Segunda 29 de Abril de 2024

Partido

ATO EM HOMENAGEM A LEON TROTSKY

“Preparar uma juventude revolucionária que esteja a altura de suas tarefas históricas”

28 Sep 2010   |   comentários

Intervenção de Daniel Bocalini – membro do Centro Acadêmico de Ciências Sociais e do DCE da UNESP de Marília e militante da LER-QI

Quero começar saudando, em nome da juventude da LER-QI, todos os trabalhadores presentes. Mas minha saudação e intervenção vai dirigida em especial a todos os jovens que vieram neste ato em homenagem ao Trotsky e aos jovens que escutarão estas palavras por todo o país.

Tenho orgulho de neste ato, estarem presentes jovens que foram linha de frente de algumas das principais lutas que se deram no último período, particularmente no estado de São Paulo, não somente do movimento estudantil, mas também do movimento operário, porque todos que aqui estão já avançaram na conclusão da necessidade da aliança operária-estudantil e vem transformando isso numa prática política.

Aqui estão presentes, por exemplo, lutadores do movimento estudantil das universidades estaduais paulistas, que vem protagonizando grandes lutas desde 2007, resistindo aos ataques do governo do estado e das burocracias acadêmicas, lado a lado com os trabalhadores e professores combativos, e em primeiro lugar, junto aos trabalhadores da USP.
Estão presentes estudantes da Unesp de Marília, que vem protagonizando lutas exemplares, sendo que este ano organizamos uma greve em vários cursos, com ocupação da diretoria, em apoio à greve dos trabalhadores das estaduais paulistas e contra a terceirização do restaurante universitário e saímos vitoriosos!

Estão aqui também estudantes de vários outros campus da Unesp, que acabamos de realizar um Congresso de Estudantes histórico, que votou, entre outras coisas, uma jornada estadual de luta contra a repressão aos lutadores, no próximo dia 30. Uma vez mais, vamos mostrar que o movimento estudantil da Unesp está junto aos trabalhadores gritando “Não vai passar nenhuma punição, estudante – funcionário contra a repressão!”

Também votamos refundar o nosso DCE e construir a Assembléia Nacional dos Estudantes - Livre, que são duas tarefas fundamentais para o movimento estudantil da Unesp, que vem se forjando como um movimento estudantil combativo, pró-operário e anti-burocrático, dar um salto no aporte para forjar uma nova tradição no movimento estudantil nacional.

Mas é necessário ter muita consciência que cada passo que estamos dando na tarefa de forjar um novo movimento estudantil e uma juventude revolucionária neste país, é parte de um processo muito mais profundo que está se dando em todo o mundo. Por isso, quero dizer que sinto que neste ato estão os mesmos jovens que estariam neste momento com as pedras nas mãos na Palestina se enfrentando contra o Estado sionista de Israel, os jovens que estariam na Grécia se enfrentando com a polícia e tentando invadir o parlamento, ou os jovens que seriam a linha de frente desse novo movimento operário convulsivo do oriente.

Estamos seguros que nossa geração, que cresceu ouvindo que o capitalismo havia vencido, que o socialismo morreu, essa geração que se perdeu em grande parte no individualismo e no consumismo, está dando somente suas primeiras demonstrações de força e que a crise capitalista que se avizinha vai nos colocar tarefas muito superiores às que se colocaram até hoje. Temos uma enorme responsabilidade pela frente como juventude frente à crise capitalista. A classe trabalhadora só vai conseguir responder à altura se os batalhões mais avançados da juventude, com sua energia singular, se dão a tarefa, incansavelmente, de derrubar a burguesia e seu estado e conquistam posições nesse sentido. No Programa de Transição, Trotsky diz que “Apenas o fresco entusiasmo e o espírito de ofensiva da juventude podem assegurar os primeiros êxitos da luta. Apenas esses êxitos podem fazer voltar ao caminho da revolução os melhores elementos da velha geração. Sempre foi assim e assim seguirá sendo.”

Basta olhar para o que foi o papel da juventude no último ascenso da luta de classes a nível internacional para ver ali tendências que vão se colocar no próximo período de crise capitalista. Não é a toa que, nas ruas da Argentina hoje, onde está confluindo o movimento estudantil e o movimento operário, se canta “que cagazo, que cagazo, operários e estudantes como no Cordobazo!”. O Cordobazo foi um levantamento operário em Córdoba que abriu um ascenso revolucionário em todo o país, onde a aliança operária-estudantil cumpriu um papel chave. E assim foi no maio de 68 na França, na Primavera de Praga, nos processos de revolução política no leste europeu e também aqui no Brasil.

Basta lembrar dos enfrentamentos da Maria Antônia em 68, da relação que o movimento estudantil teve com o movimento operário na luta contra a ditadura, no apoio às greves metalúrgicas do ABC e no papel que cumpriram os estudantes no próprio processo de fundação do PT que, nas suas origens, tinha um caráter classista apesar da sua direção contra-revolucionária.

São grandes momentos como estes que viveremos pela frente. É por isso que ao mesmo tempo que digo a cada jovem aqui presente que não é da LER-QI (e vários outros que não estão aqui mas que viemos travando lutas em comum) que sim, estamos levando adiante lutas exemplares, construindo na prática um movimento estudantil combativo, pró-operário e anti-burocrático, mas devemos encarar isso como apenas o começo. Porque neste momento, em todo o mundo, são 81 milhões de jovens desempregados! Porque a polícia assassina ainda existe! Porque ainda existe essa corja de políticos burgueses que parasitam o povo! Porque a burguesia ainda aprisiona o futuro! E está em nossas mãos assumir tarefas superiores em aliança com os trabalhadores contra este sistema de fome e miséria numa perspectiva revolucionária.

Não podemos nos limitar a comparar-nos com o movimento estudantil que existe hoje. A UNE se ligou organicamente ao estado burguês e é parasitada pela burocracia governista do PCdoB e do PT. A esquerda anti-governista se adapta ao sindicalismo corporativista e rotineiro, sem enfrentar-se com o regime universitário e a burocracia estudantil. O PSOL tem nas suas alas direita uma nova burocracia estudantil, como mostra a passividade do DCE da USP e da Unicamp frente à última greve das estaduais paulistas. Por sua vez, o PSTU, em que pese o discurso mais de esquerda, não é capaz de dotar a ANEL de um programa e uma prática política que seja de fato capaz de forjar um novo movimento estudantil.

É por isso que nosso chamado é que devemos nos medirmos com a história e desde aí pensar as nossas tarefas, nos colocando objetivos cada vez mais audazes, como jovens revolucionários. Nós queremos aportar para forjar uma juventude que esteja à altura não somente dos melhores da geração de 68, mas também daqueles que o Trotsky descrevia na revolução russa da seguinte maneira: “Era o momento dos homens de 18 a 30 anos. Os revolucionários mais velhos eram contados com dedos da mão e pareciam anciãos. O movimento desconhecia completamente o arrivismo e nutria-se de sua fé no futuro e de seu espírito de sacrifício. (...) Quem ingressava na organização sabia que a prisão e a deportação esperava-os dentro de alguns meses. A virtude do militante caracterizava-se em resistir o maior tempo possível sem ser preso, em comportar-se dignamente diante da policia, em substituir os camaradas detidos, em ler o maior número de livros no cárcere, em escapar o quanto antes da deportação siberiana para ir ao estrangeiro e fazer lá uma provisão de conhecimentos, com a finalidade de voltar e retomar o trabalho revolucionário.”

Chamo cada jovem deste país e conhecer a apaixonante história do papel que cumpriu a juventude nos grandes momentos históricos. Isso é para nós mais um de energia para enfrentar uma situação em que, depois de tantos anos de negação stalinista da tradição bolchevique, depois de uma ofensiva ideológica sem precedentes sobre o marxismo revolucionário que deu espaço para o ressurgir de velhos questionamentos que já haviam sido respondidos pela experiência histórica, depois da traição dos partidos que a classe trabalhadora construiu nas últimas décadas, como o caso do PT no Brasil, depois de 30 anos do que ficou conhecido como neoliberalismo, tudo te pressiona a não tomar para si a tarefa de construir um partido revolucionário. Tratam essa tarefa não somente como uma coisa ultrapassada, mas uma opção de vida sofrida.

Isso, de fato, acontece com alguns, como Trotsky mostra brilhantemente no texto “O Grande Sonho” em que diz: “A grande debilidade de muitos "revolucionários" (entre aspas) consiste em sua absoluta incapacidade de entusiasmar-se, de elevar-se sobre o nível rotineiro das trivialidades, de fazer surgir um vínculo vital entre ele e os que o rodeiam. O que não pode incendiar-se, não pode incendiar sua vida nem a dos demais.”

Nós queremos aprofundar este caminho que viemos traçando. Por isso, uma vez mais, estamos com Trotsky quando dizia que construir um partido revolucionário “nos aporta a maior das felicidades: a consciência de que participamos na construção de um futuro melhor, de que levamos em nossas costas um pedaço do destino da humanidade e de que nossas vidas não foram vividas em vão”.

Abaixo o movimento estudantil rotineiro e a burocracia estudantil!

Abaixo a mediocridade da vida sob o capitalismo!

Libertemos a humanidade das correntes que aprisionam o futuro!

Viva a juventude revolucionária!

Discurso de Maíra Viscaya – Membro do Diretório Acadêmico da FAFIL (Fundação Santo André) e militante da LER-QI

Partindo destes elementos que o Daniel colocou sobre o papel da juventude, eu queria dialogar em especial com os jovens trabalhadores aqui presentes, assim como clarificar para os estudantes sobre o papel importante que, na prática, vocês vem cumprindo para o movimento operário. Mas minha fala também é uma mensagem para todos os jovens deste país.
Muitos dos que aqui estão, e vários que não puderam vir, estivemos ombro a ombro com os trabalhadores nas suas lutas, não somente nas estaduais paulistas, mas em vários outros processos. Intervimos ativamente na greve dos professores de SP de 33 dias, que foi derrotada pela traição da burocracia sindical, inclusive resistimos juntos à repressão da mesma polícia tucana que vem invadindo as universidades e reprimindo brutalmente a juventude negra e pobre nas favelas.

Aqui também estão estudantes que estiveram na porta das fábricas junto à luta dos sapateiros de Franca, dos operários da Philips de Mauá que lutavam contra o fechamento da empresa, em defesa dos terceirizados em todas as universidades, assim como em toda e cada uma das oportunidades que tivemos de nos ligar à luta dos trabalhadores.

É muito importante que cada estudante que está aqui saiba que vários dos trabalhadores que estão aqui nesta sala, e tantos outros que não puderam vir, chegaram à compreensão não somente da necessidade de um movimento operário combativo, mas avançaram no sentido classista e revolucionário, também pela energia com que nos jogamos como juventude em cada um destes processos, mostrando que para nós não se trata de uma frase vazia quando cantamos: “Aliança revolucionária é da juventude com a classe operária!”.

Temos orgulho de que nesta sala estão presentes alguns valiosos jovens professores, sapateiros, metalúrgicos, metroviários e de várias outras categorias. Essa juventude trabalhadora, que está cansada do desemprego, dos empregos precários e temporários, não encontra hoje identificação política nos seus sindicatos burocratizados nem nos partidos que se colocam no campo da esquerda, mesmo aqueles que se reivindicam revolucionários. Basta freqüentar os sindicatos, inclusive os dirigidos pela esquerda, para ver que a juventude trabalhadora não está lá. Quem daqui esteve no Congresso Nacional da Classe Trabalhadora que se realizou neste ano com mais de 3000 delegados, pôde ver que não havia jovens trabalhadores lá. O fato de que aqui estejam numa delegação representativa demonstra que estamos no caminho correto. Trotsky dizia que "o caráter revolucionário de um partido pode ser julgado pela sua capacidade de atrair para suas bandeiras a juventude da classe operária”.

Por isso, eu queria pedir uma salva de palmas para a juventude trabalhadora aqui presente!

Na nossa tarefa de aprofundar laços com a juventude trabalhadora, temos um enorme desafio pela frente que é nos ligarmos aos milhares de jovens trabalhadores que tem que pagar universidade neste país. Na Fundação Santo André, por exemplo, estamos impulsionando a partir do Diretório Acadêmico junto a outros setores uma importante luta pela redução radical das mensalidades e pela anistia dos inadimplentes, no marco de uma luta mais profunda, apontando a perspectiva da estatização da universidade, pois é um absurdo pagar para estudar. Queremos neste ato também saudar os estudantes da FSA em luta e colocar que nosso projeto é travar uma luta exemplar na FSA que sirva de exemplo para estudantes das pagas de todo o país.

Mas, como juventude revolucionária, não podemos nos limitar a levar adiante as tarefas do movimento estudantil e da juventude trabalhadora. O movimento estudantil e operário deste país, assim como a esquerda brasileira, coloca uma barreira entre a luta da classe trabalhadora e a luta do povo oprimido, das mulheres, dos negros e dos homossexuais. Trata-se de um sindicalismo que a juventude deve cumprir um papel essencial em superar. Basta dessa sociedade opressora em que as pessoas não podem viver felizes! Temos que rebelar-nos do fundo das nossas veias contra todo tipo de opressão, apontando uma perspectiva superior à que o reformismo aponta, ou o feminismo pequeno-burguês que quer nos fazer crer que nós, mulheres, podemos conquistar uma situação mais igualitária com os homens pela via da eleição de uma presidente mulher, separando a luta contra a opressão da luta contra o capitalismo. Nos indignemos contra cada preconceito que se expressa por todos os poros dessa sociedade racista, machista e homofóbica. Se falamos da centralidade da classe operária na luta revolucionária, é porque é a classe que pode, pelo papel que ocupa na produção capitalista, colocar em cheque os capitalistas e seu sistema reprodutor não somente da exploração, mas da opressão.

Viva a juventude trabalhadora!

Viva a luta contra todo tipo de opressão!

Como dizia Trotsky no seu testamento: “A vida é bela, que as gerações futuras a limpem de todo o mal, de toda opressão, de toda violência e possam gozá-la plenamente."!

Intervenção de Daniel Bocalini e Maíra Viscaya

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