Sexta 26 de Abril de 2024

Internacional

CICLO DE DEBATES ESTRATÉGIA INTERNACIONAL BRASIL 6

Debate "Aos 65 anos da Nakba, aos 3 anos da primavera árabe" lota sala da USP

30 May 2013   |   comentários

No dia 21 de maio de 2013 realizou-se diante de uma ampla plateia que lotou a sala 8 da Ciências Sociais da USP, um debate integrante do ciclo de discussões promovidos pela revista Estratégia Internacional Brasil em frente-única com o MOPAT.

No dia 21 de maio de 2013 realizou-se diante de uma ampla plateia que lotou a sala 8 da Ciências Sociais da USP, um debate integrante do ciclo de discussões promovidos pela revista Estratégia Internacional Brasil em frente-única com o MOPAT. Estiveram na mesa Simone Ishibashi, militante da LER-QI e diretora da revista Estratégia Internacional Brasil, e Aiman Hindawi, ativista árabe-palestino da universidade de Haifa, e membro do Comitê dos Estudantes Árabes-palestinos nas universidades israelenses.

O debate iniciou-se com a fala de Aiman, que colocou o sentido da nakba (calamidade em árabe) palestina, expressando como a formação do Estado de Israel, votado na ONU em 1948 separou artificialmente os palestinos, condenando uma ampla maioria a viver em acampamentos, e a tornarem-se refugiados. Aiman resgatou os principais momentos de todo o processo de expurgo palestino de 1948 até nossos dias, que se iniciou com a expulsão daquele povo de suas terras, detalhando como a nakba não fora apenas um momento ocorrido 65 anos atrás, mas que continua até hoje na medida em que segue sendo negado ao povo palestino o direito elementar de dispor de seu território histórico, garantia de retorno e de propriedade dos refugiados. Nesse sentido, trouxe também um rico relato sobre as diferenças a que são submetidos os próprios árabes que nasceram e vivem em solo israelense em relação ao conjunto da população judia de Israel. Nesse sentido, assinalou como o Estado de Israel obriga, por exemplo, aos árabes israelenses que estes sirvam no próprio exército sionista, como condição para que possam dispor dos mesmos direitos como cidadãos que todos os demais. Isso significa na prática reprimir o seu próprio povo, nas inúmeras operações que faz na Faixa de Gaza e sobre os demais povos árabes, além de que isso significa servir ao Estado sionista que os oprime. Aiman relatou uma série de experiências de seu próprio cotidiano que demonstram como a política de Israel está baseada na prisão aleatória dos árabes e palestinos considerados “suspeitos”. Também realizou precisões importantes, como o de que se opõem aos sionistas, não aos judeus, como muitas vezes quer fazer crer a propaganda veiculada na imprensa burguesa.

Em seguida, Simone Ishibashi complementou o relato histórico feito por Aiman sobre as bases da formação do Estado de Israel, tratando de demonstrar que se trata de um enclave imperialista moldado de acordo com os interesses dos Estados Unidos e da própria Grã-Bretanha, em aliança com as demais potências imperialistas, que se apropriou em chave reacionária da justa demanda dos judeus de não mais serem massacrados após a II Guerra Mundial. Neste sentido, buscou demonstrar como a máxima de que a Palestina seria “uma terra sem povo, para um povo sem terra” era uma verdadeira falácia, que buscava legitimar os interesses imperialistas na região. Abordou também a questão da política criminosa do PC da URSS, que sob a ordem de Stalin foi o segundo país a reconhecer a pretensa legitimidade do Estado de Israel, lançando a desmoralização aos trabalhadores árabes que se organizavam em diversos PCs dos países da região, o que favoreceu ao enfraquecimento de sua influência em favor de direções nacionalistas burguesas, como os Partidos Baaths sírio e iraquiano. Encerrou sua fala colocando a necessidade de resgatar a teoria da revolução permanente elaborada por Leon Trotsky como um guia para a ação, capaz de levar à vitória os processos árabes abertos atualmente, bem como a luta pela libertação nacional palestina cuja libertação nacional em relação à opressão imperialista deve culminar no fim do Estado de Israel, por uma Palestina laica, socialista e não-racista, tarefa esta que só pode ser realizada pela classe trabalhadora e pelo povo independente das direções burguesas.

O debate finalizou-se com as respostas às questões do plenário, que abordaram outros processos abertos, como hoje na Síria, que a mesa coincidiu ser o mais contraditório até o momento, os problemas de se apoiar a intervenção da OTAN na Líbia, além da importância dos levantamentos no Egito e na Tunísia. Aiman assinalou que “há um novo movimento de juventude, que busca se unificar com os demais setores, não importando qual a etnia ou a orientação religiosa, mas que buscam todos atuar unidos contra a opressão exercida pelo Estado de Israel”. Sobre a Síria, colocou como há uma série de opiniões distintas, pois se trata de um problema muito complexo que tem dividido o conjunto do povo árabe. Por sua vez, destacou como para os povos árabes além da questão da opressão do imperialismo, há a questão de que os governos árabes também são um problema, e também devem ser derrubados pelo povo.

Simone Ishibashi encerrou o debate recolocando como há hoje no Oriente Médio uma importante prova para os revolucionários, que envolve problemas estratégicos. Reforçou como a teoria da revolução permanente elaborada por Trotsky é um guia para ação que permite em meio a situações difíceis como a atualmente posta pela guerra civil síria, orientar os revolucionários para que estes possam contribuir para o surgimento de uma estratégia que coloque os trabalhadores e o povo oprimido de maneira independente das direções burguesas e entreguistas que têm hoje rifado as conquistas dos levantes que integram a primavera árabe. Nesse sentido, Simone Ishibashi encerrou o debate colocando que “mais que escolher um campo entre governo e oposição criticamente na Síria do que se trata hoje é de atuar para surja um ‘terceiro campo’ que expresse os interesses dos trabalhadores e do povo. A luta pela independência em relação às direções burguesas e pró-imperialistas não deve ficar para depois da queda dos regimes, mas ser parte deste combate. Evidentemente há que se derrubar essas monarquias e ditaduras. Mas a questão que se coloca para os marxistas revolucionários é como isso deve ser feito. Na nossa opinião é com os trabalhadores e o povo, de maneira independente da burguesia”.

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