Sexta 26 de Abril de 2024

Educação

Professores de Brasília: presente!

25 Feb 2015   |   comentários

Brasília, DF: professores em luta

A exemplo do Paraná, os professores das escolas públicas de Brasília entraram em greve no primeiro dia de aula, nesta segunda-feira, dia 23. Desde o ano passado não recebem abono, 13º e salários atrasados, além de trabalharem em precárias condições e jornadas extenuantes, na assim chamada “pátria educadora” do governo Dilma.

Terceirizados, merendeiras, professores e todos os funcionários do complexo escolar se recusaram a continuar trabalhando de graça, situação que se arrasta desde o fim do ano passado. De parte do governo local, Rollemberg/PSB, que aparece como “o novo”, como a “geração jovem e democrática de Brasília no poder” e coisas no gênero, a reação “democrática” não tardou: cobrou ontem dos tribunais que declarem a greve ilegal, que os dias parados sejam cobrados e que seja imposta contra o sindicato pesada multa de 50 mil reais por cada dia parado.

Uma professora situou bem o problema da hipocrisia dos políticos burgueses com o ensino público ao declarar que “eu, como educadora, me sinto muito triste com a situação em que vivemos hoje, em relação à desvalorização cada vez maior da nossa profissão”. É disso mesmo que se trata: educação, saúde, transportes, os serviços essenciais e públicos que as jornadas populares de junho de 2013 denunciaram por sua precariedade e que exigiram nas ruas, não interessam para o Estado, para esse mesmo Estado que vem favorecendo empreiteiras, bancos e altos lucros para as camadas ricas e burguesas da sociedade.

É um problema de classe: se a economia cresce, os ganhos vão para as elites, os serviços públicos que deteriorem; se a economia entra em crise, pior ainda para aqueles serviços e quanto ao trabalhador, que trabalhe de graça. Nunca há tempo bom para a classe trabalhadora, nem para seus filhos. E lutar pelos seus direitos, em uma democracia degradada, recebe imediata resposta do enganoso governo Rollemberg, isto é, imediata criminalização e judicialização da greve, punição por cada dia parado, afora a perseguição posterior das lideranças. A mensagem do governo é clara: quem faz greve por não ter recebido o salário, de um trabalho realizado em condições precárias, em seguida é punido tendo que pagar os dias parados... Nada de novo no reino da burguesia.

A contundente resposta dos professores públicos do Paraná, ao ocupar a sede do poder público e exigir resposta a suas demandas em posição de combate é uma lição, neste caso, para todos os trabalhadores do país. Aqui, o próprio governo local já teve o desplante de declarar, na voz do ex-esquerdista H Doyle, braço direito de Rollemberg: “Não adianta fazer greve, greve não vai fazer aparecer dinheiro”. Seu mantra é o de que o cofre está vazio .

Não estava vazio nas obras faraônicas superfaturadas, no estádio de primeiro mundo que levantou para uma cidade que não tem futebol, e nem estava vazio para a tradicional e impune roubalheira nos cofres públicos do GDF e nem para os altos aumentos salariais recentes para os deputados e altas esferas do poder local. O novo governo já entrou o ano impondo o tal “pacto por Brasília”, isto é, mais impostos, cortes públicos em áreas sociais e aperto fiscal, novamente o saque contra a população trabalhadora que vem sendo o verdadeiro alvo da roubalheira dos sucessivos governos burgueses locais de triste figura, desde Roriz, Arruda, Agnello e agora Rollemberg, que , dias atrás, fez amigável relação de trabalho com o oligarca Roriz.

Nesta sexta, 28, haverá outra assembleia dos professores, na frente do palácio de governo, e desde dezembro que há mobilizações, cortes de pistas como o Eixo Monumental, sendo que o sindicato vem agindo sob pressão das bases mas, por sua vez, adotando uma postura de contenção do movimento.

Esse mesmo sindicato tem impedido uma articulação combativa com os professores do Paraná, de São Paulo, de todos os lados onde estão em pé de guerra, assim como jamais permitiu a formação de núcleos democráticos de base por sala de aula, por escola, por região, para levarem adiante a luta. O comando de greve é burocrático, e não se articula com outras categorias, como os trabalhadores da saúde, cujos serviços estão em colapso e que também já promoveram cortes de pistas dias atrás.

Dos 27 mil professores do DF, uma parte deles não tem quaisquer direito trabalhista, são temporários, mas o sindicato jamais levou uma política em defesa ativa da imediata incorporação destes e também de todos os terceirizados, merendeiras e outros. Jamais levou a greve para dentro das salas de aula, procurando politizar os alunos com atividades culturais e debates políticos e de todo tipo durante a paralisação, na base de “cursos livres” e atividades lúdicas para ganhar o alunato ou sua vanguarda para fortalecer o movimento.

Este é o déficit a ser resolvido por uma oposição sindical tanto no sindicato dos professores, Sinpro, quanto no de terceirizados, Sindserv, e essa é também a forma de levar a classe trabalhadora a se conduzir como o único sujeito que pode dar saída para o problema da educação e do conjunto da sociedade, aliando-se a todos os oprimidos.

Quadro

No DF há déficit de professores: existem apenas 27 mil quando seriam necessários no mínimo mais 10 mil; as escolas estão em péssimo estado, o próprio secretário atual de educação reconhece que metade delas precisa de reparos que vão desde sanitários, portas, janelas, iluminação, pintura, lousa, carteiras e até telhado e parte hidráulica. No total de meio milhão de estudantes públicos a escola não tem almoço gratuito e nem há o direito a uma merenda que possa ser chamada de merenda, os professores são mal pagos, e é comum que não haja vaga onde o estudante reside; há 25 mil crianças em casa, sem creche pública, já que o governo não atende nem metade da demanda. Recentemente construíram uma escola sobre um lixão, e teve que ser interditada em seguida por conta do cheiro insuportável de gás, deixando 1,3 mil alunos prejudicados, o que dá bem uma ideia da hierarquia das escolas no orçamento do governo e no seu planejamento. Os diretores dos 1,2 mil colégios – entre públicos e particulares – não são efetivamente eleitos por professores, funcionários e alunos e falta tudo nas escolas, desde bibliotecas dignas do nome a material de informática e lazer. As cantinas vendem junk food e o currículo continua sendo desmotivante, burocrático e
extremamente conservador. Na cidade, o sistema de transporte em geral e escolar em particular é precário e difícil. Em suma: a prioridade da educação para a burguesia fica mais do que clara agora através deste governo que quer obrigar o professor a trabalhar de graça.

Com o governo petista de Agnello isso era bem claro: no fim do ano ele cortou as verbas das obras de reforma das escolas para gastar 2 milhões com o réveillon de rua; sem falarmos que ele e todos os anteriores, integram uma elite que saqueia impunemente os cofres públicos.

Não é um problema de governo A ou B e sim de que ou a classe trabalhadora se mobiliza e se organiza pela base para ser sujeito político ou jamais a política deixará de ser, nas mãos da classe dominante, balcão de negócios.

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