Sexta 19 de Abril de 2024

Movimento Operário

SOBRE A CARTA ABERTA DA CONLUTAS

Por uma frente-única operária pra além do papel

29 Nov 2008   |   comentários

Neste mês de novembro a Conlutas lançou uma carta aberta que termina com um “chamado à unidade para a luta” , dirigido a diversas organizações, entre elas a CUT, a CTB e Força Sindical. Dificilmente alguém poderia dizer que é equivocado chamar uma unidade ampla para combater os efeitos da crise, pois isso significaria dizer que a Conlutas, com suas reduzidíssimas forças e influência na massa dos trabalhadores, poderia dirigir sozinha o conjunto da classe.

Não acreditamos que o chamado a uma frente única com centrais sindicais cujas direções atuam de acordo aos interesses dos patrões e do governo significa plantar nas massas a ilusão de que essas direções ainda são classistas. Ao contrário, nos parece que a Frente Única Operária, além de ser uma necessidade da classe para combater os efeitos da crise, pode ser uma ferramenta eficaz para desmascarar o papel que cumprem as atuais direções majoritárias. Infelizmente, essa capacidade de desmascarar depende da maneira com que se faz o chamado à Frente Única.

“Um golpe de vista histórico sobre a frente única”

A tática da Frente Única é parte do ABC do marxismo. É o princípio sob o qual se organizam os sindicatos e mesmo os sovietes. Grande parte do que foi escrito sobre isso está no livro “Revolução e Contra-Revolução na Alemanha” , escrito por Leon Trotsky nos anos 30. Ali, Trotsky esclarece quais são as duas maneiras de transformar a tática da Frente Única Operária em uma caricatura sectária sem utilidade. Diz ele: “Os órgãos dirigentes do Partido Comunista se dirigiram aos reformistas com propostas de lutarem, em comum, por palavras de ordem radicais, que não decorriam da situação e não correspondiam à consciência das massas. (...) As massas continuaram impassíveis. Os chefes reformistas explicaram as propostas dos comunistas como uma intriga tendo por objetivo a destruição da social-democracia” . A outra deformação da qual fala Trotsky é a de “uma caçada aos aliados, conquistados à custa da independência política do Partido Comunista” .

É claro que aqui tratamos de uma Frente Única chamada pela Conlutas e não por um partido (mesmo se consideramos que o PSTU é pai da idéia e redator da carta aberta). No entanto, a lógica pode ser aplicada. Trata-se de uma disputa por influência sobre as massas, que o PSTU busca alcançar através da Conlutas contra uma enorme central chamada CUT, que além de ainda deter a direção de diversos sindicatos, elege seus homens mais importantes para cargos nas prefeituras e governos do país, para não falar da forte ligação com a enorme popularidade de Lula. Trata-se de uma disputa desigual.

A Frente Única só pode servir para desmascarar uma direção reconhecida pelas massas se, em primeiro lugar, é chamada para que se constitua de fato. E ela só pode se constituir de fato se os reformistas são obrigados pelas circunstâncias a tomar atitudes em defesa da classe. Seja para responder à pressão da base ou para evitar o total desmonte de sua base social. Daí a necessidade, como diz Trotsky, de que o programa proposto na Frente Única seja uma resposta precisa, não só às condições objetivas, mas também ao nível de consciência das massas.

A carta da Conlutas desenvolve um programa para a crise que vai desde a estatização de todos os bancos até o controle operário da produção. Um programa que pode e deve ser propagandeado aos trabalhadores, mas que no chamado de uma Frente Única com o reformismo, não passa de enfeite.

É por isso que, depois de exibir esse programa, a carta chama uma frente “para lutar em defesa dos direitos e interesses dos trabalhadores frente à crise” e faz questão de dizer que o programa enfeite é apenas uma sugestão e que tudo pode ser negociado.

Mesclando os dois erros que Trotsky apontava há 80 anos, a carta aberta da Conlutas transforma-se num texto de propaganda. Por um lado levanta um programa correto nos princípios, mas que não corresponde à consciência das massas e por outro busca uma frente única sem qualquer princípio programático com os reformistas.

A exigência de que o MST e a CUT rompam com o governo Lula e “venham construir a unidade” é um apelo abstrato que em nada preocupa os dirigentes reformistas.

Que frente única precisa a classe operária?

Para enfrentar essa crise, as pequenas forças da vanguarda anti-governista não são suficientes. Os efeitos que uma recessão prolongada teriam sobre uma classe operária desorganizada e fragmentada como a nossa podem ser devastadores. Para evitar isso é preciso sim a unidade das fileiras operárias e dos sindicatos das mais diversas categorias e centrais sindicais, em torno de um programa operário que busque dar resposta direta aos reflexos da crise que começam a atingir a classe. A Conlutas precisa iniciar urgentemente uma campanha massiva de propaganda e agitação a partir dos sindicatos que dirige e influencia, para chegar às bases da CUT e da Força Sindical, chamando a Frente Única Operária, para que os trabalhadores lutem para se impor sobre seus dirigentes. No Brasil, as demissões, as férias coletivas e as suspensões de contrato assombram os trabalhadores. Também o aumento do custo de vida começa a afetar a classe.

Para colocar a burocracia reformista contra a parede e defender a classe, chamemos uma Frente Única Operária por

NENHUMA DEMISSÃO, NÃO ACEITAR FÉRIAS COLETIVAS NEM SUSPENSÕES DE CONTRATO

REAJUSTE SALARIAL DE ACORDO COM O AUMENTO DO CUSTO DE VIDA

EFETIVAÇÃO DE TODOS OS TERCEIRIZADOS E PRECARIZADOS

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