Quarta 24 de Abril de 2024

Nacional

Polêmica com o PSTU

Uma política ultra-esquerdista na "forma" e oportunista no "conteúdo"

10 Sep 2004   |   comentários

A Conlutas tem reunido sindicatos que se colocam contra a política do governo Lula. Nessa Coordenação convivem sindicatos filiados à CUT e sindicatos que inclusive já saíram da CUT. A Conlutas é um passo muito progressivo que indica a possibilidade de unir e coordenar diversos sindicatos e milhares de trabalhadores contra a política do governo.

No entanto, diversos sindicatos dirigidos pelo PSTU têm iniciado o processo de desfiliação da CUT com a política de construir uma nova central com uma ultra-minoria [1] de sindicatos, enquanto milhões de trabalhadores permanecem sob a influencia da burocracia sindical cutista. Os revolucionários em outras épocas já se depararam com este tipo de política ultra-esquerdista e aventureira.

Trotsky dá uma resposta contundente a este problema: “O capitalismo só pode continuar mantendo-se se diminui o nível de vida da classe operária. Nestas condições, os sindicatos podem transformar-se em organizações revolucionárias ou em correias de transmissão do capital que intensifica a exploração dos trabalhadores. A burocracia sindical, que resolveu satisfatoriamente seu próprio problema social, tomou o segundo caminho. Toda a autoridade da qual gozavam os sindicatos se voltou contra a revolução socialista e inclusive contra qualquer tentativa dos trabalhadores de resistir aos ataques do capital e da reação. (...) Desde esse momento, a tarefa mais importante do partido revolucionário passou a ser liberar os trabalhadores da reacionária influência da burocracia sindical. (...). Nestas condições, surge facilmente a idéia de se não é possível superar os sindicatos. Não poderiam ser substituídos por algum tipo de organização nova, não corrompida, como os sindicatos revolucionários, os comitês de fábrica, os soviets e outras similares? O erro fundamental destas tentativas é que reduzem a experimentos organizativos o grande problema político de como liberar as massas da influência da burocracia sindical. Não é suficiente oferecer às massas uma nova direção há que buscar as massas onde elas estão para dirigi-las” . [2]

Por isso a política do PSTU na “forma” é esquerdista, porém é oportunista no “conteúdo” , sendo uma nova capitulação à burocracia sindical já que lhe facilita o terreno para continuar enganando e traindo os trabalhadores.

Ao contrário do que pensam os sindicalistas do PSTU que, posando de “radicais” , gostam de dizer que “a CUT morreu” , acabamos de ver, bem viva, essa burocracia traidora dominar a campanha salarial dos metalúrgicos e dos bancários, fazendo acordos miseráveis com os patrões e banqueiros. A realidade demonstra que a CUT não morreu e os burocratas estão aí, firmes e fortes para enganar, dividir e dominar os trabalhadores e seus sindicatos para aplicar a estratégia de aliança com os patrões e o governo capitalista de Lula.

A realidade nos obriga precisamente a construir um Pólo Anti-burocrático que vá a cada fábrica do ABC, a cada banco, a cada refinaria de petróleo para convencer cada trabalhador que ainda confia ou está dominado pela direção burocrática da CUT e seus sindicatos de que é possível lutar contra a política do governo e unir e coordenar as lutas para enfrentar os planos patronais e os pactos e tréguas dos burocratas sindicais. O caminho fácil de fundar novas centrais sindicais “vermelhas” com uma minoria de sindicatos não tem nada a ver com as tradições combativas da classe operária.

Para justificar sua saída da CUT, o PSTU coloca o argumento da corrupção: “Os problemas da CUT não se resumem ao apoio à proposta das reformas Sindical e Trabalhista como propõe o texto do Fortalecer a CUT. Através de capitulações políticas se estabeleceram relações económicas, materiais, que liquidaram definitivamente com a independência da central frente ao Estado, ao governo e aos empresários. Processos que vinham desde antes, como as verbas do FAT e as parcerias com empresas, passaram a um patamar superior sob o governo Lula. Nomeações de sindicalistas para cargos públicos e liberação de verbas de bancos oficiais para projetos dirigidos pela CUT viraram rotina” . [3] Mas a CUT há muito tempo é dirigida por corruptos que se utilizam das prebendas do Estado e dos capitalistas para seus próprios interesses. Na mesma discussão que Trotsky faz com os aventureiristas responde a este tipo de argumentações: “Os esquerdistas impacientes dizem às vezes que é impossível ganhar os sindicatos porque a burocracia utiliza o regime interno destas organizações para salvaguardar seus próprios interesses, recorrendo às mais baixas maquinações, repressões e intrigas, ao estilo da oligarquia parlamentaria da era dos ”˜municípios podres”™. Por quê então perder tempo e energias? Na realidade, este argumento se reduz a abandonar a luta real para ganhar as massas, utilizando como pretexto a corrupção da burocracia sindical. Ainda assim pode ser mais desenvolvido: por quê não abandonar todo o trabalho revolucionário, dadas as repressões e provocações da burocracia governamental? Não existe nenhuma diferença de princípios, já que a burocracia sindical tem se convertido definitivamente em parte do aparato económico e estatal capitalista. É absurdo crer que poderia-se trabalhar contra a burocracia sindical contando com sua ajuda ou sequer com seu consentimento.” [4] Como vemos a direção do PSTU não é nada original, nem sequer nos argumentos.

Os sindicalistas do PSTU e da esquerda ’ “radicais” ’ passaram 21 anos defendendo a “unidade da CUT contra os pelegos da CGT e da Força Sindical” . Isso foi uma meia verdade, portanto uma mentira, porque se era correto denunciar a CGT e a Força Sindical como pelegos, de outro lado era uma mentira quando diziam que a CUT era “democrática, combativa, socialista, internacionalista, revolucionária” e tantas outras falsidades. Se falavam uma verdade contra os pelegos da CGT e Força Sindical, mentiam aos trabalhadores, fazendo com que passassem a confiar nos burocratas da CUT como “combativos e não pelegos” . Ou seja, durante toda a história da CUT os sindicalistas do PSTU e os “radicais” ajudaram a burocracia da CUT a firmar uma falsa imagem de que não eram pelegos nem burocratas, mas “dirigentes combativos da CUT” . Agora, depois de ensinar os trabalhadores de que os burocratas da CUT eram combativos e não pelegos, querem que os trabalhadores compreendam essa “transformação” imediatamente, sem que a experiência concreta o demonstre. Ao invés de “radicais” , esses companheiros mostram seu “oportunismo” , com uma aparência sectária, pois se negam, na prática, a lutar para unir a classe e desmascarar a burocracia da CUT e expulsá-la dos sindicatos, deixando-a tranqüila para continuar seu domínio enganando os trabalhadores. Com isso, o erro fundamental destas tentativas aventureiras tipo o PSTU é que reduzem a experimentos organizativos o grande problema político de como liberar as massas da influência da burocracia sindical.

[1O PSTU diz que: “A ruptura com a CUT é um processo objetivo (...) São traições como essas que promoveram a ruptura com a CUT. Não se trata simplesmente da vontade de alguns agrupamentos da esquerda da central ou, apenas, um sentimento de vanguarda. São setores de massa que não aceitam mais a CUT como sua entidade representativa” . (Jornal Opinião Socialista, no 186). No entanto, o próprio Zé Maria diz que, na melhor das hipóteses, até janeiro serão cerca de 100 sindicatos com uma base de 600 mil trabalhadores que até janeiro romperiam com a CUT. Pois bem: a CUT tem 3.320 sindicatos, 7,4 milhões de filiados e 22 milhões de trabalhadores representados. É ou não é ainda minoritário o processo de ruptura?

[2Trotsky, “O ILP e a nova internacional” , 4 de setembro de 1933.

[3Jornal Opinião Socialista, no 186.

[4Trotsky, idem.

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