Sexta 26 de Abril de 2024

Movimento Operário

CAMPINAS: SITUAÇÃO POLÍTICA COM A GREVE DOS TRABALHADORES DO TRANSPORTE

Motoristas e cobradores roubam a cena em agosto

17 Aug 2013   |   comentários

Enquanto em junho a fúria da juventude sacudiu o país, e um importante dia nacional de mobilização dos trabalhadores ocorreu em julho, o mês de agosto é marcado em Campinas pelo início da confluência desses atores fundamentais.

Se por acaso Jonas e seus vereadores imaginavam que após um junho e julho atípicos, o mês de agosto seria para “arrumar a casa”, se deram mal.

Enquanto em junho a fúria da juventude sacudiu o país, e um importante dia nacional de mobilização dos trabalhadores ocorreu em julho, o mês de agosto é marcado pelo início da confluência desses atores fundamentais.

Seguindo as mobilizações do RJ, Belém e de outras cidades, setores importantes seguem em luta. Na última semana, mais de duzentos jovens, em sua maioria secundaristas, ocupam a câmara dos vereadores frente a enrolação do governo municipal para abrir as contas sobre os gastos com o transporte. Com toda a truculência típica dessa democracia dos ricos, que é a primeira a rasgar suas próprias leis quando convém, o presidente da câmara envia a tropa de choque mesmo sem mandato de reintegração. A agilidade para reprimir em horas, destes que enrolam há meses para mostrar as contas da máfia do transporte, não era sem importância: a ocupação se desenvolvia já em um momento de profundo questionamento de Benassi (PC do B) à frente da secretaria de transportes no mesmo tempo em que a greve dos amarelinhos (Emdec) se mantinha. A cidade também amanhecia em clima de luta com atos de outros setores municipais, e os ares de junho voltavam a percorrer as ruas da cidade.

Apesar de toda a repressão, levando a agressões e prisão de todos os manifestantes, a cidade amanheceu paralisada, com os motoristas e cobradores entrando em cena. Com o argumento patronal de que “a passagem abaixou, então é preciso rebaixar os direitos”, os empresários tentaram cortar direitos do plano de saúde com a ajuda do sindicato vendido: tentaram. Vivemos outros tempos. Uma paralisação iniciada na linha verde alastrou-se no dia seguinte para o conjunto das linhas azul claro, azul escuro, vermelho e intermunicipais(EMTU), e retomando o melhor dos métodos da classe operária, Campinas amanhecia paralisada por 250 ônibus enfileirados na Lix da Cunha, e dezenas de ônibus que fechavam pistas da Santos Dumont, Anhanguera, João Jorge e o terminal central.

Será que o sujeito perigoso volta a cena em Campinas? Uma trabalhadora dos Correios, que não participou das ultimas greves de sua categoria, dizia com esperteza a sua companheira de trabalho: “Esses motoristas aí fizeram mais hoje sozinhos do que todas as centrais naquele dia(11 de julho), e nem foram todos que pararam. Imagina se a gente se unisse todo mundo e parasse mesmo, que estrago não ia fazer? Dava pra mudar tudo”. O espírito de ”é o direito deles, tão certo”, entre os trabalhadores que iam a pé ao trabalho, mostra que estamos diante de outro país, e que é possível construir uma grande ação operária com greves e paralisações no dia 30 de agosto.

Os motoristas e cobradores mostraram que não somente é possível lutar, mas que é necessário resgatar os métodos de luta de nossa classe para vencer. Obrigaram a empresa a retroceder, e passaram por cima da direção sindical vendida. Uma enorme lição para o conjunto de nossa classe, que acompanhou atenta essa luta.

A separação entre a ação da juventude e da importante greve operária é o preço que pagamos por décadas da separação consciente de uma burocracia sindical vendida acostumada a negociar os direitos dos trabalhadores pelas costas, e de direções estudantis que ou se tornaram verdadeiras máquinas do governo, ou que, mesmo no pólo oposto ao governo, estão alheias às lutas dos trabalhadores. Mas junho abriu novos tempos: é preciso retomar a unidade entre os trabalhadores e a juventude nas ruas, nas lutas, nas ações, e a luta pelo transporte e por nossos direitos deve ser o primeiro passo para isso.

Essa unidade, que deve ser o marco político a se discutir com todos os setores em luta e com a população para a continuidade das reuniões da Frente contra o Aumento em Campinas, vai desnudar que a máfia dos transportes que matou Silva, um trabalhador no acidente do 117, precisa acabar, e será a aliança entre esses que poderá colocar de pé um outro tipo de transporte, de acordo com nossas necessidades e vidas, através da estatização sob controle dos motoristas, cobradores e usuários, sem a indenização desses que tanto nos roubaram. Ela deve inspirar também uma nova política da esquerda dentro dos principais centros estudantis de Campinas, como Centro Acadêmico de Ciências Humanas (CACH) e o Diretório Central dos Estudantes (DCE) da Unicamp, que sejam entidades comprometidas a desenvolver pela base as lutas em curso, que auxiliem a politização das jornadas de junho a adentrar as universidades e coloque a importante força dos estudantes que questionam este projeto empresarial de universidade, que jubilou 750 estudantes com critérios de “baixa produtividade”, a serviço da luta pelo transporte público fora das mãos das máfias. Seja no escândalo da Siemens com o governo Alckmin (PSDB), nos esquemas mafiosos do transporte público em Campinas com Jonas (PSB) e Benassi (PCdoB), nas privatizações dos aeroportos e rodovias de Dilma (PT), é explicito ao povo que não podemos mais confiar nesses políticos que vivem de alianças com os grandes empresários e seus esquemas corruptos, como provaram também os trabalhadores de Viracopos em sua greve contra a privatização.

Os professores que saíram as ruas em agosto, batalharam em sua reunião de representantes de escola na última semana para aprovar no próximo dia 29 um chamado a construir, junto com os estudantes e demais trabalhadores, um grande ato por melhores condições de transporte, educação e saúde. Que esse seja o pontapé inicial para no dia 30 vermos a juventude e os trabalhadores tomando a cena desse país.

Artigos relacionados: Movimento Operário









  • Não há comentários para este artigo