Quarta 24 de Abril de 2024

Internacional

ARGENTINA: NOSSA DENÚNCIA AO “PROJETO X”

Uma batalha política defensiva de importância estratégica

29 Feb 2012   |   comentários

No início de 2012 militantes do PTS levam adiante uma denúncia de um escandaloso esquema de espionagem e vigilância que o governo argentino de Cristina Kirchner montou contra os trabalhadores das fábricas Kraft e Pepsico, que protagonizaram uma importante greve em 2009 ferindo os interesses da patronal norte-americana Trata-se do Projeto X, impulsionado a partir da Gendarmería, que visa perseguir os militantes da esquerda e os trabalhadores. O Projeto X demonstra que apesar do discurso democrático, a política do governo argentino é clara: vigiar e impedir a mobilização dos trabalhadores contra as patronais.

A denúncia feia pelas comissões internas de Kraft e PepsiCo argentinas – junto a uma equipe de advogados do PTS, organização irmã da LER-QI, e vários organismos de direitos humanos que exercem sua defesa – impôs um primeiro limite político ao ataque que as empresas e a justiça, baseadas em informes de espionagem, vêm realizando contra os delegados antiburocráticos e militantes de esquerda. Em sua maioria do nosso parido.

Ao ocupar o centro da atenção no país, nossa denúncia contra a espionagem do “Projeto X” – uma defesa elementar que exercemos os lutadores operários e o PTS –, se converteu em um golpe à credibilidade e abriu uma crise política no governo. Há um salto de qualidade no desmascaramento do duplo discurso oficial, que já vem se produzindo com a sequencia de casos de repressão e assassinatos, sobretudo desde o Parque Indoamericano. Porque para o kirchnerismo a Gendarmería (uma espécie de força de segurança militar submetida ao Ministério da Segurança, que cuida da defesa nacional e da segurança interna),
não é só uma força de segurança a mais do Estado, mas sim especialmente cobiçada por CFK e a Ministra Garré. Logo após o afastamento de Aníbal Fernandez a marginalidade do Senado, o governo trata a Gendarmería como sua força militar própria, superestruturalmente menos manchada que as odiadas forças armadas e as desprestigiadas polícias.

O novo papel da Gendarmería se deve, mais em geral, a um problema histórico: a crise das Forças Armadas na saída da ditadura, inutilizadas em seu poder de fogo pela condenação massiva ao genocídio e sua desastrosa condução na Guerra das Malvinas. Menem já disse: quem não se lembra da preponderância da Gendarmería nos 90 e do ministro Corach explicando, uma e outra vez, a atuação da força em crimes recorrentes ante os levantamentos dos trabalhadores desempregados nas províncias. De la Rua, tão apegado à continuidade menemista, voltou a usá-la contra a mobilização dos trabalhadores e o povo de Corrientes, para agregar três novos assassinatos da Gendarmería Nacional.

Sob a tutela da ministra preferida de Cristina Kirchner, busca-se apagar da Gendarmeria esse passado sangrento e apresentá-la como força militar portadora da política de “Segurança Democrática”, protocolo que, de todas as formas, não foi firmado por várias delegações provinciais, entre elas Neuquém, Córdoba, Jujuy, Corrientes onde se deram levantamentos reprimidos selvagemente nos anos 90. Com Garré, a Gendarmeria ampliou seus poderes, cumprindo tarefas de “contenção de delito” e ocupando território de negócios das polícias. Essa busca de limpar se faz frente ao objetivo de apresentar a Gendarmeria como supostamente menos corrupta e mais confiável, mais subordinada ao poder político e não ao livre “auto-governo policial” da Bonaerense de Scioli e a mesma PFA. Por isso mesmo, é um contra-senso que, agora, digam que Garré não sabia e se desentenda de sua responsabilidade de mando. Nossa denúncia do “Projeto X” deixa claro que a Gendarmería Nacional é uma força, como as ouras do Estado, especialmente dedicada a perseguir a luta da classe trabalhadora e para a espionagem contra a esquerda.

A frente única de diversos organismos de direitos humanos que acompanharam a denúncia judicial, alertada por nosso partido, já obteve uma primeira conquista política: o desmascaramento, ante milhões, de uma verdade elementar que conhecemos os marxistas, a existência permanente da espionagem estatal, em especial contra os lutadores e a esquerda, que deveria ser dissolvida. É duplamente importante levando em conta que, dentro da busca pelos planos de “depuração” e “recomposição” das Forças Armadas por parte dos sucessivos governos “democráticos” depois da débâcle da ditadura, o kirchnerismo tem sido o mais audaz de todos. Enquanto os genocidas levados a júri são menos de dois para cada centro clandestino de detenção identificado, e os condenados são uns poucos, busca-se relegitimar as forças repressivas do “projeto nacional”. Nossa denúncia já tem se transformado em um alerta na consciência de milhões e ajuda a uma conclusão estratégica: a própria natureza de todo Estado burguês é a de utilizar seu aparato coercitivo e exercer o monopólio da violência contra quem questiona de algum modo a ordem dos capitalistas.

Necessitamos aproveitar o desmascaramento de espionagem da Gendarmeria K, que saiu à luz com nossa denúncia do “Projeto X”, para redobrar os esforços em uma campanha nacional de todas as organizações sindicais, estudantis e de esquerda para fazer cair as acusações aos delegados da Megacausa Panamericana, alcançar o desprocessamento dos mais de 5 mil lutadores em todo o país, com causas armadas com espionagem deste tipo e exigir a anulação da Lei Antiterrorista, uma nova arma legal promovida pela embaixada norteamericana para reforçar a perseguição aos lutadores.

Myriam Bregman: “É uma perseguição à esquerda, aos delegados e aos lutadores”

por Myriam Bregman – candidata ä prefeitura de Buenos Aires pela Frente de Esquerda integrada pelo PTS

O pouco que se disse até agora a partir do Ministério de Segurança a cargo de Nilda Garré nos preocupa muito. Eles dizem que vão “auditar”, eles mesmos a base de dados. Mas essa base de dados já deveria ter sido entregue imediatamente para que seja investigada, para que se comprove quais outras pessoas estão incluídas nela. Nós temos como mínimo dez membros do PTS, mas seguramente deve haver mais. Em vez de entregar isso, por exemplo, a personalidades de quem nada se possa duvidar, o que fizeram foi, primeiro, revisá-la eles. E como todos vemos, vão demorando cada vez mais em entregar os resultados. Desde o dia 22 de novembro como mínimo, que apresentamos esta denúncia. O governo enviou um mês depois que fizemos a denúncia a carta assinada por Héctor Schenone, chefe da Gerdarmería, reconhecendo que o “Projeto X” existe. Mas há uma atitude do governo e da Justiça em demorar o maior tempo possível. Quando chegarmos a ter contato com a base de dados é muito provável que não encontremos nada.

A base de dados deveria ter sido entregue às pessoas que estão sendo investigadas. Essa base de dados deve ser destruída. O PTS já tem 150 pessoas processadas, o que demonstra que estamos sendo espiados e que há uma perseguição específica que afeta ao conjunto da esquerda e aos delegados e lutadores de todo o país.

Esta declaração foi apresentada quarta-feira, 22/02, no programa "A Dos Voces" do canal pago TN, e pode ser visto no site: www.tvpts.tv

Artigos relacionados: Internacional , Direitos Humanos









  • Não há comentários para este artigo