Quinta 2 de Maio de 2024

Internacional

Um "mapa de paz" contra a resistência na Palestina

06 Jul 2003   |   comentários

Nem havia ainda secado a tinta do novo "plano de paz" para o conflito palestino-israelense, quando uma nova escalada de recrudescimento do conflito ameaça mandá-lo pelos ares. O novo plano, ou "carta de intenções", impulsionado pelo imperialismo norte-americano com o apoio de União Européia, Rússia e Nações Unidas, vem sendo denominado "mapa da paz", e em quase duas semanas já ultrapassa sessenta o número de mortos, seja na série de atentados que se seguiu, seja pela ofensiva militar do exército sionista do Estado de Israel. É que apesar de algumas "concessões" por parte de Ariel Sharon, na verdade o que o acordo perseguia era o objetivo de ver os palestinos confinados definitivamente a guetos amuralhados, como se vê na construção em curso do "muro da separação" na Cisjordânia.

É que após seu triunfo imperialista no Iraque, os Estados Unidos pretendem avançar mais na sua política de redesenhar toda a região do Oriente Médio em função de seus interesses estratégicos. A configuração do novo "mapa da paz", apoiado por todas as potências imperialistas, pretende estabelecer uma saída reacionária para desmantelar a resistência palestina, e a partir daí, tentar criar uma "normalização" das relações entre o enclave imperialista de Israel e todo o mundo árabe. Porém, este novo plano começou a ser questionado pela própria resistência palestina, apesar dos esforços de Arafat e seu novo primeiro ministro Abu Mazen, que havia prometido terminar com toda resistência e desarmar a todos aqueles se opunham ao "mapa da paz".

O "mapa da paz"

No dia 4 de junho, Ariel Sharon e o premiê palestino, Abu Mazen, haviam acordado implementar o novo "plano de paz" numa reunião de cúpula com o presidente dos EUA, George W. Bush, na Jordânia. Antes deste encontro, Bush tinha se encontrado com lideranças dos estados árabes ditos "moderados", do Egito, Jordânia, Arábia Saudita e Bahren, para obter um apoio completo para a nova investida imperialista, além do compromisso de "combater o terrorismo".

A política de Bush é tentar avançar, através da reestruturação da Autoridade Palestina, para moldar um novo tipo de regime para esta direção palestina, o que passa pelo afastamento de Arafat, e pelo estabelecimento de um governo que cumpra todos os desígnios de Israel e do bloco imperialista dos Estados Unidos, União Européia, Rússia e Nações Unidas É que para o imperialismo e seus aliados sionistas, Arafat já não era confiável, porque apesar das enormes concessões que fez, era mais permeável à pressão das alas radicalizadas da Intifada como Hamas, Jihad Islâmica e as brigadas armadas de Fatah. Com este objetivo impuseram como primeiro ministro a Abu Mazen, que, "no final das contas, é uma ’invenção’ americana" e um dos mais pró-imperialistas da Autoridade Palestina, homem que se comprometia ao desarme do povo palestino e de todos os grupos que resistem à ocupação, eliminando todo grau de resistência contra a ocupação de Israel. A Israel, não lhe pedem nada comparável, a não ser o abandono de pequenos assentamentos denominados "ilegais", e o "congelamento" das grandes colónias - mas não sua eliminação. Não se fala nada do que têm sofrido os palestinos nas mãos de Israel e dos Estados Unidos desde 1948, com destaque para a guerra de 1967, e todos os anos que se seguiram de enorme submissão e massacre. Também nem uma só palavra sobre o gigantesco "muro de separação" que Israel está construindo na Cisjordânia, mais de 347 quilómetros de muralha de norte a sul, dos quais já foram construídos 120 quilómetros. Para Israel trata-se simplesmente de "cooperar" a fim de que os palestinos eliminem sua resistência, enquanto a ocupação militar continuará quase como até hoje, ainda que "relaxada" nas regiões ocupadas na primavera de 2002.

O objetivo era que neste mês de junho culminasse a primeira fase, desmantelando 60 assentamentos; uma segunda fase, que duraria até dezembro de 2003, estudaria "a opção de criar um Estado Palestino independente com fronteiras provisórias e atributos de soberania"; e, por último, o plano era acabar definitivamente o conflito com a culminação de um inviável estado palestino para 2005, que contaria apenas com cerca de metade do território que o ex-premiê israelense Ehud Barak discutiu com os palestinos três anos atrás. Enfim, tudo não passa de uma nova tentativa de legalizar a colonização sionista em todo o território histórico da Palestina. Para este fim, Abu Mazen, estava tratando de negociar um cessar-fogo com Hamas, Jihad Islâmica e outros grupos, mas que não foi conseguido, o que tem desatado a nova ofensiva de Ariel Sharon, uma medida que na verdade visa a provocar uma guerra civil entre os próprios palestinos. Como afirma um analista "a possibilidade de uma sangrenta guerra civil entre palestinos, provocada pelo próprio ’mapa do caminho’, não deve ser descartada". Para Bush e Sharon, a chave do plano está em que "um estado palestino democrático completamente em paz com Israel, assegurará e promoverá a segurança a longo prazo e o bem-estar de Israel como estado judeu", quer dizer, o próprio plano prevê o reconhecimento explícito do caráter racista do estado sionista. Mas a primeira fase já voou pelos ares devido à resistência palestina.

Frente ao perigo do fracasso do "mapa da paz" pela retomada da Intifada, o imperialismo reforçou sua ofensiva enviando Colin Powell, para se reunir com representantes de Rússia, União Européia e Nações Unidas na Jordânia, e com o governo de Israel e a Autoridade Palestina, após já ter enviado o ex-diplomata John Wolf, encarregado de liderar uma equipe americana que vai monitorar os progressos da imple-mentação do "plano de paz". Mas alguns analistas já se perguntam: "Continua sendo viável o ’mapa do caminho’? Não está claro. Ninguém até o momento o declarou morto. Mais ainda: os diplomatas continuam trabalhando na sua aplicação. O ’mapa do caminho’ continua sendo o único plano de paz sobre a mesa de negociações e a comunidade internacional dificilmente renunciará a ele tão facilmente. Mas ao mesmo tempo os diplomatas sabem que nos últimos dois anos nenhuma iniciativa de paz tem resistido a períodos de violência sustentada" (BBC, 12 de junho). Para Bush, trata-se de desmantelar a luta de libertação do povo palestino para avançar a uma maior estabilidade em toda a convulsionada região do Oriente Médio, que está marcada hoje por um profundo sentimento antinorte-americano e pelas contradições abertas após a ocupação no Iraque, as quais podem abrir novos fenómenos de resistência.

Pelo direito de autodeterminação do povo palestino, pela destruição do estado de Israel! Fora o imperialismo ianque de todo o Oriente Médio!

A aplicação do "mapa da paz" tem como objetivo obrigar os palestinos a renunciar a seus direitos democráticos mais elementares como a autodeterminação nacional e o direito ao retorno dos refugiados, expulsos pela ocupação de Israel. Uma ocupação que começou em 1948 com a fundação do estado artificial de Israel assentado sobre a base da limpeza étnica e a expulsão da população árabe. Ao longo de sua história, o estado sionista de Israel, apoiado pelo imperialismo, perseguiu uma política expansionista através de guerras e de ocupações militares diretas, estabelecendo em territórios ocupados novos assentamentos de colónias.

A autodeterminação do povo palestino é incompatível com a existência desse enclave racista e imperialista e só será possível sobre a base da destruição do estado de Israel, no caminho de uma luta por uma Palestina operária e socialista. Para os povos da região o sofrimento do povo palestino sob ocupação sionista é comparável agora com a humilhação do Iraque sob colonização norte-americana. Hoje, mais do que nunca, é necessário que a raiva das massas muçulmanas e árabes se transforme numa mobilização e unidade revolucionária para expulsar o imperialismo do Iraque e de todo Oriente Médio, e enfrentar seus governos reacionários, no caminho de conquistar uma verdadeira emancipação de toda opressão e exploração.

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