Segunda 29 de Abril de 2024

Teoria

TEORIA

Engels e a anti-dialética de seus detratores

28 Oct 2010   |   comentários

Introdução

Os processos e a dinâmica da natureza e também da história humana, adotam um desenvolvimento dialético, mesmo que a dialética [1] adote formas diferentes em cada uma destas esferas.

Há descontinuidade (as leis tendenciais não são as mesmas na sociedade e na natureza) mas existe, ao mesmo tempo, continuidade, de modo que se pode afirmar que as leis tendenciais da sociedade, sendo diferentes e próprias da sociedade humana, não são, no entanto isoladas ou totalmente diferentes daquelas da natureza. Este é, em parte, o tema deste artigo que procurará, ao mesmo tempo, trazer elementos para polemizar com uma tendência recorrente em alguns professores ou escritores de esquerda no sentido de menosprezarem a dialética da natureza proposta por Engels assim como aqui se defenderá a necessidade do foco dialético para a profunda compreensão dos processos naturais e históricos.

São conhecidas as deformações, num sentido determinista/mecanicista sofridas pela dialética nos manuais de marxismo da burocracia da URSS e dos que neles se inspiraram e inspiram. No entanto nossa hipótese é a de que a degradação do marxismo e da dialética por uns está longe de justificar o ataque à dialética ou ao marxismo revolucionário por outros e que o desafio, na verdade, é o de procurar entender – sem dualismos – que o modo de existência da natureza e da sociedade, são dialéticos, embora não se trate da mesma formatação dialética. Ou seja, não se pode superpor a sociedade à natureza; aqui o trabalho e a consciência fazem toda a diferença como será mais adiante argumentado. Em total acordo com Rees (1998, 278), nossa consideração essencial será a de que:

Foi uma característica tanto do stalinismo quanto do marxismo da II Internacional a tentativa de reduzir a dialética a uma série de leis positivas que rigidamente determinavam o curso da história. A diferenciação de Trotski entre a forma que a dialética assume na natureza e aquela adequada ao estudo da sociedade preserva a unidade da dialética (evitando assim o dualismo) e também evita a interpretação determinística do marxismo.

Precisamente uma das críticas feitas por certos círculos a Engels é a de que ele confundiria as leis da natureza com as da sociedade e, neste caso, ele é imaginado como mecanicista ou determinista. Um paradoxo, já que vem a ser ele o autor que, em sintonia com Marx, mais classicamente se ocupou com a defesa do método dialético de pensar a natureza e a história humana. Ou, no argumento de Buonicori (2007,10), “não deixa de ser irônico que o maior crítico do positivismo e do economicismo no interior do movimento socialista seja, posteriormente, acusado de ser seu principal introdutor e incentivador”. Para ilustrar com um exemplo: Engels não pensa – como alguns o acusam – que o processo dialético da negação da negação, cuja ocorrência na natureza é sistemática e assume distintas formas em diferentes processos, possa vir a ser interpretado socialmente sob qualquer viés fatalista, por exemplo, na linha de que o socialismo (como negação do capitalismo) possa vir a ser “dialeticamente” inevitável. Rees (1994) destaca o Engels que, em sua obra Anti-Duhring, se ocupa precisamente de combater os que assim pensam.

Neste artigo, se trabalha, portanto, com a hipótese de que Engels não adota uma perspectiva analítica determinista e nem mecanicista (reducionista) e possui toda clareza sobre a diferença qualitativa entre os processos da natureza e os da sociedade humana. Os processos sociais e naturais se desenvolvem dialeticamente, ambos, mas a forma da dialética (ou a dialética da natureza e a da sociedade) não vem a ser a mesma. Objetivos e métodos, por exemplo, diferem em cada uma destas esferas, segundo Lefebvre (REES, 1998, 75).

Certamente é possível - para quem não procure assimilar Engels de conjunto e no método de pensamento dialético no qual ele e Marx são solidamente fundados - através do uso de uma ou outra citação isolada, atacar, pontualmente, Engels como determinista. E aqui não apenas Engels mas também Marx ou outros marxistas que passam longe de tal tendência. Rees (1998, 75) considera que Engels recorre a exemplos e imagens da natureza, aqui e ali, de forma inadequada, mas não vê nisso qualquer problema de fundo. Pretender o contrário e sacrificar o núcleo, a perspectiva e o conteúdo do seu método de pensamento é colocar-se aquém da dialética, não corresponde a Engels. Toledo (1980) traz argumentos de peso a esse respeito.

Por outro lado muitos autores que integram o grupo dos “críticos” do Engels “determinista” ou até “positivista”, precisam - por razões próprias, ideológicas - enxergar um Engels determinista até como parte da incorreta tentativa de descobrir as causas do devastador processo de degradação do marxismo oficial (da II Internacional, da URSS, PCs e afins) e de sua invasão determinista e positivista. Nesta jornada terminam sendo pouco dialéticos. Reagem a Engels nos marcos do raso entendimento de que o stalinismo e o marxismo dos catecismos da II Internacional e dos PCs stalinizados seriam continuação de Engels e até, de Marx e não sua negação.

Engels é o alvo preferido, dentre outras razões porque na “divisão de trabalho” entre os dois coube a ele ocupar-se mais dos temas científicos. Desconsidera-se, às vezes que, por exemplo, “nos anos 1850-60 será sobretudo Marx quem se ocupará das ciências da natureza: a física, a cosmologia, a geologia, a fisiologia” serão por ele estudados intensamente, fato que se deduz de sua correspondência e das notas de leitura (MARX; ENGELS, 1975, 9). Em suma, tem sido já bastante estabelecido, como argumenta Buonicore (2007, 10), que “se Marx não se dedicou a escrever sobre a dialética da natureza foi porque, na divisão de trabalho, esta tarefa coube a Engels”. E, em especial, coube a Engels procurar demonstrar que dialética nos movimentos da natureza – em todas as suas esferas – assim como dialética, embora qualitativamente diferente nos efeitos e fins, no funcionamento e dinâmica histórica das sociedades humanas.

De toda forma, o fato é que uma vez delimitado o alvo, certos autores tentam mostrar um Engels que não existiu ou, no mínimo – outra tentativa indevida – separá-lo de Marx, no método e no conteúdo.

Dialética da natureza e dialética da história

Não é difícil entender que natureza e sociedade constituem uma totalidade, sendo a natureza prévia ao homem, e também que o vínculo ativo ou a diferenciação entre sociedade e natureza se estabeleceu, dialeticamente – como demonstraram Marx e Engels -, através do trabalho.

Este é o primeiro fato, seminal, b digamos assim, que vai permitir entender a noção de totalidade de uma forma peculiar, marxista (e não mística ou metafísica) e que vai permitir entender porque a lógica da natureza, ou a dialética da natureza difere daquela da sociedade embora pertencentes à mesma totalidade (totalidade “diferenciada” como veremos mais adiante).

É fundamental, portanto, que seja levada em conta a noção dialética do trabalho ou o papel do trabalho na diferenciação dentro daquela totalidade. O homem cria o mundo e a sua história através do seu trabalho, material e histórico; dito de outra forma, antes de fazer história, os homens devem comer, abrigar-se, vestir-se, resolver suas necessidades concretas básicas [2].

Esta continua sendo nossa verdade cotidiana. E foi também a verdade b, de auto-criação da própria espécie humana a partir de um tipo de símio bípede (de mãos livres). O trabalho, em sua forma exclusivamente humana, é essencialmente e em primeiro lugar, um processo ativo através do qual o homem media e controla sua relação com a natureza.

Ao fazê-lo desenvolve-se uma unidade com a natureza, que já não é mais homogênea, que é diferenciada. Aqui temos o caso de uma entidade – a espécie humana – que ao desenvolver-se a partir da natureza e de sua dialética, vem a alterar as próprias leis da dialética. Por uma razão: esta nova unidade, diferenciada, esta nova esfera, complexa, social, movida ou mediada pelo trabalho, traz características que são da natureza, embora com outros elementos que não constam do mundo animal; e que são elementos que, dialeticamente, rompem com a história natural se comparado com as demais espécies. Dito de outra forma: através das transformações que a espécie humana foi realizando em “seu entorno surgiu a razão e por meio desta conseguiu obter ferramentas para continuar modificando o mundo. Este é o significado da razão humana se lhe retiramos o caráter divino a ela atribuído pelo Iluminismo, mas também implica em admitir que ela nunca esteve separada da natureza mas que é parte dela” (DÍAZ, 2002).

Reiterando: a consciência dos homens, através do trabalho, veio transformando a natureza em função dos seus propósitos, mas nem por isso a sociedade se desprende da totalidade; sua autonomia é relativa.

Para Rees [3] (1998, 72),

Marx e Engels desenvolveram uma noção da relação entre os seres humanos e o mundo natural que nem reduz os seres humanos ao nível dos animais – que é o que vários teóricos do “macaco nu” têm tentado fazer nos nossos dias – nem imaginavam que os seres humanos e a consciência humana fossem totalmente separados do mundo natural. Em vez disso, insistiram que tanto os seres humanos quanto a consciência humana desenvolveram-se a partir da interação com o resto do mundo natural e continuavam dependentes dela. O trabalho era o centro que definia a viragem nessa relação. O trabalho é a maneira pela qual a consciência humana e o mundo material interagem, transformando a ambos.

Nem a consciência é “livre” totalmente, no sentido em que os anarquistas (e, em seu tempo, os jovens hegelianos) concebem e nem tampouco é um mero “reflexo” natural ou da vida material, como os materialistas mecanicistas (e stalinistas) imaginam. Marx e Engels “concebem a natureza e os seres humanos como uma totalidade, mas não do tipo em que cada lado da contradição pode simplesmente ser reduzido ao outro” e sim enxergam “ambos os lados da totalidade como mediados pelo trabalho consciente, uma atividade que combina em si mesma tanto a materialidade dos atributos físicos do homem quanto a consciência do cérebro humano” (REES, 1998, 72).

Aquela mediação do trabalho é característica do mundo dos homens e constitui a relação destes com o metabolismo da natureza. Aqui se recupera uma noção – a de “unidade diferenciada” – que permite visualizar a clara diferença entre natureza e sociedade; por um lado onde ganha centralidade a categoria do trabalho humano e por outro onde fica mais ou menos evidente que a sociedade (engendrada pelo trabalho humano), e a natureza funcionam segundo formas diferentes da dialética, ou diferentes dialéticas se se quiser. Sua base comum é o materialismo, sendo que na sociedade humana o trabalho consciente faz toda a diferença. “Marx e Engels sustentavam que o desenvolvimento dialético é uma característica do mundo natural assim como também do mundo social sem necessitarem defender que a forma da dialética era a mesma nos dois casos” (REES, 1998,74). E ainda para este autor, “aqui o trabalho torna-se o meio de superar a contradição entre os seres humanos e o mundo natural e abrir a possibilidade de real progresso, mudanças reais tanto nas condições quanto na consciência” (1998, 72).

Se o homem não dialogar com a natureza – através da produção – ele morre, advertia Marx. Essa dialética é parte da diferenciação da sociedade com a natureza. A materialidade da natureza não é portadora dessa subjetividade. A dialética do mundo inanimado não inclui a consciência. E isso a torna diferente da outra esfera que integra a totalidade, da esfera da sociedade em sua interação com a natureza, na qual necessitamos considerar a teleologia dos homens, a dialética do trabalho humano; nas palavras de Rees “aqueles teóricos que forem incapazes de enxergar que o trabalho se tornou o sujeito-objeto do processo histórico, o ponto nodal no qual as linhas da determinação material e da consciência coincidem, estão em desvantagem ou perdem a perspectiva para compreender o desenvolvimento do mundo natural, o desenvolvimento da sociedade e a interação entre eles” (1998,74).

E será precisamente Engels (2010, 50) quem irá estabelecer – como núcleo do pensamento dialético e do marxismo em geral – a bem definida noção de que a natureza se move segundo leis distintas da sociedade (sem que isto signifique, jamais, autonomia que não seja relativa):

A história do desenvolvimento da sociedade difere substancialmente, num ponto, da história do desenvolvimento da natureza. Nesta – se excluímos a reação exercida, por sua vez, pelos homens sobre a natureza – o que existe são fatores inconscientes e cegos que atuam uns sobre os outros e em cuja ação recíproca se impõe a lei geral. De tudo que acontece na natureza – tanto os inumeráveis fenômenos aparentemente fortuitos que afloram à superfície como os resultados finais pelos quais se comprova que esses acasos aparentes são regidos por leis – nada ocorre em função de objetivos conscientes e voluntários. Em troca, na história da sociedade, os agentes são todos homens dotados de consciência, que atuam sob o impulso da reflexão ou da paixão, buscando determinados fins; aqui nada se produz sem intenção consciente, sem um fim desejado. [4]

Como se trata de uma abordagem dialética, dinâmica, onde é crucial levar na devida conta processos “cegos”, naturais, que se desenvolvem ao mesmo tempo e imbricados com processos na esfera da consciência, e onde às vezes se faz necessário acentuar um aspecto, às vezes outro, a verdade é que facilmente se pode acusar Engels (ou Marx) de se fixar mais na história do que na natureza ou vice-versa. Para se obter esse efeito, de valor marxista questionável, basta isolar um aspecto da análise e daí acusar Engels de minimizar o outro ou, no argumento de Rees (1994): “é fácil para os críticos isolar um lado da análise e então assumirem ares de superioridade ao corrigirem os supostos reducionismos de Marx e Engels e apresentarem o lado complementar da análise como se fosse sua própria contribuição”.

No entanto, a obra de Engels, de conjunto, não se presta a qualquer fim reducionista, por mais que se faça uso de um ou outro mau exemplo ou de citações problemáticas (eventualidade que pode ocorrer com praticamente qualquer autor que ponha suas idéias no papel). No entanto ele vem sendo, antes e também mais recentemente, combatido a partir de distorções do tipo daquelas aqui mencionadas. Muitos marxistas têm traçado uma via direta, automática e linear entre as concepções de Engels e o mecanicismo stalinista. “Falar de ´materialismo dialético´ começou a ser também para muitos marxistas, sinônimo de determinismo vulgar e para diferenciarem-se preferiram opor ao materialismo dialético a denominação de ´filosofia da praxis´ tomando o antecedente de Gramsci ou Labriola; esta discussão continua presente até os dias atuais” (DÍAZ, 2002).

Acusar Engels de determinista mecanicista e tentar conectá-lo com a versão do marxismo de Bernstein, Kautski e do stalinismo como faz Benoit (2000, 101), não procede. Depois de afirmar que a “doutrina engelsiana” será encontrada, sobretudo, nos “manuais do marxismo stalinista”, na forma de “materialismo dialético” e de “materialismo histórico” e depois de acusar Engels de mecanicista e fatalista, Benoit (2000, 101) conclui, novamente de forma equivocada: “Estaríamos assim, com o materialismo dialético e com o materialismo histórico, diante do ´sistema de mundo marxista´, um sistema naturalista-positivista que permitiria prever, precisamente, com rigor científico inexorável, o curso da natureza e da Historia”.

Stalin aparece assim, como forjado por Engels ou continuador de Engels o que está longe de ser uma avaliação no mínimo fiel a Engels. Pelos mesmos caminhos da anti-dialética segue Jair Antunes (2009) acusando Engels, por seu “pequeno deslize teórico”, de ter sido “a chave para a justificação stalinista do desvio teórico e político de proporções catastróficas para a classe operária mundial do século XX e pelo rumo (talvez sem volta) em direção à completa barbárie tomado pela humanidade agora, no início do século XXI”. Mészàros é outro autor que segue em uma trilha semelhante, acusando Engels de reduzir a filosofia a uma “mera soma dos resultados das ciências positivas” (1980, 171). Musse (1999, 96), por sua vez, depois de conceber um Engels positivista, critica-o por pretender “compreender o marxismo como um sistema orientado por um conhecimento unificado do homem e da natureza”; também critica Engels por, supostamente, adotar “uma mesma dialética uniforme, abrangente o suficiente para compreender seja o andamento histórico seja o processo natural” (Musse, 1999, 92).

Partindo da crença de que Stalin desenvolveu a “concepção engelsiana de dialética”, Jadir e Conceição (2008, 165), por seu turno, acreditam que para Engels há uma dialética da natureza mas que “para Marx não há dialética da natureza”. Na linhagem dos críticos de Engels também incluem-se autores como N. Tertulian, Sartre e, entre nós, J. Arthur Gianotti (TOLEDO, 2008, 178), assim como, no início dos 1980, Adelmo Genro Filho, que detectava em Engels algo assim como o papel de pai das tendências “naturalistas” do marxismo (no caso, Stalin seria um exemplo destas tendências) e aquele autor chegou a se propor a escrever uma espécie de “Anti-Engels” (FREIRE Jr, 1995).

Outra tentativa recente, desde os anos 1960 e em certos círculos acadêmicos, vem sendo a de procurar opor Engels a Marx. Rees (1994) já chamou a atenção que embora autores como Lukács e Korsch nos anos 1920 tivessem chegado a criticar um ou outro aspecto de Engels, não tenderam, em todo caso, a negar a unidade entrre Marx e Engels. No entanto, é o que tentam levar adiante alguns autores quando imaginam um Engels “positivista” contra um Marx “não-positivista”.

Um dos problemas desses tipos de desvios decorre de que se pratica um reducionismo em relação ao pensamento do próprio Engels mas um outro é o da falta de clareza sobre a dialética da história e a dialética da natureza, e de sua relação mútua.

Dialética da natureza em Engels

Na natureza níveis de complexidade (por exemplo, químico e biológico, ou então na esfera da fisiologia do cérebro e da psique) podem surgir um do outro, um dar origem ao outro (como o químico em relação ao bioquímico) mas cada um guarda sua autonomia e, nos marcos da sua esfera, suas próprias leis. As do pensamento não são as do cérebro, as da história natural não são as mesmas da sociedade, as da química não são as mesmas da bioquímica.

Engels (1979, 36) explica que a matéria é constituída de moléculas, átomos e dessa forma, de uma diferenciação – em outras palavras – de níveis de complexidade e que “é sobre essa diferenciação que repousa a separação da mecânica, como ciência das massas estelares e terrestres, da física, como mecânica da molécula, e da química, como física dos átomos”.

Hoje podemos dizer o mesmo: se uma molécula orgânica ou um conjunto delas são perfeitamente explicáveis e previsíveis, em seu comportamento, como moléculas, pelas leis da química, no entanto, na medida em que elas mesmas integram (como parte orgânica) o funcionamento biológico, só serão biologicamente explicáveis e previsíveis de acordo com as “normas” ou leis de funcionamento da biologia, não mais estritamente da química. A molécula de adrenalina entendida quimicamente não é a mesma coisa que a mesma molécula na esfera da fisiologia do nosso organismo, operando como hormônio, como neurotransmissor etc nos receptores celulares.

Reiterando o exemplo: o colesterol, na esfera da química orgânica é uma coisa, quimicamente determinada, mas dentro do organismo humano segue outras tendências, efeitos, com características agora próprias do reino da biologia e não mais da química; embora a continuidade seja real, óbvia (trata-se da mesma substância química, o colesterol, que, pertence à esfera da química orgânica que lhe deu origem), mas assume, na fisiologia e bioquímica dos seres vivos, papel diferente, propriedades neste caso irredutíveis às químicas ou doravante incompreensíveis apenas na esfera da química orgânica. (Da mesma forma, e em outra escala, não se vai aplicar a dialética da história natural das espécies, por exemplo, à história das sociedades humanas).

Para resumir, a substância dos exemplos acima é, ao mesmo tempo e dialeticamente, uma coisa e outra coisa; ao mesmo tempo é o colesterol da química e ao mesmo tempo nega-se como tal, ao adotar o “novo” papel do colesterol fisiológico, ininteligível pelas meras leis da química orgânica.

Ora, esta vem a ser precisamente a primeira grande hipótese de Engels que vale destacar: a dialética é imanente a toda forma de matéria, é como a matéria funciona em termos de processo (a dialética não é uma invenção mental nossa, neste caso); mas a forma da dialética da natureza não é a mesma da dialética da história (do materialismo histórico).

Sayers, citado por Rees (1998, 77) descreve a posição de Engels com clareza no sentido de que

esses diferentes níveis são relativamente autônomos: eles não são apenas distintos, mas também, unidos; existe continuidade assim como diferença entre eles. A mais clara demonstração disso é oferecida pelo fato – e a moderna ciência toma isto como fato – de que os fenômenos biológicos emergem das condições meramente químicas e físicas – isto è, não-biológicas – por meio de processos puramente naturais” (grifo de Rees).

Uma idéia dessa conexão e ao mesmo tempo da autonomia relativa nos é dada pela ilustração de Levins e Lewontin, citada por Rees (1998, 77) referindo-se às formas de vida que se originaram, bilhões de anos atrás, da matéria não-viva: a vida surge da matéria não-viva, mas uma vez surgida e desenvolvida, tende, dialeticamente, a bloquear a possibilidade de novo surgimento da vida a partir da não-vida (os organismos vivos consomem as moléculas orgânicas complexas pressuposto necessário para fazer surgir novamente a vida...). Um processo (ou esfera de complexidade) surge do outro mas modifica suas determinações, já não haverá, na totalidade, a mesma homogeneidade anterior.

Aqui se faz necessário reiterar o conceito de “unidade diferenciada”, que Trotski utiliza constantemente para distinguir o enfoque materialista dialético do reducionista e determinista. Conceito que é crucial para a compreensão da relação dialética entre as várias esferas ou níveis de complexidade na natureza, entre as ciências. E que é particularmente útil para o exame da relação entre a dialética na natureza e a dialética na sociedade. Trotski utiliza aquela idéia (da “unidade diferenciada”) na sua análise das ciências. Ele

argumenta que a psicologia repousa na fisiologia que por sua vez repousa na química e assim por diante. Mas ele vai além afirmando que ´a química não é substituto para a fisiologia´. Na verdade, ´a química tem suas próprias chaves´ que devem ser estudadas separadamente utilizando ´uma abordagem especial, uma técnica de pesquisa especial, hipóteses especiais e métodos também´. E ele conclui que ´cada ciência repousa sobre as leis de outras ciências apenas na assim chamada ´última instância´. Esta compreensão previne Trotski de aplicar simplesmente leis naturais à sociedade. Ele adverte que seria um ´erro fundamental´ qualquer tentativa de transplantar para a sociedade humana ´os métodos e avanços da química ou da fisiologia, violando as fronteiras entre as ciências´. É verdade, argumenta ele, que ´a sociedade humana está cercada por todos os lados por processos químicos´. No entanto, ´a vida pública nem é um processo químico e nem fisiológico, mas um processo social formatado por suas próprias leis (REES, 1998, 277, grifo do autor).

Na sua obra A dialética da natureza Engels jamais ultrapassa esse método de análise ou essa perspectiva teórica. Ele toma a natureza como uma totalidade, dotada de leis e contradições internas e a matéria (entendida como inseparável da energia) em processo de auto-desenvolvimento interior, seja no processo que deu origem ao próprio surgimento dos humanos, como antes, de toda forma animal. O mundo humano e o da natureza estruturam-se, entrelaçados, sob a dinâmica relação de uma unidade dos opostos, para usar o termo dialético. Nesta relação, natureza e humanidade são unidos mas não idênticos. E será a relação entre estes que irá formatar o desenvolvimento de cada um (REES, 1994).

Deste processo emergem as comunidades humanas as quais, mesmo originadas da natureza e do mundo animal, mas daí em diante, a partir da crescente diferenciação sua em relação à natureza através do trabalho, estruturam-se segundo outras formas dialéticas de funcionamento, onde, como foi citado, tem papel próprio e decisivo, a vontade, a consciência ou a subjetividade das grandes massas (refratada, politicamente, pela luta de classes, pela consciência).

O argumento de Rees (1998, 78) dá conta desse ponto de vista:

Se a natureza forma uma totalidade, e é assim, exceto se não somos completamente materialistas e acreditemos no sobrenatural, e se esta totalidade se desenvolve, como a teoria da evolução indica, então somos ou não obrigados a imaginar este auto-desenvolvimento como movido por contradição interna? Este vem a ser exatamente o ponto em que se situa o núcleo teórico do argumento em Dialética da natureza. E é exatamente ao ter que confrontar, precisamente, esse tipo de problema, que alguns cientistas se sentem encorajados a desenvolver uma concepção de mudança, materialista, influenciada pelo marxismo. Outros, no sentido oposto, tentando defender uma visão mais tradicional do método cientifico, frequentemente podem ser surpreendidos cortejando explicações semi-místicas sobre a causa original.

A dialética da natureza (e da história aqui sob outras determinações, as da lutas de classes e sua consciência que inexiste na natureza), ou a noção dialética de ciência, nos marcos da qual sujeito e objeto são inseparáveis deve ser tomada, dessa forma não-reducionista, não mecanicista, mais ou menos na seguinte perspectiva formulada por Rees (1998, 78):

Aqueles, como Levins e Lewontin, que defendem uma noção dialética da ciência, alcançam um notável acordo com Marx e Engels no sentido de entenderem que uma vez que a história dá passagem a níveis qualitativamente novos de desenvolvimento, ´as próprias leis da transformação mudam´ . Ao contrário do que imagina o pensamento comum, que sustenta que os objetos aos quais a lei se aplica mudam sim, mas que as próprias leis não mudam, uma abordagem dialética deve insistir que ´as entidades que são objeto dessas leis de transformação tornam-se sujeitos de mudança das próprias leis´. Consequentemente não se trata de uma negação da dialética o fato de que encontremos diferentes formas de dialética em diferentes aspectos da realidade mas na verdade é a confirmação da utilidade dessa abordagem e a prova contra as acusações de que o marxismo é uma forma de reducionismo.

Daqui decorrem duas características da dialética da natureza, ambas remarcadas por Engels. Primeiro que não existe um plano ou um sujeito na natureza; tais elementos não integram a dialética da natureza. E segundo que as leis naturais operam – pela ausência daquele sujeito, da consciência – com um determinismo bastante acentuado e, neste ponto, bem diferente dos processos do mundo dos homens. Mas dialeticamente, em todo caso.

Engels deu bastante atenção às ciências naturais, tratando de destacar a presença da dialética na natureza. O que não é de menor importância. “O enorme desenvolvimento das ciências naturais que Engels presenciou e interpretou como confirmação da dialética faz com que seu entusiasmo por estendê-la a estes campos não seja injustificado” (DÍAZ, 2002). Esta preocupação de Engels nada tem a ver, portanto, com as acusações que os desavisados atiram contra Engels: de que ele abandonaria o terreno da revolução com sua dialética da natureza ou de que adotava algum tipo de pensamento objetivista ou proto-stalinista (no sentido de mecanicista); ao contrário, argumenta Negt (1985, 175):

A dialética da natureza de Engels é um elemento da sua teoria da revolução; quer contribuir para que os proletários se libertem de sua dependência inconsciente de idéias naturalistas e metafísicas, para que eles comecem a pensar dialeticamente; procura superar a acidentalidade e a fragmentariedade da consciência. No stalinismo, ao contrário, esse elemento emancipador se perverte num objetivismo que demonstra exatamente a impotência dos sujeitos. De fato, não é possível abordar o conjunto da problemática da dialética da natureza de Engels independentemente de uma teoria do desenvolvimento revolucionário; não é possível aborda-la sem uma avaliação global que exclui a neutralidade. Só exigências escolásticas podem se satisfazer com a controvérsia que já vem durando quase um século em torno da questão de se existe ou não uma dialética da natureza.

O mesmo autor, Negt, argumenta que é necessário criticar como demasiado limitante, por exemplo, a tese do jovem Lukács – que se estende ao chamado marxismo ocidental - que só validava a dialética para o campo das categorias históricas e que termina acusando Engels de circunscrever a dialética ao campo da natureza ou de separar natureza de história. Negt é categórico (1985, 170):

Em nenhum caso é lícito atribuir ao último Engels a responsabilidade por uma corrupção ontológica da dialética, tal como pretende todo o ´marxismo ocidental´, na esteira de Lukács. O que Marx diz sobre a industrialização do campo nos Estados Unidos vale também, e ainda mais, para os centros industriais de produção: ´a produção capitalista desenvolve, pois, a técnica e a combinação do processo de produção social, mas só o faz minando ao mesmo tempo as fontes de toda riqueza, que são a terra e o operário.

Ao mesmo tempo, quando Engels tem clareza que “a natureza adquire consciência sobre si mesma” no processo de desenvolvimento do homem, também tem noção de que se constroem, por essa via, uma perspectiva determinada:

Com o homem, entramos na história. Também os animais têm uma história: a de sua descendência e desenvolvimento gradual até seu estado atual. Mas essa história é feita para eles e, na medida em que ele eles mesmos dela participam, se realiza sem que o saibam ou queiram. Os homens, pelo contrário, quanto mais se afastam do animal, entendido limitadamente, tanto mais fazem eles próprios sua história, correspondendo, cada vez com maior exatidão, o resultado histórico aos objetivos previamente estabelecidos (Engels, 1979, 26).

Este mesmo autor chamará a atenção em seguida no sentido de que o resultado histórico só corresponderá aos objetivos dos homens se estes assumirem, como produtores associados, o controle da produção da riqueza e a planificarem coletivamente. Na sociedade de classe “as forças não controladas são muito mais poderosas do que as postas em movimento de acordo com o plano estabelecido”; ou seja, na sociedade existe a possibilidade de se superar aquela ordem inconsciente ou não controlada que é característica da natureza. Claramente trata-se de outra dialética, como foi argumentado antes.

Engels prossegue (1979, 26):

E não pode ser de outra maneira, enquanto a principal atividade histórica do homem, aquela que o elevou da animalidade à humanidade, a que constitui o fundamento material de todas as suas outras atividades – a produção para as necessidades de sua vida, isto é, hoje em dia a produção social – enquanto aquela atividade estiver submetida ao jogo flutuante de influências indesejáveis; de forças não controladas, só excepcionalmente se realizando o objetivo desejado, mas com maior freqüência, exatamente o contrário. Nos países industriais mais avançados, o homem dominou as forças naturais, submetendo-as ao seu serviço. Dessa maneira, se conseguiu multiplicar infinitamente a produção, de modo que um menino, hoje em dia, produz mais que cem adultos antes. Qual a conseqüência daí decorrente? Crescente excesso de trabalho e crescente miséria das massas”; e crises econômicas recorrentes.

Nos marcos desta diferença qualitativa e dialética entre a sociedade, com a possibilidade do sujeito revolucionário, e a natureza, esfera da dialética objetiva (materialismo histórico), opera o pensamento de Engels. Trotski (1986) refletiu sobre essa diferença da dialética da natureza e o materialismo histórico retomando a mesma perspectiva de Engels, como argumenta Díaz (2002):

Se bem que o materialismo dialético abarca tanto ao materialismo histórico como possíveis desenvolvimentos em outros campos, como o das ciências naturais, isto não significa que haja uma identidade entre eles, isto é, que a dialética funcione em tais campos da mesma maneira, que cada um não tenha suas próprias leis de desenvolvimento. Trotski chamará dialética objetiva àquela aplicável às ciências naturais e dialética subjetiva àquela que correspondente à ação e consciência humana. Mas por sua vez, ambas formam para ele uma unidade, sendo uma filha da outra: ´Nossa razão humana é a filha mais jovem da natureza. O desenvolvimento do pensamento constrói seu caminho desde a lógica vulgar à dialética apenas sobre a base da experiência científica acumulada, sob o estímulo do desenvolvimento (de classe) histórico´. Postular a autonomia absoluta entre a natureza e a consciência, significaria voltar a um dualismo kantiano.

`A guisa de considerações finais

Qualquer resenha da obra de Engels e de seus argumentos não contaminada por pressupostos ideológicos da classe dominante (por exemplo, o “argumento” ideológico de que stalinismo vem a ser o marxismo no poder ou o de que possa haver socialismo ou marxismo sem a respectiva concepção de revolução proletária ou concepção de trabalhadores como sujeito revolucionário, portanto no poder político) não encontrará, no fundamental, um Engels positivista, reducionista, mecanicista ou evolucionista; estas são características, cada qual à sua maneira, do determinismo, do raciocínio fatalista, do marxismo evolucionista, não-revolucionário.

E que, como se sabe, se tornou o marxismo de vários dos auto-proclamados seguidores de Engels, mas que não era a característica do marxismo revolucionário de Marx e Engels. Neste caso o marxismo, e por sua vez a crítica marxista das ciências, constituem um chamado a libertar a ciência e a sociedade das ilusões ideológicas que permeiam a sociedade baseada no poder dos poucos que não trabalham, donos dos mep e seus aliados, organizados como poder de Estado contra a classe trabalhadora.

Nesta perspectiva e nestes marcos é que Marx e Engels levaram um combate sem quartel contra o determinismo e o mecanicismo. E defenderam a existência da história natural com suas leis dialéticas espaço onde se cruzam acaso e necessidade todo o tempo, e também da história humana com suas leis tendenciais próprias, onde também acaso e necessidade se cruzam, mas onde a subjetividade e a vontade das grandes massas – inconsciente na maior parte das vezes e se efetivando através da lutas de classes – tem papel central.


Bibliografia
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[1Não é objetivo deste texto examinar a dialética em si mesma mas apenas um determinado aspecto do uso ou do campo de aplicação da dialética. Fica pressuposto que os leitores conhecem o básico sobre o que é a dialética. Como breve e sintética idéia do que seja a lógica dialética, pode-se dizer sobre ela que é o método fundamental de análise marxista; ou, nos termos do próprio Engels (1979, 182), que “a lógica dialética, em contraposição à velha lógica, meramente formal, não se limita, como esta, a enumerar e por uma ao lado da outra, desconchavadamente, as formas de movimento do pensamento, isto é, as diferentes formas de julgamento e de conclusão. Pelo contrário, procura ligar essas formas uma à outra, subordinando-as entre si, ao invés de coordená-las, desenvolvendo as formas superiores a partir das mais inferiores”. A realidade é dialética por conta de que as modificações e desenvolvimentos que nela se dão nascem das contradições. A dialética seria o reflexo do movimento através de contradições que se manifesta em toda a natureza (BEKERMAN, 1983, 93) e também nos processos da sociedade.

[2Assim Marx e Engels iniciam a reflexão de A ideologia alemã, diferenciando-se do pensamento especulativo em geral e de Hegel em particular e assinalando que o primeiro ato histórico dos homens é “a produção dos meios para satisfazer suas necessidades”.

[3Todas as referências de Rees são aqui traduzidas livremente por G.Dantas a partir da sua edição inglesa de 1998.

[4Mais adiante Engels irá explicar porque no domínio da história humana impera, ainda hoje, um estado de coisas muito semelhante ao que impera na natureza inconsciente e que a descoberta de suas forças propulsoras, longe de negar a potência da vontade humana consciente vem a reforçar o potencial revolucionário, de mudança social da sociedade humana do qual é portador a classe operária. Desenvolver este tema absolutamente importante aqui, nos levaria, em todo caso, muito além dos propósitos deste artigo.

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