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Teoria

CAMPANHA EM HOMENAGEM À LEON TROTSKY, HÁ 70 ANOS DE SUA MORTE

Trotsky e a Revolução Espanhola - Próximo lançamento das Edições Iskra

12 Aug 2010   |   comentários

Próximo lançamento

Lançaremos em breve um novo livro dedicado às análises de Trotsky sobra a Guerra Civil Espanhola (1931-1939). Seus escritos são pouco conhecidos no Brasil, já que a única edição dedicada à Espanha foi publicada em 1931 pela Liga Comunista e expressava apenas o primeiro capítulo da revolução.

A opção pelo tema da revolução espanhola não é fortuita: foi ali que Trotsky buscou observar e enriquecer uma série de aspectos da estratégia revolucionária do proletariado, aprofundando debates já desenvolvidos em seu pensamento sobre a revolução russa, naquele que foi um dos palcos mais importantes da luta de classes nos anos 1930.

O livro terá quatro partes: A primeira expressa os textos de 1930-32, que são elaborações teóricas aprofundadas sobre o país e as tarefas preparatórias gerais dos comunistas na Espanha após a queda da monarquia; são também pontos nodais aqueles dedicados às tarefas democráticas da revolução e o papel do proletariado. A segunda terá textos dedicados à Comuna de Astúrias (Outubro de 1934), que é o prólogo da guerra revolucionária, os debates de Trotsky antes da fundação do POUM [1] sobre como construir um partido revolucionário a partir da experiência de Astúrias, algo que não foi compreendido por Andreu Nin e Juan Andrade – antigos colaboradores de Trotsky.

Os outros capítulos terão como tema a Guerra Civil iniciada em 1936 e os preparativos da II Guerra, que analisam a Frente Popular e a traição da Internacional Comunista; a Espanha demonstrou cabalmente o papel reacionário do stalinismo, particularmente na “exportação” dos Processos de Moscou e na morte e perseguição dos revolucionários espanhóis.

Agregamos outros textos inéditos, como uma introdução do historiador Pierre Broué, materiais dos trotskistas brasileiros e espanhóis editados ao calor dos acontecimentos, um artigo de A. Nin sobre Astúrias, com o objetivo de enriquecer o conteúdo do livro e torná-lo a mais importante referência sobre o tema, marca de nosso trabalho editorial.

Algumas lições da revolução espanhola

Ao contrário do que afirmaram, por exemplo, os antigos colaboradores de Trotsky (visão esta compartilhada por I. Deutscher, seu mais importante biógrafo), as suas elaborações não eram uma simples transposição da experiência para a Espanha.

Em seu conhecido esboço, de 1940, Classe, partido, direção, Trotsky demonstrava que: “A vitória de Outubro é um testemunho valioso da "maturidade" do proletariado. Mas esta maturidade é relativa. Poucos anos depois, esse mesmo proletariado permitiu que a revolução fosse estrangulada por uma burocracia surgida de suas próprias fileiras. [...]. É necessário aproveitar as condições favoráveis que uma crise revolucionária oferece para mobilizar as massas; tomando como ponto de partida o nível de sua "maturidade", é necessário impulsioná-las para frente, fazê-las compreender que o inimigo não é de maneira nenhuma onipotente, que ele está dilacerado por suas contradições e que, por trás de sua impotente fachada, reina o pânico. Se o Partido Bolchevique tivesse fracassado nesta tarefa, não se poderia nem falar no triunfo da revolução protelaria. Os soviets teriam sido esmagados pela contra-revolução [...].”

O motivo desta relação entre as duas revoluções se evidenciava pela política da Internacional Comunista, do Partido Socialista e das tendências majoritárias do anarquismo – agrupadas na Frente Popular - que consistia em submeter o proletariado à burguesia “democrática”, preparando assim a derrota para o fascismo e não a tomada do poder pelo proletariado, como na Rússia.

Sobre a questão do regime democrático e a Frente Popular, Trotsky deixa referências que são fundamentais na luta de tendências na esquerda brasileira: “Podemos e devemos defender a democracia burguesa, não com os seus métodos, mas com os da luta de classes, ou seja, com os métodos que preparam a derrocada da democracia burguesa por meio da ditadura do proletariado.” [2]

As lições da Espanha se expressam também como a última oportunidade da classe operária internacional em barrar o desenvolvimento da guerra imperialista, que teve no pensamento de Trotsky uma permanente insurgência para superar as encruzilhadas estratégicas do desenvolvimento de novas organizações do proletariado, seja no debate com o POUM, seja na análise sobre a bancarrota das organizações oficiais do proletariado: “Se a revolução espanhola fosse vitoriosa, haveria um poderoso impulso do movimento revolucionário na França e em outros países da Europa. Neste caso, seria possível esperar com confiança que um vitorioso movimento socialista se antecipasse à guerra imperialista, tornando-a inútil e impossível. Contudo, o proletariado socialista da Espanha foi estrangulado pela coalizão Stalin-Azaña-Caballero-Negrin, ainda antes de ser esmagada pelo bando de Franco.” [3]

A publicação Trotsky e a Revolução Espanhola constituirá em nossa visão um aporte para o debate de estratégias, que na etapa aberta pela crise mundial ganhará contornos cada vez mais importantes, particularmente no que diz respeito à fusão do marxismo com a classe operária, condição única para a nossa vitória.

[1O POUM desenvolveu-se como uma organização centrista, ou seja, que oscilava entre a reforma e a revolução, entre a Frente-Popular e revolução proletária. Ao mesmo tempo em que participou do governo da Generalitat na Catalunha, lutava nas barricadas revolucionárias e essa combinação foi a síntese de sua tragédia, já que os seus combatentes foram assassinados e perseguidos pela Frente Popular no capítulo decisivo da guerra civil por serem anti-stalinistas.

[2L. Trotsky É possível a vitória?, La Lutte Ouvriére, 23/04/1937

[3L. Trotsky Só a revolução pode terminar com a guerra, Socialist Appeal. 04/04/1939.

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