Terça 7 de Maio de 2024

Internacional

CRISE NA BOLÍVIA

O MAS reprime os trabalhadores e confirma sua estratégia de acordos com os empresários e as multinacionais

06 Aug 2008 | Repudiamos a brutal repressão aos mineiros de Huanuni! Viva a luta dos trabalhadores e do povo pobre! Abaixo a reação autonomista! Por uma posição operária independente!   |   comentários

A direita amplia sua campanha com incidentes e provocações de todo tipo na “Meia Lua” [1], chegando a impedir a reunião dos presidentes da Venezuela, Argentina e Bolívia que deveria acontecer no dia 05/08 em Tarija. Entretanto , deixa livres os grupos fascistizantes que atacam camponeses, indígenas e seguidores do MAS. Além disso, a direita lançou uma greve de fome dos “civis” para recuperar o Imposto Direto aos Hidrocarbonetos. O objetivo é deslegitimar eventuais resultados desfavoráveis no referendo revogatório [2], liquidar definitivamente a congelada nova Constituição Política do Estado (CPE) que o governo quer aplicar, e redobrar a pressão para desgastá-lo, impor as autonomias e outras exigências.

Pretende com isso definir a seu favor a crise política crónica, apoiando-se em uma enorme polarização social e política que tem girado à direita amplos setores das camadas médias urbanas.

Ao mesmo tempo, o governo de Evo Morales segue apostando no diálogo e no acordo com os representantes dos proprietários de terra, empresários e das multinacionais, enquanto aplica uma política económica desfavorável aos trabalhadores e ao povo pobre, cujas rendas diminuem sob a inflação e o aumento do custo de vida. Esse rumo tem sido ratificado nos discursos presidenciais.

Enquanto a direita busca o “xeque” , o governo se debilita e vão se desgastando as ilusões em suas promessas de alguns setores avançados de trabalhadores, que tomam distância e, com suas ações, apontam ao “transbordá-lo” pela esquerda.

Lutas operárias e repressão

Esse é o marco da onda de protestos operários e populares das últimas semanas, convocada, sob pressão das bases, pela COB, mesmo com a posição política pró-oficialista de sua direção, como a de Pedro Montes que tem debilitado os trabalhadores na organização da luta atual. Os dirigentes que hoje têm se visto obrigados a se separar do governo, não passam a ter uma política que os separem claramente da propaganda da direita civil, ambigüidade que é aproveitada pelos porta-vozes governamentais para desprestigiar a COB e sua atual luta, isolando os trabalhadores. A ausência de um diálogo com a base camponesa do MAS para demonstrar que a COB não está só contra a burguesia e a oligarquia da região oriental do país, mas pela satisfação de todas as demandas progressivas dos camponeses, é uma das debilidades do movimento, facilita seu isolamento e alenta a repressão. O surgimento progressivo de um movimento de oposição operária se vê distorcido pela política reformista e de pressão sobre o Estado da burocracia sindical.

As demandas operárias - aumento salarial, aposentadorias e outros - não podem ser mais justas, gritantes e impostergáveis. O governo impulsiona no parlamento uma nova lei de aposentadorias que mantém o esquema herdado do neoliberalismo, baseado nos aportes individuais, ainda que “com remendos” pois estaria sob controle estatal além de retirar as atuais AFPs [3] de capitais espanhóis e suíços. Os trabalhadores exigem o retorno ao “sistema de colaboração” para os fundos, solidário e financiado com aportes do Estado e dos capitalistas, além de reclamar a redução da idade para aposentadoria, entre outros pontos.

No entanto, a resposta oficial não podia ser mais brutal: a selvagem repressão policial aos trabalhadores mineiros de Huanuni que bloqueavam uma estrada em Caihuasi entre os dias 4 e 5 de agosto, deixou dois mineiros mortos a tiros e dezenas de feridos. Ao mesmo tempo o MAS mobilizava seus militantes em outras partes do país, como em Cochabamba, atiçando os “pais de família” a atacar violentamente os piquetes de professores urbanos e rurais e outros trabalhadores que saíram às ruas.

É o MAS que favorece a direita

Os porta-vozes governamentais acusam aos trabalhadores em luta, à “ultra-esquerda” e aos trotskistas de fazer o jogo da reação. Com esse argumento pretendem lavar sua cara da indissimulável responsabilidade no massacre de Caihuasi e justificar a repressão.

Nada mais falso.

Quem protegeu a direita, negociando permanentemente com ela e fazendo todo tipo de concessões desde quando assumiu o poder, é o governo de Evo Morales e García Linera. Não expropriaram um só hectare de terra dos latifundiários, não converteram a prometida nacionalização do gás em uma renegociação de contratos com as multinacionais e protegem os interesses fundamentais dos empresários que extraem enormes lucros pagando dos baixos salários e da precarização do trabalho.

Quando os camponeses de Chiquisaca se preparavam para se mobilizarem contra o humilhante e bárbaro ataque racista do dia 25 de maio, o MAS os impediu de tomar qualquer medida, aprofundando a derrota.

É que para além dos discursos e promessas, o MAS não quer tomar nenhuma medida profunda contra o poder dos proprietários de terra e empresários, que são a base da reação autonomista e direitista. Por isso, enquanto se mostra brando e conciliador com a direita, aplica “pulso firme” contra os trabalhadores em luta.

Só a mobilização derrota a reação!

Não será com votos e “diálogos nacionais” , como pede o MAS, que se derrotará as forças burguesas e pró-imperialistas. É necessário preparar e unificar a mais ampla mobilização de massas, unindo a luta contra a reação e pelo cumprimento das postergadas demandas operárias, indígenas e populares. Isso exige um programa que, entre outras tarefas inclua:

Aumento salarial de emergência de acordo com o custo da cesta familiar básica.

Comitês populares de controle de preços e abastecimento.

Nacionalização das empresas que especulam com a fome do povo ou demitem trabalhadores.

Nacionalização efetiva, sem pagamento e sob o controle dos trabalhadores, do gás, das transnacionais e dos serviços públicos hoje “capitalizados” .

Reforma agrária liquidando o latifúndio.

Terra e território para os povos originários.

Ruptura com o imperialismo.

Frente aos ataques dos bandos autonomistas e da repressão estatal, é preciso criar comitês de autodefesa nos sindicatos e organizações de massas, no caminho das milícias operárias e camponesas.

É urgente o congresso da COB, com a mais ampla participação das bases, para adotar um programa assim, impulsionar um verdadeiro plano de luta e preparar política e praticamente a construção da Assembléia Popular, capaz de unir forças operárias, camponesas, indígenas e do povo pobre em torno do combate para esmagar a direita e abrir o caminho a uma saída operária e popular.

Mas isso é inseparável da luta pela independência política dos trabalhadores e de suas organizações. Há que por mãos à obra na construção do Instrumento Político dos Trabalhadores (IPT), baseado nos sindicatos e com plena democracia operária. Criar o IPT seria a melhor arma para impedir que a hipócrita demagogia dos políticos burgueses capitalize o descontentamento popular. Os sindicatos e os trabalhadores avançados têm que tomar em suas mãos essa iniciativa, aprovada nos congressos da COB, mas que até hoje os dirigentes não querem aplicar para não criar inimizade com o MAS e outros possíveis aliados “progressistas” ou “patriotas” .

Nenhum apoio político ao governo!

Os trabalhadores, camponeses e povos originários necessitam ter as mãos livres para enfrentar a reação e impor suas legítimas demandas. No entanto, setores da esquerda insistem em dar “apoio crítico” a Evo Morales. Alguns dizem que o problema é o “ambiente de classe média” que o cerca, outros dizem que “é preciso tirar os neoliberais incrustados no governo” , outros ainda dizem que há que se pressionar Evo para impor-lhe um “programa revolucionário” . Como se em mais de 30 meses de governo, ele não houvesse demonstrado exaustivamente os limites de sua política, baseada na conciliação com a burguesia e incapaz de resolver os grandes problemas nacionais! Os que pregam essas variantes de apoio político “crítico” e que chamam a votar novamente em Evo no referendo do dia 10, ocultam dos trabalhadores a necessidade de pensar um caminho de classe, independente tanto do governo como dos empresários, para enfrentar a direita e dar uma saída operária, camponesa e popular à crise nacional.

FRENTE O REFERENDO REVOGATÓRIO DO DOMINGO, DIA 10

Não aos prefeitos da direita. Voto em branco para presidente.

Este referendo - um mecanismo pseudodemocrático e plebiscitário - é produto de um pacto entre uma ala da direita e o governo, para tentar canalizar a crise política às urnas sem que ação das massas intervenha. O projeto de lei do referendo, enviado meses atrás pelo MAS, foi retomado pelos neoliberais do PODEMOS [4] que o aprovaram no Senado, e no dia 12/05 Evo Morales promulgou a Lei 3850 de “referendo revogatório de mandato popular” . Os forcejos em torno do referendo, sobretudo dos autonomistas que temem perder posições, não têm freado sua implementação e, entre ásperas disputas, manobras e choques, este domingo chama-se a votar.

A pergunta (Cap II, art 6) diz: “Você está de acordo com a continuidade do processo de mudança liderado pelo Presidente Evo Morales Ayna e o Vice-presidente à lvaro García Linera?”

Assim formulada, busca garantir não só a permanência de Evo, mas o conjunto de seu programa de pífias reformas em colaboração com a burguesia, sob o eufemismo de “processo de mudança” .

Com o SIM a Evo é impossível expressar alguma posição independente e, muito menos, um programa alternativo. Por isso, os socialistas revolucionários da LOR-CI chamamos a votar no NÃO para prefeitos, vanguarda da reação pró-imperialista, mas rechaçamos apoiar politicamente ao governo e seu programa com o SIM. Nos pronunciamos pelo voto em branco na pergunta nacional, no marco do combate pelo reagrupamento politicamente independente da vanguarda.

Depois do dia 10, seja qual for o resultado, a luta continua.

Chamamos a confiar só na mobilização para enfrentar a reação pró-imperialista e insistimos na necessidade de um programa operário e popular à altura da crítica situação atual.

A Liga Obrera Revolucionaria por la Cuarta Internacional (LOR-CI), é a organização irmã da LER-QI na Bolívia, e também faz parte da Fração Trotskista - Quarta Internacional

[1Conjunto de estados na região oriental da Bolívia em que domina a oposição de direita a Evo Morales, chamados de Meia Lua por terem essa forma no mapa.

[2A Bolívia vai realizar um plebiscito no qual os governadores e o presidente precisam ter mais de 50% dos votos para manter-se nos cargos.

[3Associações de Fundos de Pensão

[4Aliança de oposição, Poder Democrático e Social

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