Sexta 19 de Abril de 2024

Juventude

JUVENTUDE

O movimento estudantil precisa apresentar-se como alternativa à juventude que sai às ruas!

07 Aug 2013   |   comentários

Frente a possibilidade de retomada das mobilizações massivas nos dias 14 e 30 de agosto, paremos as universidades e escolas e construamos comitês que promovam a aliança entre estudantes e trabalhadores.

Frente a possibilidade de retomada das mobilizações massivas nos dias 14 e 30 de agosto, paremos as universidades e escolas e construamos comitês que promovam a aliança entre estudantes e trabalhadores. Unifiquemos a luta por outro projeto de educação às demandas dos trabalhadores e da juventude nas ruas. Está colocada a possibilidade e a necessidade do movimento estudantil se apresentar como alternativa revolucionária para influenciar a juventude que se levanta!

Apesar das jornadas de junho e dos atos e ações que seguiram desde então terem sido protagonizados fundamentalmente por centenas de milhares de estudantes de escolas e universidades públicas e privadas, o movimento estudantil praticamente não apareceu como sujeito nas mobilizações. Ainda que a proximidade das férias tenha dificultado a organização dos estudantes, os principais fatores que contribuem para a essa dispersão estão, por um lado, na prática rotineira e burocrática levada adiante pela imensa maioria das entidades estudantis, prática esta que está intimamente ligada a ilusão que as correntes governistas que dirigem a União Nacional dos Estudantes (UNE) - desde a velha burocracia da UJS até o governismo renovado do Levante Popular da Juventude - alimentam no projeto de educação neoliberal promovido pelo PT; e, por outro lado, a dispersão é fruto de concepções autonomistas e individualistas que a ideologia burguesa insistentemente propagou nas últimas décadas para enfraquecer a luta dos estudantes e trabalhadores ao negar qualquer tipo de organização, apoiando-se, inclusive, no rechaço legítimo às práticas burocráticas da maioria das entidades estudantis e sindicatos.

Assim como faz a burocracia sindical no movimento operário, a burocracia estudantil atua para garantir os projetos privatizantes dos governos, recebe financiamento desses mesmos governos e utiliza os recursos das entidades para atender interesses próprios das correntes políticas da qual fazem parte e para perpetuá-las na gestão das entidades. Do mesmo modo que os burocratas da CUT, da CTB, da Força Sindical e outras centrais sindicais pelegas e pró-patronais fogem das assembleias de base e fazem de tudo para que não aconteçam, agem os burocratas estudantis, com medo de que, ao se organizarem, os estudantes questionem seus privilégios e decidam por ações que fujam ao seu controle. Quando são pressionados pela base, promovem ações superestruturais e controladas que dão vazão ao descontentamento e disposição de luta para, logo em seguida, abafá-los, isolando-as e reforçando uma subjetividade corporativista em torno de pautas mínimas.

O que a prática nos mostra é que, para fazer frente a burocracia, é preciso construir uma alternativa que impulsione de fato as lutas. Não basta um discurso crítico ao governo por fora de uma estratégia correta. A Oposição de Esquerda da UNE, encabeçada pelas correntes do PSOL, não só não é uma alternativa à direção majoritária da entidade, como se adapta as práticas burocráticas que transformam as entidades em aparatos descolados das bases e inofensivos ao governo e a burguesia. Não poderia ser diferente frente a opção reformista escolhida pelo PSOL ao se tornar um partido que subordina seu programa e sua atuação à conquista de espaços parlamentares na podre democracia burguesa. De que adianta ter peso superestrutural se nas universidades e escolas onde compõe a gestão de DCE´s, Centros Acadêmicos e Grêmios não organiza uma paralisação sequer em apoio às manifestações nas ruas? O que têm a nos dizer os militantes do Juntos! sobre as declarações de Jean Wyllis, deputado do PSOL, que vergonhosamente reivindicou o alto salário dos parlamentares?

Infelizmente, a experiência de junho também confirma que a ANEL (Assembleia Nacional dos Estudantes Livre), enquanto estiver dirigida pela lógica sectária do PSTU de transformá-la em um aparato próprio, está longe de ser a alternativa que o movimento estudantil precisa para hegemonizar pela esquerda o processo massivo de mobilização juvenil que se abriu. Apesar de fazer propaganda em torno do programa de uma educação a serviço dos trabalhadores e falar de aliança operário-estudantil, a direção majoritária da ANEL, a juventude do PSTU, mantém uma estratégia de disputas de aparatos em torno da aposta de unificação por cima com a direção da Oposição de Esquerda da UNE, o PSOL, e promove a adaptação ao programa e prática deste nos locais de ensino, incorrendo inclusive em importantes desvios burocráticos. A entidade, que congrega milhares de estudantes que romperam com o governo e a UNE, sofre com a falta de democracia interna e com a falta de um programa que represente uma alternativa revolucionária à falsa “democratização” do ensino promovida pelo PT; eixos que nós, que construímos a Juventude às Ruas, assumimos junto a outros estudantes independentes de vários estados do país para centrar nossa luta política como ala minoritária de oposição dentro da ANEL.

O erro da estratégia levada adiante por PSOL e PSTU se expressa no debate sobre educação através do programa que levantam em torno da campanha de exigência de “10% do PIB para a educação já”. Depois que as jornadas de junho sacudiram o país e encheram de medo os exploradores, o próprio PSDB, que representa os interesses diretos das alas mais reacionárias da burguesia brasileira e do capital imperialista, tratou de assumir a bandeira de 10% do PIB para a educação, mostrando que esse programa não arranha os lucros dos monopólios da educação privada. Não basta exigir mais verba para a educação ou mesmo, como faz o MPL, exigir somente o passe-livre se essa verba dos impostos da população trabalhadora será corrompida pelos governos e administradores do Estado burguês, ou revertido para encher os bolsos dos magnatas do transporte e da educação. Também no combate contra a violência policial, ao exigirem a desmilitarização da polícia, reforçam a ilusão na possibilidade de uma polícia mais humana e democrática em detrimento do questionamento da polícia como garantia armada da ordem capitalista.

Nas mobilizações de junho, fez falta uma alternativa organizativa e política que se preparasse para influenciar as mobilizações, combater as expressões de direita e o nacionalismo e defender o objetivo estratégico de unificação com a classe trabalhadora para a transformação radical da sociedade. Como em maio de 1968 na França, o movimento estudantil deve cumprir este papel histórico. Mas para que ele volte a ser essa necessária alternativa é preciso desenvolver uma prática política anti-burocrática construída a partir da auto-organização. Precisamos cotidianamente travar em nossas escolas e universidades a luta pela realização de assembleias de base como instrumentos principais de organização e politização dos estudantes. É preciso destituir as gestões burocráticas, reformular os estatutos das entidades que facilitam a burocratização e impulsionar entidades militantes e combativas que deixem de ser correias de transmissão de uma organização ou apenas uma posição política, mas que estejam a serviço da construção das lutas, e que rompam com o corporativismo ao assumir pra si as demandas dos setores oprimidos que estão fora das universidades e escolas.

Para dialogar com os jovens trabalhadores que sofrem com as péssimas condições de ensino e com as altas mensalidades das universidades privadas, e também com os milhões que permanecem sem acesso ao ensino superior, precisamos arrancar das mãos do governo federal de Dilma a bandeira da democratização do acesso, denunciando programas como o PROUNI, o REUNI, o PRONATEC e o FIES, que sustentam os altos lucros dos capitalistas da educação e são responsáveis pela formação no Brasil do maior monopólio da educação privada do mundo, o Kroton-Anhanguera. Construamos a luta pela estatização dos grandes monopólios da educação sem indenização! Transformemos as vagas privadas em públicas para acabar com o vestibular e garantir o acesso universal a educação pública de qualidade em todos os níveis! Combinado a isto, é urgente democratizar radicalmente a estrutura de poder autoritária e repressora das universidades e escolas! É preciso ir além da luta por eleições diretas paritárias para reitores e diretores, como propõe o DCE da USP. É necessário refazer os estatutos das instituições de ensino com base no sufrágio universal (uma cabeça um voto) e garantir uma gestão conjunta entre trabalhadores, professores e estudantes, sem distinção entre os setores!

As ações unificadas de luta que estão sendo chamadas nos dias 14 e 30 de agosto podem marcar o retorno da juventude às ruas em massa. Os estudantes precisam unificar a luta por permanência estudantil e o questionamento do atual projeto de educação à luta contra a precarização do trabalho e a terceirização, contra a corrupção inerente ao capitalismo, que se expressa agora com o escândalo de superfaturamento no Metro de São Paulo, e por um transporte público livre da ganância capitalista. Devemos exigir a punição dos policiais responsáveis pelo desaparecimento de Amarildo, pelos assassinados na Maré, pela chacina no Carandiru e pelas dezenas de milhares de jovens negros e trabalhadores assassinados pela polícia nas periferias. Liguemos a luta pela dissolução da polícia com o combate à criminalização dos movimentos sociais e da juventude. No dia 14, as estaduais paulistas e o ME paulista precisam se aliar aos metroviários de São Paulo na luta contra Alckmin, pela punição e confisco dos bens dos corruptos e para derrubar as políticas de seu governo para a educação e o transporte. Para fortalecer essa perspectiva, já há uma importante mobilização na UNESP e o começo da luta na UNICAMP contra os mais de 750 jubilamentos autoritários de José Tadeu Jorge.

Organizemos assembleias que votem paralisações nos locais de ensino, a construção de blocos nos atos que estão sendo convocados e a formação de comitês para articular panfletagens nas portas das fábricas e outros locais de trabalho chamando os trabalhadores a se somarem as mobilizações e oferendo nosso apoio na luta contra o freio imposto pela burocracia sindical!

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