Segunda 29 de Abril de 2024

Nacional

Alckmin, um “pulso firme” da burguesia

10 Oct 2006   |   comentários

Diz o dito popular que o diabo se veste bem e fala manso. O candidato tucano, Alckmin, é desses tipos “bom moço” , por trás do qual se esconde a face odiosa dos burgueses mais reacionários.

Em primeiro lugar devemos ter claro que Alckmin representa uma das alas mais de direita, não somente do PSDB, mas da burguesia nacional, baseada em boa parte da FIESP e na nata da burguesia financista de São Paulo. Por trás de Alckmin está o núcleo duro da frente burguesa, hoje em frangalhos, que em outros tempos deu corpo ao governo de FHC. Um governo de Alckmin seria para este núcleo duro uma oportunidade não só de retomar o controle direto do governo federal e das empresas estatais.

Alckmin, o tucano “linha-dura” , ataca ofensivamente o ex-operário - que hoje, desgraçadamente governa o país para a minoria de banqueiros e empresários-, principalmente em duas questões principais: por um lado acusa Lula e o PT de “aparelhar o Estado” ao distribuir os ministérios e cargos entre os “companheiros” ; por outro o acusa de ser “frouxo” na defesa dos interesses nacionais. Sem contar o cinismo ao expor a corrupção petista e defender a “ética na política” , como se o governo tucano em São Paulo ou mesmo o anterior governo de FHC fossem diferentes do petista e não estivessem marcados pela corrupção que domina as câmaras, assembléias legislativas e o conjunto das instituições da democracia dos ricos.

Nem uma criança de cinco anos cai no conto da carochinha de que um novo governo tucano seria o governo da ética. Todo o ódio contra Lula e o PT, de Alckmin e de seus aliados do PFL quando falam em varrer “essa raça da política brasileira” , e quando denunciam Lula por ter colocado seus “companheiros” no comando das estatais, expressam algo bem distante de qualquer coisa que se aproxime de um fervor ético. A raiva de Alckmin e do PFL é por que estes querem retomar o controle direto das estatais e voltar a se beneficiar diretamente com os rios de dinheiro podre que correm nos esquemas de corrupção hoje controlados pelos “novos ricos” do PT.

Na sua campanha Alckmin promete aos burgueses que o apóiam um “choque de gestão” . O quê traduzindo ao português claro significa cortar dinheiro da saúde e da educação ainda mais do que cortou Lula, atacar ainda mais o direito de aposentadoria do que atacou Lula, para poder reduzir os impostos que os grandes empresários pagam ao Estado. Ao mesmo tempo, Alckmin tenta demonstrar que atacando ainda mais os trabalhadores através de um “choque de gestão” terá margem para reduzir os juros e ampliar os investimentos em infra-estrutura para fazer “o país crescer” .

Uma das partes mais cínicas na campanha do PSDB é a crítica de que o atual governo é “submisso na política externa” ! Lula buscou se apresentar como um porta-voz dos interesses do imperialismo junto aos governos da América Latina de retórica antiimperialista como Chávez e Evo e para isso tenta se apresentar como um aliado destes governos. A candidatura Alckmin representa uma política de maior atrelamento aos EUA e de um combate aberto aos governos de Evo e Chávez. Assim, com Alckmin no poder, os EUA, que metidos no atoleiro iraquiano foram obrigados a descuidar do “seu quintal” , poderiam contar com um aliado estratégico na região e retomar a ofensiva na América Latina. É essa a visão que os tucanos têm do “interesse nacional” : a entrega do país aos capitalistas internacionais, privatizando as empresas estatais e favorecendo os grandes bancos multinacionais, gerando desemprego, mazelas sociais e fome para a maioria dos brasileiros e grandes lucros para uma minoria. Lula e o PT, porém, não têm a mínima autoridade para criticar os tucanos, pois nestes quatro anos adotaram boa parte dessa particular visão sobre os “interesses nacionais” que tem a odiosa elite representada pelo PSDB. Para os trabalhadores não cabe escolher entre essas duas formas de entrega do país ao imperialismo. Uns procuram atuar como bombeiros para apagar o fogo das revoltas populares que percorrem o continente. Enquanto outros preferem sufocar a revolta com a forca das baionetas financiadas a juros altíssimos pelos “amos do norte” .

Esse “chuchu” chamado Geraldo, que de bom moço só tem a cara, é seu “sangue azul” , de quem mora no Morumbi e enche seus armários com roupas de grife, um burguês que tem familiar dono de botique de luxo e que odeia em Lula o pouco que ele ainda tem de mais parecido com a classe operária e o povo pobre. Seu ódio contra o povo explorado e oprimido se traduz no carater extremamente anti-popular não só de suas propostas de governo, mas no seu governo efetivo em São Paulo. No último debate eleitoral, fez desqualificações preconceituosas e de direita contra Lula, por exemplo, insinuando que o presidente mal sabia ler (sem dizer que é a sua burguesia que usa o dinheiro das escolas para andar nos melhores carros e com as melhores roupas).

Sem entrar na crítica às políticas burguesas de Lula, que desenvolvemos em um artigo a parte, queremos demonstrar aqui que o que está por trás dessas críticas de Alckmin a Lula é uma posição de classe, burguesa, oposta em toda linha aos interesses dos explorados e oprimidos. Não podemos esquecer que Alckmin tem governado São Paulo justamente com seu “pulso firme” , principalmente quando se trata de equipar a polícia que reprime e assassina o povo pobre e negro das periferias, que reprime e espanca os trabalhadores e estudantes quando há greves e manifestações, ou como já fez inumeras vezes mandando a tropa de choque para arregaçar os sem-tetos e as ocupações dos movimentos populares.

Que tal lembrarmos do seu “pulso firme” contra os trabalhadores e estudantes das universidades paulistas que tiveram sua verba vetada pelo governador e quando foram exigir seus direitos na Assembléia Legislativa puderam sentir que Alckmin prefere destinar as verbas da educação para comprar balas de borracha, bombas de gás lacrimogêneo e cacetetes para os batalhões de choque?

Quanto à questão das privatizações, se por um lado Lula e o PT denunciam o PSDB com grande dose de demagogia, já que nada fez para reverter as privatizações no seu mandato, e sim pelo contrário deu dinheiro do BNDES para privatizações como a da AES Eletropaulo ou as inúmeras PPPs (Parceria Público Privadas) que são uma forma de privatização, por outro é reconhecido que a “privataria” comeu solta em São Paulo com Geraldo Alckmin, a exemplo da recente privatização da linha amarela do Metró. Com certeza Alckmin levaria essa onda ao patamar nacional com “pulso firme” .

Tudo isso facilita que o trabalhador e o pobre se identifiquem com Lula no que ele ainda carrega de sua origem, contra o burguês “puro sangue” odioso que é o Alckmin. Mas não podemos esquecer que o Lula “pai dos pobres” é só uma máscara. A verdade é que ele não tem nem vergonha de dizer que governa para os ricos e chegou mesmo a dizer que estava “triste” por que os ricos, que mais lucraram com o governo dele, iam votar em Alckmin. Trabalhador não pode votar em quem vai governar contra ele. No segundo turno, a desilusão com Lula e o rechaço a Alckmin tem que se expressar no voto nulo, deixando claro que não há mal menor quando as opções são burguesas.

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