Quinta 25 de Abril de 2024

Internacional

A CÚPULA DA UNASUL

Mantendo a “ordem” regional

19 Sep 2008   |   comentários

Diante da convulsiva situação na Bolívia foi convocada uma reunião extraordinária da União das Nações Sul-americanas (Unasul) em Santiago do Chile. Assistiram à mesma representantes de 12 governos da região, entre eles, o lacaio do imperialismo Uribe, “social liberais” como Lula e Bachelet, “progressistas” como Cristina Fernández e Lugo e os “nacionais populares” Chávez e Morales, além de Insulza, secretário-geral da OEA. O objetivo da reunião foi buscar uma “solução” política ao conflito na Bolívia entre o governo de Morales e os prefeitos da direita autonomista, pretendendo conter a crise e evitar maiores riscos para a “ordem” regional. A recém-criada Unasul, iniciativa do Brasil apoiada pela Venezuela para intervir ativamente na região, teve seu batismo de fogo, como afirmou a presidenta chilena Bachelet, tratando de “evitar a violência como forma de resolução dos conflitos na democracia” . Este organismo se propõe como garantia da ordem sul-americana, substituindo parte do papel que cumpria tradicionalmente a OEA.
A chamada “Declaração de La Moneda” [palácio de governo chileno] não apresenta nenhuma resolução a favor do movimento de massas e suas reivindicações históricas, e não poderia fazê-lo, já que seu objetivo é manter a chamada “ordem institucional” .

Cabe lembrar que sob este mesmo pretexto os governos “progressistas” latino-americanos já atuaram de maneira “responsável” quando na reunião do Grupo do Rio deixaram sem nenhuma condenação a Colómbia após o criminoso bombardeio do governo pró-ianque de Uribe ao acampamento das FARC em território equatoriano, no início de março. Pior ainda, há quatro anos tropas da Argentina, Bolívia, Chile e Uruguai, lideradas pelo Brasil, mantêm uma ocupação militar no Haiti a pedido dos EUA que, longe da suposta “missão de paz” que dizem representar, têm sido acusadas de abusos, torturas e violações contra mulheres e meninas dos bairros mais pobres, enquanto cumprem uma função coordenada na repressão interna junto com a polícia nacional haitiana.

Por isso, na reunião não se aprovaram mais do que afirmações gerais como o respaldo “constitucional” a Morales, respeito à soberania, desconhecimento de qualquer golpe ou divisão do país, o fim da violência ou a condenação ao massacre em Pando. Também se votou uma comissão para o diálogo político (com os mesmos personagens reconhecidos como golpistas e fascistas que assassinaram os camponeses!), quando deveria ter exigido a prisão imediata dos responsáveis do genocídio. Não há resolução que possa conciliar os interesses dos assassinos e dos massacrados. Mas deve ficar claro que o argumento de defesa da “ordem institucional democrática” que agora se utiliza contra a direita autonomista no futuro será usado contra os trabalhadores, massas pobres urbanas e camponesas ante qualquer tentativa de querer desafiar a ordem burguesa em função de seus interesses fundamentais e históricos.

O balanço que faziam os insígnes representantes era de que “pela primeira vez na história os latino-americanos resolvemos nossos próprios problemas” , como afirmou Chávez no final do encontro, e no mesmo tom pronunciaram-se Evo, Lula e Cristina Fernández, dentre outros. Chávez em suas argumentações públicas em Caracas afirma que com a reunião da Unasul se colocou certo limite às pretensões norte-americanas de apoiar mais abertamente as tendências mais direitistas. Mas o que não afirma ’ sendo corroborado por alguns analistas internacionais ’ é que com a Unasul ao mesmo tempo em que destaca o papel do Brasil e do Chile, que são vistos como interlocutores mais confiáveis pelos EUA, coloca limites ao papel de Chávez tal como se expressou na negativa por parte destes de que se fizesse referência explícita aos EUA (o que era pedido pela Venezuela), desconsiderando que a ingerência do imperialismo norte-americano foi clara e notória, a tal grau que chegou-se a expulsar da Bolívia e da Venezuela os embaixadores ianques.

Se bem é certo que a reunião desenvolveu-se sem a presença dos EUA, também é certo que as resoluções tomadas não apontam em nenhum sentido para a libertação da submissão imperialista sobre a Bolívia e o resto do continente.

A “integração” deste novo sul-americanismo, do qual se vangloriam todos os governos, nada tem a ver com os interesses dos trabalhadores e dos povos, e tampouco serve a algum tipo de emancipação.
O objetivo principal dos governos reunidos na Unasul é desviar definitivamente a mobilização dos trabalhadores e do povo e preservar a “ordem” para garantir os negócios dos monopólios imperialistas e capitalistas locais. Por esta razão, apesar dos discursos “nacionais e populares” , não tocou-se em nenhuma das bases do atraso, da dependência e das enormes contradições sociais de nosso continente: um punhado de empresários e proprietários de terra concentram as maiores riquezas enquanto a maior parte da população vive na miséria.
Os trabalhadores e os povos da América Latina não podemos esperar nada de reuniões como esta, tampouco de governos como o de Evo Morales que terminam amarrando os pés e as mãos da mobilização de massas, levando a um beco sem saída em nome da conciliação com os empresários e as transnacionais, impossibilitando uma luta séria contra a reação. Por isso, é mais importante do que nunca lutar para que os trabalhadores e os oprimidos latino-americanos nos armemos de uma perspectiva política independente, levantando nosso próprio programa e unindo, sob a direção da classe operária, os setores populares empobrecidos.

Só com a mobilização e a auto-defesa de massas podemos derrotar a direita “autonomista” . Hoje a solidariedade internacional é urgente e é a única que pode fortalecer a luta dos trabalhadores e do povo boliviano.

Traduzido por Miriam Rouco

A Liga de Trabajadores por el Socialismo (LTS), é a organização irmã da LER-QI na Venezuela, e também faz parte da Fração Trotskista - Quarta Internacional

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