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BRASIL FORTE?

Por detrás da comemoração de Lula: crescentes contradições da economia e maiores padecimentos para os trabalhadores

16 Jun 2009   |   comentários

As comemorações de Lula e seu governo da recessão menor que o esperado por analistas do mercado financeiro escondem a profundidade da crise capitalista e seu impacto no Brasil. O uso deliberado de somente parte dos dados económicos disponíveis visa encobertar retórica e factualmente a política do governo Lula frente à crise: toda ajuda aos grandes capitalistas nacionais e estrangeiros, fazer à classe operária e às massas pagarem a conta da crise sem que isto seja acompanhado de convulsões sociais.

O pior ainda está por vir

Esta semana Lula comemorou que o Brasil está novamente, tecnicamente, em recessão, mas “menos que os países ricos” . A queda no primeiro trimestre de 0,8% que seguiu à queda de 3,6 do trimestre anterior, fez o Brasil entrar no terreno oficial da recessão com um índice inferior ao de países como Japão, Alemanha e Estados Unidos. A redução da economia brasileira quando olhada comparando o primeiro semestre de 2009 com o de 2008 foi de 1,8%. A maioria dos analistas, inclusive os vinculados à mídia mais anti-Lula, recebeu estes números com a mesma visão do governo ’ “o pior já passou” e a política de gastos do governo e incentivo ao crédito teriam reduzido a crise no Brasil ao garantir um maior “consumo das famílias” (termo para gastos não empresariais nem do governo mas que abarcam tudo desde compra de jet-skis a arroz e feijão). Esta euforia encobre como a classe trabalhadora está pagando por esta crise e como acumulam-se contradições na economia brasileira.

A redução expressiva de praticamente todas variáveis na economia brasileira menos o “consumo das famílias” aponta contradições crescentes. O PIB ’ Produto Interno Bruto, valor que corresponderia a todos valores produzidos e circulados no país no período ’ caiu expressivamente em seu componente industrial (queda de 9,3% em relação a 2008) e os investimentos caíram 14% (na maior queda desde 1996). A queda nestes setores que são fundamentais do ponto de vista da geração de empregos e na qualidade do comércio exterior do país (que potencialmente teria um maior valor agregado) foram acompanhadas ao mesmo tempo por um resultado positivo nas contas externas. Mesmo com expressiva queda na indústria as contas externas melhoraram ’ ou seja, aumentando a dependência do país a sua exportação de commodities como soja e ferro particularmente à China. O balanço das exportações e importações contribuiu positivamente no compito nacional. As contas externas contribuíram positivamente com 0,2% do PIB, enquanto as variáveis domésticas contribuíram com -2%, totalizando -1,8%.

Ao mesmo tempo em que o país respira momentaneamente ’ e em uma recessão ’ com a formação de estoques em curso na China e a conjuntural alta das commodities, os aspectos internos da economia também se deterioram. A recessão de -1,8% é muito mais aguda do que o governo aponta se considerarmos que a população do país cresce anualmente cerca de 1,2% (fazendo a recessão ser de no mínimo 3%, tornando-a aproximadamente da magnitude da americana), e que este “consumo das famílias” que quase se manteve frente ao aumento da população deve-se a maior endividamento que se tornará mais difícil de ser pago enquanto cresce o desemprego e diminuem os salários, ou frente a novos abalos internacionais que restrinjam novamente o mercado de crédito. O país dá passos para aproximar-se dos 13% de desemprego de 2004. Na indústria o “crescimento de Lula” é na verdade -6,6% de empregos desde setembro, -7,1% horas pagas e uma folha de pagamento (inclui demissões) de -2,8% no mesmo período.

O malabarismo com os números esconde que os trabalhadores já estão pagando, e muito, pela crise. A política de Lula visa que os trabalhadores não enfrentem a patronal atacando seus lucros e propriedade para garantir seus interesses mas que continuem prostrados graças a sua popularidade e a ação das centrais sindicais como CUT, Força Sindical e CTB que contribuem para que os ataques capitalistas passem sem resistência operária. Nós trabalhadores precisamos superar estes burocratas e o governo Lula e nos organizarmos independentemente para defendermos nossos interesses contra os capitalistas e impedir que esta brutal crise capitalista mundial se transforme cada vez mais em uma catástrofe social.

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