Quinta 2 de Maio de 2024

Internacional

AS OPINIÕES DA ESQUERDA ARGENTINA DIANTE DA RENÚNCIA DE FIDEL

Respaldo, conselhos e vaticínios locais

21 Feb 2008 | Reproduzimos abaixo artigo do jornal Página 12 sobre as posições da esquerda argentina diante da renúncia de Fidel Castro. A esquerda argentina se dividiu entre conselhos para a nova etapa e vaticínios sobre o destino imediato de Cuba. Alguns dirigentes coincidiram em questionar o regime de partido único, mas nenhum deixou de exaltar as conquistas sociais do socialismo cubano. E ofereceram suas receitas para que não evaporem diante da iminente ausência de Fidel.   |   comentários

Diante da renúncia de Fidel Castro, a dirigente Vilma Ripoll (MST Nueva Izquierda) afirmou que “para manter as inegáveis conquistas sociais que significou o socialismo em Cuba, nos parece que hoje dever-se-ia efetivar importantes medidas tanto no plano económico como no político” . Ripoll indicou que “entre as primeiras, é preciso parar o quanto antes o processo de entrada de empresas capitalistas” . E agregou que “ao mesmo tempo, acreditamos ser necessário mudar radicalmente o regime burocrático de partido único mediante uma profunda reforma democrática para que sejam os trabalhadores, os camponeses e o povo cubano quem participe e tome as decisões sobre seu presente e seu futuro de maneira soberana” . Segundo a dirigente, ambas propostas são o oposto do que pretendem os governos dos Estados Unidos e as demais potências imperialistas, que há quase meio século boqueiam injustamente Cuba e enchem a boca falando de “democracia” com o único objetivo de restaurar a dominação capitalista para submeter o povo da Iha.

Por sua parte, Christian Castillo, do Partido de los Trabajadores Socialistas, afirmou que “a renúncia de Fidel em exercer a liderança do Estado cubano, algo que já se vinha dando de fato com o papel desempenhado por Raul Castro, é funcional a uma política da direção do PC cubano de maior abertura ao capitalismo” . O professor universitário argumentou que isso é porque “altos membros do partido e do Estado, incluindo Fidel, vêm apresentando como modelos a seguir a via ”˜chinesa”™ ou a via ”˜vietnamita”™, ou seja, países onde a restauração capitalista avançou qualitativamente” . Castillo acrescentou: “Não podemos descartar que os dirigentes o PC combinem uma posição favorável à entrada do capital imperialista com certa tentativa de auto-reforma do regime político desgastado, tratando de conciliar o descontentamento de setores das massas pela opressão política e a desigualdade social crescente com as exigências demagógicas de ”˜democracia”™ da parte dos países imperialistas, como o espanhol que tem volumosos investimentos na Ilha” . E concluiu que “a regeneração revolucionária do Estado cubano não virá de auto-reformas realizadas pelo próprio regime, mas pela mobilização e organização dos operários e camponeses que questionam os privilégios burocráticos porém não desejam a volta da dominação capitalista, como pretendem Bush, os anticubanos de Miami e demais governos imperialistas” .

Juan Carlos Giordano, de Izquierda Socialista, assinaou que “Fidel sai mas sua política fica” . E criticou que o líder cubano “depois da extraordinária revolução cubana tenha permitido o ingresso de capitais estrangeiros e imposto o regime de partido único” . Giordano afirmou que “isso é o que deve mudar, barrando as políticas e restauração capitalista e outorgando plena democracia operária e popular para que sejam os trabalhadores e jovens cubanos quem decida como melhor aprofundar a revolução, e onde se permita a constituição de partidos de esquerda” .

Para Néstor Pitrola, do Partido Obrero, “os porta-vozes do imperialismo celebram o declínio físico de Fidel como uma antecipação segura da desintegração de Cuba e de sua Revolução, mas não vêem, nem querem ver, que em Cuba está em marcha um importante processo popular, com porta-vozes visíveis na juventude, que é a extensão da insurgência popular em toda a América Latina. Eles têm unido seus reclamos de caráter democrático a uma crítica demolidora da diferenciação social que traz, implacável, a penetração do capital pelas mãos da burocracia governante. O dirigente piqueteiro disse que “a retirada de Fidel colocará de manifesto a disjuntiva histórica de Cuba: a restauração definitiva do capitalismo, que fará Cuba retornar à condição de uma semicolónia, ou a retomada da revolução por parte das massas mediante um programa” . Segundo Pitrola, esse plano deve consistir em “controle operário, revogabilidade dos funcionários, igualdade salarial com a burocracia governante, abertura dos livros das empresas privadas. Por este caminho Cuba voltará ao centro do cenário da revolução latino-americana” .

Traduzido por Val Lisboa

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