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REFORMA MINISTERIAL

Onde está a direita?

25 Nov 2014   |   comentários

Apesar da campanha petista sobre um suposto “golpe de direita” contra o novo mandato de Dilma, a verdade é que a direita vem se fortalecendo dentro do próprio governo e é necessário buscar uma saída independente.

O PT vem fazendo, nas redes sociais, na blogsfera e nas revistas de “centro-esquerda”, uma barulhenta campanha sobre o que chamam de “3º turno”. Este seria uma suposta tentativa das forças oposicionistas de direita e seus tentáculos no Poder Judiciário de encontrar motivos legais para um impeachment de Dilma através de alguma relação entre sua campanha e o escândalo da Petrobrás.

Tal campanha busca ganhar brilhos mais “catastróficos” (uma suposta ameaça ”golpista” que nem mesmo seria por meios legais) apoiando-se nas manifestações de setores de direita que foram às ruas de São Paulo pedindo não só o “Fora PT”, mas também uma intervenção militar. Conseguiram reunir alguns poucos milhares de adeptos, muitos dos quais discordam da apologia ao golpe, e têm bem mais que isso de simpatizantes nas redes sociais.

Recentemente, o ideólogo petista Mino Carta, editor do semanário “Carta Capital”, fez um paralelo entre o Brasil e a Itália para argumentar os riscos em jogo. Depois de resgatar a trajetória do Partido Comunista Italiano, que na década de 90, depois do envolvimento em vultuosos escândalos de corrupção, entrou em franca decadência, aquele país viu a ascensão de ninguém menos que magnata direitista Silvio Berlusconi.

Ou seja: para os “formadores de opinião” do PT, esse seria o recado: tomem cuidado com a justiça na apuração dos escândalos da Petrobrás, pois ela pode trazer o PSDB de volta ao poder. Parece difícil de assimilar, mas é isso mesmo: trata-se de uma versão “de esquerda” do “rouba, mas faz”, de Maluf, que, aliás, transformou-se num aliado de primeira ordem do PT em São Paulo.

Enquanto isso...

Kátia Abreu, conhecida como uma das mais reacionárias representantes do agronegócio, é escolhida para chefiar o ministério da agricultura. Joaquim Levy, reconhecido representante dos bancos e do mercado financeiro, suspeito de ter aconselhado Armínio Fraga nas teses de ajuste fiscal do programa de Aécio, é escolhido para chefiar o ministério da economia. Armando Monteiro, ex-presidente da Confederação Nacional das Indústrias, é escolhido para chefiar o ministério do desenvolvimento.

Enquanto todo o mercado esperava que Dilma mantivesse as taxas de juros mais ou menos estáveis, a nova presidenta iniciou uma rota de elevação, surpreendendo até mesmo os banqueiros que mais lucram com isso. Frente a uma situação cada vez mais deteriorada das contas públicas, o ministro da economia em fase demissão, Guido Mantega, fez inúmeras promessas de que os próximos anos serão de duros cortes de gastos.

Com uma “esquerda” assim, quem precisa de direita?

Para o desgosto dos ideólogos petistas, os líderes tucanos se colocaram contrários às manifestações pró-impeachment e pró-golpe. Também para a tristeza dos blogueiros “da esquerda”, o grande monstro chamado “mercado” comemorou com entusiasmo as escolhas dos novos ministros. As ações na Bolsa se valorizaram; o real se valorizou.

Se por um lado Aécio faz discursos pretensamente raivosos no Senado exigindo a apuração do escândalo da Petrobrás e prometendo uma oposição “dura”, por outro lado os governadores tucanos iniciam uma “agenda de diálogo” com o governo federal e o PSDB sela um acordo com o PT na CPI da estatal, no que representantes de ambos partidos serão poupados de depor.

Os grandes capitalistas, que já têm bastante motivo para se preocupar com a dinâmica recessiva da economia, à qual se soma a crise da Petrobrás, não querem, pelo menos não por agora, maiores turbulências políticas. Esses, que contêm os lideres tucanos nos marcos de uma “oposição responsável”, são os mesmos que indicam os ministros direitistas que lhes representam no novo ministério de Dilma.

As empreiteiras que estão no banco dos réus do escândalo da Petrobrás são as maiores financiadoras das campanhas eleitorais tanto do PT como do PSDB. Se é verdade que o esquema ganhou uma dimensão superior nos governos do PT, já se sabe que o mesmo começou no mandato de FHC.

Uma reforma política de esquerda?

A principal promessa de Dilma em seus primeiros discursos após as eleições foi a de fazer uma reforma do sistema político através de um plebiscito. Logo em seguida, ao ter sido derrotada pelo seu principal aliado – o PMDB – em distintas votações no Congresso, decidiu negociar com este o que seria dita reforma.

É possível que o PT queira vender uma eventual reforma política acordada com o PMDB como uma medida “progressista” que pudesse “compensar” ou encobrir a política econômica de direita que já começou a ser implementada. Entretanto, a pergunta que os petistas terão que responder é: como será possível uma reforma progressista do sistema político com ninguém menos que o PMDB de José Sarney e Renan Calheiros?

Que esquerda é necessária para combater a direita?

Os blogueiros materialmente dependentes do Planalto saíram a defender a reforma ministerial com o argumento de que um ministério precisa sim representar todos os “setores sociais” e que Dilma é que seguiria “mandando”. Os movimentos sociais, que convenceram suas bases a votar em Dilma com a promessa de que seria um novo governo mais de esquerda que o anterior, estão sendo obrigados a protestar.

O MST chegou a fazer ocupações em protesto à nomeação de Kátia Abreu, mas os blogueiros já deram a justificativa para acalmarem: será escolhido um esquerdista para o ministério do desenvolvimento agrário, que foi criado justamente para acomodar dentro do mesmo governo os interesses do agronegócio e dos movimentos sociais. O único problema é que, nessa acomodação, uns têm ganhado muito mais do que outros.

Como estão com certa dificuldade para entusiasmar as pessoas com as novas medidas do governo na área econômica, a CUT, o MST e a UNE, com a ajuda do PSOL e do MTST, impulsionam um movimento pela reforma do sistema político algo mais à esquerda da que o governo articula com o PMDB. Movimento esse que, ao ocupar a Avenida Paulista como uma demonstração de forças contra os atos da direita, se pronunciou abertamente em defesa da “governabilidade” do novo mandato de Dilma “contra a direita”, e não disse nenhuma palavra sobre a falta de água que atinge a população paulistana.

Essas são os dilemas que a chamada “esquerda” coloca para os trabalhadores e a juventude no Brasil: cuidado com apuração do escândalo da Petrobrás, pois caso o PT seja demasiado atingido, o PSDB poderá ser eleitoralmente beneficiado; defendamos uma reforma do sistema político ao mesmo tempo em que sustentamos o governo que não quer nenhuma reforma que possa colocar em risco sua aliança com o PMDB; e defendamos mudanças econômicas e sociais favoráveis aos trabalhadores ao mesmo tempo em que sustentamos um governo que atende às exigências da patronal diante da crise.

Só é possível lutar seriamente em defesa das demandas do povo, contra os ataques que estão por vir e contra o fortalecimento da direita através da organização e da mobilização dos trabalhadores e da juventude de forma independente do governo. Respondendo a essa necessidade, o Movimento Nossa Classe, que reúne trabalhadores que estiveram na linha de frente das greves que sacudiram o país no último ano, vem fazendo um chamado aos sindicatos e oposições sindicais que se colocam como independentes do governo e da patronal a realizar um encontro de trabalhadores de base para preparar as próximas batalhas.

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