Sexta 3 de Maio de 2024

Nacional

OS TRABALHADORES BRASILEIROS JÁ COMEÇARAM A PAGAR A CONTA

Lula sai em socorro dos banqueiros

17 Oct 2008   |   comentários

Na semana em que a crise
económica definitivamente se espalhou
para a Europa e pelo mundo,
atingiu com força também o
Brasil.

Enquanto para Lula “o Brasil
é o pais mais bem preparado do
mundo para enfrentar a crise” , na
realidade o real foi a moeda mais
golpeada até agora com a queda
das bolsas, mesmo com as intervenções
do governo vendendo dólares.

Bastou uma forte subida das
bolsas e uma leve recuperação do
real para que muitos analistas burgueses
brasileiros recuperassem
um pouco o otimismo. Mas o otimismo
durou pouco, e as bolsas rapidamente
voltaram a cair e o dólar
a subir. É que essas fortes oscilações
nas bolsas são apenas expressão da
profundidade da crise atual.

Não vai demorar muito e
Lula vai ter que mudar o discurso.
Em ritmos e profundidade diferentes,
todos os paises serão atingidos.
O Brasil, que aprofundou a subordinação
económica ao imperialismo,
pode ser um dos países mais
rapidamente afetados.

A seca de crédito internacional
já está ameaçando o funcionamento
das empresas e criando dificuldades
para cumprirem com o
vencimento das suas dívidas (15 bilhões
de dólares até o final do ano);
além de estar colocando em perigo
os pequenos e médios bancos, que
interromperam suas linhas de crédito.

As empresas exportadoras,
que recebiam adiantado pelas exportações
que iriam fazer, agora
estão sem dinheiro para seguir
produzindo e precisam desesperadamente
da ajuda do governo.
Supostamente elas deveriam se
beneficiar com a desvalorização do
real, mas estão tendo prejuízos de
bilhões de reais, pois especularam
com o câmbio, apostando que o
real iria se valorizar. A Sadia, por
exemplo, já perdeu mais que todo
o lucro que teve em 2007 (cerca
de 700 milhões de reais). A Aracruz
já perdeu quase 2 bilhões de
reais. A Votorantim mais 2 bilhões.

Segundo as últimas informações,
mais de 250 empresas que ainda
não revelaram seus balanços podem
ter perdas com esses negócios,
no que já está sendo chamado
de “subprime brasileiro” , por ligar
mais diretamente a crise financeira
à “economia real” .

As empresas ligadas ao ramo
imobiliário estão sofrendo fortemente
com a queda abrupta do
crédito, e o boom do mercado imobiliário
está com os dias contados
também no Brasil. Além disso, já
começamos a ver redução de vendas
em vários setores, como o automobilístico,
e redução da produção
industrial. A seca de crédito já fez
as empresas congelarem os investimentos.

Com isso, a indústria de
bens de produção está sendo uma
das primeiras afetadas. A queda na
venda de carros já fez a GM, a Fiat
e empresas de autopeças anunciarem
férias coletivas para os seus
operários. A patronal já começou a
endurecer nas campanhas salariais
do segundo semestre, e obrigou a
burocracia sindical a organizar greves
para não perder o controle da
situação.

Desvalorização do real: um
ataque direto ao salário

A queda abrupta do valor da
moeda nacional tem conseqüências
não só sobre as empresas que especularam
com o câmbio. Vai, além
disso, significar um ataque imediato
ao salário real dos trabalhadores.
O preço dos produtos importados,
como o trigo do pãozinho, vai subir
no imediato. As empresas que
utilizam produtos importados vão
repassar imediatamente os custos
para os preços dos produtos (talvez
esperem passar as principais
campanhas salariais para não provocar
uma onda de greves...). Os
produtos que exportamos, como
a carne, que têm suas cotações em
dólar, passarão a valer mais em reais.
As exportadoras vão repassar
esse aumento também no mercado
interno. Ao mesmo tempo, vai aumentar
a pressão da patronal para
reajustar o salário abaixo do aumento
real do custo de vida, muito
maior do que a inflação oficial.

O período de crescimento
baseado na hipervalorização do
real, bancada em parte com dinheiro
do governo, às custas dos trabalhadores
que pagam a maior parte
dos impostos, favoreceu amplamente
os capitais mais concentrados.
Agora, com a desvalorização,
mais uma vez os trabalhadores vão
ser os maiores prejudicados.

O governo Lula salvando os
capitalistas

As medidas que o governo
Lula tomou até agora mostram
que vai fazer de tudo para manter
o mesmo esquema de crescimento
destes últimos anos (ver artigo ao
lado), mantendo os juros elevados
para tentar conter a fuga de capitais.
Além disso, está aplicando
medidas de emergência para salvar
os capitalistas brasileiros. Já gastou
cerca de 3 bilhões de dólares das
reservas para tentar conter a queda
do real. Antecipou 5 bilhões de
empréstimos para o agronegócio.
Anunciou que vai garantir uma linha
de crédito especial para as exportadoras
que enfrentem dificuldades.

Além disso, Lula promulgou
uma Medida Provisória para
emprestar dinheiro das reservas e
garantir a sua liquidez e para injetar
dinheiro nos pequenos e médios
bancos em troca de títulos de
empréstimos como garantia, e de
ter algumas prerrogativas para interferir
na sua gestão, uma espécie
de “estatização” parcial de setores
do mercado financeiro brasileiro.
E liberou grande parte do depósito
compulsório para tentar desafogar
o sistema de crédito, jogando mais
de 100 bilhões de reais no sistema
bancário. Enquanto Lula abre o
cofre federal para despejar bilhões
nas mãos dos capitalistas, nenhum
centavo é dado para os trabalhadores,
para a educação, a saúde, os
transportes, a moradia, a reforma
agrária etc., etc.

E mesmo assim, essas medidas
não estão conseguindo deter a
queda da Bovespa e a alta do dólar,
e os efeitos da crise no Brasil serão
cada vez maiores. Com o crédito
secando e o consumo caindo, diminuindo
o ritmo de crescimento,
a primeira coisa que as empresas
estão fazendo é congelar os investimentos
que estavam previstos.

O número de novos empregos
criados vai diminuir. Ao mesmo
tempo, o crédito ao consumidor
também vai encarecer, diminuindo
mais o consumo e a geração
de empregos. Muitos ramos económicos
vão demitir. Como por
exemplo, na recente demissão de
mais de 600 operários nas indústrias
de eletroeletrónicos da Zona
Franca de Manaus. Tudo isso vai
fazer o consumo cair ainda mais
e empurrar o país para uma dinâmica
recessiva da qual é quase impossível
escapar. A queda da Bolsa
parece distante para a maioria dos
trabalhadores, mas as suas conseqüências
não demorarão a ser
sentidas. A pressão pela “redução
de custos” vai ser cada vez maior e
nós já sabemos o que significa isso:
férias coletivas, banco de horas,
demissões, arrocho salarial e redução
de direitos.

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