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Dilma defende “diálogo” com o que até ontem era o “retrocesso”

27 Oct 2014   |   comentários

Em seu primeiro discurso depois de reeleita, Dilma se dedicou especialmente a chamar a unidade e o diálogo com o PSDB. Até ontem, os petistas andavam alucinados dizendo que com um eventual triunfo de Aécio Neves viria um golpe de estado.

Em seu primeiro discurso depois de reeleita, Dilma se dedicou especialmente a chamar a unidade e o diálogo com o PSDB. Nas palavras da presidenta: “Não acredito, sinceramente, que essas eleições tenham dividido o país ao meio. Entendo, sim, que elas mobilizaram ideias e emoções às vezes contraditórias, mas unidas por sentimentos comuns: a busca por um futuro melhor para o país. Em lugar de ampliar divergências, de criar um fosso, tenho forte esperança que a energia mobilizadora tenha preparado um bom terreno para a construção e pontes. (...) Minhas primeiras palavras são de chamamento da base e da união. (...) Essa presidente está disposta ao diálogo, e esse é meu primeiro compromisso no segundo mandato: o diálogo”.

Até ontem, os petistas andavam alucinados dizendo que com um eventual triunfo de Aécio Neves viria uma onda conservadora que em alguns momentos se emparentava com um golpe de estado. Agora, os golpistas do passado viraram portadores de “sentimentos comuns na busca por um futuro melhor para o país”. Essa é a mágica petista: para objetivos eleitorais, polarizar contra o direitismo tucano até o limite em que não alimente a luta de classes. Para governar, “construir pontes” com os neoliberais do PSDB.

O que seria mesmo o retrocesso?

Para além do chamado à unidade com o PSDB, o principal destaque do discurso de Dilma foi para a defesa de uma reforma política e do combate à corrupção. Ou seja, uma tentativa de maquiar o profundo desgaste do regime que veio à tona com as manifestações de junho de 2013, que escancararam uma profunda crise de representatividade, uma acentuada separação entre representantes e representados.

Maquiagem porque seria ingênuo pensar que qualquer um dos parasitas que dominam o Congresso vão querer limitar ou restringir algo de seu próprio poder. Se quando tinham o bafo das grandes manifestações de rua não o fizeram, porque fariam agora que elas refluíram?

Ao mesmo tempo em que chamou a responsabilidade do Congresso em relação à reforma política, disse vai recorrer a um plebiscito para democratizar o processo. Vejamos. É muito difícil que esse plebiscito, se existir (já não é a primeira vez que é prometido) pergunte se todos os juízes, parlamentares, políticos e funcionários de auto escalão devem ganhar um salário igual ao de um professor. Correria o risco de que houvesse quase uma unanimidade pelo “sim” (quase porque provavelmente pelo menos os próprios políticos recusariam).

Se a prioridade vai ser então maquiar o sistema político com uma reforma cosmética, por exclusão podemos concluir que saúde, educação, moradia e transporte, as demandas mais sentidas pela população que saiu às ruas em junho, não vão ser tão prioritárias assim.

Para se compreender o grau de prioridade que terão essas demandas está a palavra chave dita por Dilma: “responsabilidade fiscal”. Segundo a presidente, como o fez em meio às jornadas de junho, esse será um de seus principais compromissos. Mas não a simples manutenção da “responsabilidade fiscal” atual. A rigor, desde o ponto de vista dos capitalistas, o governo anda sendo algo “irresponsável” nesse âmbito. Tratar-se-ia então, nas palavras da chefe do Estado, de “avançar” nesse “responsabilidade”. E o que se entende por “avançar na responsabilidade fiscal”? Não se pode entender de outra forma que não seja ajustando as contas públicas, reduzir as despesas do governo.

Vai cortar nos subsídios aos capitalistas que financiaram a campanha eleitoral? Vai cortar nos investimentos em infraestrutura para os empresários que ajudaram os candidatos? Vai cortar no pagamento de juros e amortizações aos banqueiros? Aonde vai cortar então?

Quem adivinhar ganhe de presente um importante desafio: organizar os trabalhadores e a juventude de forma independente para preparar o combate contra o retrocesso que vai vir não pelas mãos direitistas dos tucanos e sim pelas mãos esquerdistas do PT.

E assim as “pontes” vão se construindo...

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