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Nacional

AMARILDO

Pelo fim do genocídio da população negra! Cadê Amarildo?

25 Sep 2013   |   comentários

Passados mais dois meses do desaparecimento do pedreiro Amarildo na favela da Rocinha no Rio de Janeiro, não há dúvidas de que os responsáveis foram policiais militares da Unidade de Polícia “Pacificadora” (UPP).

Passados mais dois meses do desaparecimento do pedreiro Amarildo na favela da Rocinha no Rio de Janeiro, não há dúvidas de que os responsáveis foram policiais militares da Unidade de Polícia “Pacificadora” (UPP). O afastamento dos PM’s envolvidos e a cobertura que a mídia burguesa dá a investigação são uma tentativa hipócrita de “mostrar serviço” frente à comoção nacional que obteve o caso. Os governos e a burguesia tentam conter a crise de legitimidade da Polícia e o questionamento à violência policial que surgiram depois das jornadas de junho. Tentam separar o caso de Amarildo da atuação cotidiana da polícia nas favelas e periferias de todo o país, encobrir o fato da polícia brasileira, em especial as do Rio e de São Paulo, estar entre as que mais matam no mundo!

A experiência prática com a enorme repressão às manifestações de junho e, recentemente, aos atos de protesto do 7 de setembro despertou e aprofundou o questionamento aos aparatos policiais que até pouco tempo desfrutavam de grande legitimidade frente às massas. Antes de junho, um caso como o de Amarildo provavelmente teria passado desapercebido ou tido pequeno destaque em breve notícia dizendo que “suspeito de envolvimento com o tráfico foi morto após resistir a ação policial”.

Frente a este novo cenário, insistimos na necessidade das organizações de esquerda e direitos humanos, em especial as agrupações impulsionadas pela juventude, de construirmos uma grande campanha em frente única contra a repressão e a violência policial cuja principal bandeira seja a consigna de “Cadê Amarildo?”. Não é uma coincidência que Amarildo é trabalhador da construção civil. São estes os que podem morrer pela repressão policial, mas também de acidente de trabalho e que ocupam os piores postos de trabalho, mas também os que são parte dos setores que fizeram as lutas mais combativas dos últimos anos no Brasil. Ali também eles foram brutalmente reprimidos. Além de carregar o potencial de ligar a luta contra a repressão às manifestações com a denúncia da rotina de violência policial nos morros e favelas, essa consigna traz a tona outro aspecto fundamental da dominação capitalista no Brasil: o racismo e a histórica opressão a população negra!

O capitalismo brasileiro e a burguesia nacional sugiram pressionados, de um lado, pela sanha incessante por lucro e o saque colonial que marcou o período de acumulação primitiva de capital e a ascensão da Inglaterra como potência hegemônica e, por outro lado, pelo temor da elite brasileira de uma insurreição negra na colônia que foi o principal destino dos escravos africanos e que hoje tem a maior população negra fora da África. Ou seja, a burguesia brasileira carrega em seu DNA a dependência e a capitulação ao imperialismo, mas também o todo o racismo dos mercadores de escravos e a necessidade permanente, podemos dizer estrutural, de reprimir e manter sobre controle a revolta da população negra. Daí a necessidade de criar e manter “esquadrões da morte” legalizados, como a Rota e o BOPE.

A questão negra não se expressou fortemente como parte das demandas que surgiram em junho. Para isso, além da ação consciente da burguesia, que desde o primeiro momento se esforça para controlar as manifestações, também contribui a atuação de grande parte da esquerda. Ao secundarizar o combate ao racismo, a esquerda trata a questão por fora do peso que de fato tem na luta de classes no Brasil. Nesse artigo, queremos uma vez mais reafirmar nosso chamado a uma ampla campanha em frente única contra a repressão, partindo da questão do Amarildo que gerou uma grande comoção nacional, mas ligando à repressão aos lutadores e ao povo negro. Nessa campanha, nós da LER-QI defenderemos um programa transicional como o que apontamos abaixo, mas que para nós deve se ligar à perspectiva de ganhar setores da classe trabalhadora e da juventude que lutem pela dissolução da polícia.

Aparição imediata de Amarildo com vida! A polícia que reprime as manifestações e a mesma que mata a população negra nos morros e favelas! Pelo fim do genocídio a população negra! Apuração independente dos governos e policia e punição imediata aos responsáveis! Exigimos fim das UPP’s e de todas as policias, a começar pelas tropas especiais!

Um chamado a frente única contra a repressão e a violência policial!

Em São Paulo, depois do episódio da desocupação da reitoria da UNESP pela Tropa de Choque em julho e da prisão e processamento de 113 estudantes, o DCE provisório da UNESP fez um chamado à formação de uma frente única contra a repressão. Setores minoritários de estudantes e da USP e da UNIFESP aderiram ao chamado e um primeiro ato e uma plenária estaduais foram realizados no dia 15 de agosto no centro de São Paulo. Nós, militantes da juventude da LER-QI que construímos junto a independentes a Juventude às Ruas, impulsionamos desde o início este comitê e o consideramos um pequeno ponto de partida para construir uma grande campanha contra a repressão em São Paulo. No entanto, para que avance para uma ampla campanha contra a repressão e a violência policial o fundamental é travarmos uma batalha para que importantes entidades estudantis e sindicatos se somem a campanha contra a repressão.

Infelizmente, há setores da esquerda que se colocam no campo da oposição aos governos e contra a criminalização aos lutadores que ainda hesitam em colocar a luta contra a repressão como um dos eixos de sua orientação política, ou separa-la da denuncia da violência policial e o assassinato da população negra. Nosso diálogo aqui é especialmente com a Juventude do PSTU, que diversas teve acordo formal em votar a luta contra a repressão nos fóruns da ANEL (Assembleia Nacional dos Estudantes Livres) sem nunca tê-la colocado em prática, e aos militantes do Juntos!, que estão a frente de diversas entidades estudantis da USP. Até quando os companheiros se negarão a levar com centralidade a campanha contra a repressão com o argumento de que não dialoga com o conjunto dos estudantes e jovens trabalhadores? Fazemos um chamado particular aos militantes da Juventude do PSTU a respeitar as deliberações votadas no último congresso da ANEL e não trata-las como forma de abafar as polêmicas sem depois tira-las do papel. A ANEL pode e deve ser a linha de frente da luta contra a repressão e hegemoniza-la com uma política revolucionária!

Votemos e construamos a luta contra a repressão nas assembleias de base nos locais de estudo e trabalho!

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