Sexta 26 de Abril de 2024

Internacional

Questões relevantes sobre a luta nacional curda

26 Nov 2014   |   comentários

A questão nacional curda é indubitavelmente um ponto importante a ser debatido. É evidente que se trata de uma causa justa e progressista, que deve ser apoiada. Trata-se de uma questão que hoje se dá em meio à guerra civil síria, mas que é anterior a ela.

A questão nacional curda é indubitavelmente um ponto importante a ser debatido. É evidente que se trata de uma causa justa e progressista, que deve ser apoiada. Trata-se de uma questão que hoje se dá em meio à guerra civil síria, mas que é anterior a ela. Como causa nacional tem suas raízes na saída da I Guerra Mundial, quando as potências imperialistas dividiram entre si o Oriente Médio, e negaram aos curdos que tivessem um Estado próprio, separando-os por quatro países: Turquia, Irã, Iraque e Síria.

Dessa forma, o movimento curdo esteve desde o seu nascimento marcado por distintas alas. A mais influída pela esquerda foi a iraniana, que atualmente é minoritária, pela repressão que sofreram quando os aiatolás se apoderam da revolução de 1979. O Partido Comunista do Irã apesar de seguir existindo, tem expressão bastante restrita, mas ainda mantém uma posição crítica em relação à política de crescente colaboração do PKK turco com o governo de Erdogan.

No Curdistão iraquiano havia duas alas entre os curdos. Uma sob a direção de MullahMostafaBarzani, do Partido Democrático Curdo (KDP), que capitula frente ao governo iraquiano na década de 1980, e se alia com Saddan Hussein contra o Irã. Com a política de fomentar e instrumentalizar as divisões étnicas e religiosas em prol dos seus interesses que tanto lhe é característica, o imperialismo norte-americano em meio à guerra de 1991, impulsionam a formação de um governo curdo autônomo no Iraque, sob a direção de do filho de Mostafa, MassoudBarzani. Isso na prática terminou equivalendo ao abandono da luta pela libertação nacional e constituição de uma nação curda. A segunda ala, que tinha originalmente posições de esquerda, era a União Patriótica do Curdistão de JalalTalabani, que havia protagonizado intensos enfrentamentos com a fração chefiada por Barzani. Entretanto, também capitula ao imperialismo tendo assumido recentemente a presidência do Iraque, cargo que Talabani ocupou até meados de julho de 2014. Dessa maneira, não apenas abandonou a luta pela libertação nacional curda, como ainda se transformou em uma peça chave da política do imperialismo norte-americano no Iraque.

O PKK turco-sírio, que está ligado ao YPG que resistem em Kobane, é qualificado como “terroristas” pelo imperialismo, e seu principal dirigente, Abdullak Öcalan segue preso. Evidentemente, é legítimo apoiar a legalidade do PKK, ademais da libertação de Öcalan. Entretanto, no último período o PKK relativizou a sua ideologia original que o levava a defender um Curdistão independente e socialista, em prol de um federalismo limitado, assumido desde 2005 e que legitima as fronteiras herdadas do desmantelamento do Império Otomano pelas potências imperialistas. Numa entrevista de Amir Hassanpour do Partido Comunista do Irã esse assinalava que: “Lembremos que, na Turquia, a um nível limitado, o PKK já está a partilhar o poder político. Por exemplo, o Partido Paz e Democracia (BDP) tem representantes no Parlamento e ajuda a gerir algumas municipalidades. Um dos principais objectivos do projecto de paz é afastar todo o pensamento de uma revolução ou de uma tomada do poder político através da luta armada, e ao mesmo tempo salvar o actual sistema, usando o parlamento para incluir o PKK e a burguesia curda na estrutura de poder ”. Porém, não se pode descartar que haja uma nova radicalização do PKK como fruto do processo atual, na medida em que a questão curda em meio ao conflito sírio, e a política de Erdogan, estão elevando os níveis de enfrentamento entre o PKK e o regime turco.

Frente ao atual ascenso da questão curda os revolucionários devem se colocar na mesma trincheira militar desses setores que resistem em Kobane. Mas isso não significa calar-se sobre as contradições dessas mesmas direções. Significa que enquanto se luta militarmente contra as forças reacionárias do Exército Islâmico e do Daesh, se deve avançar para colocar em marcha uma política que atenda efetivamente às necessidades do povo e dos trabalhadores. Só os trabalhadores e o povo podem impor uma saída à demanda de autodeterminação nacional do povo curdo.

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