Domingo 5 de Maio de 2024

Internacional

QUANDO AVANÇA A CONSCIÊNCIA

Conversa com as operárias e operários de Kraft

23 Nov 2009 | No Camping municipal de Neuquén, logo após um dia de intenso debate político, a delegação dos três turnos dos trabalhadores de Kraft fala distendida mas sem ocultar a comoção que lhes tem causado a experiência da viagem. Falam de tudo: do impacto de haver conhecido Zanon, de confraternização, do programa e das resoluções votadas e, entre tudo isso, de como suas vidas estão mudando.   |   comentários

O Gênio de Kraft

São jovens, majoritariamente jovens, e a prova fiel de como a agudização da luta de classes pode fazer avançar a consciência a passos agigantados. Eles parecem compreendê-lo, mas, entretanto ainda não deixam de sair do assombro.
Uma companheira despedida conta entre risos que seus filhos estavam jogando um jogo de Internet que busca a personagens famosos. “E a quem buscavam?... à Mamãe!”.
“Não somos famosos, somos os protagonistas desta luta”, conclui sem deixar de sorrir.
De uma luta gigante que já ficará inscrita na história combativa da classe operária Argentina.

Mulheres orgulhosas

A presença da delegação de Kraft ressaltou sobre o resto. Foram sua operárias as que intervieram para que na Plenária estejam representadas as mulheres trabalhadoras. Contam que ao princípio não se atreviam a falar, mas que logo todas queriam fazê-lo. Estão orgulhosas disso e de haver compartilhado esse momento com uma companheira do sindicato ceramista. Nilda é uma nova delegada da Comissão Interna que se compromete a lutar porque os direitos de seus companheiros sejam respeitados. Logo fecha a cara e diz: “estou batalhando para que o primeiro choripan [algo parecido com um pão com lingüiça assada, tradicional na Argentina] seja dado às mulheres”.
Todos rimos.
Outra companheira que falou na Plenária se entusiasma com a idéia de fazer o próximo na zona Norte: “tem que gerar algo grande para que todos os trabalhadores que não tem representantes nem organização a tenham, e aqui o estamos começando a fazer”.

Já não se volta

Para além das anedotas, surpreende a naturalidade com que falam de política. Discutem as posições da esquerda e por momentos se indignam contra quem vêem que “joga para trás”.
Nota-se que estão pensando em perspectiva. “Depois de um conflito assim, em sua cabeça vês as coisas de outra maneira. Como não estar de acordo com coordenar-se e juntar-se com todos os setores anti-burocráticos?”, reflete um trabalhador.
Logo sustenta que “é necessário fazer política dos trabalhadores”. O disse recordando uma anedota: logo depois do desalojo [em Kraft], um trabalhador mais velho voltou a sua casa chorando. “Ele não sabia se era pelo ódio à repressão ou pela emoção de ter vivido pela primeira vez algo assim em trinta anos de fábrica”.
“Como não fazer política por ele, como não fazê-la por nós mesmos?”, conclui.

Cultivar a paciência

A maioria do grupo não tinha relação entre si antes do conflito e muitos se conheceram aproximando-se aos demitidos. Sentem-se amigos. “Temos que cultivar a paciência”. E essa tolerância a projetam para o resto dos trabalhadores de Kraft. “Adentro da fábrica lhes ensinaram a ser individualistas, eles não têm culpa. Antes havia assembléias burocratizadas, ninguém podia se expressar. Agora temos que ir trabalhando de pouco em pouco para lograr a unidade da fábrica, para que todos digam o que pensam”.
Um trabalhador aclara que a fábrica tampouco voltará a ser a que foi: “antes no restaurante só se falava de futebol. Hoje também se fala de política. Os companheiros vêem que se ganha o Subte é um triunfo para todos e um impulso para seguir nossa luta”. A mesa consente de maneira unânime.
Oscar Coria lhe recorda: “Antes era você o que dizia basta de política!”. Todos voltam a rir.
Logo sério, Oscar aclara que já se vinha de um processo de politização, mas que o conflito o acelerou e sobretudo a experiência que muitos trabalhadores fizeram com a CCC [ligada ao PCR].

O regresso

Voltarão cantando como em todo o trajeto de ida: “escutem-o, escutem-o / em Terrabusi já se votou / ganhou o classismo a p... que o pariu”. E a palavra classismo lhes cai bem. Ela os ganhou, a tem assimilado na experiência de não confiar em nenhum setor patronal, em sua luta contra as correntes burocráticas, na prática da verdadeira democracia sindical ao promover a assembléia como órgão de decisão soberano.
“Dizem que estamos da cabeça...”, cantam. Melhor dito, a cabeça das operárias e operários de Kraft está mudando mais rápido do que eles jamais houvessem acreditado.

Artigos relacionados: Internacional









  • Não há comentários para este artigo