Sexta 26 de Abril de 2024

Internacional

Racismo e brutalidade policial nos Estados Unidos

25 Aug 2014   |   comentários

O assassinato do jovem afroamericano Michael Brown, pelas mãos da polícia da cidade de Ferguson há menos de duas semanas, reacendeu a chama da revolta contra a opressão racial nos Estados Unidos, e fez com que milhares se mobilizassem pelos quatro cantos do país. A resposta à revolta gerada pela morte deste jovem que estava desarmado tem sido a repressão. À medida que as horas passam, mais informações sobre sua morte e a enorme violência policial são (...)

O assassinato do jovem afroamericano Michael Brown, pelas mãos da polícia da cidade de Ferguson há menos de duas semanas, reacendeu a chama da revolta contra a opressão racial nos Estados Unidos, e fez com que milhares se mobilizassem pelos quatro cantos do país. A resposta à revolta gerada pela morte deste jovem que estava desarmado tem sido a repressão. À medida que as horas passam, mais informações sobre sua morte e a enorme violência policial são reveladas.

Sobram motivos

As manifestações que estão se desenvolvendo há mais de 10 dias em Ferguson –transformando-a em uma cidade em plena rebeldia – além da jornada nacional com ações em mais de 90 cidades na semana passada, expressam um grande setor que começa a se manifestar contra a ação policial em relação à população afroamericana e latina e a forma pela qual jovens como Michal Brown são estigmatizados. Os mais conhecidos nos últimos anos são Oscar Grant em Oakland e Travor Martin na Florida, mas não são os únicos. Somente no último mês outros três homens afroamericanos foram vítimas fatais da polícia.
No caso de Michael Brown, as primeiras informações dadas pelas autoridades locais não especificavam a quantidade de tiros que tinha recebido. Os resultados de um exame pedido por sua família, porém, determinaram que o jovém recebeu 6 tiros de frente, dois deles na cabeça. Esta investigação também afirma que Brown estava com os braços levantados no momento dos disparos, como declarou em várias ocasiões seu amigo Dorian Johnson, que estava com ele no momento. Ou seja, trata-se de um verdadeiro fusilamento.

Aos resultados revoltantes da autopsia, somou-se um vídeo de conteúdo absolutamente provocador, onde Brown supostamente aparece em uma cena de roubo, algo que a família negou e gerou ainda mais ódio aos protestos. Após várias manifestações, a policial local revelou o nome do policial que disparou contra Brown, Darren Wilson, que foi afastado de seu posto, mas ainda continua livre e sem ordem de prisão.

O governador de Missouri, Jay Nixon, declarou estado de emergêrncia e um toque de recolher no último fim de semana, medidas que não conseguiram acalmar os protestos. Por esse motivo solicitou a entrada da Guarda Nacional ao condado de St. Louis. As provocações da polícia continuam aumentando nas últimas noites, com uso de gás lacrimogênio e inclusive novos feridos, três deles em estado grave e mais de 100 presos.

Com estes métodos escandalosos pretendem evitar um cenário que poderia se repetir, como em 1992 em Los Angeles (durante a “revolta de Rodney King”), quando morreram entre 50 e 60 pessoas como resultado da repressão policial. Somou-se ainda o assassinato de outro jovem afroamericano no dia 18 pelas mãos da polícia do condado, somente a 6 quilômetros de Ferguson. Ali, os a população também é majoritariamente afrodescendente, vinham acontecendo protestos contra a violência policial.

A Guarda Nacional e a crescente militarização da polícia

Em um acontecimento sem precedentes, HRW (Human Rights Watch) e Amnesty (duas das principais organizações de direitos humanos no mundo) enviaram observadores por conta da repressão, e a própria ONU se pronunciou esta semana contra a violênca racial e a repressão às manifestações, que segundo Navi Pillay (Alto Comissariado para os direitos humanos desta organização), se assemelham à violência racial do regime do apartheid na África do Sul.

A população local vem denunciando a resposta militarizada da força policial, que inclui agentes preparados com uniforme de combate, armados com fuzis automáticos e tanques blindados. É o próprio Pentágono que fornece armamento e equipamento militar às polícias locais. Os mesmos que os EUA utilizam para invadir e assassinar em países como Iraque e Afeganistão.

A Guarda Nacional também tem sido chamada para fazer parte dos destacamentos militares contra os manifestantes e a juventude. A Guarda Nacional é a milicia estatal cuja função é mobilizar-se em catástrofes naturais, assim como enfrentar situações de “desordem pública”, porém seu objetivo principal é a defesa da propriedade privada. Essa força se destacou por seu papel racista, como se viu durante o furacão “Katrina” em Nova Orleans em 2005. Ali, a Guarda Nacional priorizou o resgate da população branca, enquanto os afroamericanos sobreviviam confinados no estádio de futebol, e instaurou um toque de recolher sob o pretexto de evitar saques.

A opressão racial

A perseguição e a criminalização da população afroamericana e latina nos EUA não são novidade. O debate sobre a vigência do racismo e desigualdade se abre mais uma vez nesse país. Segundo um estudo publicado pelo Comitê de Advogados de Washington, a maioria dos afroamericanos sofrem alguma prisão ao longo de sua vida. Apesar de serem 16% da população total, compõem 50% da população carcerária, sendo que sua taxa de encarceramento é 6,5 vezes superior à dos brancos.

Em Ferguson continua existindo uma enorme desproporção entre a porcentagem majoritária da população afroamericana e as autoridades predominantemente brancas. A crise que o assassinato de Michael gerou se estendeu a outras esferas do poder. Obama se viu obrigado a interromper suas férias e se pronunciar publicamente, ainda que cinicamente, fazendo um chamado a lembrar de Brown “através da reflexão e compreensão” e a manter “a paz e a calma”, ao mesmo tempo em que a cidade está militarizada.

As ilusões no primeiro presidente negro continuam ruindo, como demonstram a continuidade da opressão racial, e, em relação aos imigrantes, a política imperialista no Oriente Médio e em outras regiões do mundo. Demonstra, assim, que a política imperialista não é somente para fora como também para os setores explorados e oprimidos de sua própria população, como expressam as altas porcentagens de afrodescendentes nas prisões, nos trabalhos mais precários e ainda são os que têm menos acessoa estudos universitários.

Armados até os dentes

O programa 1033 de armamento militar é uma política de começou em 1997, no qual os estados podem dispor de armamento militar sem contar com regulação federal, e através do qual são investidos centenas de milhões de dólares. Isso aumentou o poder das forças militares e da polícia em âmbito nacional nos últimos anos. A resposta militarizada em Ferguson é uma das consequências dessa política.

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