Sexta 26 de Abril de 2024

Movimento Operário

500 demissões na Avibras de Jacareí

Utilizar os métodos operários para garantir os empregos

23 Jul 2008 | Em nosso recente balanço do I congresso da Conlutas, dizíamos: “não podemos aceitar que se fale de estratégia socialista, fazendo discursos vermelhos, mas não se cumpra com o classismo mais elementar” e por isso nossos delegados operários e estudantis lutaram para que a Conlutas avançasse no classismo. Infelizmente, as recentes demissões na Avibras, empresa metalúrgica de Jacareí/SP, mostraram que tínhamos razão. Foram quase 500 demitidos, segundo o próprio sindicato dos metalúrgicos de São José dos Campos e região, que é dirigido pelo PSTU e ao qual são filiados os trabalhadores da Avibras. Como de costume, os patrões justificaram as demissões com uma suposta crise financeira, resultado do bloqueio de um contrato internacional com a Malásia. E agora, completam o costume, dizendo que não têm condições de pagar a rescisão dos trabalhadores. As respostas da direção do sindicato não passam nem perto de uma “estratégia socialista”.   |   comentários

Como defender os empregos com uma estratégia revolucionária

Antes de tudo é preciso ver que a Avibras não é um caso isolado. Os trabalhadores da Revap acabam de sofrer centenas de demissões. O primeiro passo deveria ser a unificação das lutas pelos empregos e pela readmissão de todos os trabalhadores, levando o combativo exemplo da Revap para Jacareí. Além disso, estão ou estiveram em greve recentemente na região os trabalhadores das empresas Hitachi, Mazlei, Prolind, Mirage, Roclan, Sigma e Celpex, isso só pra falar de metalúrgicos. Ou seja, um grande batalhão de operários mobilizados que deveria ser chamado a defender os empregos na Avibras e na Revap com paralisações, marchas e doações ao fundo de greve. Uma luta unificada assim seria ao mesmo tempo um golpe à patronal e uma demonstração fortíssima de unidade da classe.

Frente à alegação de crise financeira da Avibras, Trotsky aponta no programa de transição respostas cristalinas. Quando os patrões demitem em massa e chantageiam com o fechamento da empresa alegando crises, Trotsky diz: “Aos capitalistas, principalmente os de pequena e média envergadura, que às vezes propõem abrir seus livros de contas diante dos operários - sobretudo para lhes mostrar a necessidade de diminuir os salários - os operários devem responder que o que lhes interessa não é a contabilidade de falidos ou semifalidos isolados, mas a contabilidade de todos os exploradores. Os operários não podem nem querem adaptar seu nível de vida aos interesses de capitalistas isolados e vitimas de seu próprio regime” .

A Avibras está em ”˜recuperação judicial”™ declarando legalmente sua falência, além disso, sustenta uma dívida de R$ 500 milhões com o governo federal. Isso significa que a patronal não pode manter a Avibras funcionando e assim, devemos exigir a imediata estatização da empresa, sem indenização aos patrões e sob controle dos trabalhadores. Só assim poderemos reintegrar os demitidos e colocar a produção, as máquinas e as instalações a serviço dos interesses dos trabalhadores e não dos empresários, que só querem seus altíssimos lucros e nos deixam a conta das demissões e das falências.
Diríamos aos trabalhadores, de novo com Trotsky, que “a tarefa consiste em reconstruir todo o sistema de produção e distribuição sobre princípios mais racionais e mais dignos. Se a abolição do segredo comercial é a condição necessária ao controle operário, este controle é o primeiro passo no caminho da direção socialista da economia” . Isso sim seria levar a cabo a aprovação genérica do congresso da Conlutas de uma “estratégia socialista” nos sindicatos.

O sindicalismo conciliador do PSTU no Sindicato Dos Metalúrgicos De São José

Ao contrário disso tudo, o principal sindicato operário da Conlutas, dirigido pelo PSTU, tem dado as declarações mais escabrosas sobre as demissões e apresenta aos trabalhadores um programa que faz lembrar o ”˜sindicalismo de resultados”™ da Força Sindical.

No dia 17/07, em nota publicada em seu site, o sindicato apresenta suas medidas. A primeira é “tentar garantir, por vias jurídicas, o pagamento do FGTS retido e do seguro desemprego. Outra medida que será adotada pelos trabalhadores é a pressão nos poderes públicos a fim que intervenham em favor da categoria. Reuniões estão sendo agendadas com as prefeituras e câmaras de vereadores de São José dos Campos e Jacareí” . Se depender do sindicato, a vida dos trabalhadores está nas mãos da justiça e da corrupta politicalha burguesa e, com sorte, terão suas demissões com os direitos trabalhistas.

Mas não contente em abandonar os métodos de luta da classe e isolar os trabalhadores da Avibras de todas as lutas da região, a direção do sindicato “também levará uma comissão de trabalhadores a Brasília, para ver de perto a situação do contrato da Avibras com a Malásia, que estaria suspenso por conta da não aprovação de governo federal” . Isso é muito grave. Uma direção sindical da Conlutas, onde tem maioria o PSTU, se propõe a garantir o funcionamento da empresa, não pelo controle operário, mas ajudando a patronal a conseguir um contrato milionário com o governo Tailandês. Colocam o sindicato e os trabalhadores como “base de pressão” ao governo Lula para que atenda o pleito dos patrões que, se conseguirem o contrato, virão com os planos de “reestruturação” ’ demissões, flexibilização de jornada, bancos de horas, rebaixamento salarial etc.

Esta política da direção do PSTU faz lembrar a direção da CUT que organizava “marchas pelo emprego” junto com os patrões nos anos 90, exigindo redução de juros, fim da guerra fiscal, investimentos e outras medidas do plano capitalista. Mentiam aos trabalhadores que se ajudássemos a pressionar o governo para que os patrões “reativassem” a produção, isso se reverteria em mais empregos e salários. Os milhões de demitidos desses anos são a prova de que o sindicalismo de “resultados” da Força Sindical e o sindicalismo “propositivo” da CUT (que apresenta propostas e não apenas “luta” ) serviram para a patronal recuper o fólego e intensificar a exploração.

O PSTU reproduz o sindicalismo cutista que não se fundava nos métodos combativos dos operários e sim na colaboração de classe, pregando que nossos interesses ’ emprego, salário, condições de trabalho etc. ’ podem caminhar junto com os interesses dos capitalistas. Ora, será que a direção do PSTU, que dirige o sindicato dos metalúrgicos de São José dos Campos, se esqueceu que patrão é patrão e peão é peão, e que nossos interesses são antagónicos e inconciliáveis?

Para parecer “socialista” , a direção do sindicato promete “discutir com o governo a possibilidade de nacionalizar a empresa” . Essa proposta, que poderia ser o eixo de uma política classista, exigindo nacionalizar sem indenização à patronal, aqui não passa de discurso vermelho. Isso porquê aparece ligada a um programa concreto de conciliação com a patronal que quer apenas garantir o programa mínimo: as indenizações trabalhistas.

Um chamado: romper com esse sindicalismo corporativo e conciliador para avançar no classismo

Se a direção do PSTU quer ser coerente com seu discurso de “estratégia socialista” nos sindicatos deve mudar imediatamente o rumo em São José, rompendo com esse sindicalismo corporativo e conciliador.
Os ativistas da Conlutas e os dirigentes sindicais de São José dos Campos devem exigir que a Conlutas organize já um comitê de solidariedade ativa, de sindicatos, trabalhadores, estudantes e lutadores populares. É preciso unificar a luta dos trabalhadores da Revap e da Avibras, contra as demissões organizando um fundo de greve e paralisações em outras categorias da Conlutas como parte de uma campanha de solidariedade. Medidas elementares para confiar o destino dos demitidos nos métodos operários, unificando a classe e lutando seriamente para reverter as demissões.

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