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Segunda 6 de Maio de 2024

Internacional

Os operários seguem em luta na Argentina

Kraft, uma luta política de fundo

11 Oct 2009   |   comentários

Se faltava algo a ser conquistado pela fenomenal luta de Terrabusi era comover a própria cúpula da CGT. Moyano se viu obrigado a receber os membros da comissão interna que, dias antes, havia acusado de “ultra-esquerda” e de “politizar as reclamações” . Depois de ter colaborado com suas declarações no operativo que preparou a desocupação repressiva, o chefe da CGT agora se declarou “solidário” . Este giro foi uma mostra clara de que a tentativa de “normalizar” a fábrica com o terror policial e o isolamento, havia fracassado devido a mais de 50 dias de luta dos trabalhadores demitidos, seus delegados e as enormes demonstrações de apoio e ações solidárias em todo o país e inclusive internacionalmente.

O giro da burocracia não corresponde ao clamor dos operários da Kraft que pediram a eles uma greve geral que daria cheque-mate a patronal ianque, a qual Moyano negou. A direção da CGT continua uma mudança na tática do próprio governo e seu Ministério do Trabalho. A CGT é parte, agora, de um operativo de “contenção” e desgaste. Como expressamos nessas páginas, depois do triunfo que significa a resolução judicial de reinstalar Ramón Bogado, querem dividir a comissão interna para quebrar a organização de base dos trabalhadores. Para além do re-acomodamento, a direção da CGT é hostil ao que não controla burocraticamente, como demonstra seu apoio à patota da UTA contra o Corpo de Delegados do Metró a quem o governo nega o reconhecimento de seu sindicato independente.

Uma luta política de fundo

Já havíamos adiantado que, apenas uns dias depois do triunfo eleitoral de De Narváez, o advogado da Kraft, o mesmo que esteve representando-a na última reunião no ministério do Trabalho, Julián De Diego, disse que nas grandes empresas “o tema mais grave não está ligado apenas ao estritamente económico” . Para o assessor da multi-nacional teria que acabar com “os delegados que passaram a ter um protagonismo chave” e “o estado assembleário criado em muitas empresas líderes ou com grandes dotes, a propósito do questionamento à representatividade dos distintos estamentos da estrutura sindical, que não se caracterizou, por ser muito democrática” . Agora, De Diego acaba de dar uma conferência na Associação dos Executivos de Mendonza para explicar que as reclamações “estão politizadas” .

Um verdadeiro cinismo depois que o monopólio ianque que assessora, reuniu atrás de si as corporações patronais como a UIA e a Copal, as forças do Estado, fiscais, juízes e policiais, e até o respaldo da Embaixada norte-americana para atacar a organização operária no local de trabalho. Uma clara tentativa de golpe político de uma empresa que atua como avançada de uma ofensiva das patronais contra as comissões internas e os corpos de delegados que saiam do controle da burocracia sindical e sejam ferramentas de luta.

É uma luta política de fundo. As comissões internas e os corpos de delegados foram historicamente o fundamento do poder da organização sindical na Argentina. Nos momentos de crescimento económico, como durante o primeiro peronismo, esses organismos foram a ponta de lança para recortar cotas de mais-valia às patronais. Em épocas de crise capitalista aguda, essa organização chegou a questionar o poder no local de produção e inclusive transcender e extender-se territorialmente, formando como em 1975 as coordenadoras inter-fabris que transbordaram a burocracia sindical e enfrentaram com a greve geral o governo de Isabel Perón. Contra essas organizações sindicais nas empresas teve unidade de todos os setores capitalistas em torno da saída do golpe militar de Videla, desde o gorila de Alsogaray que chamou a eliminar “os soviets nas fábricas” até a UCR que as assinalou como “guerrilha fabril” . A ditadura genocida fez desaparecer à combativa geração dos 70 mas não póde tirar definitivamente da classe operária a tradição de suas organizações de base. Foi nos anos 90 ’ sobre a base das leis de flexibilização e a generalização do trabalho precário- que deixaram de ser organismos que unificavam toda a fábrica. No sindicato da alimentação, mais que em qualquer outro ramo, com o desembarque das multi-nacionais, instaurou-se uma altíssima proporção de trabalhadores contratados e agências temporárias de emprego. Não a toa foi Rodolfo Daer o chefe da CGT menenmista, um produto direto dessa derrota do movimento operário na década neoliberal. Aqui reside o enorme valor do surgimento nos últimos meses de um corpo de 40 delegados eleitos pelo voto de todos os turnos e seções da fábrica de Pacheco. A virulenta reação dos ianques da Kraft se dá em momentos nos quais os monopólios dos principais ramos da indústria se preparam para certa recuperação produzindo o mesmo com menos trabalhadores e maiores ritmos de trabalho, o que é incompatível com a democracia fabril das comissões internas e dos corpos de delegados. Esta é a chave da luta operária que vem concentrando a atenção do país.

A abertura para nova corrente política na classe trabalhadora

Desde Moyano até o advogado da Kraft, passando pelos colunistas dos principais jornais e meios massivos, atacam os delegados da Kraft como “ideologizados” e “politizados” por causa da influência da esquerda e sua “intransigência” . A operação consiste em evitar que a força que demonstra a classe trabalhadora e suas organizações de base avance como força política independente. O objetivo é despolitizar a experiência que começou parte da geração operária. Não apenas em Terrabusi, mas em amplas faixas da classe trabalhadora, começou um processo de luta e organização em empresas e grêmios que tem se politizado no calor dessa pulsação nacional. Com a irrupção da classe operária no cenário político que abre a luta da Kraft, são dezenas de milhares os que podem ir à esquerda.

Cada vez mais claramente se coloca a necessidade de criar uma grande corrente nacional no movimento operário que concentre os delegados combativos e organizações anti-burocráticas, para lutar em todos os locais de trabalho para estender e desenvolver as comissões internas e corpos de delegados com absoluta liberdade para os partidos que participam da luta da classe operária. A proposta do PTS é impulsionar desde as próprias organizações combativas e dirigentes anti-burocráticos um movimento político por um Partido de Trabalhadores, com independência de todas as frações patronais, que não vá atrás da UIA e da Copal como faz a CGT peronista, nem da Mesa de Enlace agrária como setores da CTA, a centro-esquerda e uma parte da esquerda como a CCC e a Ripoll. Um partido da classe trabalhadora que enfrente a repressão e os enganos da conciliação de classes, que busque a aliança com os setores populares e do movimento estudantil por trás de um programa para que a crise seja paga pelos capitalistas.

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