Sexta 3 de Maio de 2024

Movimento Operário

Entrevista com um controlador de vôo

“Se pararmos uma semana o país quebra”

08 Aug 2007 | A LER-QI e o jornal Palavra Operária têm acompanhado e atuado frente ao desenrolar da crise aérea e do movimento dos trabalhadores desse setor desde o primeiro instante. Por isso expressamos em nosso jornal as opiniões de um controlador de vôo, parte da categoria que pode ser dirigente de uma saída dos trabalhadores para a crise que ainda continua.   |   comentários

A LER-QI e o jornal Palavra Operária têm acompanhado e atuado frente ao desenrolar da crise aérea e do movimento dos trabalhadores desse setor desde o primeiro instante. Por isso expressamos em nosso jornal as opiniões de um controlador de vóo, parte da categoria que pode ser dirigente de uma saída dos trabalhadores para a crise que ainda continua.

Já no início do contato, muitas precauções com segurança. Desde a queda do avião da Gol e da organização dos controladores para denunciar e lutar contra as terríveis condições em que trabalham, esses trabalhadores são tratados como criminosos. Em Manaus, trabalham até hoje sob a mira dos fuzis, aumentando o nível de tensão e estresse em que já vivem.

“A gente vive uma mentira no sistema aéreo brasileiro há 20, 30 anos. Relatórios são omitidos para manter a aparência de que tudo funciona” . Como são militarizados, não podem falar publicamente. “Em 2003 já dizíamos que um acidente poderia acontecer a qualquer momento. Em 2004 entregamos uma carta às autoridades com 13 itens que considerávamos problemas de segurança para os vóos” . De lá pra cá nada se fez e o acidente que os controladores sabiam que ocorreria foi a batida do Boeing da Gol com o Legacy, em 2006, causando 154 mortes. “Quem trabalha na área sabe os problemas e as soluções” .
Perguntado sobre como tinha recebido a notícia do acidente da TAM em Congonhas diz: “Impotência. Por mais que a gente fale dos problemas nada é feito” . O resultado foram mais 200 mortes. “Antes os controladores tinham autonomia para fechar a pista quando percebiam que não tinha condições de segurança. Agora é um cara fechado numa sala no Rio de Janeiro que decide isso por telefone” .

Em cada assunto, a cada nova pergunta, fica claro que o controlador e os outros trabalhadores conhecem seu trabalho e, mais do que isso, têm vontade de dirigir o sistema aéreo brasileiro, com segurança e qualidade no serviço. Meses atrás chegaram a colocar no papel todo o funcionamento do sistema aéreo gerenciado pelos controladores. “Quando o Lula foi eleito, vários colegas diziam que agora as coisas iriam mudar. Fizemos até o plano todo de como seria o controle aéreo civil, com administração dos próprios controladores. Mas já são seis anos de governo e Lula nunca quis conversar” .

O que pouca gente sabe é que cada avião que levanta vóo transporta, além dos passageiros, toneladas de carga caríssima. Por isso ele é consciente da força dos controladores: “Se pararmos uma semana o país quebra” . Pergunto a ele se a lógica se estende aos outros trabalhadores: “Claro. Se não tiver o técnico para manter os radares, não vai. Se não tiver o meteorologista para me dar as condições do tempo, não vai. Se o pessoal do check-in não colocar os passageiros para dentro, não vai.”

“Na época eu achava que não deveria paralisar, que era melhor negociar. Agora acho que erramos por suspender a paralisação muito cedo! Confiamos na palavra de um ministro, mas no Brasil a palavra do ministro só dura quatro dias” . Na época os controladores negociaram com o ministro Paulo Bernardo que se comprometeu com a desmilitarização do sistema aéreo e prometeu que não haveria punições. Poucos dias depois, foi tudo negado pelo governo e vieram a perseguição e as prisões.

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