Sexta 26 de Abril de 2024

Internacional

SUPLEMENTO ESPECIAL BOLÍVIA

Um primeiro balanço da intentona autonomista

19 Sep 2008   |   comentários

Ainda que o MAS e seus seguidores tenham caracterizado a intentona autonomista como um “golpe-cívico-municipal” e sem dúvida muitos cívicos gostariam de se lançar por cima de Evo Morales, os objetivos práticos do movimento foram mais modestos e apontavam para restabelecer uma relação de forças favorável à direita, em um esforço para reverter as conseqüências do triunfo eleitoral de Evo no referendo do dia 10 de agosto, com 2/3 dos votos nacionais e frear a nova CPE ou impor uma negociação em melhores condições.

É por isso que caracterizamos como uma “intentona autonomista” apoiada na ação de grupos fascistas como sua “vanguarda militar” . Apesar de sua violência (tentando compensar os limites sociais e políticos com a radicalização de seus métodos) os autonomistas não puderam superar os limites da “meia lua” , a direita está muito debilitada no Ocidente e no momento não contam com apoio suficiente entre os militares para objetivos mais ambiciosos. Além disso, não puderam reverter o enfraquecimento de seu domínio em sua “retaguarda departamental” ,controle que vem se desgastando (como refletiram de forma distorcida os resultados eleitorais de 10 de agosto).

Também não é realista falar que a contestação tenha sido um levantamento ou insurreição de massas, comparável com os de 2003 e 2005. Devido ao papel do MAS e seus aliados, não houve uma intervenção de massas generalizada que golpeasse os autonomistas, ainda que estes, que “se lançaram primeiro” em suas regiões e massacraram em Pando, tampouco conseguiram derrotar os movimentos sociais mais combativos de Santa Cruz e outras zonas. Finalmente, os acontecimentos de Pando, comovendo a opinião pública nacional e internacional, se voltaram contra a própria “meia lua” quando a intentona autonomista já começava a perder força.
Desde o ponto de vista político, o governo volta à mesa de negociações numa posição favorável, enquanto os prefeitos do Conalde ficaram politicamente debilitados e perderam o controle de Pando.

Entretanto, o terreno do diálogo e o papel “facilitador” da Igreja e da “comunidade internacional” beneficiam os autonomistas para buscar nas negociações o que não conseguiram consolidar nas ruas, contando a seu favor com a política conciliadora do MAS, como adianta o documento do “pré-acordo” .

O MAS e seus aliados impediram que no momento culminante da crise o conjunto das massas irrompesse, o que poderia inverter o resultado a seu favor. Por isso, e ainda que não se possam descartar novos fenómenos da luta ou organização dos setores avançados, os elementos que possivelmente mais pesam na nova conjuntura são “pela direita” : o processo de diálogo buscando um “grande acordo nacional” com a reação, um papel mais ativo (e reacionário) das Forças Armadas, uma maior ingerência a serviço da ordem semicolonial através da Unasul, OEA e ONU; tudo em clima de “pacificação e diálogo” desmobilizador que tentam impor, desde a Igreja, a imprensa e TV até as ONG”™s, com o aval do MAS, um giro mais à direita possível do cenário de negociação.

A partir de agora, em que pese o diálogo, o conflito não pode se dar por fechado. A crise política é crónica e se alimenta das profundas contradições económicas, sociais e políticas que levaram a situação de “regime fraturado” entre o poder central e os departamentos autonomistas; isto no marco da enorme polarização social e política nacional.

Ainda que finalmente se limpe o caminho ao referendo sobre a nova CPE, qualquer acordo com os prefeitos e a direita parlamentar seria sobre a base de fazer maiores concessões. Se não se chega a um acordo, a direita manterá as mãos livres para hostilizar o processo da nova CPE, e longe de “isolar a direita golpista” como o MAS pretende, o diálogo terá servido para legalizar as agressões da reação autonomista, lhe dar novo respiro e preparar novas ofensivas mais fortalecidas... como se deu até agora em dois anos de tentativas de conciliar.

A Liga Obrera Revolucionaria por la Cuarta Internacional (LOR-CI), é a organização irmã da LER-QI na Bolívia, e também faz parte da Fração Trotskista - Quarta Internacional

Artigos relacionados: Internacional









  • Não há comentários para este artigo