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Os obstáculos de Marina Silva nas eleições brasileiras

26 Sep 2014   |   comentários

Na candidatura de Marina Silva, o maior trunfo pode se tornar o maior problema: a candidata ascendeu como principal “fenômeno” com o discurso de “estar para além da polarização entre PT e PSDB”. Mas o que significava isso?

Na candidatura de Marina Silva, o maior trunfo pode se tornar o maior problema: a candidata ascendeu como principal “fenômeno” com o discurso de “estar para além da polarização entre PT e PSDB”. Mas o que significava isso? A essência do diálogo de Marina Silva era se vincular ao anseio surgido nas mobilizações de junho de 2013, de grande desgaste do regime político, e oferecer uma “nova política”. Acontece que também essa fórmula encontrou alguns obstáculos.

O principal entrave é justamente que a fórmula de Marina Silva tem se apresentado em geral “confusa” para os eleitores brasileiros. Para muitos, ficou mesmo difícil num primeiro momento entender se representava um projeto da direita ou da esquerda (ou melhor dito, da centro-direita ou da centro-esquerda). E enquanto isso Marina proclamava em todos os debates que “era a candidata da mudança”; o conteúdo da mudança, num primeiro momento, não foi o que importou e realçou no discurso, e era uma estratégia sagaz da campanha de Marina, pois buscava “agarrar a confusão” de 2013, já que também nas mobilizações encontramos milhões de pessoas nas ruas sabendo que era necessária uma mudança, mas a grande massa sem uma resposta a altura daquele anseio (nem a esquerda, nem a direita).

E assim Marina se fez fenômeno eleitoral, chegando a aparecer vitoriosa no segundo turno contra Dilma em distintas pesquisas. Mas é justamente nesse ponto que seus adversários resolveram bater: para Dilma e Aécio, a chave tornou-se “desmistificar” a campanha de Marina, e fazer-lhe expressar o que existia de conteúdo, por trás da fórmula geral de mudança. Assim começaram as indagações e especulações se Marina acabaria com bolsa família, como ela destinaria os recursos do pré-sal, se ela mudaria a CLT (leis trabalhistas), se faria ajustes, como seria sua política econômica. Ainda com certo favoritismo de Dilma, ficava claro que a única estratégia coerente para o PT seria “forçar” Marina a expressar seu conteúdo (que, quando feito, emite tons de uma “direita renovada”). Aécio, com menos chances, por seu turno também teria que se mostrar como “direita viável”, capaz de governar, em oposição a Marina.

E assim Marina Silva caiu recentemente nas pesquisas. Estancou seu crescimento e haverá de pensar estratégias para alavancá-lo. Pois após a ofensiva dos adversários (PT e PSDB), não bastou falar em “nova política”, era necessário gastar muito tempo respondendo, pois com o imenso proletariado e pobres urbanos do país, ficar como quem mudará a CLT ou cortará o bolsa família é a certeza de não se eleger, ao menos em uma situação nacional geral mais “à esquerda” depois da que se abriu em junho de 2013.

Para além dos três candidatos principais, as alternativas são muito marginais e os projetos políticos da esquerda não conseguem emplacar forças, mesmo em setores mais restritos da sociedade. Será preciso ir debatendo uma nova organização que possa ir além dos moldes da esquerda tradicional e aproveitar anos como o de 2014 - que começou com a emblemática conquista dos garis do Rio de Janeiro, teve a maior onda de greves operárias das últimas duas décadas (“maio operário”), e culminou inclusive em uma importante vitória dos trabalhadores da USP - para fazer emergir uma alternativa real, que impacte as eleições em denúncia do regime democrático degradado brasileiro e que pudesse fazer frente as alternativas dominantes (Dilma, Marina, Aécio).
De resto, para as eleições presidenciais, a “mística” de que Marina poderia significar uma alternativa está questionada, e os obstáculos de uma “forma sem conteúdo” podem cobrar seu preço para o resultado gera.

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