Sábado 27 de Abril de 2024

Nacional

ELEIÇÕES CAMPINAS

Tentativa de “limpar a cara” do aparelho administrativo corrupto e de opressão dos trabalhadores

04 Oct 2012   |   comentários

Nessas eleições em Campinas, mais uma vez, querem que os trabalhadores e a juventude acreditem que através do voto os grandes problemas sociais podem ser resolvidos

Nessas eleições em Campinas, mais uma vez, querem que os trabalhadores e a juventude acreditem que através do voto os grandes problemas sociais podem ser resolvidos.

Apesar dos candidatos a prefeitos e sua tropa de vereadores nos dizerem que com eles tudo vai melhorar, sabemos que na vida real as coisas são diferentes: as demissões seguem nas fábricas e as escolas públicas continuam uma tragédia. A incerteza no trabalho, com os contratos temporários e a terceirização, irá continuar, assim como os salários que não fecham o mês sem o cheque especial ou cartão de crédito, comendo com os juros o pouco que temos. As altas tarifas de ônibus e os baixos salários dos aprendizes e patrulheiros continuarão sendo, depois das urnas, o cotidiano da juventude que sua a camisa para trabalhar, estudar e sonhar com o futuro.

A crise econômica mundial vem retirando direitos dos trabalhadores no mundo todo, e a farsa da “marolinha” já não cola mais. O impacto dela é mundial e será cada dia mais sentida no Brasil. Campinas não é uma ilha. Os ataques aumentarão, e os que prometeram tudo para os trabalhadores e os empresários, irão nos mandar “apertar os cintos” para desenforcar o nó da gravata dos malditos engravatados. Exemplo agudo: segundo matéria do G1, com o segundo pior índice de demissões em 9 anos, Campinas registrou, de janeiro a agosto de 2012, mais de 3.850 demissões em 573 empresas associadas ao Ciesp (Centro das Indústrias do estado de São Paulo), regional de Campinas, com 2.300 demissões em agosto.

Eduardo Galeano, um escritor uruguaio, disse um dia que a única liberdade que temos na eleição é a de escolher o molho com o qual seremos devorados. É com essa sensação, que os trabalhadores e a juventude de Campinas irão para as urnas no dia 8 de outubro, pois sabem que os episódios do grande esquema de corrupção vistos na televisão no ano passado eram apenas a ponta do iceberg dessa democracia dos ricos.

Novos candidatos para a velha política

Os principais partidos que disputam a prefeitura renovaram seus quadros políticos tentando desvincular suas imagens dos escândalos de corrupção.

O PT fez questão de trazer à corrida eleitoral o pesquisador Márcio Pochmann, inédito nas disputas eleitorais, para trazer um tom “técnico” para campanha e tentar apagar o histórico sujo do partido que, após 12 anos na prefeitura, chegou a governar a cidade depois do impeachment de Dr. Hélio e também caiu(com o vice-prefeito Demétrio Vilagra) devido a seus envolvimentos na tramoia de corrupção.

O PSB utiliza-se do fato de Jonas Dozinete, figura conhecida de Campinas, não estar diretamente envolvido na corrupção da Sanasa para abocanhar a prefeitura, e traz consigo seu grande aliado PSDB, também de cara nova: Paulão, pró-reitor na Unicamp, privatizador da Universidade e inimigo dos lutadores, para ser vice. Uma “cara nova” que já nasce pra lá de queimada: escândalos envolvendo Paulão fizeram com que Jonas não quisesse pagar pelo perigo e resolveu nessa reta final tirá-lo do jogo e substitui-lo por Henrique Magalhães Teixeira.

Pedro Serafim, atual prefeito, tenta se mostrar como salvador da máquina pública. Com hipocrisia o suficiente para fazer de conta que não foi a coligação encabeçada por seu partido a responsável por todo o esquema de corrupção. É nesse cenário que se conformam as “novas caras” que oferecem os “partidos da ordem” em meio ao mar de corrupção de Campinas.

Nossa memória não é curta. Sabemos que os milhões gastos nas campanhas midiáticas de Jonas Donizete (PSB), Pedro Serafim(PDT) e Márcio Pochmann (PT) são para tentar esconder dos trabalhadores e do povo que todos, e seus partidos, estão enfiados até a cabeça em esquemas de corrupção em Campinas, no governo de SP, em Brasília. Os grandes empresários favorecidos pela máquina de governo nos últimos anos são os mesmos que financiarão novamente essas candidaturas. Saem alguns, entram outros, mas a música segue. E como diz o ditado, “quem paga a banda escolhe a música”, a sinfonia dos ricos continuará ecoando nessas terras. A disputa é pra ver quem é o melhor representante da burguesia para administrar os ataques aos trabalhadores e ao povo pobre.

O governo federal, por todos os lados, envolvido com os corruptos em Campinas

Dr. Hélio era um dos nomes mais estimados por Lula para cargos ministeriais, e o pecuarista José Carlos Bumlai, apontado como próximo do círculo social de Lula, foi um dos mediadores da corrupção na Sanasa com a empreiteira Constran. Após a queda do prefeito pedetista, o apoio de Lula a Márcio Pochman é a maior aposta da campanha do PT.

Porém o novo candidato do PDT continua querendo benefícios da aliança de seu partido com o governo federal e se aproveita de sua eleição indireta ao executivo de Campinas para vincular políticas da cidade a projetos assistencialistas do governo federal. Na verdade, as principais figuras públicas do executivo nacional se dividem em apoio aos principais candidatos à prefeitura e, de maneira geral todos os três candidatos tentam se apoiar no governo federal. O PSB de Jonas Donizette conseguiu na Justiça o direito de vincular Dilma a sua campanha cobrando sua parte por estar na base aliada do governo.

Jonas, apadrinhado de Alckmin; Pochmann, de Lula; Serafim, ficou órfão, Dr. Hélio morreu...Mas todos juntos, PSB, PDT e PT, estão no governo federal com Dilma em Brasília.

Tal “salada” das alianças políticas e as relações próximas de todos os partidos da ordem mostram que as divisões eleitorais não estão acima do atrelamento destes partidos à estrutura administrativa estatal, que traz consigo as concessões empresariais, as negociatas no escuro, a corrupção e o ataque ao povo. Todos estavam juntos na época da corrupção, agora que partes do esquema vieram à tona, todos apresentam seu projeto de salvação própria para se manterem bem posicionados no aparato público e “resgatar sua moral”. Ou seja, voltar a enganar o povo.

Para Lula, Dilma e o alto escalão do governo federal, melhor do que a vitória de um ou outro candidato é salvar a legitimidade de toda a instituição. Por isso Lula aparece na TV incentivando que a população não se desanime com a política e continue a ter esperanças “nos bons candidatos”. Por isso, que no jogo da aliança o governo federal aparece apoiar quase todos os principais candidatos.

Candidatos da Ordem: com os empresários, contra a população!

A candidatura de Márcio Pochmann, dedicada a “integrar os pobres com a população rica”, como disse em entrevista, é saudada entusiasticamente pelas empresas da construção civil que operam as obras de envergadura nacional contidas no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Essas empreiteiras e outras empresas dedicaram à campanha de Pochmann nada menos que R$43 mil, montante pelo qual deverá responder se eleito (segue o mesmo curso dos financiamentos privados de outros candidatos da ordem: Donizete recebeu já R$571 mil da patronal, enquanto Serafim arrecadou para a campanha R$81 mil). Em encontro sindical, Pochmann demarcou que sua aliança com o PSD foi feita para “unir os trabalhadores com os empresários” a fim de atrair investimento industrial para a cidade. Se em São Paulo o PT está com Maluf, em Campinas anda de braços-dados com o PSD de Kassab.

Um dos sete empresários detidos no processo de fraudes em licitações públicas em Campinas, que em 2011 culminou na queda do prefeito Dr. Hélio (PDT), é filiado ao PSDB da capital. Os consórcios fraudulentos com a Sabesp por parte de membros do PSDB demonstra o peso empresarial nessas coligações, de um partido que é representante da FIESP, das medidas neoliberais e dos ataques ao salário e ao emprego, aliado a Jonas Donizete do PSB (apoiado enfaticamente por Geraldo Alckmin), que motorizou toda a onda de medidas privatizadoras dos anos 90 e que continua o programa de militarização e interligação de todas Polícias de Campinas nos moldes da repressão de uma das forças armadas mais assassinas do mundo, buscando ser “exemplo para a polícia de todo o Estado de São Paulo”. Estão todos com o rabo preso com os grandes empresários,e nenhuma dessas grandes candidaturas é uma real alternativa para os problemas dos trabalhadores e do povo pobre

A candidatura do PSOL e seus limites

Nós da Ler-qi defendemos que o período eleitoral deve ser usado para divulgar entre os trabalhadores desconfiança ao regime da democracia dos ricos, incluindo as próprias eleições, incentivando os trabalhadores a confiarem apenas em suas próprias forças e métodos de organização de luta.

O PSOL e a candidatura de Arlei não cumpre esse papel e apresenta um programa de reformas tentando mostrar-se como uma alternativa viável. O PSOL nacionalmente vem avançando nesse projeto de se colocar como um partido com “coerência para administrar”, sem questionar as bases do Estado capitalista. Este partido não se envergonha de já ter trilhado, em tão pouco tempo, os caminhos à direita do PT. Nas últimas eleições, em Porto Alegre explodiu o escândalo de Luciana Genro sendo financiada por empresas como Gerdau. Nos últimos dias um dos seus principais dirigentes (Martiniano Cavalcante, coordenador da campanha de Heloisa Helena) foi separado de sua direção por haver recebido em sua conta R$ 200 mil de empresas ligadas ao bicheiro-assassino Cachoeira. Será que o PSOL já tem seus "aloprados"? Em vários estados, a cada eleição, descobre-se alianças do PSOL com burgueses e reacionários de todo tipo. Nesta eleição o senador Randolfe (PSOL), que aparece nas TVs como o "senador da ética", tem trilhado o "caminho petista" em seu estado, costurando alianças eleitorais com aliados de Sarney e partidos patronais como PTB, PPS (os dois base governista de Alckmin-Serra), PRB (partido do Russomano). Este seria ao "novo jeito de fazer política" que o PSOL tem a apresentar?

Em Belém do Pará, cidade em que o PSOL tem chances reais de eleger um prefeito, o candidato Edmilson já foi prefeito pelo PT em dois mandatos administrando para a burguesia e chegando a reprimir manifestações. Apesar de se colocar no campo antigovernista e ter criticado o novo Código Florestal, no vale-tudo eleitoral por lá o PSOL se aliou com o PCdoB, partido que foi o "negociador" deste código, que teve ministros envolvido em negociatas e mais negociatas com empresas e o governo. Infelizmente o PSTU, também buscando a todo custo a eleição de um vereador, faz parte da coligação “Belém nas Mãos do Povo” (PSTU/PSOL/PCdoB) que recebeu quase 400 mil reais de empreiteiras e outras empresas para a campanha, colocando seu dirigente operário da construção civil a reboque da campanha financiada pelas grandes construtoras, que somente nesse ano, pelas péssimas condições de trabalho, levaram à morte quase 20 operários da construção civil em Belém. Este dinheiro dos empreiteiros recebido pelo PSOL para a campanha da coligação, como todo dinheiro dos patrões, está manchado de suor e sangue dos trabalhadores.

Em seu "novo jeito de fazer política", o PSOL, em todo o país, vai no caminho petista. Algo parecido ocorre com Marcelo Freixo, que possui um amplo apoio em setores de artistas e de juventude no Rio de Janeiro: temendo a perda de votos ao se mostrar ligado às greves dos trabalhadores federais afirmou que “dependendo da situação cortaria pontos”. Ainda que em Campinas o PSOL não tenha declarações como a de Freixo, nem até agora tenha aparecido dinheiro de empresas, é importante notar que este partido, baseado numa estratégia de conciliação de classes, não tem sido uma alternativa aos diversos ataques ao conjunto dos trabalhadores e ao mar de corrupção em Campinas, na medida em que não ultrapassa os limites da “limpeza ética” desse regime e não o denuncia claramente, sem se diferenciar de outros partidos de “crítica" à corrupção e sem combater os fundamentos desse Estado capitalista perverso que alimenta políticos lacaios dos exploradores da população Este partido, que busca espaços eleitorais nas beiradas do prato petista, em menos de oito anos de vida já demonstra que busca ser "parte" do regime burguês, constituindo-se num entrave para que a vanguarda classista e revolucionária se fortaleça como condição para o avanço da luta dos trabalhadore e do povo pobre pela independência política frente às diversas frações burguesas. Votar no PSOL é votar na conciliação de classes, no fortalecimento da burguesia e dos seus partidos. Ou seja, é um voto contrário aos interesses da classe trabalhadora e do povo pobre.

Nenhum voto nos candidatos dos patrões (PSB-PSDB, PT e PDT). Nenhum voto na conciliação de classes com a patronal, representada pelas candidaturas do PSOL. Votar pela independência de classe e para que os capitalistas paguem pela crise. Em defeas dos interesses da classe trabalhadora e do povo pobre, voto crítico nas candidaturas do PSTU.

Como desenvolvemos na declaração eleitoral nacional da LER-QI: “Apesar da farsa que constituem as eleições burguesas, a maioria dos trabalhadores e jovens ainda acreditam que através de seu voto podem fazer alguma diferença, mesmo que seja votando no ‘mal menor’. Por isso, as eleições, assim como os mandatos parlamentares, podem se transformar, numa postura revolucionária, em uma “trincheira” também para aqueles que não acreditam na democracia burguesa e defendem uma revolução operária e socialista. Trata-se de uma trincheira em um terreno mais desfavorável para nós e melhor para a burguesia e aqueles que defendem a conciliação de classes, pois o terreno mais favorável para os revolucionários é o da luta de classes. Mas, enquanto a maioria dos trabalhadores ainda acreditam na democracia burguesa, nós defendemos a participação nas eleições ou o exercício de um mandato parlamentar com o objetivo tático de desmascarar o caráter de classe dessa democracia, agitar um programa de independência de classe para responder às demandas mais sentidas pela maioria explorada e oprimida da população, e apoiar as lutas extraparlamentares.

Chamamos a votar criticamente nas candidaturas a prefeito e vereador do PSTU porque este partido, à sua maneira, em vários momentos de sua prática política e desta campanha eleitoral mostra-se adaptado às pressões da opinão pública e do regime burguês, não defende uma tática eleitoral revolucionária e nem agita um programa intransigentemente anticapitalista e antiburguês, desenvolvendo apenas parcialmente alguns aspectos de tática e programa. Por exemplo, não podemos concordar de maneira alguma com a candidata Silvia quando defende a "desmilitarização da guarda civil e da polícia", pois isso significa uma política reformista de "buscar uma polícia alternativa, democrática, amiga da comunidade", quando os revolucionários devem dizer claramente que a polícia e seus órgãos repressivos estão a serviço de manter a ordem, ou seja, a propriedade privada e a exploração capitalista, por isso estará sempre e a todo momento enfrentando as lutas operárias, populares e da juventude, e não há "segurança" enquanto o que mais cresce é a superexploração dos trabalhadores - precarização e terceirização -, o sucateamento dos serviços públicos, como educação, saúde e lazer, a especulação imobiliária a serviço do capital contra as necessidades de moradia popular, enfim, enquanto o capitalismo não for enfrentado consciente e firmemente pela classe trabalhadora organizada em sindicatos de luta anticapítalista e partidos de independência de classe e revolucionários, em aliança com os camponeses e pobres, em combate para colocar abaixo este sistema de exploração e instituir uma verdadeira democracia, a democracia de massas, a democracia proletária.

Chamamos a votar criticamente pois não compartilhamos completamente de seu programa nem de como têm conduzido a campanha, além do que este partido se mantém coligado em Belém ao PSOL e ao PCdoB, o que denota um claro oportunismo em busca de votos para eleger um vereador à custa de não levar um combate intransigente pela independência de classe e pela luta anticapitalista e antiburguesa.

Guardadas estas diferenças chamamos a votar no PSTU por seu caráter operário, o que permite expressar um voto de classe, consciente, dos que hoje se enfrentam com os planos do governo, da burguesia e do imperialismo.

Dessa forma, não temos nenhuma posição antiparlamentar abstencionista, achamos que os trabalhadores, a partir das organizações operárias revolucionárias, devem utilizar todos os pequenos espaços que conseguirmos arrancar nas eleições burguesas para apresentar nosso programa, nossa estratégia, fazendo agitação contra toda forma de opressão e exploração da sociedade capitalista, ajudando a impulsionar as lutas em curso e alimentando a consciência dos trabalhadores com uma posição de independência de classe.

Nesse sentido, devemos abrir um amplo debate programático e de estratégia a partir dessas eleições, e achamos que o voto crítico no PSTU (16), justamente por fortalecer o que consideramos um pilar elementar para os trabalhadores que é a independência de classe, favorece os trabalhadores de Campinas o debate entre as organizações operárias e revolucionárias, e, sobretudo, ao conjunto dos trabalhadores da cidade, na resposta que Campinas necessita, que não podemos deixar de insistir, não passa por um governo de verniz diferente dentro do regime democrático-burguês.

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