Segunda 29 de Abril de 2024

Nacional

NÃO PODEMOS ACREDITAR NO DISCURSO DE LULA E DA CUT

A crise não é passageira

23 Jan 2009   |   comentários

Nos últimos dias, com o aprofundamento da recessão e das demissões em massa nos EUA, Europa e Japão e com a chegada da crise na China, a fragilidade do sistema financeiro internacional veio à tona mais uma vez. Os analistas burgueses superficiais, que se apressaram em dizer que o pior já tinha passado e que os grandes pacotes de salvamento dos bancos poderiam estabilizar a situação, morderam a língua de novo. Com a posse de Obama, uma onda de otimismo se estendeu pelo mundo. Mas ela também é superficial e não deve durar muito. Ainda mais porque Obama, diferente das ilusões que grande parte da população dos EUA e dos povos oprimidos do mundo todo nele deposita, não passa de um agente da burguesia imperialista dos EUA e vai fazer de tudo para descarregar o custo da crise sobre os trabalhadores dos EUA e do mundo e salvar assim o capitalismo ianque.

No Brasil, o governo Lula está tratando de disfarçar a magnitude da crise económica, enquanto a patronal já iniciou suas medidas de ataque. Primeiro era o discurso do descolamento e agora, junto com os sindicalistas da CUT, nos dizem que a crise é passageira. Mas a crise é grande ’ só no mês de dezembro se perderam mais de 650 mil postos de trabalho - e vai se aprofundar muito nos próximos meses. O discurso de que a crise é passageira só serve para evitar que os trabalhadores comecem a lutar para manter seus postos de trabalho e enfrentar a ofensiva patronal, esperando que a coisa vai melhorar em breve. Mas enquanto isso, o governo já vai descarregando a crise sobre os trabalhadores, ao mesmo tempo em que injeta bilhões de reais no caixa de montadoras e grandes empresas em crise. O disfarce, no entanto, está caindo. A família trabalhadora, ameaçada e vítima do desemprego, explorada sob todas as formas pela patronal, encontra-se agora diante do agravamento do problema das dívidas, da inadimplência, da dificuldade em conseguir um empréstimo em situação de emergência. Vem despencando o crédito ao consumo familiar nos últimos meses e diminuem prazos e crescem juros na compra de eletrodomésticos e outros bens de consumo.

Em novembro último o nível de inadimplência da pessoa física mostrou ser o maior em cinco anos (7,8 %), o juro do cheque especial vem crescendo, assim como o do cartão de crédito, do crédito pessoal e do comércio. E os prazos para compra de uma geladeira e linha branca em geral que, na maioria dos anúncios, eram para 24 meses hoje caem para 12, 14 meses. Se esta situação for pensada nos marcos de crescente desemprego e agravamento da crise económica mundial (da qual o Brasil não está desacoplado como este jornal tem procurado explicar e que agora está ficando cada vez mais evidente) é fácil de deduzir, por um lado, que os bancos e Lula estão descarregando a crise nas costas dos mais vulneráveis ’ a classe trabalhadora ’ e que sua “resposta” à crise vem sendo no mínimo, criminosa.

Basta considerar o seguinte; o crescimento da economia brasileira dos últimos anos enriqueceu enormemente aos banqueiros e grandes empresas; inclusive cada grande empresa criou seu banco para lucrar no mercado financeiro e, dessa forma, o grande capital cresceu com a bênção de Lula ’ quem não lembra da Sadia, da Votorantim?. Ora, chegada a crise, qual a primeira reação do governo? “Salvar” essas mesmas grandes empresas ’ o exemplo das montadoras é bem conhecido ’ com muito dinheiro público, o mesmo que ele sempre disse faltar para escolas, transportes e hospitais, todos à míngua. O trabalhador, que sempre precisou se endividar para sobreviver está mais apertado nas suas contas e a patronal é que está sendo “salva” pelo governo.

Em seus mandatos, Lula teve a sorte de um processo económico mundial de bonança, com a China crescendo e comprando soja e matérias-primas daqui e de outros países. Também contou com a fartura de capitais no mercado internacional vindo ao Brasil para lucrar explorando os salários miseráveis daqui e se favorecer com os altos juros pagos pelo Banco Central. Este processo está questionado pela crise capitalista global. E assim, o outro forte motor do crescimento no período Lula, o crédito, também está sob questão: começou a escassez de crédito.

Aqui é necessária uma explicação: o tal crescimento económico brasileiro, tão propagandeado por Lula, foi bom para o capital financeiro, mas para os trabalhadores foi um desastre; para o governo funcionou como um disfarce diante da miséria geral. Em vez de ganhos salariais e de distribuição de renda, ao trabalhador só restou a opção de comprar financiado, de procurar o crédito ao consumo, em suma, de se pendurar em dívidas. O Brasil cresceu mais em endividamento do que em consumo e em renda real para quem vive do trabalho.

O peso do crédito na economia brasileira alcançou patamares inéditos: o peso do crédito em relação ao PIB atingiu o mais alto patamar da nossa história (quase 41 % dos 1,2 trilhões de reais do PIB). Em sua maior parte esse peso do crédito é a outra cara do “sucesso” dos bancos que emprestam pouco, caro e mal para os trabalhadores e muito para as empresas e em especial para o governo lucrando em taxas de juros que estão entre as maiores do mundo. A dívida interna é a maior da nossa história (mais de 1 trilhão de reais) e banqueiros e especuladores (o que inclui as empresas “produtivas” ) nunca ganharam tanto. Até que veio a crise global e querem que a classe trabalhadora pague por ela com desemprego, arrocho salarial, endividamento, juros altos.

O governo é cúmplice e responsável direto por esta situação já que funcionou, na bonança económica, como governo dos banqueiros e grandes capitalistas. Apesar do seu discurso e dos insuficientes programas sociais. E na crise, que é crise capitalista e não dos trabalhadores, trata de agir como pronto-socorro das mesmas empresas que ganharam aumentando a exploração do trabalho, terceirizando, e que agora vão demitir e afundar o país para se “salvar” .
É importante, neste caso, que os trabalhadores tenhamos presente na nossa reflexão e agenda de luta, dois pontos: primeiro a crise é deles. A crise local e mundial é a de um capital que veio privatizando tudo (de saúde, escolas até a vida) e procurando arrancar mais riqueza explorando mais profunda e amplamente ao trabalhador e sua família enquanto massas inteiras de capital se sobreacumulavam e procuravam lucro emprestando, especulando, oferecendo crédito por todo lado ’ riqueza fictícia ’ até o dia em que essa imensa bolha estourou.
Estourou nos países imperialistas, como os Estados Unidos, está estourando aqui, na mais clara demonstração de que a classe patronal (e seus políticos como Lula e todos os partidos patronais, do PMDB, PDT, PT até o PC do B, que também é governo) é incapaz de dirigir a economia, que deve passar às mãos dos que produzem a riqueza, a classe trabalhadora e seu aliados naturais, as massas pobres do campo e da cidade.

A perspectiva só pode ser: ELES OU NÓS. A burocracia das centrais sindicais quer que lutemos por um programa patronal. Nos atos e nos discursos nos carros de som vemos os trabalhadores com faixas que pedem ao governo a redução das taxas de juros e subsídios aos empresários ditos “produtivos” , como se a forma de garantir os empregos e a renda dos trabalhadores fosse salvar os capitalistas de seus próprios “excessos” provocados pela sede de lucro das “finanças” . Mas são esses mesmos empresários “produtivos” que recebem bilhões e bilhões de subsídios do governo que estão demitindo massivamente os trabalhadores e deflagrando uma ofensiva de flexibilização dos direitos e redução dos salários. Chamamos os trabalhadores que confiam no governo Lula e na CUT a exigir de suas direções que organizem um Congresso Nacional de Trabalhadores com delegados eleitos na base para unificar a classe em torno de um plano de luta realmente capaz de barrar os ataques da burguesia e preparar uma greve geral para obrigar os capitalistas a pagarem por sua crise.
Não podemos mais cair nas lorotas do governo Lula e da CUT. De imediato é preciso que nos organizemos coletivamente em cada local de trabalho na defesa de medidas ’ como por exemplo, nenhuma demissão e divisão das horas de trabalho entre empregados e desempregados ’ a partir dos trabalhadores, unindo terceirizados e não-tercerizados ’ para fazermos com que sejam os patrões que paguem pela sua própria crise.

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