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ENCONTRO ENTRE LULA E OBAMA

Uma liderança regional a serviço do imperialismo

21 Mar 2009   |   comentários

No dia 14 de março Lula foi o primeiro presidente latino-americano e o terceiro dentre todos os chefes de estado do mundo a ser recebido por Barack Obama na Casa Branca em Washington, depois apenas dos primeiros-ministros Taro Aso (japonês) e Gordon Brown (britânico). Além do encontro de duas horas entre os presidentes e o economista-chefe da Casa Branca, Lawrence Summers, a ida de Lula aos EUA foi complementada com uma agenda de encontros entre ministros dos dois países, como entre Hilary Clinton e Celso Amorim. O intuito destes encontros segundo as palavras do próprio Barack Obama seria “avançar na preparação do G20” , que ocorrerá no mês de abril em Londres e ao que tudo indica será um novo ato da falta de resolução para a crise económica internacional.

Visto como interlocutor privilegiado e mais eficaz dos EUA na região graças à sua origem no PT, sua grande popularidade, e sua determinação em garantir os interesses imperialistas e patronais, numa situação em que os aliados mais abertos dos EUA no período anterior como à lvaro Uribe da Colómbia seguem desgastados e Chávez acaba de ganhar o plebiscito que lhe garante a reeleição, Lula renovou os “votos” de vassalagem ao imperialismo. Se antes o havia feito com Bush, mesmo com a enorme impopularidade deste no cone sul, agora com Obama a tarefa ficou mais fácil, e o presidente petista não economizou em declarações de fidelidade. Assim, o encontro entre Obama e Lula foi comemorado pela imprensa burguesa brasileira como uma mostra do reconhecimento por parte do imperialismo do papel da “liderança” regional de Lula.

Entretanto, apesar do peso simbólico do encontro, através do qual Obama tenta passar a mensagem de que atuará para restabelecer as vias de dominação do imperialismo norte-americano sobre o seu páteo traseiro latino-americano, desgastado pela anterior política neoconservadora de Bush, com uma política de desfazer a polarização aberta no período anterior e reconhecendo a relação de forças em que sua dominação e seus aliados mais diretos estavam debilitados, o que saltou aos olhos foi a continuidade dos termos fundamentais do acordo de vassalagem de Lula ao imperialismo.

Do ponto de vista do imperialismo norte-americano, o que se vê de concreto é também a continuidade de uma política voltada para a garantia de seus interesses, como não podia ser diferente. Assim, o encontro entre Lula e Obama frustrou as expectativas da burguesia semicolonial brasileira representada por Lula de que seria possível regatear um acordo mais favorável aos seus interesses no que diz respeito a questões comerciais, ou ainda em relação à reivindicação de Lula de aumentar o peso geopolítico do Brasil a partir de uma incorporação deste no Conselho de Segurança da ONU. Isso mostra que as ambições de Lula e da burguesia brasileira à qual este serve de entrar para o rol das potências mais importantes do mundo tem limites muito claros.

Prova disso foi a total falta de acordo em relação às barreiras protecionistas impostas pelos EUA sobre o álcool brasileiro, um dos temas irresolutos da fracassada Rodada Doha. Obama reafirmou a continuidade da tarifa de US$ 0,54 por galão de álcool brasileiro imposta pelo imperialismo, ao mesmo tempo em que defendeu as cláusulas protecionistas contidas na medida “Buy American” do pacote económico de tinturas neokeynesiana light aprovado pelo Congresso norte-americano no início deste ano. Esta medida inicialmente previa que somente o ferro e o aço produzidos nos EUA poderiam ser usados no plano de obras públicas desenhado pelo governo Obama. Após as tensões anunciadas no plano internacional que ameaçavam desgastar Obama logo no começo de seu mandato, a medida fora reformulada dando ao Canadá, UE e ao Japão garantia de alguma participação no pacote, enquanto esta participação é vetada a países como China, Ã ndia, Brasil e Rússia.

Assim torna-se cada vez mais evidente que apesar da retórica imperialista de anti-protecionismo, começa a avançar com a crise certas tendências às medidas deste tipo, mostrando que toda visão de um maior equilíbrio pacífico de poder produto da ascensão dos países emergentes e da política “multilateral” de Barack Obama não dão conta de apreender as contradições mais profundas que operam no cenário internacional. Isso confirma a visão de um analista burguês da Folha de S. Paulo em 14/03 de que “é inescapável uma sensação de parte 2 de filme velho nos anúncios feitos após o encontro de sábado entre os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Barack Obama. (...) Logo, fica claro que, por mais que o mundo tenha mudado com a ascensão dos emergentes, só o entendimento entre os dois gigantes económicos, a União Europeia e os EUA, é de fato capaz de produzir algo concreto e coordenado globalmente” . Portanto, qualquer “protagonismo” de uma semicolonia como o Brasil, apesar do seu peso económico e político fortalecido no último período com o crescimento económico, agora questionado com a crise, se dá no marco de não questionar, mas pelo contrário regatear melhores condições como sócio menor do imperialismo.

Lula: ataque aos trabalhadores no plano interno e reacionarismo regional no externo

O encontro entre Lula e Obama se dá em meio à imensa crise económica internacional, que tem lançado por terra os mitos de “descolamento” das economias dos países denominados “em desenvolvimento” em relação aos efeitos da crise. Em outubro de 2008, quando a crise deu um salto a partir da falência do Lehman Brothres nos EUA, Lula dizia aos trabalhadores que a crise não passaria de uma onda insignificante. De lá para cá Lula tem garantido o lucro dos patrões e já destinou centenas de milhões para salvar os bancos e as empresas.

Estima-se que em 2009 o desemprego formal possa chagar a 9% rapidamente, sendo os operários industriais um dos mais afetados, com cerca de 200 mil demissões só em São Paulo entre dezembro/janeiro deste ano, enquanto em todo o país teriam sido mais de 800 mil postos de trabalho fechados entre outubro e janeiro. Isso sem contar no avanço da precarização e da ofensiva patronal que conta com o beneplácito da burocracia sindical, sobretudo da CUT, diretamente atrelada ao governo em nome da retirada dos direitos dos trabalhadores.

Enquanto isso Lula está prestes a aprovar o pagamento ao imperialismo e suas agências internacionais de R$ 37,2 bilhões só em juros da dívida externa, enquanto a classe trabalhadora e o povo são obrigados a enfrentar mais miséria e desemprego. Não contente com a submissão económica ao imperialismo e à patronal, através da qual garante o seu saque, Lula segue chefiando as tropas de ocupação no Haiti, a MINUSTAH, assassinando e reprimindo os haitianos para mostrar ao imperialismo sua capacidade de exercer este papel reacionário, em troca de um assento no Conselho de Segurança da ONU. Da mesma forma, Lula já se declarou apto a colaborar com as políticas do imperialismo em relação a Cuba e Venezuela, se oferecendo como “mediador” , papel que soube cumprir de maneira mais reacionária frente a diversas crises em países latino-americanos e importantes enfrentamentos da luta de classes, como a cúpula da UNASUL convocada no ano passado para discutir a então pacificação do enfrentamento aberto entre o povo boliviano e burguesia da Meia Lua que, diga-se de passagem, não poupou elogios a Lula. Por outro lado, o clamor de Lula para que os EUA levantem o embargo económico a Cuba em nada responde à qualquer preocupação de Lula com os trabalhadores e o povo cubano, mas verdade a uma tentativa deste de se alçar como interlocutor mais capaz de se colocar à frente da região, dialogando tanto com os governos mais de direita, como o Peru e Colómbia, como com os pós-neoliberais, da Bolívia e até mesmo da Venezuela.

Dessa maneira, todas as manobras como a formação de uma “força integrada de segurança” da UNASUL, bem como as falácias de unidade burguesa latino-americana, da qual Lula busca com todas as forças se alçar como caudilho, são medidas das quais a classe trabalhadora e o povo não podem tirar nenhum proveito. É preciso que os trabalhadores e o povo latino-americano superem as imensas ilusões despertadas por Obama, ou em variantes como Lula, para avançar de maneira independente na luta pela Federação das Repúblicas Socialistas da América Latina, única saída capaz de por um fim às misérias e sofrimentos impostos pela rapina imperialismo e pelas burguesias locais.

Por Simone Ishibashi

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