Sábado 20 de Abril de 2024

Partido

FRENTE À FALÊNCIA DA ESQUERDA

Por uma política revolucionária dos trabalhadores

02 Dec 2014   |   comentários

Chamamos os trabalhadores e jovens que estiveram na linha de frente das manifestações de junho e das greves que sacudiram o país a construir uma organização revolucionária.

É difícil enxergar uma política diferente desta que está aí, da que vemos todos os dias na TV e a cada dois anos nas eleições, feita por privilegiados e corruptos a serviço dos capitalistas, enquanto a maioria da população fica de fora. E é ainda mais difícil quando lembramos que o PT dizia fazer uma política distinta, representando os interesses dos trabalhadores e do povo, mas terminou fazendo parte do jogo tradicional.

Mas vamos imaginar o seguinte: os trabalhadores que estiveram na linha de frente das greves que sacudiram o país no último período e os jovens que saíram às ruas em junho de 2013 poderiam unir forças para influenciar nos rumos políticos do país com suas próprias forças? Como isso poderia acontecer?

Não por acaso é difícil visualizar essa possibilidade. As manifestações de junho mexeram com a estrutura do país, mas os que governam seguiram sendo os mesmos. As greves mostraram uma enorme combatividade e criatividade de amplos setores da classe trabalhadora, mas não tiveram uma expressão política nas últimas eleições. Nenhum dos partidos da esquerda foram alternativa.

A nova forma de fazer política vem das greves e das ruas

Ainda que em proporções pequenas, nesses processos que estamos vivendo é possível encontrar as sementes de uma nova forma de fazer política. Os garis do Rio de Janeiro e os rodoviários de várias capitais se rebelaram contra a vontade de suas direções sindicais traidoras. Os metroviários de São Paulo fizeram a mais longa greve da categoria com piquetes mostrando sua força, apesar da política vacilante de sua direção. Os trabalhadores da USP em uma greve de 118 dias transformaram a luta salarial em uma batalha pela educação e saúde pública. Estas experiências da classe trazem lições pra avançar nesta nova forma de fazer política, pela base e a partir dos locais de trabalho, buscando sempre relacionar as demandas imediatas com os problemas mais profundos do país, que foram os que emergiram das ruas em junho de 2013.

Os trabalhadores da USP e os garis do Rio só puderam vencer em suas lutas porque confiaram em suas próprias forças e construíram uma forma de organização verdadeiramente democrática, com representantes eleitos pelas reuniões nos locais de trabalho, revogáveis pelos que os elegeram, e assembleias gerais onde tudo era decidido. Essa forma de organização é a semente de uma nova política porque é assim que a sociedade deveria se organizar. Generalizada em todo o país, essa seria a forma mais democrática possível de exercício do poder. As manifestações de junho de 2013 mostraram que se o povo sai às ruas unido em torno de um propósito é possível vencer. O triunfo só não foi muito maior do que a redução das tarifas porque as direções dos sindicatos não convocaram greves e manifestações operárias simultaneamente aos grandes atos, unindo as demandas e a mobilização dos trabalhadores, da juventude e do povo pobre.

Obstáculos contra uma política verdadeiramente dos trabalhadores

Nas últimas eleições, o enorme desgaste do PT no governo teve como resultado o fortalecimento eleitoral da oposição de direita tucana. Muitos jovens trabalhadores que se fizeram conscientes já com o PT no governo não viveram o que foi o neoliberalismo nos anos 1990 pelas mãos do PSDB. Os tucanos buscam aparecer com uma cara de “renovação” escondendo suas bandeiras de direita.

O PT, por ter tomado para si muitas das bandeiras que sempre foram do PSDB, não tem moral para combater a oposição de direita por fora das polarizações discursivas em momentos eleitorais, permitindo que se recomponham sempre. A construção de uma nova força política que seja verdadeiramente dos trabalhadores precisa assumir para si a tarefa de um verdadeiro combate à oposição de direita através da mobilização direta dos trabalhadores e da juventude contra suas bandeiras reacionárias, e não apenas através das palavras.

O PT surgiu de dentro das greves de fins dos anos 1970 e durante os anos 1980. Mas Lula, nas poderosas assembleias dos metalúrgicos do ABC, que sacudiram as bases da ditadura militar, pedia para que os trabalhadores mantivessem sua greve nos marcos das reivindicações salariais e não se voltassem contra o poder político da ditadura. Essa separação, que marcou toda a trajetória do PT, sempre foi funcional à construção de um partido onde os trabalhadores são apenas massa de manobra para ganhar votos. Se os trabalhadores não forem os sujeitos da política com suas próprias mãos, superando essa tradição do PT, nunca surgirá uma verdadeira política dos trabalhadores.

Atualmente, o PT, apesar de fazer algumas concessões e com isso se colocar como o representante dos mais pobres contra a elite que apoia o PSDB, através da influência que exerce sobre a maioria dos sindicatos e movimentos sociais, impede os trabalhadores de lutarem por suas verdadeiras demandas. Com o argumento de que qualquer questionamento pela esquerda ao PT favorece a oposição de direita, os petistas sempre buscam paralisar e desmoralizar as lutas dos trabalhadores.

Muitos setores da esquerda legitimam essa prática petista, como por exemplo os parlamentares do PSOL que terminaram chamando o voto em Dilma em veem defendendo a “governabilidade” da nova presidenta contra a direita,.

Batalhar para que os trabalhadores façam política com as próprias mãos significa convencê-los de que, se não construirmos uma alternativa pela esquerda ao PT, que combata as “versões petistas” das bandeiras tucanas, que defenda as demandas que emergiram nas ruas em junho e nas greves, todo desgaste que o PT sofrer vai ser capitalizado pela direita.

Uma esquerda que não confia na força dos trabalhadores

Luciana Genro e o PSOL buscam se colocar como uma alternativa pela esquerda ao PT. Mas trata-se de uma alternativa que repete os mesmos erros do PT em ritmo acelerado. É isso que vemos ao receberem dinheiro dos capitalistas nas eleições, ao governarem como os petistas na capital do Amapá, ao entrarem no “vale tudo” para ganhar projeção midiática e se eleger (inclusive se aliando com o PT e outros partidos capitalistas). A luta para que os trabalhadores sejam sujeitos da política com suas próprias mãos exige que mostremos como as tentativas de repetir o que foi a experiência do PT levam a um beco sem saída.

O PSTU tenta se colocar como uma alternativa de esquerda mais ligada aos trabalhadores, utilizando a influência que tem em alguns sindicatos. Entretanto, apesar de dirigir importantes sindicatos como o dos metroviários de São Paulo e dos Metalúrgicos de São José dos Campos (neste caso há mais de 30 anos), nunca foi capaz de potencializar a força dos próprios trabalhadores como alternativa política. A construção do seu próprio partido está desvinculada da batalha pelo desenvolvimento da auto-organização e, ao invés de apostar na mobilização dos trabalhadores para além das questões sindicais de cada categoria, busca construir oposições políticas através de alianças oportunistas “por cima” (às vezes com os burocratas da CUT, outras com Paulinho da Força Sindical, outras com o PSOL).

Construir uma política dos trabalhadores exige demonstrar na prática que os sindicatos podem e devem se colocar o objetivo de mobilizar suas bases para além das questões de cada categoria, e que o caminho para fortalecer essa perspectiva é o de unir os sindicatos e oposições sindicais em todo país num polo que amplifique nossa voz para nos dirigirmos ao conjunto da classe trabalhadora, do povo pobre e oprimido.

Uma nova política dos trabalhadores exige combater verdadeiramente os privilégios da casta política, defendendo que todo juiz, político, parlamentar ou funcionário de alto escalão ganhe o mesmo que um professor; e também exige combater os privilégios dos sindicalistas, defendendo que voltem a trabalhar “no chão da fábrica”. Diferente da prática política do PSOL, cujos parlamentares se negam a renunciar aos privilégios de que gozam os demais políticos. E diferente do PSTU, cujos sindicalistas ficam anos e anos afastados do trabalho, “profissionalizados” pelos sindicatos.

É preciso lutar pela construção de um novo partido revolucionário no Brasil

Os trabalhadores e jovens que estiveram na linha de frente das jornadas de junho e das greves precisam ter algum espaço onde possam ser sujeitos políticos. É preciso reunir estes setores em uma nova organização política revolucionária que seja forte o suficiente para superar o PSOL e o PSTU, sendo um instrumento de luta na construção de um verdadeiro partido revolucionário de trabalhadores. Um partido capaz de enfrentar os patrões, os governos, o imperialismo e os dirigentes sindicais traidores.

Um partido que construa uma nova tradição de militância no movimento operário, para a qual aportamos a tradição que construímos no Sintusp, não só pelos exemplos de auto-organização e combatividade que a partir daí contribuímos para forjar, mas também implementando na prática uma nova forma de sindicalismo, na qual o diretor Marcelo (Pablito) voltou a trabalhar no restaurante universitário depois de um período liberado para as atividades sindicais.

Um partido que se constitua como parte de uma corrente internacional que unifica os trabalhadores em todos os países em uma mesma perspectiva revolucionária. Uma corrente internacional que tenha como referência o parlamentarismo revolucionário praticado pelo Partidos dos Trabalhadores Socialistas na Argentina, onde o deputado federal Nicolás del Caño e o deputado estadual Christian Castillo colocam seu corpo junto os operários em suas mais duras batalhas, sendo reprimidos pela polícia junto com eles; e ecoam no parlamento as demandas dos trabalhadores. Deputados esses ficam apenas com o salário de um professor e colocam todo o restante de seus salários e benefícios a serviço das lutas populares.

Desde as jornadas de junho viemos impulsionando recorrentes Encontros para tirar lições dos processos mais avançados da luta de classes no país, buscando uma perspectiva revolucionária. Construímos hoje o Movimento Nossa Classe que se baseia nestas lições pra buscar ser uma alternativa de militância desde a base nas fábricas, escolas e locais de trabalho, com uma política de independência de classe e que contribua na unidade da classe trabalhadora em sentido revolucionário. Impulsionamos, ao mesmo tempo, o site Palavra Operária com atualizações diárias que tratam das principais questões políticas, econômicas, internacionais e culturais de interesse dos trabalhadores, contribuindo para uma leitura de esquerda da realidade, para que os trabalhadores possam se apropriar destas ideias e tomar este site como uma ferramenta de difusão de sua atividade política e suas denúncias.

Não podemos aceitar passivamente essa legislação antidemocrática que impede os lutadores de se expressarem politicamente. Os jovens que estiveram na linha de frente das jornadas de junho, os trabalhadores que sacudiram o país com suas greves, o movimento de moradia, os sem-terra, todos esses setores são proibidos por lei de constituir lançar candidatos próprios para defender suas ideias de forma independentes dos partidos que aí estão. Precisamos lutar para que todas as associações de trabalhadores, jovens e movimentos sociais e democráticos possam se constituir como um partido legal, impulsionando uma ampla campanha para conquistarmos esse direito.

Chamamos os trabalhadores e jovens que vêm travando distintas batalhas junto conosco, que simpatizam com nossas ideias e que constroem o Movimento Nossa Classe a tomar para si o site e o jornal Palavra Operária como ferramentas para a construção de uma nova organização revolucionária.

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