Domingo 5 de Maio de 2024

Movimento Operário

A LUTA DE KRAFT-TERRABUSI

Comissões Internas, esquerda classista e “vazio” de representação sindical

19 Apr 2010 | APRESENTAÇÃO O conflito na fábrica Kraft Foods (ex Terrabusi) está sendo o conflito operário industrial mais importante das últimas décadas na Argentina. Em seu desenvolvimento, se transformou em um fato político nacional, incorporando-se na “agenda” diária da CGT, das câmaras empresariais, e até da embaixada norte-americana. Numa breve crónica dos fatos, o conflito começa em 18 de agosto quando a empresa comunica a demissão de 158 trabalhadores, entre eles cinco delegados da Comissão Interna, a maioria do Corpo de Delegados de Base – estes ainda não reconhecidos pelo Sindicato nacional nem pela empresa – e ativistas[2]. O Ministério do Trabalho ordena a conciliação obrigatória, mas a mesma não é acatada pela empresa, motivo que desata uma greve dos trabalhadores com ocupação e permanência dos demitidos, cortes da rua Panamericana, mobilizações no Ministerio do Trabalho, cortes e ações de solidariedade em diferentes pontos do país, festivais e atos em frente à fábrica. O conflito se intensifica com a militarização do prédio fabril por parte da polícia bonaerense, com a intenção da empresa de impedir a entrada e a saída dos trabalhadores demitidos da fábrica. A pesar disso, e da repressão policial, os trabalhadores continuaram entrando na fábrica. Neste marco se aprofundou a solidariedade de outros atores com o conflito (organismos de Direitos Humanos, organizações operárias e estudantis, deputados, personalidades da arte e da cultura). Se realizam novos cortes da rua Panamericana – chegando até a duas no mesmo dia -, e em varias outras avenidas, e cortes supresa de ruas centrais da Capital Federal por parte de Centros Acadêmicos solidários. Neste marco de agudização do conflito, as principais câmaras empresariais argentinas, a União Industrial Argentina (UIA) e a Coordenadora de Produtos Alimentícios (COPAL) – dirigida por um ex funcionario da ditadura de Videla, Jorge Zorreguieta – pedem que se reestabeleça a orden e que os trabalhadores sejam desalojados da fábrica. Por sua vez, a embaixada norte-americana intercede ante o governo a favor da empresa, solicitando publicamente o retorno à “normalidade” na fábrica. Por sua vez, as direções sindicais tradicionais dirigidas por Hugo Moyano da CGT e Rodolfo Daer da STIA (Sindicato da Alimentação), condenam as medidas de luta dos trabalhadores por estar “ideologizadas” e ter “politizado as reivindicações”. A paralisação da fábrica de Gral Pacheco se mantém assim durante 37 dias, até 25 de setembro, em que os demitidos que permaneciam no interior são desalojados violentamente por um operativo repressivo da polícia bonaerense e se fortalece a presença policial dentro da fábrica. Após este fato, o conflito ingressa em uma nova fase na que, apesar que se mantém as medidas de luta por parte dos operários (agora fora da fábrica), começa um processo de negociação com a empresa no Ministério do Trabalho. Após uma série de resoluções judiciais, os delegados da Comissão Interna que foram desalojados e impedidos ilegalmente de entrar na fábrica devem ser reincorporados pela empresa – inclusive o delegado do turno da noite, Javier Hermosilla, contra quem pesava uma medida cautelar discriminatória que lhe impedia de entrar. No momento da elaboração deste artigo, o conflito e as medidas de força ainda continuam, enquanto se dão negociações entre a empresa, os representantes dos trabalhadores e o Ministério do Trabalho, a quase 60 dias do seu início. Que fatores fizeram com que esta luta, em princípio fabril, tenha se transformado no que um analista do jornal La Nacion denominou “Um caso exemplar[3]”? A resposta a esta pergunta envolve múltiplas variáveis, entre as quais se destacam: a) o peso específico da multinacional norte-americana Kraft Foods (segunda alimentícia a escala mundial) e seu pertencimento a uma das áreas industriais mais dinâmicas da economia nacional; b) a particularidade da organização operária a nível fabril que inclui uma Comissão Interna opositora à condução nacional do sindicato da alimentação e um Corpo de Delegados de base no local de trabalho; c) a firmeza e a extensão das medidas de luta levadas a cabo pelos trabalhadores; d) aparição de diversos setores de estudantes organizados, organizações de desempregados e trabalhadores de outros setores, que amplificaram as medidas de protesto através de ações solidárias com os trabalhadores. Neste artigo, tentaremos oferecer uma primeira análise do caso Kraft desenvolvendo, em primeiro lugar, uma reconstrução da história recente da organização operária na empresa[4] e, em segundo, um elemento que entendemos como fundamental daquilo que o conflito pos sobre a mesa do debate político e conceitual: a relação entre a revitalização da organização sindical no lugar de trabalho (Comissões Internas e Corpos de Delegados), a esquerda classista e os problemas de representatividade das cúpulas sindicais na Argentina. A abordagem deste elemento pretende, também, abrir novas interrogantes sobre as contradições e potencialidades inscritas na irrupção da classe operária na cena política nacional, no marco do fim do ciclo kirchnerista.   |   comentários

AFT FOODS: DECLARAÇÃO SOBRE O CASO
Para os ricos deste país as coisas vão bem, nunca estiveram melhor.
É uma guerra de clases, e a minha clase está ganhando
“[5]
Warren Buffet,acionista majoritário de Kraft Foods

Questão de tamanho

Com um lucro de 60 milhões de pesos nos últimos dois anos, Karft Foods Argentina é a quarta fábrica de produtos alimentícios do país, detrás da Arcor, Bagley e Ledesma[6]. Atualmente, a empresa conta com três estabelecimentos industriais: um na localidade de Tres Arroyos, Buenos Aires, um moinho de farinha em Villa Mercedes, San Luis, e o mais importante, a antiga fábrica Modelo Terrabusi em Gral Pacheco. Das 3700 pessoas empregadas pela companhia no país, 2700 trabalham na fábrica de Pacheco, situada na zona industrial estratégica que cerca a Av Panamericana e o Alto Paraná, configurando o cordão industrial mais concentrado do país[7].

Porém, Kraft Foods segue sendo mais conhecida pela população como “Terrabusi”, nome da tradicional empresa de capitais nacionais que foi propriedade de Gilberto Montagna e Carlos Reyes Terrabusi. “Nos anos oitenta, Gilberto Montagna (...) passou a conduzir a União Industrial Argentina, até que em 1993, como grande parte do empresariado argentino, vendeu a companhia à multinacional Nabisco em 270 milhões de dólares”[8]. Nabisco, multinacional de origem norte-americana que se instalou no país em 1981comandou um processo de concentração capitalista adquirindo algumas das empresas emblemáticas da produção de alimentos na Argentina como Terrabusi, Vizzolini, Mayco e Canale. Este processo de concentração capitalista na indústria alimentícia continuou posteriormente com o desembarque na Argentina do gigante Kraft Foods no ano de 1990, a partir da aquisição de Suchard e de Alimentos Especiales, esta última em 1992.

No ano de 2000 nasce Kraft Foods Argentina, a partir da integração mundial da Kraft com a Nabisco. Para ter um parâmetro do peso específico que esta empresa tem, o grupo Kraft Foods é atualmente a maior corporação alimentícia dos Estados Unidos e a segunda mundialmente[9]. Atualmente o principal acionário é o Altira Group, antes conhecido como Philip Morris.

No ano de 2004, a Kraft Foods Internacional “planificou um processo de demissões que afetaria a 10 mil trabalhhadores e o fechamento de vinte fábricas, algo que estão conseguindo ainda que não sem resistência dos trabalhadores de Kraft em diversos países, como a Espanha, Venezuela, e a Colômbia. Na última década, enquanto os negócios da multinacional cresceram, os trabalhadores do grupo se reduziram de 8 mil a quase 4 mil (...). Os grupos anti-globalização difundiram que, para produzir seu chocolate, Kraft adquire as matérias primas na Costa do Marfim, África, onde segundo o Unicef “milhares de crianças são maltratadas e exploradas em uma situação de escravidão” e é de conhecimento público que a “filial de Kraft em Honduras, que integra a Câmara de Comércio Hondurenho-Americana (Amcham) junto com o Citibank e Wal Mart, tenha dado “seu respaldo ao novo presidente de Honduras, Roberto Micheletti”[10].

Comisão interna, resistência e ofensiva patronal

A chegada da multinacional Nabisco à direção da Terrabusi no ano 1993 implicou em consonância com a tendência geral da década neoliberal, o início de um processo de racionalização da produção baseado em dois pilares: o primeiro, a flexibilização (interna e externa) da força de trabalho, cuja principal conseqüência foi a terceirização ou subcontratação de parte do processo produtivo; em segundo lugar, a desarticulação da organização sindical no lugar de trabalho, o Corpo de Delegados de 60 membros.

Este último fator, o da organização gremial no local de trabalho, é de vital importância para compreender o atual processo na planta de General Pacheco, 15 anos depois. Assim relatam militantes do Partido Comunista Revolucionário (PCR), que logo conquistariam a direção da fábrica, os inícios da conformação da Comissão Interna opositora à condução nacional de Rodolfo Daer. “Em 1984-85 o grêmio era poderoso, tinha 20.000 afiliados e grandes centros como Bagley, Canale, Noel e Terrabusi (que entre as duas plantas concentrava 7000 companheiros). Se desatou uma luta muito importante por salários em 1986, resistida pela patronal. Então há 300 demitidos, incluídos muitos delegados e membros da Comissão Interna (...) A CI era de Daer. E tínhamos incidência por que havia um Corpo de Delegados de 60 membros”[11].

A resistência à aplicação dos primeiros planos de flexibilização na então Terrabusi teve sua expressão nas mudanças na condução da Comissão Interna. “Em 1989 armamos um comitê de apoio ao Frejupo. Seguíamos mantendo a Agrupação, o boletim, e fomos à luta pelo Corpo de Delegados que foi ganho em 91. Se passou a um trabalho aberto para a eleição da Interna. Fizemos uma frente com um setor peronista que era uma parte do sindicato. (....) Então sofremos o primeiro fracasso, em 1991 (...) O setor com quem nos unimos era opositor mas havia ficado muito identificado com a Verde[12]. Em consequência perdemos as eleições...”[13]
Será dois anos mais tarde quando o “núcleo duro” daqueles que atualmente constituem a maioria da Comissão Interna da Kraft Foods, em uma aliança com setores peroistas dissidentes, que conseguirá a direção da fábrica. “Em 93 voltamos à luta pela Interna, tínhamos que remontar de novo. Fizemos um balanço, uma análise, uma discussão de como havíamos nos equivocado (...) A formação de uma frente possibilitou obter uma força capaz de recurperar a Interna. Dividimos águas com respeito à direção do sindicato e desde o ponto de vista das reivindicações e da questão do Corpo de Delegados. Se fez uma frente com um setoir peronista de Tigre, dissidente do sindicato...”[14]. Desde então a direção da Comissão Interna esteve em mãos dos militantes do PCR, principalmente em distintas alianças com diversos setores peronistas.

Para este momento, ano 1993, Terrabusi já havia passado a mãos do monopólio norte-americano Nabisco, o qual como dissemos anteriormente, leva a cabo um amplo processo de flexibilização trabalhista. “Os companheiros começaram a descobrir que Nabisco vinha para obter grandes lucros aumentando ainda mais a exploração. “Nós viemos produzir toneladas de bolachas – diziam os diretores – e tudo mais (manutenção, distribuição, papelaria, depósito, etc) tem que ser terceirizado”. Tudo isso era para ir reduzindo os custos, reduzindo o pessoal”[15]

O ano de 1995 marca o começo de uma série de derrotas na planta de Gral Pacheco. Prévio às eleições de 1995, a Comissão Interna é desarticulada mediante subornos por parte da patronal. Assim o relatam os militantes do PCR que a integravam: “Antes de que se convocassem as eleições para a Interna nos meteram a plata. Romperam a Comissão Interna. Compraram todos os da noite e a uma parte do turno tarde[16]”. A partir daí, “Se começam a firmar convênios por empresas em Canale, Suchard, Panificação Fargo, além dos convênios gerais. Nisso já começam a firmar 12 horas, a polivalência geral”[17]. Assim, avanço a terceirização de processos, a flexibilização, o aumento da produtividade, a incorporação de contratos, e principalmente a desarticulação do Corpo de Delegados.

A Comissão Interna continua em mãos do mesmo núcleo dirigente nos anos subseqüentes, ainda que não sem divisões internas e sofrendo ataques permanentes da empresa. Um acontecimento decisivo neste momento será o duro confllito de final do ano 2000 e começo de 2001, justo no momento em que a corporação Kraft Foods, após a compra da Nabisco a nível mundial, se faz cargo da direção da fábrica. No marco de um plano de luta, um amplo setor de ativistas de Terrabusi participa do corte conjunto da Av Panamericana junto aos trabalhadores da Ford e VW (localizadas, ambas, a metros da fábrica de Kraft). A empresa aproveita para demitir 79 trabalhadores, principalmente do turno da tarde, neste momento um dos mais organizados.

Em meio a este ataque, a Comissão Interna se divide entre um setor que promove a ocupação da Sede do Sindicato da Alimentação da Capital e a maioria da CI que se opõe a esta política, organizando ações de solidariedade nas imediações da fábrica. Finalmente, a maioria dos trabalhadores é demitida. Este conflito se recordará na fábrica de Gral Pacheco como uma dura derrota e será, por sua vez, o fato que permitirá uma relativa recuperação da lista Verde de Rodolfo Daer na fábrica (neste momento, a condução do Sindicato com a anuência da empresa, relocaliza mais de 40 congresuales de sua agrupação nas linhas de produção para “competir” com o papel dos delegados sindicais). Pese isso tudo, a Comissão Interna é reeleita nos anos 2001 e 2003[18]. Em 2001 será o epílogo de uma década (1991-2001) de perda de direitos operários em Kraft-Terrabusi.

O surgimento de um novo ativismo sindical em Terrabusi

Como analisamos em outros artigos[19], o ano de 2004 marcou o início de um novo ciclo da luta de classes na Argentina com a reaparição na cena política nacional dos conflitos de trabalhadores ocupados[20]
Esta reaparição tem três condições fundamentais: em primeiro lugar, o crescimento econômico alentado pela desvalorização – e o conseqüente crescimento do emprego. Os setores da economia mais dinâmicos na criação de novos postos de trabalho foram à indústria manufatureira e a construção. Diretamente relacionado com o anterior, a segunda condição de emergência do denominado “sindicalismo de base” é a renovação geracional nos locais de trabalho. O ativismo gremial de base que encontramos em distintos casos de 2004 em diante está protagonizado por jovens que não superam os 40 anos de idade. Dentro desta acepção ampla de “jovens”, podemos distinguir dois grupos, o primeiro que vai dos 19/20 anos até os 25/6 anos e que são jovens que ingressaram no mercado de trabalho após 2002, isto é, nas condições de crescimento econômico e do emprego que mencionávamos mais acima, e com expectativas de trabalho. O segundo grupo que vai desde os 26 anos até 35/40 anos que são trabalhadores e trabalhadoras que ingressaram no mercado de trabalho durante a década de 90, em pleno processo de precarização do emprego. Em terceiro lugar e, muito importante, um elemento político que configurou certo clima de legitimação dos conflitos de assalariados: o “alento de cima” às lutas reivindicativas. Tanto desde o governo nacional (com uma forte retórica da “redistribuição do ingresso”) como desde as cúpulas sindicais, principalmente da CGT foram alentadas discursivamente às demandas reivindicativas e às expectativas dos assalariados primeiramente em relação à melhora em seu salário, e em segundo lugar às suas condições de trabalho.

Como assinala Celia Cotarelo, nesta militância gremial de base, “se observam dois traços que aparecem com renovada força no período: a realização crescente de assembléias para a tomada de decisões nas lutas, e uma importante parte destas organizada e encabeçada por direções sindicais – comissões internas, corpos de delegados, seções de sindicatos e alguns sindicatos locais e federações – que se colocam como alternativa e em oposição às direções nacionais dos sindicatos – tanto os que integram a CGT como a CTA – desde uma posição que reivindica uma tradição antiburocrática e classista”[21]

No grêmio dos alimentos este processo se reflete vivamente na recuperação de comissões internas das fábricas da PepsiCo e Cadbury-Stani por grupos de oposição abertamente “anti-burocrática”. Essas posições conquistadas darão logo espaço ao surgimento de uma oposição em vigor no grêmio expressa na lista azul e branco, conduzido por comitês internos Terrabusi Kraft, PepsiCo e Cadbury-Stani, que nas eleições gerais do grêmio de 2004 obteram 20 % do total de votos e a grande maioria em grandes fábricas. Assim dizia o La Nacion: "O ex-líder da CGT oficial Rodolfo Daer conseguia ao fechamento desta edição se eleito como líder da seccional do grêmio de alimentação da Capital, nos comíssios realizados ontem, de acordo com dados não oficiais da junta de eleição. A lista oficialista verde recebeu mais de 1100 votos contra 800 da Azul, que propunha Fernando Giménez (que foi secretário durante 19 anos de Daer) e 450 votos aos azuis e brancos, liderados por Ramon Bogado, que liderou uma aliança entre piquetero Classista e combativa atual (CCC) eo Partido Socialista dos Trabalhadores (PTS) " [22].

Renovação geracional e nova Comissão Interna

Em setembro de 2005 foram as novas eleições de Comissão interna. Como não ocorria a anos, se apresentaram três listas, somando-se a lista que correspondia a direção do Sindicato e a da Comissão Interna: uma lista “amarela” organizada pela empresa[23]. “Votaram cerca de 1700 trabalhadores. O triunfo da Lista 1 foi gigantesco: obteve 1124 (69%), enquanto que a Lista 2 teve somente 394 votos (23%) e a Lista 3 apenas 125 votos (7%)”[24].

Porém esta eleição teve outra particularidade: na Lista 1 ( da direção da Comissão Interna) se incorporaram candidatos jovens, representantes da nova geração de trabalhadores que ingressam na planta depois de 2002 (depois da derrota do ano 2000) e que expressaram a renovação geracional e a “mudança de clima” operária na planta industrial. Entre este novo setor de operários e operárias, que se transformaram em delegados, alguns, e ativistas, outros, se destaca o turno da noite. É em outro turno noturno onde se desenvolverá um ativismo gremial de base que irá recuperar “velhas” práticas de organização operária “clandestina” (como campeonatos de futebol que reuniam 200 trabalhadores e trabalhadoras), junto com práticas de assembléias no local de trabalho (como as reuniões por setor das quais surgiram referências de setor que seriam logo, os que confomariam o Corpo de Delegados). É também nesse turno onde se institui a prática de realizar assembléias de turno fora da planta (e aos olhos dos líderes) mas que se informava publicamente as discussões cotidianas entre a Comissão Interna e a empresa, e inclusive, publicando boletins informativos do turno.

Assim reflete sobre este processo Oscar Coria, delegado do turno noturno, “sempre os companheiros ressaltam as diferenças inclusive que existem entre as assembléias dos diferentes turnos. Quando se lançam a fazer as assembléias em 2007, havíamos vindo com dezenas e dezenas reuniões fora da fábrica onde se fez um costume de discutir e debater sobre nossos problemas. Isto nós fizemos desde o turno da noite durante muito tempo, onde tivemos conta que por essas assembléias passaram, antes de chegar uma assembléia dentro da fábrica, mais de 200 companheiros. Quando chegamos a assembléia dentro da fábrica, haviam companheiros com uma experiência, com a prática de debate, de discussão, que ao longo desses anos terminou provocando uma explosão, porque há assembléias no turno da noite nas quais há dez, quinze intervenções de distintos companheiros, em outras intervem dez ou outros quinze distintos. Qualquer companheiro quando tem uma necessidade, a diz, a discute e a defende e se termina votando ao final da assembléia que é o que se faz. Já há uma tradição de assembléia que significa muito profundamente debater as idéias de todos para ver qual é a melhor” [25].

Essas novas práticas gremiais começam a incorporar setores de trabalhadores que, diante do processo de flexibilização, haviam caído fora de toda representação gremial na fábrica: os denominados terceirizados que começam a pretender que a Comissão Interna organize uma comissão de delegados, e os “repositores” (pessoal da Kraft que trabalha fora da planta industrial) que começam a organizar a resistência contra as demissões e a possibilidade de reencorporação.

Como parte desse processo fará sua aparição a agrupação “Desde as Bases”, impulsionada por militantes do Partido dos Trabalhadores Socialistas (PTS), com base essencialmente no turno da noite. A agrupação reunirá, além dos trabalhadores da Kraft, referentes delegados e ativistas em outras empresas da alimentação como Pepsi-Co e Cadburi-Stani, e com referência na experiência de luta e organização anti-burocrática dos trabalhadores de Zanon de Neuquén[26].
Espontâniedade e organização: a luta pela recuperação do Corpo de Delegados por sessão

“Chegamos e não nos deixaram entrar.
Atropelamos os seguranças e passamos”

Trabalhador contratado de Terrabusi, 2007

“Eu sou delegado já faz dois anos e há companheiros que estão há 14, então temos que buscar a forma em que se expresse novos trabalhadores na luta em que viemos dando. Creio que todos temos que organizar o corpo de delegados que é primordial para aprofundar a organizão e fortalecer a Comissão Interna.”
Javier Hermosilla, membro da Comissão Interna

Se até o ano de 2005 a Kraft havia demitido decorrentes trabalhadores contratados e contratadas, esse ano vira um ponto de mudança, começando a aparecer as primeiras expressões de resistência (a princípio, inclusive, individualmente) aos demitidos e a arbitrariedade patronal.

“Depois de um tempo, em 2007, há quase um ano (em maio também), a empresa demitiu 60 trabalhadores da agência, argumentando que a falta de gás obrigava a parar varias linha, porém ninguém acreditou na justificativa. Os companheiros da agência bloquearam a entrada, não aceitaram os demitidos, pularam as catracas e se dirigiram aos vestiários. Lá estavam alguns membros da Comissão Interna que realização uma assembléia, e decidiram chamar uma paralização. A maioria eram jovens entre 20/25 anos; cerca de 50% da fábrica. Também em 2007, diante de outro ataque, bloqueamos a avenida Panamericana. Mas de 60% eram jovens contratados. A fábrica parou. Quase todos os operários velhos reconhecem que a juventude mudou a cara da fábrica e os deu atitude diante da empresa. As assembléias se estenderam dentro e fora da fábrica. O retorno das assembléias foi fundamental. A democracia operária junta efetivos e contratados, jovens e velhos, a força e a experiência se complementam, e a coisa toda ganha potência” [27].

Estes são os antecedentes do processo pela recuperação pelo corpo de delegados de sessão na fábrica. Em março de 2008, acontece a eleição do mesmo. Assim relata Ramón Bogado, coordenador da Comissão Interna.

“Por decisão da assembléia geral se elegeram delegados por sessão. Um dia inteiro se tomou para que em cada sessão se apresentassem os candidatos, foram várias em cada setor, e a eleição começou no dia seguinte. Começou com a lotação do turno da manhã. Os companheiros compareceram massivamente, votaram 269, na maioria companheiras. Nessa sessão houveram 8 canditos para se eleger 4 delegados. Todos muito contentes porque através de suas mãos, elegiam seus delegados. “Isso é que nos representa a nós mesmos”, diziam. Durou cerca de duas ou três horas, fiscalizado pela Comissão Interna, com urnas linha por linha onde se colocavam as cédulas com os candidatos (...) A empresa não ofereceu resistência. O sindicato apareceu distribuindo uma resolução de 2005 que dizia que esta prática era ilegal porque não há cpnvocatória do sindicato” [28].

Para poder avaliar o peso que tem a nova geração de operários que ingressaram em Terrabusi pós 2002 na eleição do Corpo de Delegados, vale o seguinte dado: mais de 40% dos delegados eleitos eram aqueles jovens (antes contratados) que saltaram os molinetes em 2007 para resistir às demissões. Deste modo manifestavam sua satisfação com a eleição distintos ativistas: “O estamos vivendo com muita emoção, muito contentes (...) Isto era algo muito reclamado pelos companheiros. Já estão fazendo sugestões; começando a trabalhar de forma coletiva”. A participação na eleição foi extendida. “Houve muitos candidatos (...) Onde havia que eleger quatro se apresentaram doze; e onde se votavam dois se inscreveram oito”[29].

Por sua parte, o turna da noite (o menor da fábrica, mas reconhecido como o mais combativo e organizado), jogou também um importante rol no processo de recuperação do Corpo de Delegados. Isto explica por si mesmo por que mais de 60% dos demitidos do conflito de 2009 pertencem a este turno.

ENTRE O MANDO CAPITALISTA E A DEMOCRACIA FABRIL

No núcleo da dominação celular

“...um mapa verdadeiramente caótico das relações de trabalho (...); um deterioro singular da negociação coletiva (...); o estado de rebelião no mundo do trabalho (...); a reativação do ativismo nas empresas (...); os delegados que passam a ter um protagonismo chave, por si, e pelo entorno de poder que criaram (...); o estado assambleário criado em muitas empresas líderes ou com grandes dotações (...); com estes fenômenos se tem alterado sem dúvidas a paz social reinante em outras épocas”
Julián De Diego, El Cronista, 29/06/09

A emergência de comissões internas e/ou corpo de delegados no lugar de trabalho que excedem ou diretamente opõe à condução dos sindicatos nacionais, fazendo perigar a “paz social” nas empresas, tem-se transformado em um tema de análise e debate obrigado entre empresários e consultores empresariais, como é o caso do advogado Julián De Diego, assessor da UIA e um dos representantes letrados da Kraft Foods nas negociações durante o conflito em curso. Assim o expressa também um recente artigo do diário Crítica da Argentina, ao afirmar que “O conflito na alimantícia Kraft pôs sobre a superfície uma tendência que surgiu de forma isolada no último lustro e que fez eclosão este ano. Trata-se dos delegados e das comissões internas de fábricas e ativistas que funcionam à margem dos sindicatos reconhecidos alinhados com a CGT, e que disputam suas próprias reivindicações inclusive quandos os sindicatos já deram por clausuradas as negociações formais. O fenômeno não reconhece limetes geográficos nem de rubros da economia, e é uma das princiapais preocupações do Governo e dos empresários”[30].

No âmbito das ciências sociais, este fenômeno tem sido estudado em pesqueisas como as realizadas pelo coletivo Ecuesta Obrera (Pesquisa Operárias) sobre a experiência dos trabalhadores do subterrâneo[31] [metroviários], nos trabalhos de Montes Cató e Ventrici sobre o mesmo setor[32], as pesquisas de Paula Lenguita sobre os trabalhadores da imprensa[33], ou a pesquisa que temos realizado sobre o caso de FATE, também na zona norte do conurbado[34]
Desde diversas perspectivas, estes trabalhos dão conta da reativação da organização sindical no lugar de trabalho de 2004 em adiante e reintroduzem a reflexão sobre esse fenômeno que Adolfo Gilly (1985) denominou a “anomalia argentina”, em referência à fortaleza das organizações sindicais de base (comissões internas e corpos de delegados) e sua autonomia relativa (e em tensão) com as direções dos sindicatos fortemente estatalizados. A particularidade das organizações operárias nos lugares de trabalho, que tem sido destacada por autores de distintas perspectivas teórico-políticas como Juan Carlos Torre[35], Louise Doyon[36], Daniel James[37], entre outros, reside no que Gilly designa, tomando a O’Donnell e Anderson, como sua localização n’o núcleo da dominação celular, ou seja, “no âmbito da produção, no lugar onde se produz e se extrai o mais-produto, no ponto de contato e fricção permanente entre capital e trabalho assalariado na sociedade capitalista, no processo de trabalho, que é o suporte material da autovalorização do capital”[38].

Efetivamente, quandos os operários e operárias de Kraft denunciam que os demitidos buscam desmantelar a organização operária na fábrica (e os ativistas, delegados e dirigentes da Comissão Interna e Corpo de Delegados que a sustentam), colocam em evidência que o objetivo da empresa é atacar as instituições democráticas dos trabalhadores que o disputam cotidianamente as condições de exploração, tornando-se crescentemente incompatíveis com os objetivos de aumento da rentabilidade capitalista.

No mesmo sentido, há uma segunda característica da organização fabril de base que se corresponde com esta localização no núcleo da dominação celular, esta é: a potencialidade de questionar quem manda na fábrica, aquele que Marx chamou o “mando despótico do capital”[39]. Quando um Corpo de Delegados ou uma Comissão Interna tem ingerência, por exemplo, na fixação dos ritmos de trabalho, de fato está questionando o mando no lugar de trabalho, ainda que seja em forma parcial e temporária.

Existe finalmente um terceiro traço, próprio dos organismos sindicais a nível fabril, que expressa a incompatibilidade relativa que existe entre estes e o mando capitalista no lugar de trabalho, que é a relação direta que estabelece entre os operários (sem mediações) e a tendência a operar através de instâncias coletivas de decisão e democracia direta, ou dito de outro modo, instâncias assembleárias. Refletindo sobre este processo disse Gilly, “...as comissões internas, eleitas em assembléias gerais, os delegados de seção, o funcionamento dos corpos de delegados como verdadeiros parlamentos de fábrica”[40].

Como expressava claramente um operário demitido do turno noite, “O que manda é a assembléia, e isso é tradição do turno noite. O feito de que o turno noite organiza assembléias e que todos os companheiros do turno noite se sentem protagonistas, isso é o que da o dato. O que a empresa não quer, o que o sindicato não quer, e o que muitas outras pessoas não querem PE que os trabalhadores sejam protagonistas. E o que tem mudado desde que o companheiro Hermosilla é delegado é que tudo se vota em assembléia e se tem feito um esforço danado, de muitos de nós e com ele à cabeça para que todos os trabalhadores sejam protagonistas. E que então, cada coisa, cada ponto que se vai, que se toma, que se discute, para fazer a luta, se vota em assembléia. Então hoje por hoje nossa ferramenta é a assembléia, então isso é o que defendemos até o final. Isso até nos chegaram a dizer no Ministério [de Trabalho, nota dos autores], ou a empresa mesma um dia nos dizia: ‘é uma loucura que o que nós discutamos uma coisa no Ministério, e que vocês baixem e o discutam em assembléia’, ‘não, isso está mal’, nos dizia uma gerente da empresa. E então nós riamos e dizíamos ‘bom, não, o que para você está muito mal, é nossa maior vitória, nossa maior conquista”[41]

Aqui aparece uma questão crucial que está inscrita no caso de Terrabusi, ainda que o excede e passa a formar parte das discussões abertas na imprensa e em diversos espaços de intercâmbio político: o que refere ao Corpo de Delegados e/ou Comissão Interna como espaço de politização direta dos operários, no que intervem distintas correntes políticas, particularmente da esquerda classista, em disputa com a histórica referenciação da classe operária argentina na tradição peronista.

Crise de representatividade sindical e esquerda na classe operária

“Nas principais câmeras empresárias como na própria CGT admitem que depois da sentença da Corte se consolidou um movimento ‘formiga’ de irrupção de comissões internas e corpos de delegados nas que convivem diferentes expressões ideológicas e sociais e um único denominador comum: o profundo questionamento à representação hegemônica dos sindicatos tradicionais. O caso de Kraft, onde coexistem delegados do sindicato de atividade com militantes de diversas correntes de esquerda e até simpatizantes evangelistas com grande predicamento entre os trabalhadores, é um exemplo que se repete em outras companhias do ramo industrial e se expande a atividade de serviços como subterrâneos e bancários e a ramos de produção como os petroleiros.”
Elizabeth Peger, diario El Cronista (10/10/2009)

Como assinala a citação, o conflito de Kraft e a experiência de organização prévia da fábrica, assinados pelo fortalecimento das organizações de base dos trabalhadores e pela influência decisiva de setores da esquerda classista no processo, opera como exemplo de um duplo fenômeno que excede o caso em si mesmo e se repete em outras empresas industriais e de serviços. Por um lado, a perda de capacidade de contenção sindical das cúpulas sindicais tradicionais; por outro, a emergência (ou mais precisamente, visualização) de algumas expressões da esquerda classista inserida em setores da classe operária.

De conjunto, este processo não é homogêneo senão que se apresenta de maneira desigual e combinada, em função das particularidades de cada empresa, cada ramo de produção ou serviços, e de cada sindicato. De fato, como tentamos mostrar na reconstrução da história operária de Kraft, o desprestígio e perda de legitimidade da direção sindical peronista de Daer não é um fenômeno novo senão que se remonta aos inícios da década dos ’90 ( e logo se extende a várias das principais empresas da indústria da alimentação), e está estreitamente ligada ao paradigma de sindicato empresário que Rodolfo daer representa em nosso país. Entretanto, o que permite falar de um fenômeno em extensão (motivo pelo qual é de preocupação tanto para as direções sindicais e para o governo nacional, como para as patronais) é o que podemos denominar o começo de uma “vacância” de representação sindical que involucra ao conjunto de conduções sindicais, mas particularmente à CGT moyanista, pilar do governo nacional[42]

Este “vazio” pode se ler em uma dupla temporalidade. A primeira, de mais longo prazo, está relacionada com o processo de desindicalização relativo vivido em nosso país nos últimos anos, particularmente durante a década de noventa. Se o analizamos em termos de números, segundo o relevamiento da Pesquisa de Indicadores Trabalhistas – EIL [na sigla em espanhol -– (realizada pelo Ministério do Trabalho da Nação) , unicamente 37% dos trabalhadores privados registrados no país estão sindicalizados[43]. Entretanto, se se tem conta que dita informação provém de um universo delimitado aos trabalhadores registrados, a taxa real de sindicalização é substancialmente menor. Se olharmos estas cifras mais detalhadamente, encontramos duas questões interessantes. Em primeiro lugar, que só 56% das empresas contam com ao menos um trabalhador afiliado a um sindicato, o que significa que em quase a metade das empresas do país os trabalhadores, não só não tem delegados senão que tampouco estão afiliados a nenhum sindicato. Em segundo lugar, que a taxa de afiliação dos trabalhadores registrados é notavelmente menor (11 pontos porcentuais) no conurbado bonaerense (Buenos Aires) que no interior do país, sendo de 34,9% na GBA, e 46,2% no interior do país[44], o que faz supor que o conurbado bonaerense concentra uma porcentagem muito alta de trabalho desindicalizado. Estes dados que, sem lugar a dúvidas, implicam uma situação de indefesa para os trabalhadores não sindicalizados, mostram também uma profunda debilidade das cúpulas sindicais. Quando as direções sindicais operam como mediações estatais o fazem um representação legal de menos da metade dos assalariados. Dito de outro modo, mais de 50% da força de trabalho está hoje fora da representação legal ainda que, potencialmente, também fora do controle das cúpulas sindicais estatalizadas.

Mas se olhamos o setor de trabalhadores que sim estão sindicalizados, encontramos outra aresta da debilidade de representação sindical: a que faz a presença sindical no lugar de trabalho. Sempre seundo a EIL, só 12,4% das empresas tem pelo menos um delegado, o que é o mesmo que dizer que em quase 9 de cada 10 empresas na Argentina não existem delegados fabris. Se pormenorizamos esta cifra segunda a envergadura da empresa vemos um degradé no que vai minguando a existência de delegados frabis segundo o tamanho da empresa. Nas grandes empresas (de mais de 200 trabalhadores ou mais), como Terrabusi, algo mais da metade, tem algum delegado; nas empresas “medianas” (de 50 a 200 trabalhadores), só 30% tem algum delegado; enquanto que as empresas pequenas (entre 10 a 49 trabalhadores) uma infima porcentagem de 7,5% tem algum delegado (Trajtemberg et al., 2005)

Já seja através de sua liquidação via transformação em um organismo que garante a disciplina na fábrica, já seja via sua liquidação lisa ou plaina, o que é induvidável é que ao interior do espaço fabril, existe uma situação de extrema debilidade enquanto às instâncias de organização de base dos operários. A emergência de Comissões Internas e Corpos de Delegados que assinalamos mais acima e da que Kraft com a recuperação do Corpo de Delegados em 2008, é um exemplo rotundo, é um processo em sentido inversi ao operado nos noventa.

Assim, este debilitamento da representação e da representatividade sindical construída no longo prazo, combina-se com outro conjunto de fenômenos mais recentes que fazem à “vacância” da que falamos. Em primeiro lugar, o processo de revitalização da vida sindical e o lugar de centralidade política ocupado pelas centrais sindicais, particularmente, a CGT a partir do governo kirchnerista.

Estre processo, alentando “desde cima” como política expressa do governo de Néstor Kirchner (assinatura de CCT, paritárias, conformação do Conselho do Salário, etc.), gerou, “por baixo”, a aparição de lutas conduzidas por direções alternativas ou diretamente opositoras às direções nacionais de seus respectivos sindicatos, como muitos dos casos mencionamos, entre os quais se encontra o caso de Kraft. Mas esta revitalização sindical que ortougou protagonismo às centrais operárias (é interessante observar a quantidade de candidatos provenientes do sindicalismo nas chapas oficialistas e opositoras nas última eleições legislativa de 2009), combinou-se, desde finais de 2008 adiante, com dois fenômenos de grande importância: os freios à economia produto da crise econômica internacional e a derrota do governo nacional nas eleições legislativas de 28 de junho, ou seja, com o início do fim do ciclo kirchnerista.

Este cenário de combinação de freio da economia (produto da crise internacional) e crise política do kirchnerismo, somente às conduções sindicais oficiais – particularmente à CGT -, a uma dupla tensão que, no caso de Kraft, se tem mostrado irresolúvel em forma pacífica: desde “baixo”, a pressão por conservar o conquistado neste anos de reativação econômica e sindical (condições de trabalho, aumentos salariais, medidas básicas de segurança e higiene); e desde “cima”, a pressão das empresas (no caso de Kraft exercida inclusive desde a embaixada norteamericana) por desandar esse caminho de conquistas operárias, buscando “produzir o mesmo com menos trabalhadores”, e do governo nacional, pressionando por conter o protesto social. Assim, a “vacância” de representação sindical da que falamos é produto de um processo de mais longo prazo de debilitamento da direção sindical (e sua capacidade de contenção), que se imbrica com processo mais recentes (reativação sindical 2004-2007, freio da economia real e derrota política do governo nacional).

Este “vácuo” está extritamente ligado a outro fator merecedor de discussão a partir do caso Kraft: a emergência de expressões da esquerda classista entre a classe operária em geral, e particularmente, a fabril. Essas expressões da esquerda (que na Kraft tornaram visíveis pública e politicamente a partir do atual conflito) ocupam espaços de direção nos locais onde as direções sindicais tradicionais não estão presentes, ou não conseguem estar: nos locais de trabalho. No que menciona Gilly, o espaço de politização direta dos trabalhadores através das assembléias do coletivo operário nos locais de produção. Essa presença abre um conjunto de questões acerca da potencialidade, já não mais sindical, porém política dos próprios organismos operários nos locais de trabalho e particularmente da esquerda classista no movimento operário argentino em tempos de “vácuo” da direção peronista.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Para finalizar, queríamos assinalar, em breves teses, alguns elementos que afloram como conclusões de análises do conflito de Kraft Terrabusi a partir das dimensões propostas nessa apresentação:

1. O conflito da Kraft-Terrabusi e a experiência prévia de organização operária que o sustentou, reintroduz a pergunta sobre a “anomalia argentina” e sua potencialidade política. Se os estudos do mundo do trabalho direcionados ao mundo sindical nos últimos anos têm posto fundamentalmente os olhos nas análises das estruturas sindicais estatizadas e suas estratégias de adaptação durante a década de noventa, a revitalização das Comissões Internas e dos Corpos de Delegados como organismos fundamentais de organização e combatividade operária, volta a olhar para uma “territoriedade” perdida: a do local de trabalho como núcleo da dominação celular. Por essa via, também abrem questões sobre a relação entre o âmbito fabril e o extra-fabril, ou seja, entre o que a priori poderiam se considerar lutas econômicas e lutas políticas.

2. As características particulares do conflito da Kraft (violência do ataque empresarial e forte resposta por parte dos trabalhadores), assim como os objetivos explicitos da empresa de liquidar a organização operaria e, em particular, o setor mais combativo e organizado de fábrica expresso no turno da noite, são fundamento das tendências ao desenvolvimento de uma crescente imcompatibilidade entre o surgimento e o fortalecimento de instituições de organização democrática e dos trabalhadores nos locais de trabalho (Comissões Internas e Corpos de Delegados) e a liberdade de mando dos capitalistas para aumentar sua rentabilidade no marco da crise economica em curso.

3. A revitalização do protagonismo das Comissões Internas e dos Corpos de Delegados na mão da inserção de militantes da esquerda classita em grêmios (como mostra o cado da alimentação), tem potencializado a reatualização dos métodos de assembléias (de democracia operaria) e de relegitimidade da ação direta (como as greves e bloqueios de rua), em oposição as direções sindicais tradicionais.

4. Essas expressões da esquerda classista (que na Kraft se tornaram visíveis pública e politicamente a partir do atual conflito) ocupam espaços de direção onde as direções sindicais tradicionais não estão presentes ou não podem estar, expressando o que denominamos um “vácuo” da representação sindical no nosso país. Essa presença abre um conjunto de questões a cerca da potencialidade, já não sindical, poorém política dos próprios organismos operários nos locais de trabalho e, particularmente, da esquerda classita no movimento operário.

5. Por último, mas não menos importante, e em relação a um debate que hegemonizou as ciências sociais acadêmicas na última década, o processo específico analisado, conforme todos os outros processos de organização e luta dos trabalhadores no último período, questiona as teses que afirmam o desaparecimento progressivo do protagonismo operário, particularmente, da classe operaria fabril. Mais precisamente, abre a necessidade de se voltar sobre um campo de estudo pouco visível: das questões e investigações sobre as características especificas que assumem na atualidade a luta da classe operaria, seus vínculos que as lutas do passdo e suas conexões com a rica e extensa tradição de protagonismos não perarios desenvolvida nas ultimas décadas na Argentina.

[1] UBA/CONICET
[2] Segundo a empresa, os demitidos com causa tiveram como fundamento do confito na planta da Kraft Foods iniciado em 3 de julho de 2009, em plena pandemia da Gripe A, quando um grupo de empregados se mobilizou dentro da planta bloqueando as saídas do edifício em que funciona a administração da empresa. Nesse momento, os trabalhadores junto a sua Comissão Interna e os delegados do turno da tarde, exigiram condições salubres de trabalho para sua saúda e de suas famílias. Entre essas medidas, exigiam o fechamento do berçário e o feriado para as mães que podiam cuidar de seus filhos. Neste momento a empresa deslegitimou o pedido, pelo qual se paralisou a produção e foi esta medida a que conquistou, através da intervenção do Ministério do Trabalho, que se decretasse o feriado remunerado durante uma semana e a desinfecção da planta. Por estes fatos, a empresa fez uma apresentação judicial contra os trabalhadores por “privação ilegítima de liberdade” em juízo dos empregados que cumpriam suas funções dentro do edifício. Segundo relatou a empresa em um comunicado, “os autores destes fatos, 156 no total, foram identificados e demitidos”, pedindo-se o “ultraje” ante a Justiça de quem eram delegados do Sindicato de Trabalhadores da Indústria Alimentícia (STIA) e da Comissão Gremial Interna. Como se demonstra no percorrer do conflito e até mesmo a história de organização dos trabalhadores de Terrabusi, a represália da empresa responde a um fundamento mais profundo, decaptar a organização democrática de base dos trabalhadores dentro do lugar de trabalho, como veremos no desenvolvimento deste trabalho.

[3] Kraft, uma testemunha”, editoria do diário La Nación de domingo 11 de outubro de 2009. No artigo, o diário ensaia uma explicação de porquê o conflito na Kraft excede os limites da ação sindical.

[4] Esta reconstrução se baseia em entrevistas realizadas aos dirigentes operários do clonflito e ativistas da fábrica, e na recompilação de fontes secundárias, particularmente notas nos diários nacionais, periódicos da esquerda partidária, volantes sindicais, comunicados e material audovisual.

[5] Brooks, D. “Estados Unidos: batalha pelos direitos trabalhistas”, La Jornada, 22/08/2005.
[6] Ranking da revista Mercado, en http://www.mercado.com.ar.

[7] Este elemento não é secundário, só na zona circundante à planta da Terrabusi, se concentram importantes unidades de produção como os terminais automotrizes da Ford (200 operários) e VW (15000 operários), o frigorífico Rioplatense (1000 operários) e vários parques industriais, que de conjunto configuram uma verdadeira zona estratégica por sua concentração operária e a potencial confluência na luta de classes.

[8] Ducrot, V.E. (2009) “Argentina. Soberania Alimentícia em carne viva: Os gigantes da comida contra a democracia”, Agência Periódica do Mercosul, 11/10/2009

[9] Como observado no web site institucional ", a Kraft Foods Inc. é uma das companias de alimentos e bebidas maiores do mundo. A empresa tem 230 anos de idade, 159 unidades, mais de 90.000 funcionários e em 2007 teve um volume de negócios de 37 bilhões de dólares e 40 das suas marcas têm mais de 100 anos. Milhões de vezes por dia em mais de 150 países, os consumidores escolhem as marcas da Kraft as suas marcas favoritas, em: http://www.kraftfoods.com.ar.

[10] Meyer, A. “Negócios y conflitos protagonizados pela Kraft em diversos países. Uma política empresarial global”, Página/12, 05/10/2009.

[11] “Terrabusi: Uma longa experiência de confronto político e recuperação sindical”, Política y Teoría Nº 53, 2004.

[12] Terrabusi: Uma longa experiência de confronto político e recuperação sindical”, op.cit.
[13] Terrabusi: Uma longa experiência de confronto político e recuperação sindical”, op.cit.

[14] Terrabusi: Terrabusi: Uma longa experiência de confronto político e recuperação sindical”, op.cit. Como dizem os protagonistas, o setor peronista de Tigre terminou, em seguida, retornando a um acordo com a Lista Verde Rodolfo Daer. Em 1995, "uma nova frente estava armada com um grande setor peronista. Aqui, ao contrário, aproveitando-se da situação política gerada pela vitória eleitoral de Menem, se deu meia-volta. Desde o peronismo desempenhado com Daer, caiu-se ao bloco de Daer com a empresa para conseguir encaixar o reajuste e montar sua lista diretamente das mãos da patronal." Idem.

[15] Terrabusi: Uma longa experiência de confronto político e recuperação sindical”, op.cit.
[16] Terrabusi: Uma longa experiência de confronto político e recuperação sindical”, op.cit.

[17] Terrabusi: Uma longa experiência de confronto político e recuperação sindical”, op.cit.

[18] Desde 1993, os resultados das eleições internas da Comissão a afavor do núcleo atual de liderança foram em proporção: 1993: 890 votos com lista única, 1995: 904 votos a 395, 1997: 725 votos a 285 e 219 (três listas), 1999 : 944 votos a 572 e 2001: 952 votos a 598, 2003: 1064 votos a 445. Dados fornecidos por militantes e ativistas da sociedade. Somente votos positivos foram contados, mas não os votos em branco e / ou pacífico que no entanto, em todos os casos representam figuras marginais.

[19] Véase, Meyer, L. y Gutiérrez, G. (2005) “Lutas operárias e recomposição de classe”, Revista Lucha de Clases N°5, Edições IPS, Buenos Aires; Castillo, C. (2007) “Introdução” em Experiências Subterrâneas. Trabalho, organização gremial e idéas políticas dos trabalhadores do transporte subterrâneo. Edições IPS, Buenos Aires; Varela, P. (2009) “Repolitização fabril. O retorno da política de fábrica na Argentina pós-desvalorização”, em Alvez, Giovani y Figari, Claudia, A precarização do trabalho na América Latina, Sao Paulo, Praxis.

[20] Este novo ciclo pode ser dividido em três momentos distintos. A primeira vez que vai de 2004 a 2006, aberto pela greve de quatro dias pelos trabalhadores do metrô de Buenos Aires, no qual prevaleceram os ganhos de salários mais elevados, condições de trabalho e de união (com o surgimento de novas comissões internas e órgãos delegados). A segunda fase vai de 2006 a 2008, favorecendo as negociações salariais nas mãos de tradições líderes sindicais (que institui o chamado "teto salarial" pelo governo nacional) e algumas duras lutas moleculares características (que incluem repressão significativa ) como exemplos da luta dos professores em Neuquén (com o assassinato de Carlos Fuentealba) dos trabalhadores da TVB (antiga Sabão Federal), no oeste do GBA, na fábrica FATE de pneus no norte da GBA, a luta dos trabalhadores do cassino flutuante na cidade de Buenos Aires, a indústria têxtil Mafissa na Grã-La Plata, têxteis, Pagoda, ou DANA metalúrgico, só para citar as mais proeminentes. E um terceiro momento, o atual, que começa no final de 2008 com os primeiros sinais da crise econômica internacional coma a demissão dos trabalhadores da indústria (automobilística, mais afetados pela crise internacional). Nesta terceira fase, inclui (para além dos conflitos que estamos discutindo neste artigo) os seguintes fenómenos em protesto de trabalhadores: a luta dos trabalhadores precários (contratados) da fábrica de caminhões Iveco e a fábrica Gestamp (ambos pertencentes ao SMATA) na província de Córdoba; as ocupações contra o fechamento de fábricas de Paraná Metal e Metalúrgica Mahle, papel Massuh, gráficos Indugraf; a manifestação por fora da direção sindical de cerca de 700 trabalhadores da fábrica da Tenaris (Siderca) em Campana, o que provocou a expunsão da UOM do delegado que comandou a marcha, e a demissão de sindicalistas sem privilégios de administrador (os dois fatos repudiados por meio de demonstrações na cidade de Campana e petições solicitando a reintegração), o plano de luta da UOM com paralizações nacionais, com greves e manifestações em que se manifestaram médias e pequenas fábricas contra as lideranças sindicais (no caso da província de Córdoba, este evento veio chegou ao confronto físico com Varas, líder regional provincial), a luta para a fundação do novo sindicato de trabalhadores do metrô e premetro que incluíram ataques contra as tentativas dos dirigentes da UTA a boicotar a eleição, através de grupos e de tentativas de atentado contra um comissário de bordo e também uma demonstração de cerca de 800 manifestantes em Buenos Aires por melhores salários e reconhecimento do novo sindicato; greves e piquetes para os salários mais elevados e / ou contra as demissões na indústria, como o caso em Tersuave em Villa Mercedes, San Luis, Pilkington e PF na Zona Norte do GBA, Petinari, Fargo e Avon na Zona Oeste do GBA , a mobilização dos trabalhadores e dos trabalhadores da fábrica em Munro Pepsico Snacks contra o fechamento judicial da fábrica; as greves com piquetes de petroleiros de Santa Cruz, as greves com piquetes de trabalhadores rurais a partir das frutas UATRE no Alto Vale (Neuquen e Rio Negro) greves de cerâmica, em Neuquén e Cutral Stefani-Co neste último caso, mais de 50 dias de greve por reivindicações salariais, a luta dos trabalhadores da saúde de Tucumán, paralização dos pescadores do município e dos trabalhadores do Complexo Petroquímico de Bahia Blanca, a greve dos professores em Córdoba, e a eleição dos novos delegados nas fábricas de automóveis da Ford e VW na zona norte do GBA, para citar os casos mais relevantes.

[21] Cotarelo, C. (2007) “Movimiento sindical na Argentina 2004-2007: Anarquia sindical?”, p.5. Livro apresentado na XI Jornada Interescolar de História, Tucumán, setembro.

[22] “Daer, reelegido no grêmio da alimentação”, La Nación, 17/09/2004.
[23] Essa lista foi organizada por um ex delegado da Comissão Interna que acabara de vencer o mandato.
[24] “Eleições em Terrabusi: amplo respaldo da base operária à atual Comissão Interna”, La Verdad Obrera N° 173, 05/10/2005
[25] Entrevista realizada ao delegado Oscar Coria, 08/10/2009. Ver em: http://www.tvpts.tv/spip.php?video=1025
[26] Uma das primeiras publicações da Agrupação irá ser um volante para o apoia à lista da Comissão Internacional para as eleições "Como a maioria dos trabalhadores Terrabusi, colegas e os colegas que estão organizados em Unidade desde as Bases, não ficamos chupando o dedo e sabemos que a autodenominada "independente" Chapa 2, não são mais do que os lobos em pele de cordeiro (...) Por isso nós chamamos o apoio à Chapa 1 da atual Comissão Interna, que fazia parte da lista de azul e branco com os colegas Pepsico, Bagley e Stani, e porque leva os candidatos os colegas que nós conhecemos e sabemos que a verdade não se vende","Eleições Terrabusi de Comissão Interna – A Agrupação Unidade desde as Bases apoia a Chapa 1", ao volante do Agrupamento Unidade desde as Bases, 30/9/2005.
[27] Gerardo Campos, Terrabusi: os jovens precarizados mostran o caminho, La Verdad Obrera Nº 279, 29/05/2008
[28] Hoy Nº 1207, março 2008.
[29] La Verdad Obrera Nº 269, 13/03/2008
[30] Martín, M. “El caso Kraft desnudó el cambio sindical en el país”, Critica de la Argentina, 13/0/10/09.
[31] Castillo, Christian et al. (2007) Experiencias Subterráneas. Trabajo, organización gremial e ideas políticas de los trabajadores del subte. Edições IPS, Buenos Aires.
[32] Veja Montes Cató y Ventrici (2007) “Organización del trabajo, flexibilidad y respuesta sindical en el Subterráneo de Buenos Aires”, Documento de Trabajo Nº 1, Editorial Poder y Trabajo.
[33] Veja, Lenguita, P. (2009) “Gremialismo de prensa: el lado oculto de los medios de comunicación”, ponencia presentada en el 1º Congreso Nacional sobre Protesta Social, Acción Colectiva y Movimientos Sociales, Buenos Aires, 30 e 31 de março.
[34] Veja Varela, P (2009). Mundo obrero en la Argentina actual. La fábrica y el barrio como escenarios de prácticas políticas en el norte industrial del AMBA. Tese de doutorado, Universidad de Buenos Aires.
[35] Veja Torre, JC (1974) La democracia sindical en Argentina, en Desarrollo económico, Vol. 14, Nº 55 (oct-dec.1974, pp 531-543), Buenos Aires.
[36] Veja Doyon, L (1984) “La organización del movimiento obrero peronista 1946-1955” en Desarrollo económico, Vol.24, Nº94 (jul-sep., 1984, pp 203-234), Buenos Aires.
[37] Veja, James, D. (1981), “Racionalización y respuesta de la clase obrera: contexto y limitaciones de la actividad gremial en Argentina”, en Desarrollo económico, Vol.21, Nº83 (oct-dec. 1981, pp 312-349), Buenos Aires.
[38] Veja Gilly, A. “La anomalía argentina”, El estado en América Latina. Teoría y Práctica, Pablo Gonzales Casanova (Coord.), México, DF, Siglo Veintiuno Editores, 2003 (primera edición 1990), p. 198.
[39] Marx analiza a função de mando exercida pelo capital na produção capitalista afirmando que: “Por conseguinte, se conforme a seu conteúdo a direção capitalista é dual porque o é o proceso de produção mesmo ao que deve dirigir – de uma parte proceso social de trabalho para a elaboração de um produto, de outra, proceso de valorização de capital -, com arranjo a sua forma essa direção é despótica. Com o desenvolvimento da cooperação em maior escala este despotismo desenvolve suas formas peculiares […] altos aficiais (dirigentes, managers) e suboficiais industriais (capatazes, foremen, overlookers, contre-maîtres) que durante o proceso de trabalho exerçam o mando em nome do capital”, Marx, Karl, El Capital, Tomo I, Vol. 2, Livro Primeiro, México, DF, Siglo Veintiuno Editores, 2004, pp. 403-404.
[40] Gilly, A. La anomalía argentina, Op.cit, p. 200.
[41] Trabalhador despedido do turno noite, entrevista realizada em 8 de outubro, veja en http://www.tvpts.tv/spip.php?video=1024
[42] Loda repressão de 25 de setembro, um titular do jornal Perfil rezava: “Os sindicalistas vinculados ao Governo perdem capacidade de contenção sindical”. Por outro lado, no jornal digital La política online, Ignacio Fidanza sutenta que “Um novo ator social ameaça o eixo Kirchner-Moyano” e afirma que “A cavalo de um relevo geracional, surge um novo eixo piqueteiros-universitários que ameaça o controle do conflito social e do espaço público que até aqui mantiveram Kirchner e Moyano. O ascenso de uma esquerda contestatória que surpreendeu ao poder”. Veja http://lapoliticaonline.com/noticias/val/60413/un-nuevo-actor-social-amenaza-el-eje-kirchner---moyano.
[43] Veja Trajtemberg, D.; Berhó, F.; Atorresi, P.; Lauphan, W. (2005) “Encuesta de Relaciones Laborales”, ponencia presentada en el 7º Congreso Nacional de Estudios del Trabajo, Buenos Aires.
[44] Trajtemberg et al., destavam em seu trabalho a variação da taxa de afiliação segundo o tamanho da empresa e encontram que 53% das pequeñas empresas contam coma o menos um trabalhador afiliado, enquanto que essa porcentagem se elava a 83% nas empresas grandes. Por sua vez, também difenciam a taxa de afiliação por ramo de atividade e encontram que a industria manufatureira é, junto com a construção, um dos ramos de maior porcentagem de afiliação (com 47,2%), em oposição a “Serviços comunais, sociais e pessoais” que apresenta a taxa mais baixa com 24,2% Veja Trajtemberg et al. (2005: 17).

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