marina, num verdadeiro estelionato eleitoral, e a CUT ainda tem a cara-de-pau de fazer marchas em defesa da "governabilidade". O que fazer?

Já são vários os sinais de que o novo governo caminha para a direita. Começou uma rota de aumento das taxas de juros, que freiam a economia, geram desemprego e penalizam o trabalhador com dívidas. Debate um projeto de flexibilização das leis trabalhistas, vendido com a cara de um Programa de Proteção dos Empregos (chamado PPE), mas que na verdade trata-se da suspensão temporária dos direitos dos trabalhadores.

Indicou Kátia Abreu para assumir o Ministério da Agricultura, uma das mais reacionárias representantes do agronegócio e da direita que ataca os sem-terra, os índios, os homossexuais e o direito ao aborto.

E, para coroar, nomeou uma nova equipe econômica neoliberal ao gosto dos grandes empresários, a qual já anunciou um duro “ajuste” nas contas do governo (leia-se: cortes nos gastos sociais, arrocho salarial de servidores, aumentos de tarifas públicas etc.). Tudo sob os aplausos do chamado “mercado financeiro”.

O pior é que tudo isso vai na contramão das críticas que Dilma fez a Aécio e Marina para ganhar votos. Ou seja, trata-se de um verdadeiro estelionato eleitoral.

O grande poeta Carlos Drummond de Andrade uma vez escreveu um poema que cabe muito bem para a reflexão de todos aqueles que, mesmo com muitas dúvidas e pouca esperança em mais um governo do PT, votaram em Dilma para impedir que os tucanos ganhassem. O poema, intitulado “JOSÉ”, diz:

E agora, José?
A festa acabou,
a luz apagou,
o povo sumiu,
a noite esfriou,
e agora, José?
e agora, você?
você que é sem nome,
que zomba dos outros,
você que faz versos,
que ama protesta,
e agora, José?

Os sindicatos e movimentos sociais que apoiam o PT estão preocupados. Vendo o descontentamento e a falta de ânimo de suas bases, venderam a ilusão de que o segundo mandato de Dilma poderia ser diferente. E Drummond continua:

Está sem mulher,
está sem discurso,
está sem carinho,
já não pode beber,
já não pode fumar,
cuspir já não pode,
a noite esfriou,
o dia não veio,
o bonde não veio,
o riso não veio,
não veio a utopia
e tudo acabou
e tudo fugiu
e tudo mofou,
e agora, José?

Mesmo assim, a cara-de-pau segue imperando. Os intelectuais, dirigentes sindicais e movimentos sociais petistas buscam criar um movimento em defesa da “governabilidade” do novo mandato. Passando o verniz de peroba na cara, tentam nos convencer de que enfrentar o governo para combater seu programa tucano ou defender as demandas que emergiram das ruas em junho de 2013 e nas greves que sacudiram o país seria “fazer o jogo da direita”.

E agora, José?
Sua doce palavra,
seu instante de febre,
sua gula e jejum,
sua biblioteca,
sua lavra de ouro,

Quem é que faz “o jogo da direita”? São os trabalhadores, jovens, sem-teto e sem-terra que decidem se organizar de forma independente do governo e do PT ou os líderes populares que os protegem?

seu terno de vidro, sua incoerência,
seu ódio - e agora?

O PT sempre vai cantar a ladainha do “jogo da direita” para paralisar nossas forças. Basta! Precisamos nos organizar de forma independente e nos preparar o combate.

Com a chave na mão
quer abrir a porta,
não existe porta;
quer morrer no mar,
mas o mar secou;
quer ir para Minas,
Minas não há mais.
José, e agora?

As jornadas de junho de 2013 mostraram que a mobilização independente nas ruas pode conquistar coisas impensáveis. Nosso caminho está nas greves que sacudiram o país, desde os garis do Rio de Janeiro aos trabalhadores da USP, passando pelos metroviários de São Paulo, os rodoviários de várias capitais e os peões da construção civil.

Se você gritasse,
se você gemesse,
se você tocasse
a valsa vienense,
se você dormisse,
se você cansasse,
se você morresse…
Mas você não morre,
você é duro, José!

As greves que se enfrentaram duramente contra os dirigentes sindicais traidores, a polícia, os governos. Em que os trabalhadores se mobilizaram pela base, construindo organismos de auto-organização e autodeterminação para a luta.

Sozinho no escuro
qual bicho-do-mato,
sem teogonia,
sem parede nua
para se encostar,
sem cavalo preto
que fuja a galope,
você marcha, José!
José, pra onde?

Cuidado! O PSOL de Luciana Genro vendeu para muitos a promessa de ser uma oposição de esquerda ao governo. Mas mal acabaram as eleições e já estão de braços dados com os líderes sindicais petistas que querem nos paralisar. É impossível resistir aos ataques e defender as demandas de junho de braços dados com os petistas! Nossos aliados são os trabalhadores e o povo pobre que estão nas bases dos sindicatos e movimentos sociais dirigidos pelo PT. Nossa tarefa trazê-los para a luta nos livrando de todos os obstáculos que já se impõem nesse caminho.

Acabou o período de crescimento econômico em que os sindicatos e movimentos sociais conseguiram algumas concessões lutando de forma separada. Para o novo momento de recessão que vive o país, só poderemos resistir aos ataques que virão e defender nossas demandas se cada entidade ultrapassar os interesses corporativos de sua categoria e se propuser a se unir com os demais por uma causa comum. Todo sindicato que se diz combativo e independente do governo precisa se lançar de imediato nessa empreitada. Todo sindicato que se mantem paralisado pelos governistas precisa de um movimento que expulse seus dirigentes vendidos para recuperá-lo como instrumento de luta.

Adiante todos os “JOSÉS” e todas as “MARIAS”! Vamos à luta.

Artigos relacionados: Nacional









  • Não há comentários para este artigo