Quarta 1 de Maio de 2024

Teoria

A 90 anos da Revolução Russa

08 Aug 2007 | Fevereiro de 1917. Explode a revolução mais violenta de todos os tempos. Em uma semana a sociedade se desfaz de todos os seus dirigentes: o monarca e seus homens da lei, a polícia e os sacerdotes; os proprietários e os gerentes, os oficiais e os amos. Não há cidadão que não se sinta livre para decidir em cada momento sua conduta e seu porvir. Surge então, das profundezas da Rússia, um imenso grito de esperança, nessa voz se mescla a voz de todos os desesperados, os humilhados e os desamparados. Em Moscou, os operários obrigam seus donos a aprender as bases do novo direito operário. Em Odessa, os estudantes ditam aos professores um novo programa de história das civilizações; no exército os soldados deixam de obedecer aos seus superiores. Ninguém jamais havia sonhado com uma revolução assim. Agora esse sonho corre pelas veias de todas as almas desesperadas e desamparadas deste planeta. León Trotsky, "O grande sonho"   |   comentários

Há noventa anos da primeira revolução operária triunfante da história, após a degeneração stalinista e a restauração do capitalismo nos antigos Estados operários, o que prima no campo das idéias e das estratégias de transformação social são distintas negações da estratégia que em 1917 levou o proletariado russo, aliado aos camponeses a construir o primeiro Estado operário da história mundial. Há os que recaem numa espécie de pessimismo histórico, cujo ceticismo é o caminho mais curto para a adaptação e defesa da democracia burguesa degradada. Há os que para negar a degeneração burocrática, passam a defender que a luta contra o capitalismo não passa pela tomada do poder, e sim pela construção de "zonas autónomas", onde o Estado "não chega", ignorando o fato de que o Estado burguês como ferramenta de dominação do capital se expressa em toda parte, negando assim a necessidade de destruí-lo. Há ainda a variante em alta na América Latina dos governos nacionalistas-burgueses light, como os de Chávez e Evo Morales, que apesar de sua retórica "socialista" se inserem no marco do próprio aparato estatal burguês. E os que no próprio movimento revolucionário, como a LCR francesa, abandonam a defesa da ditadura do proletariado em nome da defesa de uma abstrata "democracia até o final".

É para fazer frente a esse cenário político-ideológico que consideramos fundamental resgatar a experiência da revolução russa de 1917, impulsionando uma grande campanha de propaganda da revolução e da estratégia revolucionária. Fazemos isso não como quem não viu passar os acontecimentos e derrotas do século que terminou, e sim como quem, ao contrário, quer extrair dele as lições para o presente e para o futuro. A posterior burocratização da imensa Revolução de1917 demonstra que sua internacionalização é uma questão de vida ou morte, que a ditadura do proletariado deve ser controlada pelas massas através de seus organismos, que a tomada do poder é só o primeiro passo no caminho para a sociedade sem classes. Porém, não concluimos de forma alguma que a revolução proletária deixou de ser possível e, sobretudo, necessária. Isso porque décadas e décadas se passaram, e as contradições entre os trabalhadores e os patrões seguem sendo irreconciliáveis, o lucro deles continua sendo o nosso suor e sangue, e por isso a única via para a emancipação dos trabalhadores segue sendo a destruição das armas de opressão e exploração dos patrões sobre nós, sendo a principal o seu Estado, com sua polícia e suas leis.

Reivindicamos a revolução russa no sentido do que dizia Lênin em 1922 de que com ela "levamos a cabo a revolução democrático-burguesa completamente, muito mais do que se havia feito em qualquer lugar do mundo. Isto é um grande triunfo e não há poder na Terra capaz de nos privar disso... Criamos um tipo soviético de Estado e com isso anunciamos uma nova era na história do mundo, a era da dominação política do proletariado, que superará a era da dominação da burguesia. Ninguém pode nos privar tampouco disso, ainda que o tipo soviético de Estado somente terá seu toque final com a ajuda da experiência prática da classe trabalhadora de muitos países. Porém não finalizamos a construção sequer dos alicerces da economia socialista e e as potências hostis do capitalismo sim ainda podem nos privar disso". Assim, queremos aportar para que os trabalhadores conheçam essa valiosa experiência e que ela possa servir para preparar os futuros combates nos quais o proletariado internacional completará a tarefa que a revolução russa apontou. É nesse espírito que nós da LER-QI, em conjunto com a FT e suas distintas seções impulsionaremos este ano, e em especial no mês de outubro uma ampla campanha integrada por uma série de atividades e debates, que serão divulgadas nas páginas deste jornal.

No imediato esta campanha começa com a iniciativa de impulsionar núcleos de estudo sobre a Revolução Russa na USP, Unesp, Unicamp e na PUC-SP. Nestes núcleos estudaremos o desenvolvimento desigual e combinado na Rússia, o chamado "ensaio geral" de 1905, a construção do Partido Bolchevique, a relação entre a 1ª Guerra mundial e a Revolução, as distintas fases da Revolução em 1917, os principais debates e lutas políticas que estiveram colocados na época e que também se desenvolveram posteriormente com a degeneração stalinista a partir de 1924. Serão utilizados textos de Trotsky, Lênin e outros complementares. Além disso, realizaremos um ato público na USP no dia 13/08, às 18hs, no prédio da Faculdade de Ciências Sociais (local a confirmar), com a presença de Jorge Grespan, professor de Teoria da História da FFLCH/USP, Luís Renato Martins, professor de Artes Plásticas da ECA/USP e Edison Salles, pós-graduando da PUC-SP. Estamos preparando ainda uma edição do livro Como fizemos a Revolução Russa, de León Trotsky, cuja única edição feita no Brasil está esgotada. Escrito em 1918, pouco depois da classe trabalhadora russa ter conquistado o poder e criado o primeiro Estado operário, foi pensado justamente para propagandear a revolução para o proletariado internacional. Pretendemos transformar seu lançamento, em outubro, num grande ato em homenagem à revolução de 17.

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